Capítulo 34 — Visão
O som metálico dos golpes ecoava pelo ambiente, fazendo as paredes do espaço tremerem com cada troca feroz. A velocidade e a precisão das investidas revelaram o nível impressionante de maestria de ambos os combatentes. Júlia e Naara são igualmente habilidosas, como duas forças opostas equilibradas em um duelo que mantém todos ao redor em suspense.
Naara, apesar de sua mana fortalecida, encontrou dificuldades em encaixar os golpes com perfeição. Sua foice, uma arma que geralmente lhe dá vantagem pela longa distância, estava sendo igualada pela arma de Júlia, cuja corrente aumentava ainda mais o alcance. Cada tentativa de Naara em dominar o ritmo da luta era facilmente neutralizada pela adversária, que antecipava os movimentos com precisão.
“Então é assim que você luta quando fica sério”, murmurou Naara, sorrindo de canto.
De repente, Júlia mudou a estratégia. Reconhecendo a força elementar de Naara com o gelo, ela conjurou várias flechas flamejantes, suas chamas brilhando como pequenos sóis no ar.
“Flechas de fogo”, murmurou Júlia, disparando os projetos com um movimento fluido.
Naara reagiu rapidamente, invocando um escudo de gelo translúcido que estalou ao contato com as chamas. Algumas flechas conseguem passar a defesa, obrigando-a a bloquear com sua arma em movimentos precisos. Antes que pudesse recuperar o controle, Júlia aproveitou a brecha. Com uma velocidade surpreendente, avançou e desferiu um ataque direto.
Naara conseguiu bloquear o primeiro golpe, mas não viu o segundo vindo. Em um giro elegante, Júlia acertou um chute que desequilibrou seu oponente, forçando-a a recuar.
Ela é rápida, pensou Naara, enquanto conjurava outro escudo.
Mas o escudo cortado em fragmentos antes de oferecer qualquer proteção significativa. Júlia pressionou, girando a corrente da foice com movimentos precisos que cortavam o ar em alta velocidade. Percebendo o perigo, Naara reuniu sua mana, que brilhou em um tom azul-claro na palma de sua mão livre.
Com um movimento calculado, ela disparou um orbe de energia diretamente no peito de Júlia. O impacto foi instantâneo. Júlia caiu de joelhos, o ar sendo arrancado de seus pulmões enquanto seus sentidos vacilavam por alguns segundos.
“Isso deve dar um tempo para ela respirar”, murmurou Naara, enquanto esperava Júlia se recompor.
Júlia se recuperou rapidamente, limpando o suor da testa enquanto se levantava. Em seus olhos, não havia frustração, mas excitação. Naara respondeu com um sorriso igualmente animado, e as duas se lançaram uma contra a outra novamente.
Agora, cada golpe parecia mais rápido, mais preciso. O som do metal chocando-se tornava-se quase contínuo, como uma sinfonia caótica de aço e força. As duas se moviam em perfeita sincronia, como se tivessem ensaiado aquela dança mortal. Seus ataques e defesas foram tão alinhados que pareciam uma conversa silenciosa, na qual apenas elas compreenderam o que estava sendo dito.
No canto, Azrael observava atentamente os braços cruzados e um sorriso discreto no rosto. Ele ficou maravilhado, tanto com a habilidade quanto com o crescimento evidente de Júlia.
“Az, essa luta está passando dos limites”, comentou Alice, sua preocupação clara na voz.
Azrael não desviou o olhar, mas sua expressão suavizou.
“Eu sei, mas elas estão aprendendo. Olhe para Júlia… está evoluindo a cada minuto.”
Alice suspirou, ainda preocupada, enquanto o combate se tornava ainda mais intenso. Júlia e Naara trocaram golpes em uma velocidade estonteante, e suas armas simplesmente mal tocar o chão antes de voltar ao embate.
Apesar do cansaço, ambos mantinham o sorriso nos lábios. O duelo não foi apenas uma batalha de força, mas uma oportunidade para se testar, se entender e, acima de tudo, crescer como guerreiras.
Azrael estreitou os olhos por um momento, cogitando intervir, mas então uma faísca de orgulho iluminou seu semblante.
“Elas ainda têm um pouco mais para mostrar”, murmurou para si mesmo.
O combate continuou. Qualquer um que assistisse saberia que estava presenciando algo extraordinário: não apenas uma luta, mas o nascimento de uma rivalidade que as elevaria a novos patamares.
