Capítulo 38
Roy estava começando a se ajeitar para fazer a posição de “sentido”, perante a presença do General, mas foi interrompido.
— Não temos tempo para cumprimentos, Capitão! — disse o General, que agora estava frente a frente com todos os outros agentes. — Agentes… Kine e Jean, por favor, saiam da sala! Temos assuntos importantes e urgentes a serem tratados aqui.
— O que? — retrucou Jean, estranhando aquela ordem, já que Slezzy, mesmo não sendo da FMA, participaria da tal reunião.
— AGORA! — gritou o General, invocado.
Jean e Kine se assustaram.
Logo, aquelas crianças recolheram suas coisas, e caminharam em direção à porta principal.
Quando saíram, o General se aproximou de Slezzy:
— Peço desculpas pelo transtorno… garoto. Digamos que… estamos enfrentando uma situação muito delicada no momento. E que a partir daqui em diante, vamos precisar tomar as melhores decisões.
— Do que você está falando, General?
— Tenente, atualize a todos… sobre nossa situação atual! — ordenou Santos.
O Tenente Jan deu dois passos à frente e iniciou um discurso:
— Agentes. A Operação Caos tem sido o feito mais eficiente durante os últimos tempos, se tratando de lidar com as máfias da nossa cidade. Mas… disso vocês já sabem! — Ele ajeitou sua gravata antes de prosseguir. — O problema é que… estamos com uma bomba relógio em nossas mãos.
— Vá direto ao assunto! — pediu Roy, seriamente.
— Enfim… precisamos aproveitar este momento em que o Corvo e o Barão II estão fragilizados, que no máximo durará quarenta dias segundo as estimativas de Yuki.
Todos da sala prestavam atenção na fala daquele homem.
— Sabemos que a Região Oeste não poderá ser contestada, já que os Pérgamos têm o armamento mais pesado de toda a cidade. Além do mais, perdemos mais de cem agentes naquela disputa. Porém, a Região Sul e Leste estão quase em nossas mãos! A Sociedade Nobre, agora fragilizada pela grande perda de capangas na invasão de ontem, pode ser finalmente derrubada!
— E quanto a máfia do Corvo? — indagou Roy.
— Esse é o ponto central. Conseguimos comprovar pelo incidente de ontem que o Corvo planejava fechar algum tipo de parceria com o Barão II. Talvez… algum acordo territorial… ou comercial. No que poderia resultar no pior para os nossos planos, já que a união das máfias impossibilitaria todo o nosso avanço.
— Espera… por que teremos apenas quarenta dias para agir? — indagou o garoto espadachim.
— Essa é a tal bomba relógio…! Temos que levar em consideração que a Asa Negra agora possui no mínimo um milhão de dólares, armazenados em algum lugar. Isso significa que dentro desse período, o Corvo conseguirá armar não só toda a sua máfia, mas também a Sociedade Nobre, com verdadeiros equipamentos de guerra, que provavelmente serão obtidos por meios ilegais. Como todos vocês sabem… não vamos conseguir impedir isso com sucesso, pois não temos o controle total do exterior do centro da cidade. Assim, segundo as estimativas de Yuki, as máfias poderão se armar em torno de quarenta dias, levando em conta a demora do processo ilegal e a o novo esquema de segurança.
— Corvo e Barão II… trabalhando juntos!? — perguntou o garoto que estava deitado.
— Na verdade… o Corvo sempre dependeu da máfia do Barão, e isso não vai ser diferente desta vez — afirmou Roy.
— Por qual motivo?
— É simples, Slezzy. O sonho do Corvo é claro: dominar as regiões abaixo do rio Khitáras, cercado pela guarda costeira da FMA. E, graças a eles, dificultamos todos os negócios ilegais, ou pelo menos a maioria, que ocorriam através daquelas águas. Por isso, o mafioso deseja abandonar a Região Norte.
— Derrotando as três máfias, poderíamos finalmente livrar a cidade… de toda essa merda de criminalidade!? — perguntou com firmeza.
— Falando assim… parece até fácil, garoto — disse o General. — Mas… você está certo de qualquer maneira. Todos os pequenos grupos de bandidos que vagam por essas ruas, na realidade, são comandados por essas máfias. Então… é correto dizer que o dia em que derrubarmos… Os Pérgamos, a Asa Negra e a Sociedade Nobre, por completo, teríamos em torno de noventa e cinco por cento de redução nas taxas de criminalidade, além do controle de toda a cidade.
— Mas… não vamos conseguir esse feito, caso não façamos nada nas próximas semanas — completou o Tenente. — Essa é a nossa chance!
