Eles chegaram à Montanha das Oréades, como havia indicado Roz. Mas, por um momento, quando os três piscaram os olhos simultaneamente, sentiram que caíram.

    “Deve ter sido só impressão”, pensou Hermes, quando viu-se de pé.

    — Vejam, há uma entrada! — disse o rapaz Eros.

    E entraram.

    — É uma escadaria construída dentro da montanha… — Analisou o artesão — não só isso, ela é como um parafuso de Arquimedes. As escadas funcionam como uma espiral, tendo como centro o meio da montanha.

    Se a seguissem, poderiam chegar ao topo da montanha. Assim, não iriam precisar fazer o esforço de escalar.

    — Há até janelas para ventilação! — disse Hermes.

    Haviam várias janelas durante a subida. Em dado momento, Hermes olhou para uma e viu algo que o fez retornar ao degrau que passou.

    — Ei, senhor Dédalo… aquilo é uma estátua?

    — Aonde… — Olhou para a janela — ah, provavelmente. Nunca que uma pessoa teria um equilíbrio tal que a permitisse ficar ali, de pé, na ponta de uma rocha há não sei quantas dezenas de distância do chão — respondeu o mestre.

    — Só se fosse um deus! — afirmou Eros.

    E continuaram a subida. Horas se passaram, e Hermes era o único que se importava de olhar as janelas, enquanto Dédalo ia forçando o cérebro a pensar em algo para a prisão, e Eros contava mentalmente o tanto de degraus que subiu.

    Uma hora se passou.

    — Cento e onze degraus…

    Duas horas se passaram.

    — Trezentos e quatorze…

    Três horas se passaram.

    — Seiscentos e… quarenta…

    — Aliás, vocês sabem o porquê da montanha se chamar assim? — indagou Dédalo, apenas para gerar diálogo.

    — Não… — respondeu Hermes, desanimado.

    — Oréades são ninfas que guardam as montanhas.

    O deus do vento deu de ombros, e mais uma hora se passou desde então.

    — Oitocentos e cinquenta e seis…

    — Camaradas, eu entendi o que está acontecendo. E Eros, pare de contar os degraus! — gritou Hermes.

    ㅡㅡㅡ

    O deus mensageiro ergueu o braço, apontando o dedo indicador para a janela. Os outros olharam, e Dédalo perguntou:

    — O que… cof, cof! O que tem?

    — Preste atenção. 

    Os três estavam cansados, exauridos, como se suas energias vitais estivessem sendo sugadas. Principalmente Dédalo, que parecia que ia falecer a qualquer momento, dada suas tosses.

    — Quatro horas se passaram… arf… — Disse Hermes, ofegante — E a vista da janela é a mesma. As mesmas montanhas ao fundo… a mesma estátua.

    Ele se abaixou, apoiando o corpo no joelho da perna direita. Além do cansaço e a sensação de ser sugado, ele sentia sua magia…

    — Se esvair… você, Eros, nos disse que apenas um deus teria a capacidade de estar ali, certo?

    — Uhum… 

    — Vou abrir o jogo: estamos presos em uma magia ilusória. Quando nos enfeitiçaram? Desde que entramos aqui, quando sentimos que tínhamos caído!

    — Então caímos numa armadilha… — brincou o cupido.

    Hermes estalou os dedos, fazendo surgir um cajado. Ele era dourado e adornado com uma cobra.

    — Temos um deus que sabe usar magia, e ele está contra nós! É aquela “estátua”!

    Ele arremessou o cajado contra a mulher, como se fosse uma lança!

    Suuuuh!

    ㅡㅡㅡ

    “Que merda…”, resmungou Hermes.

    A magia de ilusão os fez acreditar que estavam subindo uma escada de infinitos degraus, enquanto que a inimiga sugava suas energias e a magia do mensageiro divino.

    E a sensação de terem caído…

    “É que realmente caímos, só que desmaiados. A magia agiu assim que subimos o primeiro degrau. Estávamos inconscientes antes mesmo de encontrar o chão!”

    Um amador… na verdade, nenhum humano ou besta seria habilidoso ao ponto de acertar o timing do piscar de olhos, com a queda e a ativação da magia.

    “Mesmo um deus praticante de magia não seria tão bom”, pensou Hermes.

    O que o fez suspeitar de duas deusas: Eris, a deusa da discórdia, e Hécate, a deusa da magia e sua amante.

    “Mas isso tem mais cara de ser uma ação da Eris…”

    E ele não sabia que ela era a mãe do filho de Zeus, profetizado como seu assassino.

    — E pensar que não era uma estátua… — murmurou Eros.

    O deus das viagens se levantou e ajudou os companheiros, reiniciando a caminhada. Mas no que eles subiram quatro degraus, o mestre-artesão parou, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

    — Não precisamos disso! Não subam! — gritou.

    — Ah, senhor! Não tema, não há mais ilusões! — assegurou Hermes, irritado.

    — Não é isso! É que já tenho a ideia que preciso!

    E deu meia-volta. Ele corria como uma criança alegre. Ia agradecendo Roz, mesmo acreditando que não seria dessa forma que teria a inspiração que precisava.

    Mas ele estava genuinamente feliz. Hermes e o amigo se entreolharam, confusos, mas decidiram seguir. Estavam curiosos.

    — E qual é a ideia, mestre!? — indagou Eros.

    — Uma escadaria infinita!

    ㅡㅡㅡ

    A Náiade dos olhos carmesins, Roz, dormia tranquilamente sob uma rocha no meio do rio. As outras duas a observavam.

    — Ela desmaiou? — perguntou a de olhos azuis.

    — Ao que parece… sim. Mas foi de súbito! — respondeu a de cabelos cinzentos.

    — Ela deve estar passando mal, tadinha!

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