Capítulo 19 — Fim da masmorra

“Você morre aqui!” A ameaça nos olhos de Dahak não eram apenas palavras vazias. Mesmo com o ‘Domínio Absoluto’ ativado, Eriel só conseguia prever os dois primeiros movimentos do inimigo.

Espera, eu sou um usuário do tempo! Pensou, sentindo o pânico crescendo dentro dela. A mão de Dahak avançou em direção ao seu pescoço, e o impacto do golpe se aproximava rapidamente.

{Lorde do Tempo.} Em um momento crucial, Eriel fez tudo parar. Sentiu o sangue escorrendo em seu pescoço, mas percebeu que não era um corte mortal. Aproveitando a pausa, desviou-se do golpe e rapidamente se posicionou atrás dele.

Quando o tempo voltou ao normal, Dahak parecia surpreso. O braço que ele havia ferido momentos atrás estava perfeitamente curado, como se nunca tivesse sofrido dano.

“Isso é?” A confusão transparecia no rosto de Dahak enquanto Eriel observava seu próprio braço, sentindo um poder imenso pulsando dentro dela. Era a força de Dahak, uma escuridão que ela podia sentir em suas profundezas.

Como um estalar de dedos, toda a sua energia mudou. Sua capacidade de mana aumentou de forma significativa, e um poder antes inalcançável agora transbordava de seu corpo.

{Tempo.} Ao ativar a habilidade de retroceder no tempo, Eriel percebeu que sua cura não era apenas um efeito temporário. Inconscientemente, ela havia ativado uma habilidade que permitia a ela ‘retroceder no tempo’, mas seu efeito parecia se restringir apenas ao seu corpo.

O som agudo ressoou ao seu redor, e tudo parou novamente. Usando {Lorde do Tempo}, Eriel começou a se mover. Com um salto ágil, atacou Dahak de baixo para cima. Ao completar seu golpe, ela criou uma pequena plataforma de mana no teto e a usou como impulso para um ataque de cima para baixo.

Criando diversas plataformas feitas de mana, Eriel se movimentou rapidamente em todas as direções. Direita, esquerda, baixo, cima. Usando um padrão que Dahak não poderia prever, desferiu uma série de golpes rápidos e precisos. O Lorde do Tempo a ajudava imensamente, e quando Dahak finalmente começou a notar o padrão, Eriel ativou novamente a habilidade e mudou de posição, surpreendendo-o mais uma vez.

Ela sentiu seu corpo doer após usar a habilidade repetidamente, mas algo havia mudado. Desta vez, seu corpo estava leve, como se finalmente tivesse se acostumado ao poder do tempo.

Foi então que notou que a espada em suas mãos parecia se conectar com sua habilidade, absorvendo sua mana. À medida que a energia era drenada de seu corpo, as runas na espada começaram a brilhar em um tom azul-claro. A espada ativou sua segunda forma, e os olhos de Eriel refletiram as runas de poder de Azrael.

A dor atravessou seu corpo, a lembrança de Noir apertando seu peito, não uma dor física, mas a agonia de perder Azrael novamente. Noir, vou acabar com isso. Eriel pensou.

{Por favor, permita que Az descanse em paz.} A voz de Noir, carregada de dor, fez as lágrimas escorregarem pelos olhos de Eriel, enquanto ela rangia os dentes em resposta à pressão emocional.

“Morre!” A determinação a consumia, e Eriel atacou.

{Perfurar!} Seu golpe perfurou o peito de Dahak.

{Técnica Divina: Mil Cortes!} Uma série de movimentos cortou os membros de Dahak, deixando apenas sua cabeça intacta, para que ele pudesse testemunhar seu próprio fim.

O tempo voltou a fluir. Eriel olhou diretamente nos olhos de Dahak, e, por um breve momento, notou um sorriso em seu rosto, como se a morte não o preocupasse.

Os lábios de Eriel se contorceram em raiva. Seu último movimento foi em direção ao pescoço dele, determinada a encerrar aquela luta de uma vez por todas.

“Já chega!” A voz de Aion ressoou no ar, mas Eriel não tinha intenção de interromper seu golpe. No entanto, surpreendentemente, Dahak deteve sua espada com as próprias mãos.

“…!” O coração de Eriel disparou ao sentir a mudança repentina na aura de Dahak. A mana que emanava de seu corpo continuava escura, mas havia uma escuridão que ela reconhecia. Era a presença de Azrael.

“Você foi muito bem, Eriel.” A voz de Azrael agora soava clara e carinhosa, fazendo com que Eriel caísse de joelhos. Noir, retornando à sua forma original, correu para os braços de Azrael, agarrando-o enquanto lágrimas desesperadas escorriam por seu rosto.

“Me desculpe, Noir… Eu não queria brincar com suas emoções.” A voz de Azrael estava repleta de sinceridade.

“Azrael! Az!! Eu pensei— Pensei que você tinha morrido!” Noir se agarrou a Azrael com uma força que revelava o quanto ela havia sofrido.

