“Se um fragmento da chave está com eles e nós fomos divididos, tudo isso deve ter sido pensado pelo Sr. Galliard. Saki e Akira também devem estar atrás desses fragmentos, eu tenho que pegá-lo e continuar para a caverna”
    Impedi-los se tornou uma questão individual, a nossa saída da caverna dependia dos fragmentos da chave.
    — Tudo que podemos fazer é acabar com aquele desgraçado que arruinou as nossas vidas! Então por favor, não tente impedir — disse o mais novo.
    Ambos avançaram em minha direção, suas mãos tremiam, mas não por falta de experiência e sim por raiva e frustração.
    Seus ataques desorganizados e sincronizados acabavam sempre me confundindo. Enquanto eles tentavam me acertar fazendo alguns cortes superficiais, eu tentava agarrar o fragmento que carregavam.
    Meus reflexos eram apurados, então me esquivar não era uma tarefa difícil, porém a movimentação estranha deles criava pontos onde eu não conseguia defender como desejado.
    Por mais que seus ataques não fizessem muito estrago, aos poucos ia me desgastando. Em um combate corpo a corpo eles iriam me derrotar eventualmente. Pensando nisso, recuei para um combate a longa distância.
    Com pequenas descargas de raios, eu os mantive longe sem aberturas para atacar.
    — Escuta, seus problemas não vão ser resolvidos matando esse tal Assassino Sanguinário! Isso não vai trazer o seu tio de volta!
    — NÃO IMPORTA! NÓS NÃO VAMOS CONSEGUIR DORMIR ATÉ QUE ELE PAGUE COM SUA VIDA!
    Eles avançaram mesmo com raios sendo disparados em sua direção.
    — E a mãe de vocês? Ela gostaria que seus filhos se tornassem assassinos também?!
    Levi, o mais velho, parou ao me escutar, mas Bruno continuou correndo enfurecido até que seu irmão o parasse com o braço.
    — Irmão? O que foi?
    — Eu já havia pensado nisso…
    — Do que está falando?
    — Nosso tio era a pessoa mais querida da família, foi uma grande perda pra todo mundo, mas… até mesmo seu irmão seguiu em frente e continuou sua vida.
    — Não me diga que está pensando em desis…
    — Não é isso! — disse em um grito — Eu ainda sinto muita raiva daquele desgraçado, mas se matarmos ele… Isso não nos tornaria iguais?
    — …
    — Noelle, você quer isso, não é? — perguntou erguendo o fragmento em sua mão — Você podia ter nos derrotado quando quisesse, enquanto tentávamos te acertar, você só mirou nessa coisa.
    — É…
    Levi lançou o fragmento ao chão, caindo bem à minha frente.
    — IRMÃO!
    — Você parece saber o que fazer com isso, nas nossas mãos, é só um pedaço de ferro.
    — E o que vocês vão fazer agora?
    — Quem sabe? A Silvia precisa de um pouco mais de atenção — Levi passou andando ao meu lado segurando seu irmão mais novo pelo braço.
    Bruno esperneava sobre o que Levi havia feito, ele ainda era muito imaturo em relação ao seu irmão.
    — Eu achei isso aí perto da caverna, não sei se serve de algo, mas é a única coisa que sei sobre.
    — Obrigada! Antes que eu esqueça, diga a sua mãe que essa foi a melhor sopa que já tomei!
    — Haha! Eu vou dizer!
    Com o fragmento em mãos, tudo que me restava era encontrar Saki e Akira novamente, então fui em direção à caverna.
    Mais uma vez, estava em um lugar escuro e frio, escutando apenas gotas d’ água caindo nas poças.
    Após caminhar um pouco na escuridão, ouvi o som de uma pedra sendo arrastada atrás de mim, ao mesmo tempo que as tochas de chama branca se acenderam.
    Não tinha mais como voltar.
    Segui o caminho onde as tochas estavam acesas, um longo percuso que me levou de volta aos 3 caminhos no qual nos dividiram.
    Em seguida, escutei passos vindo dos dois caminhos onde Saki e Akira andaram.
    — O que? De novo aqui? — Saki se aproximou notando que estava no mesmo local de antes.
    — Pelo menos estamos voltando pelo mesmo caminho que fomos — resmungou Akira.
    Ao se aproximar do centro, Saki finalmente me viu.
    — Hm? Noelle? Há quanto tempo tá aqui?
    Me senti aliviada por ver que nada havia acontecido com eles.
