Capítulo 28 — Magia mais forte
Azrael
O olhar sanguinário que Baal lançou na direção de Azrael era algo que este já havia presenciado inúmeras vezes ao longo de sua existência. Muitos inimigos caíram antes mesmo de compreenderem o erro de enfrentá-lo com tamanha hostilidade. Mas Baal não era como os outros.
Azrael ponderou diversas vezes sobre a possibilidade de matá-lo. Cada movimento de Baal parecia provocá-lo, uma tentativa de forçar o resultado. Contudo, algo dentro de Azrael hesitou. Ele sabia que não poderia levar isso até o fim. Baal era mais do que um rebelde ousado; era o único filho de uma pessoa que um dia foi muito importante para ele.
Ela ficaria irritada, pensou Azrael, enquanto uma imagem tomava forma em sua mente. Um rosto idêntico ao de Eriel surgiu em seus pensamentos, mas com características sombrias. Cabelos negros como a noite e olhos tão profundos quanto um abismo tornavam aquela figura semelhante e, ao mesmo tempo, oposta à humana que ele conhecia. Era uma memória antiga, uma lembrança de dor e arrependimento.
“Az, seus pensamentos…”
A voz de Sonne ecoou em sua mente, arrancando-o de sua introspecção.
Droga, no que estou pensando? Pensou, frustrado consigo mesmo.
Ele sabia que matar Baal nunca foi uma opção.
“Venha, Baal! Colocarei um pouco de juízo nessa sua cabeça!”
Azrael avançou, e as espadas dos dois se chocaram com um som ensurdecedor. A batalha se desenrolou em uma velocidade impressionante, mas o progresso de Baal foi evidente. Seus movimentos eram precisos, quase impecáveis. Mesmo com Azrael se limitando, Baal conseguiu acompanhá-lo, uma prova de que o jovem havia evoluído muito desde a última vez que se enfrentaram.
Ainda pode existir um resquício do antigo Baal, pensou Azrael, enquanto bloqueava um golpe que visava sua garganta, usando a espada negra Tsukuyomi. A lâmina dourada, Amaterasu, girou em sua outra mão em um movimento vertical, obrigando Baal a recuar para evitar o impacto devastador.
Num instante, Tsukuyomi mudou de forma, transformando-se em um revólver. Azrael disparou uma série de projetos em direção a Baal. Porém, como já havia previsto, as balas eram lentas demais para atingir o jovem. Baal desviava com facilidade, sua expressão compartilhava desdém.
Mesmo assim, Azrael continuou analisando. Ele não via apenas um adversário; via o reflexo de uma criança que ainda acreditava ser possível salvar. E essa crença, tola ou não, era o que o impedia de terminar aquela luta com um único golpe.
“Eu deveria usar ‘Aquilo’?”
Uma dúvida passou pela mente de Azrael enquanto Baal encarava e ponderava sobre seus próximos movimentos. Lembranças de seu treinamento antigo vieram à tona, especialmente os ensinamentos de sua mestra. Ele havia sido instruído a dominar todas as armas conhecidas, e assim o fez. Contudo, havia uma arma que sempre se destacava.
Era uma arma que amplificava imensamente seu poder de ataque. Com ela, poderia encerrar a luta rapidamente. Porém, a mesma mestra que o ensinou a dominar também o havia proibido de usá-la.
“Azrael, ele é o filho dela.“
A voz de Noir ressoou em sua mente, trazendo um lembrete que Azrael não poderia ignorar.
Me desculpe, Noir. Você está certo, pensou ele, apertando o punho ao conter a decisão.
“Vamos, Azrael. Me mostre seu poder!”
Baal falou com uma mistura de impaciência e provocação. Ele não parecia satisfeito com o ritmo da luta.
“Baal, vamos brincar um pouco”, respondeu Azrael, avançando sem hesitação.
