Capítulo 35 — Destino
Azrael estava na biblioteca, debatendo estratégias com Mayla, quando uma empregada surgiu à porta, trazendo uma notícia inesperada: Júlia havia chegado com sua família. Ele congelou por um instante, absorvendo as palavras. Três anos. Três longos anos sem vê-la devido ao seu trabalho incessante. Uma mistura de ansiedade e alegria percorreu sua espinha. Ele se levantou abruptamente, deixando Mayla para trás, e dirigiu-se à sala de recepção com passos firmes.
Ao chegar, a visão de Júlia sentada com as crianças ao seu lado fez seu coração acelerar. Havia algo confortante naquela cena, um calor que ele raramente sentia. Alice o cumprimentou com um sorriso cordial, mas Azrael apenas assentiu antes de se aproximar e se sentar em frente a Júlia. Seus olhos se encontraram, e por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar. Júlia sorriu de forma contida, quase envergonhada.
“Vejo que você cresceu bastante, Ethan.”
Azrael virou-se para o garoto, que o observava com curiosidade. O olhar de Ethan era perspicaz, como se tentasse desvendar o homem à sua frente.
“Sim! Isso se deve ao treinamento com a mamãe.”
Azrael não conteve um sorriso discreto. Ele entendeu a mensagem não dita — Júlia estava ensinando mais que habilidades; estava moldando caráter. Quando ergueu os olhos para ela, viu seu sorriso orgulhoso enquanto escutava o filho. Ele sentiu uma pontada de algo — talvez fosse admiração, talvez fosse saudade.
“Essa criança…”, murmurou Azrael, mas sua atenção logo se voltou para o bebê nos braços de Júlia. Desde que entrou na sala, ele percebera algo peculiar na pequena Eriel, mas decidiu comentar apenas agora.
“Eriel… Ela é bem peculiar, certo?”
“Você já notou o poder dela?”, respondeu Júlia, surpresa.
Azrael assentiu, enquanto seu olhar brevemente se encontrava com o de Mayla, que estava degustando um pouco de chá trazido pelas empregadas.
“Sim, mas ainda não compreendi o significado desse poder. O elemento de mana de Eriel é diferente de tudo o que já observei.”
“Claro,” comentou Mayla, pousando a xícara na mesa com cuidado. “Não é fácil encontrar um usuário que manipula mana de luz. Sua criança será incrivelmente poderosa quando crescer.”
Azrael manteve o olhar fixo em Eriel. A quantidade de mana em seu pequeno corpo era imensa, quase inalcançável para a maioria dos humanos, e ele sabia o que isso significava.
“Sua filha não tem apenas mana de luz,” ele disse lentamente, escolhendo bem suas palavras. “Ela é usuária da habilidade primordial do tempo.”
“Tempo?”
Júlia parecia atordoada. Ela conhecia o peso daquelas palavras. Uma habilidade primordial era rara e incomparável. Representava algo além do mundo mortal, uma porta aberta para o divino. O poder do tempo, em particular, não era algo para ser tratado com leviandade.
“Isso é bom?”, ela perguntou, hesitante.
Alice, que acompanhava a conversa em silêncio, decidiu intervir. “Normalmente deveria ser um motivo para comemorar.”
“Mas esse não é o caso…”, disse Azrael com seriedade.
O tom dele fez o coração de Júlia apertar. Ela olhou para Mayla, que agora também estava visivelmente preocupada.
“O corpo de Eriel é humano,” explicou Azrael, com um leve pesar em sua voz. “E entre todas as raças, o corpo humano é o mais frágil. Se ela continuar com esse poder desenfreado… Ela morrerá.”
As palavras caíram como uma pedra no ambiente. Júlia segurou Eriel com mais firmeza, como se pudesse protegê-la apenas com seu toque. Mayla baixou os olhos, compreendendo a gravidade da situação. Alice permaneceu estoica, mas atenta, esperando as soluções.
“Você pode ajudá-la, Az?”, perguntou Júlia, a esperança evidente em sua voz.
