Apenas uma vez (1)

A mão de Carlisle guiou Elena para longe do ruído ambiente do salão de baile. Ela o seguiu sem dizer nada, e em pouco tempo um belo jardim ao ar livre surgiu diante de seus olhos. Ela inspirou o ar fresco da noite e logo sentiu sua mente voltando lentamente.

Ela quase agiu precipitadamente. Quando ela viu Paveluc vivo diante de seus olhos, toda a raiva de sua vida passada a atingiu instantaneamente. Mesmo agora, ela não conseguia esquecer a cena dos corpos de seu pai e irmão pendurados na parede do castelo. Naquele momento, todo o seu ser estava saturado de raiva cega.

Carlisle viu as pontas dos dedos ainda trêmulas de Elena.

 “Você está bem?”

 “…Sim.”

 “Você não parece bem”

 “Não é nada.”

Carlisle não disse mais nada e apenas ficou parado em silêncio. Depois de estabelecer seus pensamentos, Elena falou com Carlisle finalmente.

 “Obrigada por me trazer aqui.”

Se ela não tivesse recuperado rapidamente a razão, ela poderia ter atacado Paveluc.

 “Eu apreciaria se você me contasse por que você parecia tão pálida de repente.”

Ela não respondeu, ao invés disso, olhou para a vista à sua frente. O jardim externo estava escuro, mal iluminado apenas pelo suave luar. Os olhos azuis de Carlisle brilhavam como uma besta selvagem, mesmo neste lugar sombrio. Ele era sua melhor chance. Ela não tinha ideia do futuro que sua decisão traria, mas a sorte já havia sido lançada e Elena o faria imperador de qualquer maneira.

No entanto, isso não significava que ela confiava completamente em Carlisle. Ela duvidava que ele acreditasse em sua história absurda, e ele poderia tratá-la como uma louca se ela contasse a ele. Ela não correria o risco. Além disso, não fazia sentido dizer a Carlisle algo que ela ainda não tinha contado para sua família.

 “Eu só … eu me senti tonta de repente.”

Quando ela terminou de falar, Carlisle estendeu a mão para ela. No momento em que ela percebeu o que estava acontecendo, Carlisle já estava tocando a testa de Elena e murmurando.

 “…você não está com febre.”

Sentindo-se constrangida, ela rapidamente puxou a cabeça para trás para evitar seu toque. Embora ela estivesse distraída no salão de baile, ela ainda se lembrava claramente do que ele tinha feito antes. Ele segurou sua bochecha e abaixou a cabeça para olhar em seus olhos.

 “Eu não gosto de ser tocada.”

 “Então você quer que eu permaneça parado quando estiver prestes a cair?”

Ela não podia ver sua testa franzida no escuro, mas o tom de sua voz disse a ela o suficiente. Elena tinha algo mais que ela queria dizer, e ela respondeu com bastante calma.

 “Além disso, ainda não dei permissão para você me chamar pelo meu nome.”

Ela o ouviu chamá-la de “Elena” no salão de baile. Ela também ficou chateada quando ele a chamou de “Len” quando ela servia como sua guarda. Ele estava cruzando os limites por sua própria vontade.

 “…”

Carlisle não disse nada por um momento, mas seus olhos, entretanto, brilharam com infelicidade. Não poderia ser evitado; não havia nada agradável no que Elena disse agora. No entanto, ela estava determinada a aproveitar esta oportunidade para lhe dizer o que pensava. Não havia nada de errado com o que ela disse agora. Eles não eram amantes de verdade – era uma relação contratual.

Os olhos azuis de Carlisle escureceram. Ele respondeu, com sua voz moderada.

 “…Vou manter isso em mente.”

Agora que Elena o tinha sozinho, ela queria terminar de dizer tudo o mais que ela não poderia dizer no salão de baile. Elena tocou o colar de diamante vermelho que estava usando.

 “Isso é demais, também. Se você pudesse voltar atrás…”

 “Você esqueceu a promessa que você me fez?”

Ela prometeu levar qualquer coisa sem questionar em troca do vestido.

 “Mas o preço deste colar…”

 “Ainda era uma promessa. Kuhn não te contou? Eu disse: ‘Se ela não cumprir a sua palavra, diga a ela que também não vou cumprir a minha.’”

 “…”

Se Elena foi quem protestou contra ele há algum tempo, as coisas agora eram exatamente o oposto. Elena foi incapaz de refutar as palavras de Carlisle, mas ela não podia continuar a se sentir em dívida com ele. Ela também não queria se acostumar a depender de outras pessoas. Desta vez, ela precisava ser muito mais forte do que antes se quisesse derrotar Paveluc com as próprias mãos.

 “Eu sinto que devo mais a você… é por isso que meu coração está pesado.”

Ela expressou honestamente seus sentimentos, e Carlisle respondeu em um tom como se o que ele estava dizendo fosse óbvio.

 “Então me pague de volta.”

 “…”

 “Se eu te der cem, você só precisa me devolver um. Não estou pedindo que você me dê tanto quanto eu dou a você. Apenas uma vez… por favor, venha até mim primeiro.”

Elena congelou com uma resposta totalmente inesperada. A pessoa comum já a teria ouvido e retirado o colar. No entanto, Carlisle teve a audácia de perguntar se ela o retribuiria. Sua expressão também parecia triste. Ela não pensou sobre este desenvolvimento.

 ‘…O que isso significa?’

Dê a ele uma coisa de volta. Ela não sabia o que ele pretendia ao vir até ela primeiro. Quanto mais ela pensava sobre isso, mais vago era. Sua cabeça estava girando rápido, mas de alguma forma era uma resposta.

 ‘Você quer que eu pague de volta no final.’

Ela sabia, mesmo em sua última vida, que não se conseguia algo de graça.

 “Eu quero te pagar de volta, mas o preço deste colar é muito pesado.”

Um calor sutil parecia brilhar nos olhos azuis de Carlisle, como se estivesse desapontado com a reação dela. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, então finalmente conseguiu encontrar as palavras que queria dizer.

 “Não importa o que você diga, não tenho intenção de retirar o que eu dei a você.”

 “Mas…”

 “Esse era o acordo. Portanto, aceite meu presente sem dizer uma palavra.”

Carlisle parecia não querer ceder. Ela havia prometido. Ela foi forçada a aceitar os vestidos e joias que ele lhe dera.

 “…Bem. Agora que você me deu, vou usá-lo quando me tornar a princesa herdeira. Mas não vou expressar gratidão.”

Com suas palavras, Carlisle começou a rir. Ela nem mesmo agradeceu, apesar de ter recebido presentes caros. Ela expressou sua insatisfação à sua própria maneira, e ele não esperava ter uma reação tão positiva sobre isso.

 “Eu não preciso de gentilezas. Eles estão com seu legítimo dono.”

Carlisle parecia pensar pouco no valor dos itens preciosos. De alguma forma, era Elena que estava mais preocupada com essas coisas. Pareceu um pouco injusto, mas ela tomou sua decisão.

 ‘Vou usar tudo para torná-lo imperador.’   

Ela tinha pouco uso para o luxo, mas como ele insistia que ela ficasse com os itens, eles poderiam ser usados ​​em sua vida no palácio. Ou talvez como um fundo para ajudar Carlisle a assumir o trono do imperador, assim como seus outros despojos de guerra.

O trono do imperador.

Ver Paveluc hoje a deixou ainda mais determinada a nunca mais deixá-lo sentar no trono novamente. Desta vez, ela pegaria o que ele mais cobiçava, assim como ele levou sua querida família.

Tradução: Josué

Revisão: CeleFlor

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