A velocidade de Azrael era algo que Baal não podia acompanhar. Num instante, ele surgiu atrás do jovem, os olhos de ambos se encontraram por um breve momento. Mas Baal não teve tempo para reagir.
Azrael desferiu um golpe com a guarda de sua espada, mirando na nuca de Baal. Antes que o ataque pudesse acertá-lo, uma figura imponente interveio. Ziz surgiu como um escudo protetor, empurrando Baal para o lado e recebendo o golpe em seu lugar.
O impacto lançou Ziz ao chão, criando uma pequena cratera. Mesmo assim, ela se levantou rapidamente, sem demonstrar fraqueza. Baal, por outro lado, parecia abalado com o que havia acabado de acontecer. Azrael, no entanto, não perdeu tempo.
Com um movimento fluido, ele usou o impulso de seu corpo para lançar um chute em Baal, enviando-o para longe. Ziz, recuperada, imediatamente voou em sua direção, passou como uma verdadeira guardiã.
“Ziz… Ela é sua contraparte? Tem certeza?” Perguntou Azrael para Noir, seus olhos avaliando a criatura à sua frente.
Ziz era uma das lendárias criaturas divinas, conhecida por sua ligação com seus irmãos, Behemoth e Leviatã. Azrael havia enfrentado Behemoth no passado e sabia do poder aterrorizante que ele possuía. Contudo, Ziz não transmitia a mesma aura intimidadora.
“Não se engane, Azrael. Eles estão escondendo algo”, anunciou a voz de Sonne.
Você acha, Sonne? Pensou Azrael, enquanto seus olhos observavam, avaliando cuidadosamente cada movimento de Ziz e Baal.
Se algo ruim acontecesse, Azrael sabia que poderia recorrer ao seu trunfo: a terceira forma de Tsukoyomi. Noir sempre alertava que essa técnica representava um risco mortal, especialmente no estado atual de seu poder. Mas Azrael não hesitaria em usá-la para proteger o que era importante, mesmo que isso custasse sua própria vida.
No entanto, ele não via necessidade. Baal não havia mostrado poder suficiente para justificar algo tão drástico.
“Até quando essa brincadeira vai durar? Pensei que você me mostraria seu poder…”
A provocação surtiu efeito, e o olhar irritado de Baal era prova disso.
“Vamos, Ziz. Você é o receptáculo de uma espada divina. É só isso que você consegue fazer?”
Comparado a Sonne e Noir, Ziz não exalava o poder esmagador que Azrael esperava de uma criação do Deus Supremo.
“Se você insiste, não se arrependa”, respondeu Baal, enquanto Ziz avançava, deixando-o para trás.
Azrael acompanhou a investida, desconfiado de que pudesse ser uma estratégia. Poderia facilmente prever seus movimentos, mas decidiu intencionalmente não o fazer. Queria testar o que o receptáculo da espada divina era capaz de fazer.
Num instante, Ziz o agarrou por trás. Seu aperto era surpreendentemente forte.
Ela quer competir comigo em força?, pensou Azrael, franzindo a testa.
Ele sempre se orgulha de sua força, um de seus maiores atributos. Mesmo sabendo que Ziz era irmã de Behemoth e Leviatã, ela o subestimou.
Esse foi seu erro.
“O que é isso?”
Antes que pudesse reagir, Azrael sentiu seus ossos estalarem sob o aperto esmagador de Ziz.
“Você não deveria se distrair”, disse Baal, aproveitando o momento para cravar sua espada arco-íris no estômago de Azrael.
A dor foi insuportável, uma das piores que já havia sentido. Ele canalizou sua mana nos olhos, tentando entender o que estava acontecendo. E então viu.
A mana de Baal fluía por todo o seu corpo, concentrando-se em seus olhos.
“Você finalmente conseguiu?”, disse Azrael com um sorriso cruel.
Não havia dúvida. Baal estava usando a mesma habilidade que Azrael, a “Maldição”.
“Fome…”
A habilidade drenava as forças de seu alvo, desde sua mana até sua condição física. Esse era o motivo de Ziz ser tão forte.
