Capítulo 32.5 — Seu verdadeiro poder
Enquanto flutuava em sua forma etérea, Eriel sentia uma leve tensão percorrendo sua essência. O cenário ao redor, embora estático e imponente, parecia pulsar com energia histórica, como se cada detalhe carregasse fragmentos de memória há muito esquecidos. Zoe estava ao seu lado, observando tudo com a mesma intensidade, mas claramente mais desconcertada.
Enquanto retornavam à Terra, algo havia saído significativamente errado. A magia de Eriel, que costumava ser precisa, fora desviada por uma força desconhecida, arrastando-as para o passado.
“Isso não estava nos planos”, murmurou Zoe para si mesma, olhando ao redor.
Eriel, ainda mais perturbada, indagou, “O que aconteceu? Onde estamos?”
Eriel olhou para trás, tentando absorver o ambiente. Uma sala iluminada por velas revelou estantes repletas de livros antigos, mobílias luxuosas e uma atmosfera que exalava autoridade e poder. A disposição dos móveis e a grandiosidade do local sugeriam o escritório de um nobre poderoso, talvez até de um governante.
“Não é possível… não pode ser…” Zoe balbuciou, a voz tingida de incredulidade, enquanto girava a cabeça, observando cada detalhe da sala.
Antes que qualquer uma delas pudesse entender a situação, a porta se abriu com um agudo rangido, e duas figuras entraram na sala.
A primeira era um homem de porte nobre. Sua postura e roupas finamente ornamentadas o denunciavam como alguém de alta posição. Os olhos negros e o sorriso calculado revelavam um charme perigoso, típico de um estrategista astuto.
“Por favor, entre,” disse ele, a voz carregada de uma cortesia quase ensaiada, mas não desprovida de excitação.
“Me desculpe por não o receber mais cedo. Tive alguns problemas com minha esposa e filho.”
Ao lado de Eriel, Zoe parecia congelada. Sua expressão de surpresa foi tão marcante que Eriel quase a questionou ali mesmo, mas algo em seu instinto lhe disse para esperar.
A segunda figura roubou sua atenção completamente.
“Não pode ser…” Eriel sussurrou, atônita.
Azrael estava ali. Não o Azrael que ela conhecia, mas uma versão mais jovem, diferente em quase todos os aspectos. Ele usava roupas nobres, algo que parecia completamente fora de lugar para o guerreiro imortal que Eriel conhecia. Sua expressão era cortês, até amigável, e sua voz carecia da firmeza sábia que ela era tão bem conhecida.
“Droga!” Zoe sussurrou, apertando o braço de Eriel. “Diminua sua mana imediatamente. O Azrael que você está vendendo aqui está no auge do seu poder. Ele pode sentir sua presença no menor deslize.”
Eriel, agora alerta, controlou sua mana ao ponto de ser quase imperceptível, enquanto continuava observando.
“Duque Harmas”, começou Azrael, com sua voz suave, mas encarregado de autoridades, “ouvi que sua região tem enfrentado problemas com traidores. Deseja a ajuda da família real? Podemos intervir, se necessário.”
Duque?
Eriel sentiu sua mente girar enquanto tentava encaixar as peças. Uma leitura sobre posições demoníacas voltou à sua memória. Um duque não era apenas um título importante, mas o mais alto posto, com jurisdição sobre regiões inteiras.
“Não posso pedir algo assim”, respondeu Harmas, seu tom demonstrando tanto orgulho quanto determinação. “Minha tarefa é manter minha região sob controle.”
Azrael suspirou levemente, cruzando os braços de forma relaxada. “Como preferir. Não vou interferir se essa for sua vontade.”
“Por favor, sente-se”, indicou Harmas, gesticulando para uma cadeira que lembrava um pequeno trono.
Azrael caminhou até o assento e se acomodou com uma naturalidade que sugeria um homem familiarizado com poder. Harmas, por sua vez, demonstrou uma deferência quase respeitosa, como se estivesse na presença de um igual ou superior.