A tensão no ar era visível. Naara parecia medir cada movimento de Júlia, ajustando sua força e técnica conforme a evolução de sua oponente.
“Não precisa se preocupar. Se algo sair do controle, eu interfiro,” disse Azrael, observando o embate com um olhar atento, mas tranquilo.
A luta, por si só, já era impressionante. Porém, o verdadeiro espetáculo estava na capacidade de Júlia de se adaptar à força e à técnica de Naara, enfrentando-a de igual para igual.
As duas trocavam golpes intensos antes de se afastarem momentaneamente, aproveitando o intervalo para conjurar magias. Projéteis de fogo e gelo cortavam o ar em uma dança mortal, enquanto ambas usavam magias de fortalecimento e aumento de velocidade para intensificar seus movimentos.
No entanto, para um observador atento, parecia que Naara não estava apenas lutando, mas treinando Júlia, testando seus limites e incentivando sua evolução. Essa impressão, contudo, dissipou-se no instante em que ambas tomaram uma atitude inesperada.
Após mais uma troca feroz, as combatentes se afastaram novamente, desta vez criando projéteis de mana. Uma energia vibrante e ameaçadora emanava das esferas em suas mãos. Naara, com um sorriso malicioso, acenou com a cabeça em direção à Júlia, que retribuiu com um olhar determinado.
Então, quase simultaneamente, dispararam.
As esferas de mana, em vez de se dirigirem uma contra a outra, rasgaram o ar em uma curva traiçoeira e seguiram diretamente em direção à área onde Azrael, Alice e Noir observavam a luta.
Alice arregalou os olhos, pega completamente de surpresa. Não havia tempo para reagir. Mas antes que o ataque pudesse causar danos, Azrael levantou uma barreira de mana com um gesto rápido e fluido, dissipando os projéteis em um clarão de luz.
“Vocês poderiam ter machucado Alice e Noir. Estavam cientes disso?” Ele olhou para as duas com uma expressão séria, mas havia um brilho de desafio em seus olhos.
Naara respondeu com um sorriso travesso. “Você já sabia que faríamos isso. E estava preparado, não é?”
Azrael estreitou os olhos e, após um breve momento de silêncio, sorriu. Levantou-se de seu lugar com calma, a aura ao seu redor começando a mudar.
“Se é isso que desejam…”
A liberação de mana de Azrael foi instantânea e esmagadora. Antes que Júlia pudesse reagir, ele surgiu à sua frente em um piscar de olhos. Com um golpe preciso em seu estômago, a força do impacto a lançou ao chão, completamente sem fôlego.
Sem perder tempo, Azrael voltou sua atenção para Naara. Orbes elementais começaram a se formar ao seu redor, cada uma irradiando uma energia única – fogo, água, terra e ar. Com um movimento quase casual, ele lançou todas as orbes na direção de Naara.
A distância curta e a velocidade eram esmagadoras. Naara tentou reagir, mas não teve tempo. O impacto a derrubou, deixando-a atordoada ao lado de Júlia.
Com ambas as combatentes derrotadas, Azrael relaxou sua postura e deixou escapar um sorriso despreocupado. “Parece que eu ganhei.”
Naara, ainda deitada no chão, bufou em frustração. “Não vale! Pensei que você estivesse fraco.”
Azrael riu baixinho e se abaixou para bagunçar os cabelos de Naara de forma quase paternal. “Sim, estou fraco. Mas ainda assim, não perdi minhas habilidades de batalha. Nunca subestime um oponente, Naara.”
Ele então caminhou até Júlia, estendendo uma mão para ajudá-la a se levantar. A jovem aceitou, ainda sentindo os efeitos do golpe, mas com um brilho de determinação nos olhos.
“Você foi melhor do que eu imaginava. Bom trabalho,” elogiou Azrael, sua voz carregando uma genuína nota de aprovação.
Júlia sorriu, ofegante. “Obrigada.”
Enquanto Azrael se afastava, a luta deixava para trás não apenas o cansaço, mas também um aprendizado mútuo. Júlia e Naara, mesmo derrotadas, não conseguiam esconder os sorrisos que indicavam que estavam prontas para o próximo desafio.
***
Após o término do treinamento, Azrael saiu da sala acompanhado por Naara. Os dois caminharam em silêncio até uma área afastada, onde não havia ninguém para interrompê-los. A atmosfera parecia pesada, e o som de seus passos ecoava suavemente entre as árvores ao redor. Naara parou de repente, cruzando os braços enquanto encarava Azrael com um olhar carregado de irritação.