    — Que bom que estão bem. Eu acabei de chegar, assim como vocês.
    — Mas que droga, voltamos ao início!
    — Agora foi diferente, eu consegui isto — estendendo o braço, Akira revelou um objeto de metal com a mesma coloração do fragmento que eu tinha conseguido, porém com um formato distinto.
    — Calma aí, me dá isso aqui — Saki tomou o fragmento para si.
    Ela pôs a mão em sua mochila, e dali tirou um outro pedaço de metal.
    Com os dois fragmentos em mãos, ela os juntou.
    — Eles se completam! parece…
    — O cabo da chave! — interrompeu Akira — Noelle! Você conseguiu um também?
    — Hã? Sim! — eu mal conseguia acompanhar o raciocínio rápido dos dois, mas entreguei o último fragmento que restava.
    — Certo, com isso, acho que a gente consegue a chave!
    Ao juntar todos os pedaços da chave, as rachaduras que as dividiam se unem, retornando a chave ao estado original.
    Ela brilhava enquanto Saki a segurava, a luz dourada que ela emitia era capaz de cegar os nossos olhos se a olhássemos por muito tempo.
    O chão se abriu subitamente em forma de um quadrado assustando todos nós. A partir do buraco criado, uma espécie de altar, repleto de gravuras com a estética nórdica, é erguido em nossa frente, vindo junto a uma névoa.
    O altar possuía uma tábua de madeira no topo e quatro pés de madeira que o sustentavam.
    “A Chave Dimensional foi obtida” uma voz feminina e robotizada veio à nossos ouvidos
    — Chave dimensional? — questionou Akira olhando para o altar que já flutuava no ar.
    — A gente conseguiu a chave! Acabou, não é?
    “…”
    Não obtivemos nenhuma resposta de Galliard e a chave que Saki segurava, passou a voar em direção ao altar.
    A chave pairava por cima do altar, descendo lentamente e encaixando suas extremidades bem ao meio da tábua de madeira.
    “5 minutos para concluir a leitura elemental”
    — O que tudo isso significa? — perguntou Saki.
    “…”
    — Galliard não nos responde, alguma coisa deve ter acontecido.
    — Seja o que for, ele tem 5 minutos pra resolver! — exclamou Akira.
    Os 5 minutos se passaram e Galliard não deu um único sinal de vida.
    “Iniciando o protocolo “Fase Final””
    Tudo à nossa volta foi tomado pela escuridão. De repente, o ambiente começou a mudar, pilares decrépitos feitos de quartzo surgiram sustentando um templo branco e destruído com arquibancadas arrebentadas. Perante toda essa estrutura acabada, havia um trono dourado e azul intacto no fim no salão.
    — O que tá acontecendo? Que lugar é esse? — Akira não entendia nada do que estava acontecendo, era a primeira vez que presenciava algo do tipo.
    — A forma como essas coisas apareceram é de uma dimensão artificial. Galliard deve ter alterado o espaço depois que conseguimos a chave — explicou Saki.
    — Exatamente, de qualquer forma, é estranho. Ele não disse que teria algo assim e também não está respondendo.
    — Uma dimensão artificial? Isso é possível?
    — Quando falamos do Sr. Galliard, a pergunta certa deveria ser “O que não é possível?” — Os poucos meses em que treinei com o Sr. Galliard foi o suficiente para entender que nada é impossível para ele.
    — E agora o que a gen…
    — EU EXIJO UM JULGAMENTO POR COMBATE!
    Um grito rasgado ecoou por todo o templo, o chão tremeu por um breve momento e em seguida, os pequenos pedaços de quartzo se ergueram lentamente.
    Rapidamente, nos preparamos para o pior, algo não parecia correto. Instintivamente, demos as costas uns para os outros enquanto olhávamos para todos os lados.
    O suor frio começou a escorrer pelo meu rosto, a apreensão fez com que nossos corações acelerarem a cada segundo até que em um piscar de olhos, algo desceu dos céus abrindo um buraco no teto.
    Um forte vento correu pelo salão, a poeira subiu escondendo a silhueta de algo que eu não conseguia identificar de forma alguma.
    — Tem algo aqui… — murmurou Saki
    — Sim…
    — Não vacilem nem por um segundo! Não baixem a guarda — Akira ordenou.
    Aos poucos, a poeira baixava e a silhueta que se escondia foi sendo revelada.