“Não posso roubar o poder dela… Não possuo tal habilidade.”
“Existe uma habilidade de roubo?”, questionou Mayla, franzindo o cenho.
“Sim. Mas se usada em Eriel agora, enquanto seu poder ainda não está pleno, poderia funcionar. Contudo, há outra alternativa mais segura. Posso selar esse poder até que ela seja velha o suficiente para controlá-lo.”
Júlia olhou para sua filha, e então para Azrael. O conflito em seus olhos era claro. Selar significava limitar Eriel, mas também significava protegê-la.
“Está bem,” disse ela, finalmente, com um suspiro pesado. “Poderia selar o poder dessa criança?”
Azrael estendeu os braços, e Júlia se aproximou hesitante. Um sorriso travesso surgiu em seu rosto, iluminando o momento tenso.
“Não posso evitar imaginar como você vai se sair. Quando era mais nova, Eriel não deixava ninguém a segurar sem chorar.”
Azrael aceitou o desafio silenciosamente, mas enquanto segurava a pequena Eriel nos braços, algo inesperado aconteceu. Eriel, com sua aura inusitada e poderosa, não chorou. Em vez disso, ela o encarou com seus grandes olhos curiosos e inocentes. Azrael sentiu um peso incomum no peito, uma mistura de responsabilidade e um tipo de afeto que ele não costumava sentir. Aquela pequena criança carregava algo muito maior do que ele esperava, e ele não podia ignorar isso.
Respirando fundo, Azrael murmurou baixinho, quase para si mesmo: “Obrigado.”
Com delicadeza, ele passou a mão levemente sobre a cabeça da menina. Para sua surpresa, ela sorriu ao encontrá-lo, como se houvesse uma conexão entre eles que ultrapassava palavras ou lógica. Azrael tentou manter a compostura, mas seus pensamentos estavam um turbilhão. Ele sabia que, por mais poderosa que a pequena fosse, sua fragilidade como humana era um lembrete constante do perigo.
“Como isso é possível?” perguntou Julia, com um tom de surpresa.
“Algum problema, Julia?” Azrael questionou, escondendo qualquer indício de suas próprias inquietações.
“Não… Não é nada,” ela respondeu rapidamente, embora seus olhos entregassem a preocupação latente. Havia algo nas interações entre Azrael e Eriel que parecia escapar de sua compreensão.
Enquanto isso, em sua forma etérea, Eriel e Zoe continuavam a observar o passado. Zoe permaneceu em silêncio, mas Eriel, a protagonista desse momento, sentia um misto de empatia e tristeza ao observar sua versão mais jovem. A decisão de selar seus poderes havia sido necessária para que ela pudesse sobreviver, mas a ideia de depender de outros para conter sua própria força a fazia questionar tudo o que sabia sobre si mesma.
“Vamos pular esse momento,” Eriel comentou em tom decidido. “Tem algo que quero observar.”
“Claro. Quantos meses avançaremos dessa vez?” Zoe perguntou, arqueando uma sobrancelha.
“Meses? Não. Vamos avançar alguns anos.”
Zoe cruzou os braços, pensativa. “Dois anos… Você está saltando direto para o final da viagem.”
Eriel assentiu com firmeza. “Sim, estou.”
Ela ativou a magia do tempo, sentindo a tensão familiar de cada salto. Quando o feitiço se completou, ambas encontraram a mansão decorada em tema de festa. Tudo estava preparado para o aniversário da jovem Eriel. O lugar exalava uma alegria típica de celebrações familiares, mas Zoe podia perceber que Eriel, apesar de seu foco aparente, estava ansiosa.
“Azrael, quanto tempo vai demorar até Julia chegar?” Mayla perguntou, aproximando-se com a pequena Eriel ao seu lado.
“Ela pediu para trazer as crianças na frente enquanto termina alguns assuntos, mas não comentou exatamente quando iria chegar,” Azrael respondeu, observando Mayla com um olhar calmo, mas atento.
Zoe virou-se para Eriel. “Não podemos ver sua mãe?”