“Então, Azrael… Não tem nada para falar?” O tom de voz dela era gélido, demonstrando o quão frustrada estava.
Azrael inclinou levemente a cabeça, como se não compreendesse o motivo da pergunta. “Deveria?”
Antes que ele pudesse continuar, Naara o agarrou pelo pescoço e o pressionou contra uma árvore. Seus olhos ardiam de raiva enquanto a respiração pesada denunciava sua falta de paciência. Azrael não resistiu, mantendo a expressão calma, o que apenas parecia irritá-la ainda mais. Depois de alguns segundos, ela o soltou com um suspiro exasperado.
“Pensou que eu não notaria? Aquela humana… Júlia. Ela tem resquícios de ‘Tempo’.”
Azrael arqueou uma sobrancelha, ainda que seus olhos mantivessem a serenidade. “Resquícios do tempo?”
“Não se faça de idiota. Você tem a maior proficiência entre os dragões. Você sabe exatamente do que estou falando.”
Ele deixou escapar um leve sorriso, como se tentasse minimizar a gravidade do assunto. “Realmente?”
“A profecia.” O olhar de Naara endureceu. Ela cruzou os braços novamente, tentando se controlar. “A profecia fala: ‘Quando o dragão do caos encontrar o dragão do tempo, nesse momento vai iniciar a contagem para a morte do caos.’ Ou seja, você vai morrer quando a reencarnação do tempo surgir. Estou errada?”
Azrael deu um passo para o lado, afastando-se da árvore. “Você acha que alguém pode me matar?”
“No passado, talvez não. Mas agora…” Ela estreitou os olhos. “Até mesmo Zenith seria capaz de derrotá-lo no seu estado atual. Pense, Azrael. Seu poder foi selado. O dragão do tempo está voltando. Tudo está se encaixando de acordo com a profecia. Você realmente acha que isso é coincidência?”
Azrael afastou-se um pouco mais, olhando para o horizonte como se estivesse contemplando algo distante. “Não entenda errado, Naara. O dragão do tempo ainda não reencarnou. E a profecia diz que vai ‘iniciar a contagem’ para a minha morte. Isso significa que ainda demorarei para enfrentar meu destino. No tempo de um demônio, isso pode parecer pouco, mas para os humanos… esse pouco tempo é uma eternidade.”
As palavras dele não foram suficientes para apaziguar a raiva de Naara. Ela continuava a encará-lo com uma mistura de frustração e tristeza. “Com a volta do tempo, todos os dragões estarão reunidos na mesma era, certo?” perguntou ela, mais como uma constatação do que uma indagação.
Azrael não respondeu imediatamente, permitindo que ela continuasse.
“O dragão do fogo está em uma caverna desconhecida. Natureza está com os elfos. Ar, com os caídos. Eu, o dragão da água, estou do lado dos demônios. E agora, o tempo está com os humanos. Parece que logo todos podem se encontrar.”
Azrael deixou escapar um suspiro pesado. “O dragão de fogo não é exatamente… amigável. Quando o conheci pela primeira vez, ele estava irritado. Diria até furioso. Na verdade, não posso culpá-lo. Eu o encontrei logo depois de permitir que a reencarnação de sua irmã morresse.”
Naara estreitou os olhos. “Então contar com ele para impedir a profecia está fora de cogitação?”
“Ele não vai me ajudar. Talvez ajudasse se fosse por sua irmã, mas… Ele guarda rancor. Principalmente contra mim.”
Ela também suspirou, visivelmente frustrada. “E se usássemos a reencarnação do tempo para ameaçá-lo?”
A expressão de Azrael mudou instantaneamente. Sua aura se tornou sufocante, carregada de uma sede de sangue palpável. Ele se virou para Naara, os olhos brilhando com um aviso claro. “Se fizer isso, eu mesmo a matarei.”
Apesar da intensidade de suas palavras, Naara permaneceu impassível. “É assim?” murmurou, balançando a cabeça com desdém. “Não posso fazer nada sobre sua morte futura. Quer saber? Pode morrer, Azrael. Já estou cansada de tentar ajudá-lo enquanto você me trata como se eu fosse um dos nobres malditos. Pensei que fossemos companheiros. Amigos. Família. Você é minha única família, além daqueles dois. Mas eu estava errada. Parece que me tornei sentimental com o passar do tempo.”
“Naara…” Ele deu um passo à frente, mas antes que pudesse continuar, ela desapareceu em um flash de energia.