    Ponto de Vista de Elena:
    Enquanto Saki treinava, eu não tive um minuto de descanso, a Lua de Sangue não era algo que eu poderia observar de longe, isso precisava ser estudado.
    Eu procurei por todos os livros da biblioteca de Shryne, a cidade do conhecimento. Poucas coisas se relacionam com esse elemento, eu mal consegui extrair alguma informação útil, até eu achar um livro chamado “Prelúdio, Alma e Perdição”
    — Puta merda… — foi a minha reação ao ter estudado cada letra daquele livro.
    Ponto de Vista de Saki:
    Algo perigoso parecia estar na nossa frente, sua respiração era pesada e seu corpo parecia enorme.
    Passei meses treinando com um monstro, aquilo não me parecia nada demais. Após a poeira baixar completamente, me surpreendi com o que vi e meus olhos não queriam acreditar.
    Um homem alto estava de pé. Seu cabelo era loiro e ressecado, como se não fosse lavado há anos, ele usava uma calça marrom com um rasgo em sua perna esquerda e também tinha uma chave pendurada em sua alça. Seu corpo era tão magro que era possível ver os seus ossos grudados em sua pele. A parte direita de sua costela estava completamente exposta e se olhasse de perto, conseguiria até mesmo ver o seu pulmão funcionando em perfeito estado..
    Em meio a tudo isso, o que me surpreendeu não foi o seu estado deplorável e sim o que ele carregava.
    Um martelo de madeira gigantesco estava apoiado no ombro dos ossos finos de seu corpo. A madeira já parecia desgastada, porém era maciça e resistente feito aço. A parte superior do martelo possuía um arco de ferro com espinhos que estava coberta de sangue já ressecado.
    — Esse negócio deve pesar uma tonelada! Como ele tá segurando isso? — Akira perguntou assustado.
    — Não sei, mas parece tentar compensar alguma coisa — não para que fui fazer uma piada tão sem graça em um momento como aquele, não foi uma boa ideia.
    — EU EXIJO UM JULGAMENTO POR COMBATE!
    Sua voz rasgada rasgava meus tímpanos, enquanto ele lentamente erguia o martelo e o arremessava em nossas cabeças.
    Por conta de sua baixa velocidade, conseguimos esquivar facilmente.
    “Ele é devagar, talvez não seja um problema”
    — Ele é um problemão! Não se deixem enganar pela sua mobilidade — assim que Noelle gritou, o chão se rachou rapidamente. O impacto fez com que pedaços de quartzo caíssem sobre a gente.
    Aquele homem olhava para nós com um olhar assassino, cheio de sede de sangue, enquanto desviamos das pedras.
    Quando a chuva havia cessado, todos nós olhávamos imóveis para o corpo esquelético com força sobre humana sem entender o que poderíamos fazer.
    Eu decidi dar o primeiro passo em direção ao meu oponente, ignorando completamente os medos.
    Ponto de Vista de Elena:
    “Preciso contar isso para o Galliard, quando ele descobrir, é capaz de cair no chão” eu andava rapidamente pela rua em direção a minha casa querendo contar tudo para Galliard.
    “O nono elemento… é claro que ele seria o fim de toda essa destruição. Finalmente a era do medo vai acabar! E pensar que eu poderia ter feito isso, como eu era tola!”
    Ponto de Vista de Galliard:
    Assim que Noelle entrou novamente na caverna, Elena arrombou a porta da casa com o chute.
    — GALLIARD!
    — Querida?! O que houve? — respondi assustado.
    — Eu tava fazendo umas pesquisas, mais precisamente nos livros de história da biblioteca de Shryne e você não vai acreditar — seus olhos ardiam em fogo enquanto falava.
    — O que foi? Fala de uma vez!
    Ela tirou do bolso um pequeno caderno vermelho e o entregou em minha mão.
    — Tá tudo aí! — após me dar o caderno, andou rapidamente para a cozinha.
    Eu dei uma breve olhada rápida pelas anotações, o que foi o suficiente para me fazer cair no chão.
    Elena voltou com um copo de água resmungando — Eu não acredito que tava tudo debaixo do nosso nariz — disse em um suspiro.
    — E-Elena, O que exatamente é isso? — questionei com medo da resposta.
    Elena mal conseguia se controlar, suas mãos pegavam fogo, fazendo a água do copo evaporar.
    — Você procurou isso por anos. Nós fomos a milhares de locais procurando a resposta. Esse… esse é o Caos.

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