Harvim e Rainn, trêmulos, observavam toda a situação detrás dos armários de aço, protegidos por Slezzy e Sanches, que apontavam firmemente suas armas na direção de seus inimigos.

       Salvador andou lentamente na direção dos quatro. Ele estava completamente desarmado, apesar de que todos os capangas que estavam atrás de si o protegiam com suas metralhadoras.

       Sanches ameaçou o adversário que vinha ao seu encontro:

       — Se você der mais um passo sequer… EU JURO QUE VOU ENFIAR UMA BALA NA SUA CABEÇA! — Após as palavras do Agente, os passos de Salvador foram interrompidos. — E nem ao menos vou me importar… seja lá quem esteja por trás dessa maldita máscara.

       O mascarado os observou através de seus óculos vermelhos.

       Passados alguns segundos dentre aquele clima tenso, Salvador deu uma pequena risada debochada; a seguir, com olhares fixados em Sanches, iniciou um discurso provocativo:

       — Arand Sanches… — Somente aquelas primeiras palavras foi o suficiente para que o agente de cabelos longos e cacheados se surpreendesse.

       “Arand? Eu nunca ouvi alguém o chamar assim antes”

       — Você não pode fazer isso… e sabe muito bem, não é!? Mesmo que me mate… vocês ainda se encontrariam encurralados pela clara desvantagem numérica. Sem citar o Código de Conduta, que está registrado no Coração das Sombras. É chato ficar limitado à pequenas ferramentas quando há muitos seres humanos medíocres em volta, não acha?

       Rainn murmurava, confuso.

       “Código de conduta…? Isso está registrado naquele livro demoníaco? Droga… eu sabia que deveria ter ao menos folheado aquilo”

       — Aparentemente, o novato deve estar desorientado, mas esse não é um dos maiores problemas agora — comentou Salvador. Logo após uma pequena pausa, retomou sua fala, ainda encarando o Agente Sanches — Sendo assim, levando em consideração que você tenha reconhecido que não vale a pena sacrificar… quatro preciosas vidas em troca de uma das maiores figuras das máfias desta cidade, devo dizer que finalmente… estou seguro para ter uma conversa aberta.

       Sanches retrucou, indignado:

       — Conversa!? A esse ponto… você quer realmente ter uma conversa?

       — E por que não? Não dizem por aí… que o diálogo é a melhor maneira de se resolverem as coisas?

       — A diferença desse ditado popular para agora… é que já passamos dessa fase, e isso foi há muito tempo atrás. Além do mais, o que me levaria a ceder o direito de ouvir o líder da Asa Negra!? A máfia mais covarde… e violenta dos últimos anos… que dedicou toda sua existência à garantia do próprio crescimento, influenciando bruscamente as taxas criminais, independente do que tivesse que ser feito, desde o recrutamento de crianças órfãs até o tráfico ilegal de armas.

       — “Covarde?” …você e todo o corpo de instituições militares… não passam de uns hipócritas de merda, não é mesmo?

       Salvador abaixou a cabeça, passando a encarar o piso vinílico que compunha o extenso corredor. Curiosamente, a gritaria do lado de fora cessou, e logo o homem mascarado aproveitou aquele curto espaço de tempo, para provocar mais uma vez os agentes à sua frente:

       — A morte de Barão e de seu filho… o assassinato à sangue frio de todas aquelas pessoas inocentes no dia do grande assalto ao Banco Central de Maple… e todos os milhares de crimes cometidos por vocês, militares, que sempre são acobertados de alguma forma… TUDO ISSO, REALIZADO DA MANEIRA MAIS COVARDE POSSÍVEL! — Os agentes se espantaram com aquele berro. — Então me responda, Arand Sanches, nós somos os verdadeiros covardes aqui!?

       Sanches, furiosamente, retrucou:

       — Barão e seu filho foram os líderes da máfia mais hedionda dessa cidade. As ordens para a neutralização de ambos… não havia limites. E logo, ao ver do ritmo da qual a política de Dom Cernuno está sendo encaminhada, não haverá restrições no futuro para o abate de todos os mafiosos da cidade — Sanches cuspiu no chão. Ele e Slezzy perceberam a preocupação nítida e clara que se encontrava entre os rostos suados e murmúrios dos homens aliados à Kayber e Salvador. — Olhando por outro lado… foi realmente… muito bom ter essa conversa… já que agora, pude concluir que o seu desalinhamento com Corvo e o resto da Asa Negra é evidente. É óbvio que ele nunca cometeria uma estupidez como esse plano suicida.

       Salvador reergueu sua cabeça, voltando a encarar Sanches:

       — Corvo? Você está falando daquele medroso? Para falar a verdade… os nossos ideais não estavam mais se conectando. Todas as decisões tomadas por aquele homem… faltavam imposição de um verdadeiro líder. Assim, alguém precisava tomar alguma atitude, para reagir à decadência das máfias da cidade… E eu assumi esse papel.

       O mascarado se levantou daquela posição, prosseguindo:

       — Eu não tomo atitudes estúpidas como os seus “amigos”. Minha intenção nunca foi de prejudicar nenhum cidadão de Maple, mas bem ao contrário disso. O maior presente que essa cidade poderia receber, seria a retirada de todos os meios de liderança que estão instaurados no centro desse inferno, cujo confortam todos os moradores ricos em volta dali. Os quatro prédios que cercam Kentrika… eles precisam cair… para que a cidade de Maple se torne um lugar justo; e ainda reste esperança para todos aqueles expostos à extrema desigualdade.