“Você estava esperando até agora por isso?”, perguntou Azrael, reunindo forças para falar.
“Azrael, sempre me perguntei o motivo de possuirmos o mesmo poder. Quais são as chances de algo assim acontecer?”
“É impossível”, pensou Azrael. Não poderiam existir duas habilidades idênticas.
“Foi quando finalmente percebi”, continua Baal. “Sua magia não é a mesma que a minha. Esse é o motivo de você ser tão forte. Sua habilidade é–”
Antes que Baal pudesse terminar, Azrael o surpreendeu. Com um movimento rápido, chutou Baal para longe, aproveitando a confusão. Ziz, momentaneamente distraída, baixou a guarda.
Azrael girou o corpo e desferiu um golpe certeiro com o cotovelo no rosto de Ziz. Solto, segurou sua cabeça e a lançou no chão, usando o próprio corpo como impulso.
Olhando para a ferida no estômago, ele avaliou o dano. O sangue escorria, mas a dor já não parecia significativa. Era apenas um incômodo passageiro.
“Você ao menos está tentando?”, perguntou, encarando Ziz, agora caída.
Sem hesitar, ela girou no chão, acertando as pernas de Azrael e derrubando-o.
Num movimento ágil, Ziz o imobilizou por trás, envolvendo o braço ao redor do pescoço e prendendo seu corpo com as pernas.
Então parece que estou em perigo, pensou, enquanto um leve sorriso cruzava seu rosto.
O aperto de Ziz era esmagador, impedindo qualquer tentativa de respiração. Com a maldição Fome ainda ativa, a força de Azrael estava limitada. Ele sabia que precisava fazer Baal cancelar a habilidade se quisesse sair daquela situação.
Enquanto lutava para se libertar, Baal se moveu de forma calculada. Sua cautela era evidente, mas ele não conseguiu esconder um sorriso provocador.
“Você parece estar com dificuldade”, comentou, com um tom de zombaria, enquanto observava na direção onde os aliados de Azrael estavam.
Aquele sorriso fez surgir uma preocupação momentânea. Mesmo em desvantagem numérica, Azrael sabia que seus companheiros eram capazes. Não era típico deles perderem.
“Você acha que estamos lutando com você para ganhar? Não é assim que funciona, Azrael. Todos sabem o quão perigoso você é quando decide ficar sério. Nem mesmo a Fome pode te parar por completo.”
“Estão ganhando tempo”, concluiu Azrael, percebendo a verdade.
“Você descobriu bem rápido”, disse Baal, com um sorriso astuto.
Azrael descobriu que Baal estava, na verdade, entregando uma pista. Se ele escolhesse permanecer calado, talvez Azrael perdesse tempo tentando brincar com ele.
Eu deveria ter percebido antes…
Enquanto Ziz continuava a pressioná-lo com o aperto sufocante, Baal o provocava mais uma vez.
“O traidor que você descobriu… Não acha que foi fácil demais? Acha mesmo que a Aliança permitiria alguém tão incompetente em suas tropas?”
Azrael estreitou os olhos. Não havia pensado nisso antes, mas Baal estava certo. A situação era boa demais para ser verdade.
“Seus aliados estão em perigo. E é tudo culpa sua”, Baal completou com satisfação.
Já cansei essa situação. Está na hora de acabar com isso.
{Cancelar}
Com um comando, Azrael desativou a Fome, sentindo sua força retornar imediatamente. A sensação era quase revigorante, como se tivesse saído de um pesadelo.
{Lorde do Tempo}
Com essa habilidade ativada, o tempo ao seu redor parou completamente. Apenas Eriel não foi afetada por suas habilidades temporárias, mas isso não importava agora.
Com o tempo congelado, Azrael se libertou do aperto de Ziz, movendo-se rapidamente para Baal. Em um único golpe preciso, ele o nocauteou, deixando-o desacordado.