“Oh, isso me lembra,” disse Harmas de repente, seu tom mais animado. “Devo apresentar minha esposa. Não tive a oportunidade da última vez.”
Azrael sorriu, uma expressão sincera e curiosa. “Adoraria conhecer a mulher que conseguiu te encantar.”
“Ela deve estar vindo”, respondeu Harmas, enquanto o som de batidas suaves na porta ecoava pela sala.
Eriel e Zoe continuaram a observar, suas presenças invisíveis e inaudíveis, mas os eventos à sua frente estavam se desenrolando como algo tirado de uma lenda esquecida. Cada detalhe era um pedaço de um enigma maior, e o passado, como sempre, parecia estar à beira de revelar algo crucial.
“Eriel,” Zoe murmurou, os olhos fixos na porta, “eu acho que entendi para onde fomos parar. Mas você precisa ver por si mesma. E se prepare…”
A mulher, que entrou na sala com uma aura de serenidade e força, parecia carregar em seus olhos toda a complexidade de um enigma que Eriel ainda não conseguia entender completamente. Com sua beleza estonteante e semblante imperturbável, segurava nos braços um recém-nascido envolto em um pano. O contraste entre seus cabelos negros, olhos profundos como a noite e o vestido vermelho brilhante parecia quase surreal, como uma cena retirada de um sonho distorcido.
Eriel congelou por um momento. A semelhança entre ela e a mulher à sua frente era chocante. A mulher diante de Azrael e o duque era idêntica a ela mesma, como se o próprio espelho tivesse se quebrado, revelando uma versão dela em um tempo distante.
“Como isso é possível?” Eriel murmurou, sentindo um calafrio percorrer sua essência.
Azrael, por sua vez, não escondeu seu desconforto. A expressão em seu rosto mudou. Ele parecia, ainda, surpreso, mas rapidamente retornou à sua postura habitual, tentando esconder as emoções conflitantes que agora transpareciam em seus olhos.
“É um prazer te conhecer, Duquesa…” Azrael falou com a mesma cortesia formal, mas Eriel pôde perceber que algo estava quebrado em seu interior.
Ele olhou para a duquesa e, em seguida, para o duque, claramente evitando-os. O ambiente estava carregado com uma tensão que mal poderia ser ignorada.
“Acabei de lembrar de assuntos urgentes. Me desculpe, mas terei que ir”, disse Azrael, sua voz tensa.
“Vossa Alteza, sei que é uma pessoa ocupada. Me desculpe por mantê-lo em minha região,” respondeu o duque com respeito, mas seu tom não escondia a compreensão.
“Nã–Não se preocupe.” Azrael se preparou para sair da sala, o que fez a tensão na sala aumentar ainda mais. Era evidente que ele estava mentalmente abalado, algo que Eriel jamais imaginaria ver no Azrael que ela conhecia.
“Eisheth, leve o príncipe até a porta,” o duque disse, sua voz firme, mas cheia de um respeito calculado.
Eisheth fez um gesto quase imperceptível, mas decidiu acompanhar Azrael até a porta. No entanto, quando ela viu que estava longe de qualquer criado ou presença, sua postura vacilou, e ela parou de caminhar, como se quisesse dizer algo, mas não sabia como.
Azrael, alheio ao que acontecia atrás de si, não olhou para trás.
“Príncipe…” Eisheth chamou um tom suave, mas Azrael ignorou completamente. O silêncio entre os dois era pesado.
“Príncipe…” Ela tentou novamente, e mais uma vez foi ignorada. Azrael, com passos rápidos e decididos, avançou em frente, como se nada acontecesse ao seu redor.
“Azrael,” Eisheth chamou, finalmente, sua voz compartilhada de um desespero contido.