Azrael permaneceu parado, sentindo o vazio deixado pela partida abrupta de Naara. Ele sabia que a irritação dela ia além do que havia sido dito. Não era apenas raiva; era tristeza, uma dor que ele preferia ignorar. Ele olhou para o lugar onde ela estava momentos antes e fechou os punhos lentamente.
Companheiros. Amigos. Família… Talvez eu não saiba o que isso significa.
O tempo passou, e eventos marcantes moldaram os rumos daquele mundo. Diversas raças começaram a interagir com a aliança humana, movidas tanto por curiosidade quanto por respeito. A riqueza de materiais da Terra atraiu atenção de todas as partes.
Enquanto Azrael se dedicava à construção de sua mansão e a outros compromissos, um humano da facção se aproximou de Júlia. No início, Júlia não mostrou interesse, mas logo decidiu dar uma chance àquele homem. Talvez fosse hora de experimentar uma vida normal, ainda mais considerando que Azrael nunca demonstrou qualquer inclinação romântica por ela.
Foi essa decisão que levou Azrael a se afastar. Ele optou por permitir que Júlia seguisse seu caminho, livre de sua constante presença. Servindo sob ordens da líder da facção, Azrael mergulhou em missões perigosas e construiu uma reputação inabalável.
O tempo passou até que o ano do nascimento de Ethan finalmente chegou. O menino cresceu rápido, revelando-se uma criança cheia de energia e curiosidade. Observando-o de longe, Azrael sentiu-se dividido entre o desejo de se reaproximar de Júlia e o receio de como isso poderia impactar suas vidas. Depois de anos afastado, ele decidiu visitá-la em sua casa.
Ao encontrá-los, Azrael percebeu que o homem ao lado de Júlia não era guiado por amor. Na verdade, algo mais sombrio e ganancioso motivava sua presença. Ele notou o mesmo brilho suspeito nos olhos do homem que Mayla parecia ter percebido também. No entanto, como Mayla não disse nada, Azrael preferiu permanecer em silêncio. Ela é forte o suficiente para descobrir sozinha, ele pensou, mas a inquietação permaneceu.
Com o retorno de Júlia à facção, foi criado um esquadrão de elite. Seus membros incluíam Júlia, Azrael, o homem que agora era pai de Ethan, Alice e Zenith. Zenith havia sido enviada pelo rei dos demônios com a missão de observar Azrael e oferecer suporte. Alice, por sua vez, se encantou com o mundo humano e recebeu permissão da líder para permanecer na Terra.
As missões mais complexas eram reservadas a esse grupo, que logo conquistou fama dentro da facção. Apesar disso, Azrael evitava interações diretas com o homem que estava ao lado de Júlia, delegando tarefas a Alice e Zenith sempre que possível. Não é hora de confrontos desnecessários, ele ponderava, focando apenas em sua própria jornada.
Certa noite, o telefone de Azrael tocou. Era Júlia, com duas notícias importantes.
“Júlia? O que aconteceu?”
“Tenho uma grande novidade: serei promovida a líder da facção.”
“Isso é maravilhoso! Quando vai ser a cerimônia?”
“Daqui a uma semana. Você virá?”
“Serei o primeiro da fila.”
A semana passou, e a cerimônia aconteceu conforme planejado. Durante o evento, Júlia compartilhou a segunda novidade: estava grávida novamente. Azrael parabenizou-a, embora fosse visível que não estava tão animado quanto ela esperava.
Com o avançar da gravidez, Júlia precisou se afastar temporariamente de suas funções. Azrael passou esse período viajando e cumprindo missões, mas o destino parecia sempre trazê-lo de volta. Quando finalmente retornou para casa, o telefone tocou novamente. Ele atendeu, ouvindo com atenção as instruções. Depois de desligar, escreveu algo em um pedaço de papel e entregou-o a Beherit, que leu a mensagem e saiu sem dizer uma palavra. Poucos minutos depois, retornou com uma mala vermelha nas mãos.
Azrael pegou a mala e ativou seu teleporte, seguindo os traços de mana do alvo que procurava.
“Eriel…” Zoe quebrou o silêncio, percebendo a agitação da companheira. Ela já conseguia imaginar o que ia acontecer.
“Não devíamos pular essa parte?” ela perguntou, a preocupação clara em sua voz.
“Está tudo bem, Zoe.” Eriel tentou tranquilizá-la, escondendo a raiva que crescia dentro do peito.