Desativando o Lorde do Tempo, Azrael viu Ziz piscar na confusão, incapaz de compreender o que havia acontecido.
“Não se preocupe, ele está bem”, disse Azrael com indiferença, enquanto conjurava uma barreira em torno de Baal e Ziz.
“Fiquem aí. Não saiam dessa barreira”, pediu, antes de ativar novamente o Lorde do Tempo. Ele saiu.
Quando chegou ao campo de batalha, encontrou seus companheiros caídos, incluindo Nain, Zenith e Naara. Todos estavam inconscientes, derrotados. Mas o verdadeiro problema era o inimigo que permanece em pé, como uma estátua imponente e ameaçadora diante deles.
Azrael não tinha tempo para analisar o adversário ou entender suas habilidades. A raiva fervilhava dentro dele, e ele sabia que precisava agir rapidamente.
Usando sua mana para envolver os aliados e enviá-los para um local seguro, Azrael voltou para onde Eriel estava. Assim que desativou o Lorde do Tempo, Zenith exclamou em surpresa.
“Azrael? O que aconteceu? Estávamos perdendo há alguns momentos atrás…”
“Não se preocupe com isso”, respondeu Azrael friamente. “Quando tudo acabar, ouvirei o relatório. Agora, é o momento de terminar isso.”
Com essas palavras, ele estendeu a mão e criou uma esfera negra pulsante. A energia que emanava dela era intensa, opressiva.
“Não… Droga! Todos, vão para perto de Eriel e criem uma barreira!”, gritou Zenith, percebendo o que Azrael estava prestes a fazer.
Ela entendeu sua intenção: ele estava prestes a liberar sua habilidade mais poderosa, uma técnica que aniquilaria tudo no planeta.
Azrael não se importava. Sua raiva era como um incêndio, consumindo qualquer pensamento racional. Ele não sabia o motivo exato, mas, naquele momento, foi atingido por uma raiva esmagadora, uma fúria que clamava por destruição.
E ele não pretendia resistir a ela.
Eriel
A cena era um caos absoluto, e todos sentiam o peso crescente de algo catastrófico prestes a acontecer. O som do vento mágico soprava como um rugido violento, e a tensão no ar era palpável.
Azrael estava parado no centro da destruição iminente, com uma esfera negra comprimida em sua mão. A energia contida nela era indescritível, como se toda a essência do cosmos estivesse sendo canalizada para aquele pequeno núcleo. Sua mana, antes familiar, havia mudado drasticamente, adquirindo uma qualidade mais densa e volátil, como se estivesse sendo forçada além de seus limites.
Zenith foi a primeira a reagir.
“Droga! Todos vão para perto de Eriel e criem uma barreira!”, gritou, sua voz cortando o ar pesado.
Os líderes e representantes dos clãs, ainda abalados pela velocidade com que os eventos se desenrolavam, se moveram rapidamente. Formaram camadas de barreiras mágicas ao redor de Eriel, como uma última linha de defesa contra o que estava por vir.
Enquanto isso, a esfera negra na mão de Azrael continuava a se comprimir, cada vez menor, mas irradiando uma energia quase insuportável. As rachaduras começaram a aparecer ao seu redor, e todos puderam sentir que o colapso estava próximo.
“Essa é a habilidade mais forte de Azrael. Estejam prontos para o impacto!”, anunciava o monarca Vlad em um tom firme, mas com um olhar que traía sua preocupação.
Nos arredores, um exército de inimigos começou a convergir na direção deles, figuras sombrias e poderosas que foram confrontadas pelos líderes momentos antes. Porém, mesmo eles hesitaram, como se soubessem que a esfera era uma sentença de morte da qual ninguém poderia escapar.
Azrael, impassível, soltou a esfera negra. Ela caiu lentamente, quase como se estivesse resistindo à gravidade. No instante em que tocou o chão, o mundo ao redor entrou em colapso.