E foi então que ele parou. Olhou para trás, e os olhos de Azrael eram um turbilhão de emoções. A tristeza, a raiva, a confusão… todos os sentimentos que ele tentou esconder ficaram agora expostos. Azrael não conseguiu mais manter sua fachada de frieza.
“Deseja algo, Duquesa Zenunim?” Sua voz estava seca, carregada de dor, mas também de um distanciamento profundo.
“Az… Me desculpe…” Eisheth começou, tentando se aproximar, mas a dor no olhar de Azrael a paralisou.
“Não existem motivos para desculpas. A duquesa nada fez”, Azrael interrompeu, sua voz cortante.
“Az. Sei que–” Eisheth tentou novamente, mas Azrael a silenciou com um gesto brusco.
“Já chega, Eisheth! O que aconteceu no passado, fica no passado. Agora somos estranhos. Esta é a primeira vez que encontro a duquesa”, disse ele, a frieza em sua voz era palpável.
Sem mais palavras, Azrael se virou e saiu, deixando Eisheth parada na porta, com lágrimas caindo silenciosamente de seus olhos. Ela olhou para o recém-nascido em seus braços, como se o mesmo fosse a única coisa que ainda a mantinha ancorada à realidade.
Eriel e Zoe observavam a cena em silêncio, sem poder interagir, ainda imersas no fluxo do tempo congelado. O que aconteceu com Azrael? Qual era a conexão entre Eisheth e o Azrael que Eriel conhecia?
De repente, uma presença se fez sentir à frente delas, e uma voz fria e distante falou:
“Lorde do Tempo.”
O tempo, até então imutável, parou. Mas, para Eriel e Zoe, o mundo continuava a fluir. Como se nada tivesse acontecido, mas, ao mesmo tempo, tudo mudou.
“Então você é a responsável…” A voz de Zoe, calma e distante, foi direcionada à figura que se materializou diante delas, mas seus olhos estavam fixos em Eriel.
“A quanto tempo, Zoe,” respondeu à presença, um tom de resignação misturado com uma leve curiosidade.
Eriel ficou surpresa, mas Zoe parecia ter algum tipo de relação com ela, algo que fazia com que a tensão no ar aumentasse ainda mais.
“Devo me desculpar por chamá-las. Mas queria que observassem tudo o que aconteceu.” A voz era controlada, como se a situação fosse um jogo simples.
“Não me lembro de ver toda essa cena no passado”, respondeu Zoe, sua voz ainda firme, mas com um toque de incredulidade.
“Claro. Estive restringindo você, para não ver.” A figura disse, como se isso fosse uma explicação.
Eisheth, que agora parecia mais consciente do que estava acontecendo, olhou para Eriel com um sorriso sufocado. “Sei que posso parecer uma pessoa horrível, mas tudo o que estou fazendo é para o bem do futuro.”
“O bem, você diz…? Azrael não parecia bem…” Eriel murmurou, a dor e a confusão em seu coração refletindo em sua voz.
Eisheth à sua frente, parecia pensar por um momento antes de responder. “Nem tudo é o que parece, Eriel. O futuro depende de escolhas que ainda não foram feitas. Mas, no final, a verdade será revelada.”
Eriel não conseguiu conter as palavras que saíram de sua boca, uma frustração transparecendo em sua voz.
“Me desculpe…” ela murmurou, a culpa apertando seu peito.
Eisheth , porém, não pareceu se incomodar. “Não se preocupe. Sei que sou horrível por fazê-lo sofrer… Como seu intuito é observar o passado, imaginei que nossa conversa poderia ajudar de alguma forma.”
Eriel franziu a testa, ainda confusa, e perguntou, finalmente, a questão que há muito estava em sua mente. “Entendi, mas quem exatamente é você?”
Zoe sorriu ao ouvir a pergunta. “Eisheth é sua versão passada. O usuário do ‘Tempo’ anterior. Você é uma reencarnação dela.”