— Então… me libere para as ruas, Tenente! Eu vou… — Slezzy foi interrompido. O General colocara a mão direita sobre o peito do garoto, confrontando-o logo em seguida.
— Não podemos aprovar a sua volta para a Operação Caos… não agora. Por ordem do governador, todos os agentes que se feriram durante a invasão de ontem, deverão se afastar das ruas até se recuperarem.
— O que? Isso é sério?
— É tudo por uma questão de jogada política, Slezzy — disse Helena. — O governador quer causar a impressão de que os militares seguem firme, retomando o controle da cidade a cada dia; assim, ele não gostaria de demonstrar qualquer mínima fraqueza, tanto para a mídia… quanto para os criminosos.
— Você é bem inteligente, garota…. — elogiou o General.
Santos não teve muitos segundos de paz após sua fala, já que foi indagado mais uma vez:
— Por que… pediu para que Jean e Kine saíssem? — perguntou Roy.
— Ah, claro! Já estava esquecendo do principal motivo de estarmos aqui! Não é mesmo, Tenente Jan!?
Todas as pessoas da sala passaram a observar Jan, que suspirou profundamente, antes de pronunciar suas palavras:
— Yuki está suspeitando da existência de um agente duplo entre as máfias e as instituições militares. Pra falar a verdade… essa teoria já está na mente do garoto faz um tempo, e as chances de ele estar certo… vem se intensificando a cada mês — Aquelas palavras causaram calafrios em Slezzy. — No momento… Apenas vocês, presentes aqui, sabem dessa “nova” teoria. Por isso… o General solicitou a saída daqueles meninos.
— O que? Você acha que alguma daquelas crianças… trabalharia para a merda dessas máfias? — confrontou Roy, enfurecido.
— Roy… você sabe que não podemos descartar nenhuma possibilidade — disse Jan, compreensivamente.
— E Slezzy!? Não é considerado nem um pouco suspeito ao seu ver? — retrucou Helena, com um sorriso venenoso.
— Conheço-o muito bem, há mais de meses… então, vá por mim, Helena, eu saberia caso fosse. Além disso, o garoto é bobo até demais para alguém que pudesse cometer esse tipo de coisa. — respondeu o Tenente.
— Han!? Bobo demais? — replicou o garoto.
O Tenente ignorou-o e logo continuou; encarando a garota desta vez:
— Quanto a você e Shane, dispenso qualquer suspeita. Visto que vocês estão juntos há mais de quatro anos nesta instituição, sempre arriscando as próprias vidas em suas missões, para exterminar essas máfias. Sobre Roy e o General, eu não posso deixar de dizer o mesmo.
Os militares de cargo superior o encararam honradamente.
— E se caso… realmente exista um agente duplo… por que ele não poderia ser você, Tenente Jan? — indagou Shane, com a mão sobre a empunhadura de sua espada, guardada naquela bainha de sua cintura.
— Você tem razão, realmente existe essa possibilidade! Mas acho que esse não é o melhor momento para nos virarmos uns contra os outros. Sinceramente, não quero que todos os dias em que me arrisquei nas periferias e áreas mais pobres, dominadas pelas máfias, tenham sido em vão.
— Se temos apenas quarenta dias no máximo para agir…, e realmente exista um agente duplo, vamos ficar cada vez mais atrasados! Ainda mais com a nova ordem do governador — afirmou Slezzy.
— Na verdade, temos um atalho… — disse Santos.
— Você tem certeza… que quer revelar isso, General? — perguntou Jan, antes que aquele homem concluísse seu dito.
O General ignorou o Tenente, discursando depois:
— No incidente de ontem, conseguimos capturar um mafioso da Asa Negra. Mas… digamos que não podemos revelar essa informação para todos, tanto para a imprensa… já que divulgariam a tal notícia em todos os meios de comunicação, quanto para os militares próximos… devido a possibilidade da existência de um agente duplo.
— Então, vocês vão torturá-lo? — perguntou Slezzy, descaradamente.
O General o encarou, sem desviar seu olhar:
— Considere que… só vamos tomar as medidas necessárias e cabíveis… para que possamos extrair o máximo de informações possíveis…!
O clima tenso que se criava foi interrompido pelo tocar do celular do Capitão Roy que, por sua parte, puxou o mesmo aparelho de seu bolso.
Ao checar o visor do telefone, o Capitão expressou uma face repleta de surpresa e entusiasmo.
— O que foi!? — indagou o Tenente, curioso.
— É uma mensagem da gerência do Hospital de Western… sobre Sanches…
Slezzy, com um brilho em seu olhar, encarou o Capitão, que concluiu as suas palavras:
— …parece que… ele acordou!
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