Seria muito tarde? (1)

Elena teve uma noite de sono desconfortável. Inúmeros pensamentos giraram dentro da sua cabeça, a maioria deles sobre Carlisle.

 ‘Quando foi que isso começou’

Ela abriu os olhos e viu a luz do sol se filtrar através das cortinas. Ela se lembrou do tempo em que a família Blaise foi destruída, quando ela fugiu, e do sofrimento que ela sentiu quando viu o cadáver de seu pai. A memória costumava reproduzir-se na frente de seus olhos sempre que ela fechava os olhos à noite. Não houve um dia na sua vida passada que ela não se lembrasse daquele inferno.

 ‘Mas desde quando…’

Quando foi que ela começou a ter dias em que ela não estivesse presa a essas terríveis memórias? O retorno ao passado parecia ter tido um efeito grande sobre ela, um efeito muito maior do que ela pensava, pois as memórias amargas agora começavam a se enevoar num pesadelo que ela não queria voltar a ver. Ela costumava ficar cheia de veneno toda vez que se lembrava delas.

 ‘Meu tempo está passando.’

Na sua última vida, Elena passou muitos anos aprendendo a lutar e a afiar a sua espada para poder se vingar contra Paveluc. Não importava quanto tempo tenha passado, sua mente estava continuamente envolta na morte de sua família…

Mas agora, o coração de Elena fluía tal qual um rio, e Carlisle tinham tomado inesperadamente conta de todos os seus pensamentos.

 ‘Está tudo bem em deixar isso acontecer?’

Só porque ela estava começando a ver Carlisle como um homem, isso não significava que ela não se preocupava com a segurança da sua família. Nada mudou com relação à situação em que ela se encontra atualmente. Em última análise, fazer Carlisle imperador era a sua missão, e mesmo que ela não conseguisse fazer isso, ela não podia simplesmente deixá-lo à mercê da Imperatriz Ophelia ou da família Anita.

 ‘Será que meu coração me atrapalharia?’

Talvez ela devesse esperar até Carlisle ser coroado imperador e atingir o seu objetivo…

Uma longa sombra caiu sobre o rosto de Elena, e ela inclinou a cabeça é viu Carlisle olhando para ela.

 “Por que você ainda está deitada, se você já está acordada?”

 “Ah, eu estava apenas pensando…”

Carlisle nem sequer ouviu a resposta de Elena, é puxou o cobertor para revelar o seu tornozelo.

Elena olhou para ele com surpresa.

 “O que está fazendo, Caril?”

 “Eu fiquei esperando você acordar.”

Os olhos de Carlisle caíram sobre o seu tornozelo ferido e inchado. Ele franziu o olhar enquanto esfregou levemente o pé dela com a mão.

 “Ontem à noite você mentiu para mim sobre não ter se machucado?”

 “Estou bem. Estarei melhor logo.”

 “Não vou mais acreditar em você quando você disser que está bem.”

Carlisle chamou a empregada que estava esperando do lado de fora e ordenou que trouxesse imediatamente um médico. Embora a sua voz estivesse calma, a empregada apressou-se para fugir. A atmosfera que emanava do príncipe era amedrontadora.

Elena assistiu à cena com espanto. Uma pequena lesão como essa não exigia esse nível de confusão, ela nem sequer consideraria ir a um médico por uma lesão desse nível na sua vida passada.

Passou-se algum tempo antes da chegada do médico para inspecionar o seu tornozelo.

 “Ah, Vossa Alteza. Felizmente, não é tão grave como uma fratura ou deslocamento. Não se mexa muito e aplique um pouco de gelo. Se a dor não for grave, nem sequer precisa de ataduras…”

Carlisle, que estava olhando de perto, interveio.

 “O que quer dizer com ‘o ferimento não é grave’? Você deve fazer algo para manter o tornozelo dela no lugar”

 “Ela tem hematomas, mas para ter esse grau de tratamento…”

O médico ficou em silêncio sob o olhar ofuscante de Carlisle e engoliu em seco.

 “Você diz mesmo depois de ver essa lesão com os dois olhos, você ainda diz que não é grave?”

 “Oh, não. Vossa Alteza. Eu preparei um tratamento no caso de uma emergência imprevista.”

O médico do palácio retirou rapidamente algumas ataduras da sua bolsa, e Elena não pôde deixar de se sentir envergonhada. Ela não achava que a lesão fosse suficientemente grave para exigir ataduras, mas ela não podia discordar de Carlisle na frente do medico. Eles tinham de projetar uma imagem de um casal amoroso, e Elena não pretendia questionar Carlisle, por mais trivial que fosse. Ela observou cuidadosamente o médico enfaixar o seu pé, depois olhou para trás para ver o rosto de Carlisle.

 “Obrigada, Caril. Você se preocupa tanto comigo, mesmo para coisas tão pequenas.”

Carlisle arqueou as sobrancelhas diante da sua resposta inesperada, mas ele rapidamente percebeu que ela estava consciente do médico que estava por perto. Ele sorriu e levantou a mão para tocar na bochecha de Elena.

 “Não se machuque minha esposa.”

Apesar de tudo ter sido uma encenação, o seu coração tremeu com essas palavras. Ela começou a perceber que estava quase perdendo o controle.

 ‘Nunca ninguém duvidou de mim quando eu disse que estava bem…’

Todos acreditavam nela quando ela dizia que estava bem, mesmo quando ela estava sofrendo. Ninguém tentou desvendar as suas feridas escondidas como Carlisle fez. Carlisle olhou fixamente para as ataduras enroladas à volta do tornozelo de Elena, e depois virou-se para a empregada.

 “O remédio está pronto?”

 “Sim, Vossa Alteza. Ele vai ajudar com a dor no tornozelo. Devo administrá-lo agora?”

Carlisle olhou para Elena e abanou a cabeça.

 “Ainda não, o medicamento não faz bem de estômago vazio. Diga ao cozinheiro para servir alimentos que promovam a cura.”

 “Sim, Vossa Alteza.”

A empregada recuou e saiu correndo da sala enquanto Elena olhava para o seu marido superprotetor. Como filha mais velha da família Blaise ou como cavaleira, ela nunca se preocupou consigo própria. A preocupação de Carlisle com ela aqueceu o seu corpo.

 ‘Eu me sinto bem.’

Ela não sabia como expressar o sentimento em palavras, mas ficou tocada pelos cuidados de Carlisle.

Um pensamento golpeou-a. Impedindo o seu coração de ir para Carlisle.

Seria muito tarde.

Tradução: Nevasca

Revisão: Sa-chan

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