Eriel ficou em silêncio, o peso das palavras ressoando em sua mente. Agora tudo faz sentido. A semelhança entre ela e a mulher à sua frente não era mera coincidência. Mas a maneira de agir de Eisheth… Eriel não concordava com tudo aquilo, mesmo sem conhecer seus motivos.
“Para que seu futuro aconteça, preciso continuar com meus planos…” Eisheth falou, sua voz denotada de uma tristeza que parecia pesar sobre ela como uma sombra constante. Zoe, ao seu lado, também parecia estar imersa em seus próprios pensamentos, seus olhos demonstrando um cansaço profundo.
“Então… Você vai mesmo–” Zoe começou, mas não conseguiu terminar a frase, temendo que a resposta de Eisheth poderia significar.
“Sim. Não tem como mudar minha decisão. Vi diversos futuros, incontáveis vezes tentei mudar o destino. E todas às vezes ele morreu naquele dia. Para salvar uma vida, é necessário um sacrifício.”
“Uma vida, por uma vida. Se eu penso assim no passado, como poderia ser o meu futuro?” Eriel perguntou, mais para si mesma do que para elas, o peso das palavras de Eisheth ecoando em sua mente.
Eisheth deu um suspiro profundo, e Zoe a acompanhou, compartilhando o fardo da decisão. “Hmm… Parece que todos temos o mesmo destino. Como uma parte do contrato por reencarnar.”
O silêncio parecia pesado, e Eriel sentia uma sensação de desconforto crescente.
Eisheth observou Eriel com uma expressão atenta. “Eu te chamei para conversarmos um pouco, mas acho que mudaria o seu futuro se falasse muito, certo?”
Zoe, olhando para Eriel, falou em tom mais grave. “Eriel ainda não pode usar o ‘Tempo’, mas logo vai estar no seu nível.”
“Sim. Eu te enxergo como uma pessoa muito fraca. Seu poder está longe de atingir o auge… Contudo, seu potencial é infinito.”
Eriel não sabia o que sentir com essas palavras. Não sabia que era um incentivo ou uma crítica. Mas as palavras de Eisheth, compartilhadas de uma sinceridade cruel, cortaram como uma lâmina.
“Não te chamei aqui para brincar.” Eisheth disse, com sua voz firme, e tocou a testa de Eriel. Contudo, Eriel sentiu uma onda de mana estranha se infiltrando em seu corpo, como se uma parte do poder de Eisheth estivesse agora dentro dela. A sensação foi desconcertante, um toque que era, ao mesmo tempo, um presente e uma maldição.
“Esse é um pequeno presente… Ou talvez, uma maldição. Você escolhe.” Eisheth completou, com um sorriso enigmático, mas a mudança em sua mana indicava que o tempo de Eriel naquele lugar estava chegando ao fim.
“Até logo, Zoe…” Eisheth disse suavemente, sua voz um eco de despedida.
Zoe forçou um sorriso, mas Eriel notou a tristeza que ainda estava presente em seus olhos. “Adeus, Eisheth”, respondeu ela, o peso da despedida ainda carregado nas palavras.
Com um gesto de sua mão, Eisheth lançou a magia que os transportava de volta. Mas antes de partir, ela parou, como se quisesse garantir que Eriel visse algo mais.
“Não vou te mandar para o seu passado ainda… Tem algo que quero lhe mostrar. Tome sua decisão ao observar o que está para acontecer.”
Eriel sentiu sua consciência começar a desaparecer, como se estivesse sendo arrancada de sua própria realidade. Quando seus sentidos retornaram, ela se encontrou em um local diferente. O ambiente era desolado, como se o próprio planeta estivesse morrendo.
“Esse planeta… Você é cruel por me fazer observar isso novamente”, disse Zoe, sua voz carregada de dor. Estavam em uma área afastada de qualquer cidade, o terreno árido se estendia até onde os olhos pudessem ver. À frente, uma pequena casa de madeira parecia isolada e esquecida.