Mudamos de local com Azrael. Ele apareceu diante de uma porta de madeira antiga. Ao tocá-la, a porta desapareceu como se nunca tivesse existido. Calmamente, ele entrou na sala e seguiu até encontrar um homem conversando com duas mulheres. O homem parecia relaxado, desfrutando de uma bebida enquanto abraçava as duas.
Porém, o sorriso desapareceu de seu rosto no instante em que viu Azrael diante dele.
Azrael encarou o homem com frieza, enquanto as duas mulheres, alarmadas, vestiam-se rapidamente. Sem qualquer pressa, Azrael sentou-se em uma cadeira diante dele, apoiando o queixo na mão enquanto o observava em silêncio.
“Oh? Quer se juntar à nossa diversão?” provocou o homem, tentando mascarar o incômodo.
“Saiam,” disse Azrael às mulheres, ignorando a provocação. Elas não hesitaram e deixaram o ambiente.
O homem riu nervosamente. “Não pensei que pudessem me encontrar tão rápido.”
“Então, você sabe por que estou aqui,” respondeu Azrael, levantando-se para encarar o homem de perto. Seus olhos fixos refletiam uma intensidade perigosa.
“Talvez… Mas poderia me contar o motivo? Só para o caso de estar enganado sobre o verdadeiro motivo de você invadir minha festa.”
Azrael manteve o tom frio. “Mayla me ligou. Ela disse que você roubou quatro milhões do cofre de Júlia e deixou uma carta pedindo para que ela cuidasse das crianças. Tem algo a acrescentar?”
O homem deu de ombros. “Pelo menos deixei uma carta…?”
Azrael inclinou-se levemente, com um sorriso gélido. “Ela pediu para eu recuperar o dinheiro e te dar um pequeno aviso: ‘Nunca mais se aproxime de Júlia ou das crianças.’”
O homem, mesmo confrontado, tentou manter a compostura. “Temos um pequeno problema… Não estou mais com o dinheiro completo.”
Sem perder tempo, Azrael segurou firmemente o braço do homem. Com um movimento limpo, decepou o membro, impedindo que qualquer sujeira fosse derramada ao cauterizar a ferida instantaneamente com magia de fogo.
O homem gritou de dor, mas logo controlou sua expressão, como se tentasse provar algo. “Já recebi o aviso. Agora pode ir… Na verdade, tem alguém na facção capaz de curar isso, certo?”
Azrael pegou o braço decepado e o colocou de volta no lugar, restaurando-o completamente com uma magia de cura. “Claro, eu sou essa pessoa.”
O homem riu, forçando uma descontração. “Oh? Obrigado. Fico te devendo.”
Azrael não demonstrou qualquer empatia. Com o mesmo movimento, arrancou novamente o braço do homem. “Não precisa pagar a dívida.”
O homem arfou de dor. “Nossa! Como isso dói…”
“Pensei que sua reação seria diferente.”
“Não entenda errado. Vou esperar você sair para me deitar em posição fetal e chorar como um bebê. Afinal, ter o braço arrancado dói muito.”
Azrael riu baixo. “Gostaria de ver essa cena.”
Ele caminhou até a mala que trouxera e a abriu sobre uma mesa próxima, revelando uma grande quantidade de moedas de ouro.
“No seu mundo, isso vale muito, certo?”
O homem abriu um sorriso interesseiro. “Oh? Agora está falando minha língua.”
“Pegue esse dinheiro e desapareça. Nunca mais apareça diante de Júlia, Mayla, Ethan ou qualquer membro da facção. Se isso acontecer…” Azrael tocou o braço decepado e o fez desaparecer completamente.
“O mesmo vai acontecer com sua cabeça.”
O homem engoliu em seco, sem retrucar. “Se você tivesse mostrado o dinheiro antes de cortar meu braço, garanto que não seria necessário.”
“Lembrarei na próxima,” disse Azrael com indiferença.
“Por favor, não quero ficar sem o outro braço,” murmurou o homem, franzindo o cenho.
Azrael o ignorou. “Quanto ao dinheiro que você roubou… Peguei de volta. Entendeu?”
O homem suspirou. “Você é um anjo?”
“Não. Um demônio.”
Sem mais palavras, Azrael saiu do local.
Enquanto Eriel e Zoe acompanhavam a cena, Eriel sentiu algo em seu próprio poder ser ativado involuntariamente. No momento seguinte, ela não estava mais na cena com Azrael.