A explosão foi instantânea, mas parecia durar uma eternidade. Um clarão cegante engoliu tudo, ofuscando qualquer visão. O som que se seguiu não era um mero ruído: era um rugido primal, como se o universo estivesse gritando em protesto. O chão tremeu, o ar foi sugado e então liberado em uma onda de destruição que varreu tudo ao redor.
As barreiras começaram a ceder uma a uma, como o vidro esmagado por uma força imensurável. Apenas uma barreira criada por Azrael no início da batalha permaneceu de pé, resistindo ao impacto avassalador. Fora dela, o planeta não teve a mesma sorte.
A esfera negra havia comprimido tudo ao seu redor e, em seguida, liberada sua energia de forma devastadora. O terreno, as montanhas, e até a própria atmosfera foram desintegrados. O planeta inteiro foi obliterado em um piscar de olhos, deixando apenas cinzas e poeira cósmica no lugar.
Dentro da barreira, os companheiros de Azrael assistem, atônitos, ao espetáculo de destruição absoluta. Mesmo protegidos, pudemos sentir a reverberação do poder que ele havia liberado. Eriel, geralmente calma e composto, observava em silêncio, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
Quando a luz finalmente se dissipou e o som morreu, tudo o que restava era um vazio desolador. Azrael permanece de pé no centro, com uma expressão que misturava cansaço e frustração. Seu corpo tremia progressivamente, mas sua postura era inabalável.
Ele havia acabado com tudo, mas ao custo de um planeta inteiro.
No vasto vazio do espaço onde antes existia um planeta, todos flutuavam em meio à ausência de gravidade. A destruição completa era um lembrete do poder que Azrael possuía, mas também do preço devastador que ele pagava para utilizá-lo.
“Seu louco!”, exclamou a Monarca dos vampiros, suspirando. “Devia ter avisado que a barreira era sua.”
“Tivemos sorte de que Azrael não está no auge do seu poder… Se estivesse, o orbe negro teria se transformado em um buraco negro”, comentou o representante de sobretudo branco, observando os restos do cenário.
“Az!”, gritou Naara, a representante de amarelo, com urgência na voz.
Todos voltaram sua atenção para onde Azrael havia estado momentos antes. Agora ele flutuava desacordado no vazio do espaço. Suas roupas estavam rasgadas e os ferimentos cobriram boa parte de seu corpo. Mesmo em sua exaustão, ele parecia imponente, como uma figura que carregava o peso de uma batalha que ninguém mais poderia suportar.
“Ele exagerou novamente”, murmurou o Monarca, saindo da barreira protetora e movendo-se em direção ao corpo desacordado do rei.
“Devemos levá-lo”, afirmou Naara, com um tom de preocupação evidente.
“Concordo. Noir deve estar preocupada”, acrescentou o representante de vermelho, aproximando-se de Azrael com cuidado para verificar seu estado.
Eriel, no entanto, tinha sua atenção capturada por outra figura à distância. O garoto chamado Baal estava além da proteção da barreira, mas parecia ileso, protegido pela magia residual deixada por Azrael. Ele não ousava se aproximar, mas seus olhos refletiam uma tristeza profunda, como se carregasse um fardo invisível.
Os outros parecem alheios à presença de Baal, talvez devido a alguma magia de ocultação. Percebendo isso, Eriel separou-se silenciosamente do grupo e flutuou na direção do garoto.
Mesmo sabendo do perigo que ele representava, ela não sentia hostilidade ou sede de sangue em sua presença. Apenas uma profunda melancolia.
“Ele vai precisar de tratamento”, disse Baal em um tom suave, quebrando o silêncio. Sua voz carregava uma tristeza que ecoava no vazio ao redor.
“Vocês estão olhando”, comentou Eriel, estudando a expressão amarga do garoto.