Mas, então, uma pressão estranha emanou daquela casa, fazendo Eriel estremecer. A sensação era sufocante, como se o próprio ar ao redor estivesse carregado de morte.
A casa foi destruída de dentro para fora, e em meio à destruição, Eriel viu uma cena aterradora. Azrael, ajoelhado no chão, segurando o corpo de Eisheth em seus braços. Ela estava quase sem vida, seus ferimentos eram graves, e seu corpo estava marcado pelo sofrimento. A cena diante delas era uma das dores mais profundas que Eriel já presenciara.
Zoe sentiu um calafrio percorrendo sua espinha, a dor de ver aquela cena novamente quase a sufocando. O silêncio da destruição ao redor parecia gritar em seus ouvidos, e a pergunta pairou no ar: Qual era o verdadeiro preço do destino?
Zoe começou a chorar silenciosamente, com os olhos marejados, enquanto observava a cena devastadora à sua frente. Sua dor era palpável, mas ela ficou em silêncio, como se não conseguisse encontrar palavras para expressar o que sentia. Eriel, observando tudo, sentiu seu corpo tremer, sua mente ainda tentando processar a tragédia. Estávamos conversando agora há um pouco… pensou, mas a realidade era cruel demais para ser compreendida.
Eisheth, em seus últimos momentos, tocou o rosto de Azrael, suas mãos tentando, sem sucesso, enxugar as lágrimas dele. “Me desculpe por te fazer chorar…” ela sussurrou com a voz fraca.
Azrael, em um estado de desespero, não escolheu suas palavras. Com uma expressão determinada, ele tentou usar sua magia de cura, canalizando sua mana com toda a força que lhe restava. Mas Eisheth balançou a cabeça lentamente, interrompendo-o.
“Não tem mais volta… Meu estado atual… Não posso receber cura…”
Azrael não desistiu. Continuou tentando, mas sua magia não era suficiente. Eisheth sorriu em seus últimos momentos, seu sangue se esvaindo rapidamente. “Por favor… Cuide do Baal… Sei que ele crescerá e vai se tornar uma pessoa gentil… Por favor, se torne o pai dele…” Eisheth falou com dificuldade. “No futuro… No futuro, vou lhe contar a–”
A mão de Eisheth caiu ao chão, a vida deixando seu corpo. Azrael, com os olhos cheios de dor, sofreu para manter a compostura, mas não conseguiu evitar o lamento que escapou de seus lábios. “Não Eisheth! Cuidaremos dele, juntos. Observaremos ele crescer, e… e…”
“Ela se foi…” Zoe falou, sua voz rouca, quebrada pela perda.
Eriel sofreu um choque, seu corpo tremendo enquanto observava tudo ao seu redor. Como isso aconteceu tão rapidamente? Ela não conseguia entender. O desespero, o vazio, tomaram conta dela. A dor de Azrael era palpável, e, ao vê-lo ali, carregando o peso da perda, Eriel sentiu um peso esmagador em seu peito.
De repente, ela viu duas presenças se aproximando. Alice apareceu primeiro, seguida de Ex. O inimigo estava logo atrás, com os olhos cheios de desprezo e violência. Eles deveriam estar prontos para atacar, ignorando a dor de Azrael e a morte de Eisheth.
Alice e Ex observaram Azrael, mas por apenas alguns segundos, até que a tensão no ar foi quebrada pela voz de Ex.
“Az…” chamou ele, mas foi Alice quem se adiantou.
“Irmão, me desculpe. Se não tivesse me distraído…” Alice falou, com a voz cheia de culpa, mas Azrael apenas olhou para ela com uma expressão vazia, como se a dor já tivesse se tornado algo que ele não podia mais expressar.
Azrael se levantou lentamente, ainda segurando o corpo de Eisheth em seus braços. Cada passo parecia pesado, como se ele estivesse carregando o peso do mundo. Ele caminhou até Ex e, com um gesto exausto, entregou-lhe o corpo de Eisheth.