Agora, encontrava-se em uma região completamente diferente. A atmosfera pesada indicava que não era a Terra. Seu corpo parecia mais pesado, como se a gravidade fosse maior.
Ao olhar para o lado, ela esperava ver Zoe, mas sua companheira não estava lá. Em vez disso, pessoas desconhecidas a cercavam. No centro do grupo, Eriel viu algo que a deixou em choque. Era ela mesma — ou alguém que se parecia com ela.
A figura tinha longos cabelos vermelhos e olhos amarelados. Ao seu lado, estava Azrael, a outra versão de Eriel sorriu levemente, e a cor de seus cabelos mudou para um branco puro, idêntico ao de Azrael. Em suas costas, asas brancas majestosas lembravam as de Zoe em sua forma verdadeira de dragão. Todo o poder emanado daquela Eriel estava fora dos limites da compreensão humana. Ela não parecia apenas uma pessoa; era uma entidade muito, além disso.
Ao lado de Azrael, ele respondeu à transformação. Os cabelos brancos de Azrael tiveram algumas mechas mudadas para um tom escuro. Seu olho direito continuou vermelho enquanto seu olho esquerdo mudou para um azul-claro. Em suas costas apareceram asas negras de um dragão. Seu poder desperto não poderia ser sentido por um mortal.
Baal estava do outro lado da presença parecida com Eriel. Ele parecia feliz enquanto liberava seu poder em uma escala muito maior que a mostrada no planeta sem nome. Em sua mão, a espada Ziz com todo o seu potencial.
E por fim, a última pessoa presente… Ela estava ao lado de Azrael. Sua aparência parecia borrada, como se algo estivesse impedindo qualquer tentativa de vê-la claramente. Porém, seu poder deixava uma pequena dúvida no ar. Ela tinha a magia primordial do ‘Tempo’ em sua mana, mas também a magia ‘Realidade’, como se ambas estivessem mescladas em uma só.
Foi quando Azrael falou enquanto observava algo à sua frente: “Vamos fazer isso… Como uma família.”
A entidade, parecida com Eriel, demonstrou um sorriso de canto de boca. “Quando você se tornou sentimental?”
Todos sorriam enquanto continuavam encarando algo à sua frente. “”Como uma família!””
Eles falaram em uníssono pouco antes de avançar em direção ao inimigo que não podia ser visto.
A cena parecia carregar um peso indescritível, mas logo desapareceu quando Zoe observava Eriel com surpresa.
“O que foi isso?” Zoe perguntou. “Uma visão… Parece que Eisheth deixou uma habilidade interessante. Ela é ativada de maneira aleatória e não há como diferenciar se é uma visão do futuro ou de uma vida passada.”
Era evidente que ainda havia um longo caminho para compreender tudo sobre o tempo.
“Existe a visão do futuro que pode ser controlada, mas isso está fora do seu alcance atual.” Zoe acrescentou.
“Então o que foi isso?” Eriel questionou, intrigada.
“Pode ser uma visão do futuro, ou uma visão de seu tempo como Eisheth.” Zoe ponderou.
“Você não poderia saber se fosse uma visão do tempo de Eisheth? Afinal, vocês estavam sempre juntas.”
Tudo o que Eriel sabia, Zoe sabia. O mesmo deveria ser verdade para Eisheth.
“Eisheth era habilidosa, capaz de esconder muitas coisas. Isso pode ter acontecido no passado, enquanto ela me mantinha no escuro.”
“Você tem um palpite?”
“Sim… Acho que é uma visão do futuro, mas parece ser uma ramificação. De forma simples, é uma visão de um ponto muito distante, que pode ou não acontecer. Se o passado mudar, ao menos um pouco, aquela visão muda. Atualmente, você está fraca, e por isso viu uma ramificação em vez de uma visão do futuro perfeita.”
A mana de Eriel estava sendo sugada a todo momento devido à viagem no tempo. Talvez esse fosse o motivo para não ver as coisas com clareza.
“Claro, isso é apenas uma hipótese. Apenas você teve a visão. Sei que viu alguém parecida com você, mas, assim como você, não sei quem era… A razão de saber sobre a visão é a alteração em sua mana.”
“Deixaremos assim por hora.” Eriel assentiu.
De qualquer forma, a viagem no tempo estava prestes a terminar, já que o momento mais esperado estava próximo. Eram anos de memórias se alinhando para culminar no instante mais importante do passado. Eriel sabia que precisava preservar sua mana para garantir que nada saísse errado.
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