Em uma região pobre, localizada na Região Sul, era difícil de se notar uma construção muito antiga, cuja as paredes de tijolos que a compunham, caíam aos pedaços.

    Dentro do local, que mais parecia ser uma pequena prisão de dois séculos atrás, estavam várias pessoas equipadas com coletes e armas de fogo.

    O porte de armas deles era variado, entre submetralhadoras, rifles de assalto, pistolas e espingardas.

    Aquelas pessoas rodeavam constantemente a parte interna do local, andando de lá para cá.

    No segundo andar daquela construção, um homem de regata branca e com um cabelo volumoso, de fios lisos e marrons, jogava cartas em uma pequena mesa. Seu oponente era outro homem, de capa negra e uma máscara chamativa. O Corvo.

    Atrás do Corvo, havia outros homens que portavam uma capa similar a sua, também rodeando o local e observando aquele jogo. Porém, apenas dois de todos os outros estavam próximos do grande mafioso; como se fossem os subordinados de maior confiança.

    Dos tais capangas, um utilizava uma máscara negra, além de óculos vermelhos.  Supostamente, aquele era o mesmo homem que estava ao lado do Corvo na fuga do assalto. Já o outro era bem diferente: possuía um cabelo azul com grandes fios e portava um moletom descolado de tom cinza.

    Curiosamente, eles eram os únicos desarmados dali.

    — Então… você é o Barão II? — perguntou o Corvo, jogando uma carta sobre a mesa. Sua voz era grave e sua respiração intensa devido ao leve peso da sua máscara.

    — Bom, é assim que estão me chamando agora… pelo menos… — confirmou o homem de regata branca, encarando o mascarado a sua frente. Sua aparência era jovem.

    — Que engraçado! Desde os primeiros anos em que passei a comandar certas áreas da cidade, em parceria com o falecido Barão… ele nunca havia comentado que tinha um filho…

    Os dois prosseguiram com a conversa enquanto jogavam as cartas.

    — Para falar a verdade, isso sempre fez parte dos planos dele. Há pouco mais de dez anos atrás, meu pai me enviou para fora daqui, para que eu tivesse algum propósito digno de vida. Ele financiou todos os custos, desde meus estudos até meus gastos diários. Porém, sua condição era só uma, simples e estranha: “herdar o seu futuro império”. Sendo sincero, eu não entendi na época.

    Corvo jogou as cartas que tinha em sua mão para o alto, assustando levemente alguns mafiosos que cercavam o local.

    — E por que você voltou!? — provocou, cruzando todos os seus dedos de suas mãos em seguida. — Não conseguiu encontrar o seu propósito vida lá fora?

    — Hum… no final das contas, acabei me envolvendo com a máfia local da outra cidade. O Barão enviou alguns subordinados para que me auxiliassem; para que quando chegasse a hora, eu herdasse o tal trono da Sociedade Nobre.

    — Claro! Tenho certeza de que é a maior… ainda mais depois da sua morte… — comentou o Corvo, fazendo com que o homem de regata se enraivasse.

    Barão II derrubou a mesa para o lado, com uma força violenta, arremessando todas aquelas cartas ao ar.

    — Escute aqui… — disse, ainda sentado. — A partir de hoje, se você realmente quiser fazer negócios… e ainda sair com vida dos nossos encontros, vai ter que respeitar a morte de meu pai!

    O mascarado de óculos vermelhos preparou-se para dar um passo à frente, partindo para cima do Barão II, mas foi interrompido pelo braço direto do Corvo.

    — Afinal, qual o motivo de todas essas máscaras? — perguntou Barão II, rindo enquanto se pronunciava. — Ah… deixa pra lá! O que eu preciso realmente saber… É sobre quem matou o meu pai!

    — Creio que já tenha visto aquele vídeo… — falou o Corvo. — É fácil de notar que o assassino de seu pai… faz parte de uma equipe militar especial.

    — Equipe especial? Você fala daquelas pessoas com roupas pretas? Como as que estão saindo por aí… nas ruas!?

    — Não, esses são os membros da Operação Caos. Na verdade, estou falando das equipes especiais da FMA — respondeu. — Eles são os mais potencializados e preparados para esse tipo de situação… cara a cara com uma máfia armada. Como eles trabalham sorrateiramente, na surdina, utilizando de táticas e estudos sobre o campo de combate como um todo, até hoje… nenhum de nós conseguiu detectar sequer um membro daquele esquadrão.

    — Que incompetência…

    Eles se encararam por alguns segundos até que Barão II ordenasse a saída da maioria do pessoal que cercava aquele andar.

    A seguir, somente aqueles quatro ficaram no segundo andar da construção.

    O chão, as paredes, os vidros quebrados que compunham o teto e alguns canos, eram cercados por musgos molhados. A iluminação do segundo andar era baixa e voltada em sua maior parte para onde estavam tais homens.

    — Enfim, vamos aos negócios… — disse Barão II.

    — Você… tem alguma experiência com isso? — indagou Corvo, se ajeitando confortavelmente em sua cadeira.

    — Considerando que presenciei negociações com outras máfias do exterior, além de ter assumido meu atual cargo há quase dois meses, pode-se dizer que sim! — respondeu com firmeza.

