Capítulo 2.5: Aquele que veio das Terras Para Além do Mar.
Atena é a deusa da sabedoria. É reconhecida como uma grande mentora, principalmente por causa de sua participação na vida de Odisseu, como narrada na Odisséia, escrita por Homero. Escrita não, relatada.
Mas há um fato sobre a deusa que intrigava a todos, em especial Eris. Por não ter tido coragem de perguntar pessoalmente, ela optou por falar com Métis — sua mãe.
Métis morava na Acrópole de Atenas, no templo chamado Partenon. Era a deusa da prudência, e a primeira esposa de Zeus.
Ela era uma bela loira, cujo traje era um vestido azul claro, de pano simples. Usava uma tiara de flores na cabeça.
Seu passatempo consistia em dar aulas para crianças, dando até lições mágicas. Feitiços básicos, somente.
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Isso aconteceu um mês antes de Zeus ameaçar Hermes.
Ela chegou na Acrópole, mas a deusa da prudência não estava sozinha.
Havia um sujeito de longos e lisos cabelos de cor roxo, vestindo quimono negro e tendo sandálias de madeira nos pés. Seus olhos puxados declararam que não era grego e sua presença, grande presença, indicava que não era um mortal.
Ele havia retirado e embainhado sua espada fina, uma catana, em milésimos de segundo, quando sentiu a presença de Eris.
— Alto lá! — disse o ser.
— Oh, Eris? Que ventos te trouxeram? — cumprimentou Métis.
Ela se sentou no banco de mármore ao lado da titã, sentindo a brisa que passeava pelo lugar. Encarou o “forasteiro”, e perguntou:
— Quem é você? De onde veio?
Ele sorriu, como se fosse inocente.
— Sou o deus da Morte e da Vida, e vim de onde vocês chamam de “Terras para além do mar”. — Se apresentou — Me chamo Yoshiyuki… e meu apelido é Assassino de Almas.
“As ‘Terras para além do mar’…”, pensou Eris, “ele fala de Thero, um dos muitos mundos que existem além do nosso.”
— Sobre o que conversavam, antes de eu vir? Posso saber?
— Falavamos de Atena — disse Yoshiyuki.
A coincidência espantou a deusa da discórdia, que arregalou os olhos, e o carmesim de suas íris brilhando de susto.
— Sou um forasteiro. Andei visitando inúmeros mundos, na intenção de formar um conselho com os representantes de cada mundo. Meu objetivo é manter a harmonia no Arucosmos.
Este era o termo arcaico para Multiverso. Onde a partícula “aru” significa “todo”, aí usado no plural, e “cosmos”, que por definição seria o “universo como um todo”. “Todos os universos como um todo.”
— E Métis — continuou o forasteiro de Thero —, esta gentil mulher ao seu lado, me explicava sobre o significado da construção desta Acrópole. Que é em homenagem à Atena, a deusa da sabedoria e sua filha.
Pondo os braços na mesa retangular de mármore, exibiu sua pele pálida. Uniu as mãos e apoiou a cabeça no dorso delas.
— Ela me contou que foi a primeira esposa de Zeus, o atual Rei dos Deuses, e para quem decidi fazer o convite ao conselho. E, também, que ouviu uma certa profecia…
Zeus, depois de copular com Métis, ouviu uma profecia. A de que, no futuro, seria destronado por um filho… assim como ele destronou seu pai, Cronos. E Eris suou frio ao ouvir isso.
Por saber o poder que as profecias tinham, ele resolveu enganar sua esposa.
— “Vamos brincar! Transforme-se em mosca, minha querida”, ele me disse — relembrou Métis.
Ela o fez, por ter o dom da magia. Mas no que se transformou, Zeus a abocanhou e engoliu. Algum tempo se passou e ele teve um presságio de que o filho nasceria.
Sentiu tanta dor de cabeça que pediu a Hefesto, o único filho não fruto de Hera com ele, que partisse sua cabeça ao meio. Assim, uma jovem adulta, junto de Métis, saíram.
— Essa jovem era Atena — terminou Yoshiyuki.
— Aliás… — disse a deusa da prudência — Eris, sua barriga está um tanto crescida, não? Apesar do corpo magro, posso ver que…
— Que está grávida — completou o outro deus.
A dama caótica estava em choque.
— Ah, sim… eu estou grávida.
— Eita, quem é o sortudo? — indagou o deus da morte.
Ele engoliu seco, mas respondeu:
— Zeus, meu irmão.
Métis riu de nervoso, e Yoshiyuki reagiu coçando a bochecha. Um clima enfadonho se formou, até que o forasteiro decidiu tentar o dissipar.
— Essa sua reação… esse olhar assustado. O suor provavelmente frio que acabou de escorrer da sua testa, à ponta do nariz… tudo isso configura numa expressão de ansiedade.
Ele escondeu o sorriso, cobrindo a boca com ambas as mãos.
— Não há porquê você reagir assim. Apenas lhe contamos uma história… quer dizer, não haveria porquê.
E se levantou, andando devagar até ela.
— Até o movimento que acabei de fazer te assustou, certo?
— A-aonde você quer chegar, senhor Yoshiyuki!? — exclamou Métis.
Ele parou em frente a deusa da discórdia e, tocando seu nariz, disse:
— Alguma coisa nesse relato te causou essa ansiedade. Podem se levantar e segurar minhas mãos por um momento?
Elas o obedeceram.
— Em todos os mundos que passei, esse tipo de poder existia. No meu mundo, Thero, nós o chamamos de Arcane Pawa.
Métis segurava a mão esquerda dele, e Eris na outra, tremendo. Ele apertou-as.
Yoshiyuki as fez ter visões de coisas que aconteceram segundos antes. Este era o seu “poder arcano”, o Past Recording.
— Arf… arf… — arfaram, após ele terminar.
— Eu as fiz ver alguns momentos no passado. Nossas cabeças foram forçadas a isso, mas valeu a pena…
— Por que? — indagou Eris.
Os ventos balançaram aqueles cabelos roxos, tornando ainda mais dramática a revelação.
— Você estava interessada antes mesmo de nos ouvir contar. Presumo que essa tenha sido a intenção de ter vindo — deduziu —, e se surpreendeu por estarmos falando justamente sobre. Mas a sua ansiedade veio, de acordo com as visões, quando falei sobre a profecia que Zeus ouviu.
Eris estava encurralada.
— Então está dizendo que ela… que… que — gaguejou Métis.
— Que, além de ter um filho com Zeus, ouviu uma profecia similar. O filho de Eris está destinado a matar Zeus — afirmou Yoshiyuki.
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Após aquilo, Eris discutiu mais um pouco e decidiu ir embora, levando Yoshiyuki consigo. Eles voaram pelo céu até o monte olimpo.
“Há duas profecias…”, pensou ela, “nunca ouvi de duas profecias tratarem do mesmo assunto. Será que a Pitonisa recebeu uma confirmação da antiga, ou talvez…”
Ou talvez a profecia de seu filho fosse uma segunda, havendo dois futuros assassinos de Zeus? Havia essa a possibilidade.
“Não… hehe… isso é impossível.”
Não havia como duas profecias coincidirem…
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