— Já vai? — indagou Eris.

    — Sim… preciso pensar numa coisa.

    — Posso saber o quê? — e se pôs a frente dele.

    Ele negou com a cabeça, mas não exatamente o que ela pediu.

    — Cheguei numa conclusão, mas não consigo a aceitar — disse.

    — Uma conclusão…?

    Uma que o assustou profundamente.

    ㅡㅡㅡ

    Eris havia levado o Deus da Morte e da Vida ao Olimpo, como ele havia pedido. Lá, encontrou Zeus e, frente a frente, lhe fez o convite.

    — Já passei nos outros trezentos e sessenta e quatro mundos, incluindo o meu, e todos eles aceitaram indicar seus líderes como representantes do Panteão do Arucosmos.

    — Hum… — grunhiu o Rei do Olimpo — eu aceito, mas preciso cuidar do meu mundo. Ele é muito… complicado, digamos assim. Atena, minha filha, faria um trabalho excelente. Melhor que eu.

    E concordaram.

    — O leve até Atena — disse Zeus a uma criada.

    Não demoraram muito e, subindo as escadas de mármore bem polido, foram para a próxima casa. Lá, haviam duas estantes de livros, que formavam um corredor.

    Ele e a criada passaram pelo corredor e, ao centro, com a saída ao fundo, havia um precursor do atual “sofá” e uma mulher loira nele sentada.

    Ela estava de toalha. Aparentemente havia acabado de sair do banho.

    — A-Ah! Desculpa incomodar a senhora! Perdões! Mil perdões! — se desculpava a criada.

    — Não se preocupe! — respondeu a mulher — Eu posso atender o rapaz assim mesmo! Pode ir.

    E ela correu para trás do sofá, se escondendo atrás de uma das colunas jonicas que sustentavam o teto da casa.

    — A senhora é Atena? — perguntou Yoshiyuki.

    — Sim, sou a deusa da guerra e da sabedoria. Apesar de minha casa ter mais livros do que armas! — ela respondeu.

    — O conhecimento é a melhor arma que se pode ter. Bom, eu me chamo Yoshiyuki, sou o Deus da Morte e da Vida, em Thero.

    Ela pediu para que se sentasse junto dela, no sofá. O deus sentou e eles se analisaram por uns segundos.

    — Veio me propor algo?

    — Parece que meus objetivos são óbvios! — brincou Yoshiyuki, surpreso.

    — Veio… veio me pedir em casamento?

    — Não… — respondeu ele, em tom sério — sou casado. Vim lhe propor uma cadeira no Panteão do Arucosmos…

    E explicou tudo aquilo.

    — Aceito. — Disse — É uma causa nobre.

    — Tudo pela harmonia no Arucosmos.

    — Eu ia me vestir, mas há a possibilidade de você não me esperar…. não quer jogar conversa fora?

    Ele assentiu. Falaram sobre muitas coisas, principalmente Atena, que foi induzida a falar bastante sobre si mesma. 

    Isso foi resultado de Yoshiyuki parecer um psicólogo, fazendo perguntas aparentemente enviesadas, e a paciente a dizer o que ele precisava saber.

    — Atena, você já sentiu vontade de se rebelar contra o seu pai?

    — Ah… — olhou para cima, pensando — não… não que eu me lembre.

    Ele sentiu que algo interessante residia ali, e perguntou:

    — Interessante de que forma?

    — Ah… é que tem certos assuntos que me deixam um tanto… pensativa. Indecisa! Isso, essa é a palavra.

    “De ‘pensativa’ para ‘indecisa’? Opa… interessante.”

    Hodonaru, Hodonaru! — murmurou.

    — O que significa?

    — “Interessante”, em meu idioma. Achei curioso o uso da palavra “indecisa”. Porque isso remete a dúvida e, levando em consideração o contexto da minha pergunta… — fez uma pausa dramática — faz parecer que você não sabe se… sentiu ou ou não. E o “lembre” dá a entender que há a possibilidade.

    Ela se espantou.

    — Ah… ahaha, é que… eu realmente não lembro — disse Atena —, ou melhor dizendo, há coisas que eu deveria lembrar. Pesam na consciência, mesmo que eu não saiba do que se trata.

    “Ela faz questão de dizer que uma memória sobre ‘se rebelar contra o pai’ é importante. Quem sabe… hum.”

    — Então, Atena… você está me dizendo que há coisas das quais não consegue lembrar, apesar de acreditar que são importantes?

    — Sim — respondeu ela.

    — Hum… então segure a minha mão.

    Ela o fez, mas corou um pouco.

    — Você é casado, senhor Yoshiyuki…

    — Opa, não é disso que se trata… — respondeu o deus da morte — vou usar o meu poder.

    — O seu… poder?

    “Past Recording!”, gritou Yoshiyuki em seus pensamentos.

    ㅡㅡㅡ

    Ele sentiu algo tentando o repelir.

    “Isso é…”

    Alguma coisa na mente dela…

    “Não me deixa ver as suas memórias… deve ser inconsciente, já que ela não sabe o que o meu poder faz.”

    Porém…

    Um clarão o cegou por um momento.

    — Isso é…

    No cenário mental, ele viu o lugar em que estavam. As mesmas colunas jônicas, estantes de livros, o sofá  e as criadas andando e cuidando de seus afazeres.

    — Senhor Yoshiyuki? — indagou ela.

    Isso causou estranhamento no deus, que arregalou os olhos.

    — Senhor Yoshiyuki…? Oi, senhor?

    Ele havia retomado as memórias de cinco minutos antes. Ou seja…

    — Como…

    Como ela sabia o seu nome?

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