“Me desculpa. Tive que apagar parte de sua memória, já que você conhece minhas habilidades.” A expressão de Azrael era de pesar.

“Az, quando você fizer algo assim, me conte. Fiquei desesperada. Nossa ligação… Nossa ligação.” A angústia na voz de Noir ecoou no ambiente.

“Eu sei… Tive que usar uma magia que engana seus sentidos. Por esse motivo, você não sentiu nossa ligação.” Azrael segurou a cabeça de Noir, colocando-a gentilmente perto de seu peito, enquanto ela o mantinha firme em um abraço.

“Noir, eu explico tudo quando chegarmos, está bem?” Ele buscava acalmar a garotinha.

“Sim…” A resposta de Noir era um sussurro entre lágrimas.

Após terminar os assuntos com Noir, Azrael se virou em direção a Eriel. “Mas julgo que também te devo explicações…” A intensidade em seu olhar indicava que o momento era sério.

Azrael começou a narrar o que estava acontecendo. Todos já sabiam o que iria acontecer; Aion era, na verdade, Zoe em sua verdadeira forma. Para não se parecer com Eriel, ela havia mudado um pouco o próprio rosto. O local em que estavam era uma espécie de ‘Mundo Interno’ criado artificialmente por Azrael.

“Tudo aconteceu para você despertar.” A voz de Azrael estava firme. Ele explicou que o poder de Eriel estava instável e que ele precisava de um estímulo para que ela despertasse. Para isso, ele havia planejado tudo por uma semana, contatando todos para colocar seu plano em prática.

“Sei que fui rude e você deve estar querendo me bater…” Azrael disse, com um tom de arrependimento.

“Eu não tenho a intenção de fazê-lo.” Eriel respondeu, mesmo que uma sensação horrível de traição a consumisse. Bater em Azrael não parecia certo, mesmo que tivesse sido enganada.

Noir, porém, não compartilhava do mesmo sentimento. “Mas eu tenho.” Com determinação, ela desferiu um soco em Azrael, fazendo-o cair no chão. No entanto, ela não parecia satisfeita.

Sentando-se em cima de Azrael, Noir continuou a bater nele, a fúria transbordando em cada golpe.

“Noir!” A voz de Sonne ecoou pela sala, mas Noir não parou.

“Deixe-a. O mestre foi insensível ao fazer todo esse plano sem contar para ela.” Nain, que havia se soltado das correntes junto aos outros, falou em seguida, sua voz repleta de indignação. “Ele agiu como seu ‘Eu’ antigo… Até eu quero bater nele um pouco.”

Todos que estavam ‘fingindo’ se aproximaram para observar Noir espancando Azrael. A cena trouxe uma satisfação inesperada a Eriel; ao sentir a dor de Noir, ela compreendeu o que a amiga estava passando.

Quando Noir finalmente se acalmou, parou de bater em Azrael e deitou-se em seu peito. “Não faça nada assim novamente, está bem?” sua voz era suave, mas firme.

“Eu prometo.” A sinceridade nas palavras de Azrael era palpável enquanto ele segurava Noir em seus braços, erguendo-a como se fosse uma criança.

“Isso me lembra, não apresentei esses dois.” Azrael indicou Ielong e Vuk, que se aproximavam.

“Ielong. Seu nome é Legion. Ele é… um amigo próximo que me ajudou com todos os preparativos necessários.” Eriel notou o olhar desaprovador de Aion, mas ela não comentou nada.

“Esse é Nêmesis… Ele também é um amigo que… espera, você é considerado um amigo?” Azrael questionou, levantando uma sobrancelha de forma curiosa.

“Sabe, sempre pensei nele como um carrapato.” Legion respondeu, fazendo uma piada que arrancou risadas de Azrael e Nêmesis.

“Legion! Você não deveria falar isso~” Nêmesis brincou, rindo de maneira leve.

Eriel ficou impressionada ao ver os seres que antes considerava os mais assustadores do mundo rindo de maneira despreocupada diante dela. Tudo o que havia presenciado antes era encenação? Ou essa era realmente a verdadeira personalidade deles?

“Estamos apenas brincando.” Legion disse, e sua aparência mudou de repente. Ele se tornou um belo homem de cabelos e olhos negros, vestido em um elegante terno. Para a surpresa de Eriel, Legion se parecia bastante com Azrael.

Nêmesis também se transformou. Sua aparência afeminada e voz suave poderiam facilmente confundi-lo com uma mulher. Os olhos cobertos por uma venda com runas e os cabelos cor de trigo completavam sua fisionomia que lembrava uma figura feminina.

“Me desculpe por isso, Eriel. Não queria te enganar, mas foi algo necessário.” Aion, ou melhor, Zoe, se aproximou e segurou o ombro de Eriel com ternura.

“Não se preocupe…” Eriel respondeu, tentando processar a confusão que havia acontecido.

“Foi uma experiência interessante.” Nain se aproximou, um sorriso satisfeito em seu rosto. “Mas, princesinha, me responde: você acha mesmo que existe alguém que consegue vencer os quatro — a gente? Se alguém assim existisse, seu planeta estaria condenado.”