“Leve-a para o palácio…” Azrael falou com uma voz fria, como se ele já não estivesse mais ali, como se ele tivesse perdido a capacidade de sentir qualquer coisa.
“Az, e você?” Ex ficou preocupado, mas Azrael apenas balançou a cabeça.
“Eu não consigo mais me controlar…” Azrael disse com uma autoridade assustadora.
Ex olhou para o exército inimigo, que parecia indiferente, mas sabia que a situação não poderia continuar. Ele não poderia deixar Azrael sozinho, mas também sabia que a batalha estava prestes a começar. A dor de Azrael era algo que ninguém poderia apagar, mas ele ainda era seu irmão.
“Não vou sair do seu lado. Mano, sei que sua dor não pode ser aplacada por palavras, mas–”
“Isso é uma ordem! Levem Eisheth para o palácio.” A ordem de Azrael foi dada com autoridade, mas sem emoção. Ex e Alice, sem outra opção, pegaram o corpo de Eisheth e saíram rapidamente, deixando Azrael para trás.
Azrael ficou sozinho, o corpo tremendo de dor, mas sua expressão era de total desolação. não era mais ali, o homem que Eriel conhecia havia desaparecido. Agora, ele era algo diferente, mais sombrio e irreconhecível. Ele estava à beira da ruptura.
“Esse é o momento onde ele mudou…” Zoe murmurou, os olhos fixos em Azrael. Ela sabia que algo dentro dele havia quebrado de forma irreversível. O Azrael ingênuo que ela havia conhecido já não existia mais. Ele estava agora mais próximo do Azrael do futuro, o Azrael que ela não conseguia mais ler.
Azrael, com a dor esmagadora que o consumia, sussurrou: “Parece que é o fim…” Sua voz estava vazia, sem emoção, mas cheia de uma raiva contida. “Eu vou… Matar todos!”
Foi quando a aura de Azrael se liberou. Uma energia imensa e destrutiva envolvendo o planeta, como se toda a sua mana tivesse se tornado uma força imbatível. A pressão no ar foi tão intensa que Eriel sentiu seu corpo tremer, como se fosse engolida por um abismo sem fim. A intensidade da aura de Azrael era algo que ela não conseguia compreender totalmente, mas o que sentia era suficiente para fazê-la vacilar.
Azrael estava além de tudo o que ela conhecia, seu poder transcendendo qualquer limite. O futuro estava agora mais sombrio do que nunca. Eriel sabia que o Azrael que ela havia conhecido já não existia mais. O homem que ela via agora era algo muito mais perigoso e incontrolável.
O que Eriel presenciou foi algo que ultrapassou os limites do que ela imaginava ser possível. Azrael, em um estado de total descontrole, liberou todo o seu poder de uma maneira que nem os deuses, demônios e anjos pudessem compreender. Sua explosão de energia foi devastadora, e o universo inteiro sentiu a pressão de sua força descomunal.
“Ele está liberando todo o seu poder. Isso é todo o poder do Azrael. Algo que ultrapassa o senso comum…” As palavras Zoe ecoaram em sua mente, mas Eriel não conseguiu visualizar a magnitude do que estava acontecendo. Ela só via o céu escurecer e os raios e chamas negras envolvendo o corpo de Azrael O ar estava denso, comprimido pela pressão esmagadora de sua energia.
O chão tremia com cada movimento seu, e cada passo que ele dava parecia consumir o solo, desintegrando tudo ao seu redor. Azrael estava além de qualquer ser que ela já tivesse tido a oportunidade de conhecer. Mesmo com toda a sua força, ele parecia consumir o próprio mundo ao seu redor, e todos estavam cientes disso. A sensação de impotência era inegável.