       Slezzy o encarava, refletindo sobre todas aquelas palavras.

       Agora, Rainn e Harvim estavam totalmente confusos.

       — Você está louco, Salvador… em meio a todos os crimes cometidos e o tempo dedicado às máfias, você se tornou um verdadeiro revolucionário — respondeu Sanches. — Porém, nada disso importa agora. Neste exato momento, as tropas militares já devem estar a caminho. Ou você acha que os pais de todas aquelas crianças lá fora… não se preocupariam em realizar uma simples ligação?… Você e seu pequeno bando estão completamente cercados. No final, cada um de vocês só saíra daqui de duas formas: mortos ou presos.

       — Será mesmo?

       Kayber notou que os garotos encaravam aquela ocasião, de maneira fria.

       Harvim percebeu pela estatura do Agente que estava à sua frente, que na verdade aquele era Slezzy.

       Já Rainn não se atentou àquele detalhe, já que sua mente estava completamente abalada por tudo aquilo que acontecera.

       — Em torno de toda a área do colégio, estão espalhadas em meio as construções ao redor… diferentes equipes do meu “pequeno bando”, prontos para revidar e ganhar o máximo de tempo possível, para que minha missão seja devidamente cumprida! Assim, suas tropas militares receberão uma pequena surpresa. Porquê no final de tudo isso… irei tirá-lo do meu caminho. — Salvador concluiu sua fala, apontando com sua mão direita na direção de Slezzy.

       — Então, tudo isso se trata de uma vingança pessoal? — refutou Slezzy, com extrema calma em sua fala.

       — Não. Na realidade, apenas estou retirando duas das peças fundamentais que sustentaram toda a retomada militar nesses últimos meses, que por coincidência, não tiveram seus valores reconhecidos — afrontou Salvador, friamente. Sanches franziu seu olhar. — Apesar de que… uma das maiores certezas que tenho agora… é de que você não se importa nem um pouco com a sua família.

       Salvador afirmou aquilo enquanto encarava Slezzy, que logo demonstrou uma reação furiosa.

       O corpo do jovem despertou pequenos raios, mas Sanches o controlou a tempo, apertando fortemente seu ombro, ainda segurando e apontando o seu rifle com a outra mão, sem mover sequer um músculo de sua cabeça.

       — Ainda não é a hora… Ele está tentando entrar na sua mente, garoto — alertou, sussurrando.

       Os meninos ficaram espantados com aquele pequeno acontecimento.

       Slezzy ignorou o seu parceiro; encarou o mascarado e o confrontou:

       — O que você está insinuando!?

       — Não é óbvio!? Todos esses meses dedicados exclusivamente ao seu corpo e controle de seus poderes, ignorando a existência e vulnerabilidade de sua família; tudo isso, por pura arrogância e egoísmo. Ou será que… as vidas de todas as outras pessoas dessa cidade, são mais importantes do que eles? É por essas pessoas que você luta?

       — CALE A BOCA! — respondeu Slezzy, aos berros. — Eu luto por todos que sofrem diariamente nessa merda de cidade, nas mãos de vilões… como você!

       Slezzy deu alguns passos à frente após sua fala. Sanches tentou o interromper, mas não obteve sucesso.

       — O que você está fazendo!? — alertou Sanches.

       O jovem continuou avançando, com seu fuzil apontado na direção da cabeça de Salvador.

       Os capangas ficaram cada vez mais receosos com a atitude do garoto; porém, mantiveram suas armas apontadas na direção do mesmo, com maior precisão.

       Após alguns segundos, Slezzy estava finalmente frente a frente com Salvador, apontando um fuzil em sua máscara. Suas mãos tremiam continuamente. Seu olhar estava dominado por fúria. Logo, ele o confrontou, calmamente desta vez:

       — Então, acho melhor… que você pare de contar mentiras.

       Salvador o refutou, também calmo, mesmo com um fuzil apontado na direção de sua cabeça:

       — Ah, é? Mentiras? Então, vamos finalmente tirar a prova disso!

       Salvador conjurou sua clássica parede meio transparente e fosca, que surgiu rapidamente entre si e Slezzy.

       O jovem reagiu àquilo, disparando uma sequência de tiros contra aquela parede, que impedia qualquer passagem entre os dois grupos, do chão até o topo do teto.

       Eles ainda se enxergavam devido à transparência da conjuração.

       — DESGRAÇADO! — berrou Slezzy.

       Sanches se aproximou aos poucos, até ficar lado a lado com seu parceiro.

       O corpo de Salvador começou a ser rodeado por uma energia roxeada. Logo, ele provocou Slezzy pela última vez, enquanto assumia uma posição de salto vertical:

       — POR QUEM… VOCÊ REALMENTE LUTA? — berrou. — Pela sua família… ou por todos aqueles ingratos lá fora?

       Logo após, Kayber jogou uma granada de fumaça, sem nenhum pino, nos pés de Salvador.

       Slezzy e Sanches recuaram rapidamente. Ao mesmo tempo, a dupla escutou o barulho de uma grande explosão contra o teto de concreto do corredor.

       Após um segundo, a parede fosca foi desfeita.    Logo, os capangas de Salvador, iniciaram uma sequência de disparos na direção dos agentes, no meio de toda aquela fumaça.

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