    — Ambos sabemos… que o maior problema enfrentado atualmente pelo meu grupo, a Asa Negra, é o transporte de armas ilegais, devido à extrema vigia da guarda costeira sobre o grande rio Khitáras. Por isso, estou com um planejamento de dividir a Região Leste com você… transferindo minha base posteriormente.

    Barão II soltou uma risada, respondendo-o:

    — Depois de dois meses cuidando dos negócios de meu pai… pude perceber o que ele não percebeu por anos de trabalho.

    — Do que você está falando?

    — É simples. Cá entre nós, todos os bandidos e outros pequenos grupos, são subordinados às três maiores máfias da cidade: a Sociedade Nobre, que dominou toda a Região Leste e Sul; Os Pérgamos, que dominam toda a Região Oeste há mais de anos; e a Asa Negra, que dominou a Região Norte por completo, há algum tempo atrás. É uma linda divisão mafiosa!

    — Sim. Eu sei de tudo isso. Por que está dizendo o óbvio!?

    — Não parece! Você começou a ganhar destaque na cidade, de verdade… há apenas alguns meses, implementando seus subordinados na Região Norte… essa que não tinha nenhum grande domínio, já que era uma das mais seguras, em tese, até então. Mas, fato é que… meu pai te deu todo o suporte para que você dominasse toda aquela “terra livre” logo depois do rio… — Barão II se levantou. — E agora, você vem a mim… dizendo que quer uma parte da Região Leste? Espera… isso se a Asa Negra tiver no mínimo… algo a oferecer…! Hum!?

    Corvo retirou rapidamente um medalhão de um dos seus bolsos, apontando-o na direção do outro mafioso, logo depois; interrompendo suas palavras.

    Barão se encantou com aquele objeto brilhante.

    — Isso… é… um Medalhão Lunar? — perguntou, desacreditando daquele objeto diante de si.

    — Sim! Isso é apenas um… entre todos os objetos místicos mais raros que ainda existem no nosso mundo.

    — Então era isso que você buscava naquele banco! — As palavras de Barão II estavam trêmulas.

    — Exato. E estou disposto a negociá-lo. — Corvo guardou o medalhão logo após. — Mas… agora eu não quero apenas a metade, mas sim toda a Região Leste!

    Barão II, irado, encarou o Corvo.

    Logo mais, o homem de regata chutou a cadeira a qual estava sentado a segundos atrás, fazendo com que ela caísse do segundo andar.

    O barulho do choque da cadeira com o chão do primeiro andar despertou a atenção de todos os capangas próximos dali, de ambas as máfias.

    A partir daquele momento, todos se apontaram com suas armas, desconfiados.

    — Caso você queira este medalhão… também precisarei do transporte seguro de armas ilegais, além de voluntários! — A cada palavra do Corvo que era emitida, mais raiva Barão II demonstrava. — Apesar da inutilidade deste medalhão para mim, sei que você aceitaria qualquer condição para obtê-lo. Hum… falando nisso… você já assinou o tal contrato obrigatório que seu pai lhe deixou? Que chato, não? Quase ninguém presta a devida atenção nesses contratos cheios de furos!

    Os capangas ao lado de Corvo riram.

    O homem de máscara repleta de detalhes dourados se levantou calmamente, se virando para um de seus subordinados a seguir.

    Os capangas de cada máfia observavam atentamente aquela situação, ainda do primeiro andar, prontos para a ação no caso de qualquer desavença.

    Corvo caminhou em direção às escadas que levavam para o primeiro andar da construção, enquanto ainda provocava o homem de regata:

    — Providencie tudo… até semana que vem! E o medalhão será seu! — falou aquilo, não se distanciando o suficiente.

    Antes que Corvo pisasse no primeiro degrau daquelas escadas, de repente, uma grande explosão, vinda de um dos grandes portões que davam acesso ao primeiro andar, chacoalhou todo o local.

    — O QUE É ISSO? — gritou o homem de cabelos azuis.

    Subitamente, o primeiro andar da prisão antiga passou a ser dominado por gritos, em meio a um grande tiroteio.

    Barão II visualizou o que estava acontecendo, através de um pequeno buraco no chão do segundo andar: um grande exército de homens que trajavam roupas negras adentrava o local, atirando contra todos os capangas que ali o cercavam.

    O mafioso concluiu, por fim, que aqueles eram os agentes da Operação Caos; e que eles haviam descoberto o local daquela reunião.

    Corvo passou as mãos pelos seus trajes negros repetidas vezes:

    — Droga! EU PERDI A MERDA DAQUELE MEDALHÃO!

    — Deve ter caído pelas escadas… durante a explosão! — afirmou o homem de cabelos azuis, berrando um pouco devido ao barulho dos tiros.

    Em fração de segundos, o capanga de máscara e óculos avermelhados pulou do segundo andar até o centro de uma grande fumaça, no meio de todo o tiroteio.

    — O QUE ELE VAI FAZER? — perguntou Barão II.

    — ELE VAI ATRÁS DO MEDALHÃO LUNAR! — respondeu Corvo, também aos berros, enquanto se aproximava daquele homem. — Precisamos sair daqui! Você conhece alguma saída?

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