“Vamos, estão esperando um convite para me atacar?” Azrael gritou, desafiando os inimigos que se aproximavam. Sem hesitar, todos seguiram em sua direção, como se fossem meras marionetes prestes a serem destruídas por uma força incompreensível. Azrael, calmo, parecia não sentir nada mais além da fúria que consumia sua alma.
Com um movimento quase imperceptível, ele estalou os dedos, e todos os inimigos a uma distância de 500 metros foram instantaneamente desintegrados. O ar ao redor dele parecia se distorcer enquanto ele neutralizava qualquer magia lançada contra ele com um simples gesto. Seu poder, indiscutível, era imparável.
Quando Azrael desapareceu e reapareceu atrás dos inimigos, a batalha havia se transformado em um massacre. Ele não precisava de armas ou magias complexas. Seus golpes foram simples e fatais, sua presença um pesadelo. Os corpos caíram aos montes, dilacerados e distorcidos, uma exibição de brutalidade pura. Eriel, impotente, observava tudo, incapaz de entender como uma pessoa poderia possuir tal força.
O campo de batalha estava coberto de sangue, e Azrael caminhava tranquilamente sobre ele, sem sinais de cansaço ou dor. Sua expressão era vazia, como se o peso de sua vingança não fosse mais suficiente para preencher o vazio dentro dele. O sorriso que ele deu, fraco e desconexo, mostrou o quanto ele estava perdido.
Eriel o viu lutar contra si mesmo, um conflito silencioso em seu rosto. Por alguns minutos, ele parecia lutar com a dor, com o luto, mas nada poderia apagar o vazio dentro dele. Foi então que Azrael caiu de joelhos, seus olhos sem lágrimas, mas com um sofrimento indescritível. Ele sussurrou para si mesmo, “Me desculpe… Não consigo mais… Não posso viver sem você…”
A transformação foi imediata. O cor de seus olhos mudou para um azul intenso, e sua aura, antes caótica e destrutiva, se acalmou, apenas para ativar novamente com um poder devastador. Azrael se levantou, agora irreconhecível. Seu rosto, antes marcado pela dor e sofrimento, estava distorcido por um sorriso maléfico. Ele disse com um tom de arrogância e prazer, “Parece que a verdadeira diversão vai começar.”
O Azrael que Eriel conhecia havia desaparecido. O homem que surgiu agora era uma criatura de pura destruição. Quando ele levantou o punho e socou o chão, o impacto foi tão forte que um buraco imenso atravessou o planeta, fazendo tudo tremer. O golpe reverberou por todo o mundo, e Eriel, atordoada, foi empurrado para longe, sentindo uma pressão insuportável.
Antes que sua visão fosse ofuscada, ela viu o planeta ser destruído com um simples golpe de Azrael. A destruição não foi lenta; foi instantânea, e Eriel sentiu como se o próprio mundo estivesse sendo aniquilado.
Desnorteada, Eriel caiu no chão. Ela mal conseguiu acreditar no que acabou de presenciar. O poder de Azrael era inimaginável. Como poderia existir um ser tão poderoso, alguém capaz de destruir um planeta com sua força brutal? O medo tomou conta de Eriel, uma sensação de impotência e terror. Ela sabia que não poderia enfrentar tal poder.
Quando ela se deu conta, estava de volta ao passado, no momento em que Azrael conheceu Mayla e Júlia, no retorno de seu exílio do planeta dos demônios. Ela observava o Azrael do passado, ao lado de sua mãe, e sentia o medo crescer em seu peito. Ele poderia destruir o mundo com um simples gesto. E mesmo diante da beleza e da segurança de seus gestos passados, Eriel sentiu um pavor profundo de sua existência, de sua energia destrutiva.
Aquele Azrael, que ela conhecia, já não era mais ali. O ser diante dela agora não era mais confiável. Ele era algo além, algo que ninguém poderia controlar, nem ele mesmo. E a única certeza que Eriel tinha naquele momento era o medo do que viria a seguir.
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