Baal desviou o olhar por um momento, como se lutasse contra emoções conflitantes. “Ele foi meu pai por muito tempo… Mas matou a pessoa que mais o amava, com suas próprias mãos. Não posso aceitar que ele continue vivo enquanto ela não…”
Eriel percebeu que, apesar de sua raiva, havia carinho nos olhos de Baal. Ele estava preso em um ciclo de dor e vingança que parecia corroer sua própria alma.
“Se você precisar conversar… Saiba que estarei na Terra”, disse Eriel, com uma calma reconfortante. “Não sou uma conhecida, e talvez por isso eu possa ouvir sua história sem julgar nenhum lado. Também perdi alguém importante.”
Baal a encarou por alguns segundos, como se visse algo nela que há muito tempo não via em outra pessoa. Uma conexão tênue, mas sincera.
“Terei isso em mente…”, respondeu ele antes de desaparecer em um lampejo de magia, deixando apenas o silêncio e o vazio onde estava.
Eriel sentiu o olhar dele permanecer em sua memória, um misto de dor e hesitação, como se ele tivesse algo mais a dizer, mas não fosse capaz.
“Eriel! Vamos”, chamou a voz de um dos representantes, trazendo-a de volta à realidade.
Olhou uma última vez para o espaço vazio onde Baal havia estado e então retornou ao grupo. Era hora de seguir em frente, mas aquela conversa parecia um prelúdio para algo maior que ainda estava por vir.
Charlotte
Charlotte observava o núcleo da magia em suas mãos, sentindo o poder pulsar com uma força que a deixava quase arrepiada. A magia da caverna tinha uma energia ancestral, densa e complexa, mas agora que finalmente a dominava, ela sabia que o momento crucial estava ao seu alcance. A anciã humana, com sua sabedoria, tinha sido essencial para guiá-la até ali, até o ponto onde o selo que prendia as memórias de Eriel poderia ser quebrada. Ela sabia que a verdadeira batalha começaria agora, mas não poderia evitar a dúvida que surgiu em sua mente.
“Finalmente vai começar”, murmurou para si mesma, um sorriso enigmático no rosto, mas seus olhos estavam repletos de uma incerteza profunda.
As perguntas começavam a invadir sua mente como uma correnteza que ela não poderia conter. Estou fazendo uma coisa certa? Ela estava prestes a mexer com os delicados fios da mente de Eriel, e isso a deixava inquieta. O que aconteceria com ela, com todos, se o plano fosse bem-sucedido? E, mais importante, devo realmente me intervir em algo tão profundo e pessoal de alguém que considero quase um irmão?
Ela sabia o que Azrael havia dito a Eriel. A relação deles, os segredos compartilhados e as cicatrizes que carregavam. E tudo o que Charlotte tinha feito até agora tinha sido por ele, ou pelo que ela acreditava ser certo. Mas, se fosse honesto consigo mesmo, uma parte de Charlotte se questionava até que ponto estava apenas seguindo um caminho que a fazia sentir-se mais próximo do amigo de infância que ela tanto admirava.
Ela olhou para o núcleo mágico mais uma vez, sentindo sua energia envolvente.
A magia pode ser a chave para tudo. O selo nas memórias de Eriel, a manipulação de suas lembranças, tudo estava em suas mãos. Ela sabia que, se fosse capaz de quebrá-lo, não apenas a verdade viria à tona, mas também poderia mudar o curso dos acontecimentos que estavam se desenrolando ao seu redor. O que aconteceria se Eriel fosse capaz de ver tudo o que Azrael havia feito? O que ela descobriria sobre si, sobre o rei que uma vez foi seu mentor? Ela estava preparada para lidar com as consequências disso?
Finalmente, Charlotte se sentou diante do círculo mágico, respirando profundamente. Tudo depende dela, pensava, os olhos fechando enquanto se concentrava no selo que agora estava prestes a enfraquecer. Ela sabia que não havia mais volta, que, ao fazer isso, algo mudaria — e que talvez não pudesse mais controlar o que aconteceria a seguir.
“Espero estar fazendo o que é certo…”
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