Eriel suspirou, frustrada. “Eu tentei, mas minha magia me impede. Estou limitada a observar o passado do Azrael, não da mamãe.”
Zoe colocou a mão no ombro de Eriel, num gesto de apoio. “Infelizmente, você terá que esperar o Azrael ir até ela desta vez.”
Na sala, a pequena Eriel segurou a camisa de Azrael, olhando para ele com olhos curiosos e esperançosos. Ele sorriu, pegando-a nos braços. “Quer vir comigo?”
Ela acenou com a cabeça, e ele a levou até seu escritório. Ali, Azrael discou para Julia, que atendeu rapidamente.
[“Az. Aconteceu algo?”]
“Não, sua mãe está preocupada com sua demora,” ele respondeu com serenidade.
[“Entendi… Estou a pouco mais de vinte minutos de distância. Logo, logo estarei chegando.”]
Azrael sorriu levemente. “Isso é um alívio.”
[“Tenho algo para conversar com você em particular… Poderia me ceder um pouco do seu tempo quando eu chegar?”]
“Claro.”
A pequena Eriel exclamou, animada: “Mamãe!”
[“Oh? Eriel está com você?”]
“Sim.”
[“Estou quase chegando, querida—”]
O som perturbador de um barulho inesperado ecoou pelo telefone. Azrael franziu a testa imediatamente, sentindo a tensão no ar.
“Julia! Julia! Você está bem? Aconteceu algo?”
Não houve resposta. Apenas o som de uma respiração pesada e, então, uma voz desconhecida tomou a linha.
[“Então essa é a voz do Azrael? Você parece bem mais novo… De qualquer forma, estou te esperando.”]
A ligação foi encerrada abruptamente. Azrael tentou ligar novamente, mas a linha estava morta. O peso de algo iminente pairava sobre ele, enquanto a pequena Eriel nos seus braços olhava para ele com confiança inocente.
Azrael então foi até a sala onde todos estavam reunidos. Seu rosto refletia uma tensão que há muito não se via. A gravidade de sua expressão fez com que o ambiente silenciasse.
“Noir, fique no espaço dimensional para o caso de precisar de sua ajuda. Alice, mantenha todos seguros.”
Alice assentiu, mas foi Mayla quem se aproximou, preocupada. “Você vai sair? Aconteceu algo?”
Azrael hesitou por um breve instante, mas logo respondeu, com a voz carregada de urgência. “Algo parece ter acontecido com Júlia. Poderia esperar junto a Alice? Vou buscá-la.”
Mayla franziu o cenho, mas sua preocupação não se transformou em palavras. Apenas assentiu. “Claro. Tenha cuidado.”
“Terei… Zenith, contate os outros cavaleiros e venham até a minha localização assim que estiverem todos reunidos.”
Zenith hesitou. “Não sei se Naara vai–”
“Fale que o assunto é urgente e como seu líder, estou solicitando sua presença.”
“Entendido.”
Azrael saiu apressadamente, cada passo refletindo a urgência e a angústia que cresciam em seu peito. Ele começou a procurar pelos resquícios de mana de Júlia. Assim que os localizou, voou o mais rápido possível na direção indicada, o coração martelando em sua garganta.
Quando chegou ao local, o que viu fez seu estômago revirar. O carro de Júlia estava destruído no meio da estrada, vidro e metal retorcidos espalhados ao redor. Mas o que o congelou foi o sangue no chão, um contraste cruel contra o asfalto. Engolindo o pânico, Azrael seguiu os resquícios de mana para dentro da floresta.
Caminhou com passos firmes, mas cada segundo parecia uma eternidade. Quando finalmente encontrou a figura encapuzada, seu coração apertou ainda mais. O ser misterioso revelou-se com um sorriso maligno, seus olhos verdes brilhando com um ódio antigo. A aura densa que emanava dele era inconfundível: um elfo negro, um ser que não deveria mais existir.
Azrael então viu Júlia. Seu corpo estava desacordado, pendendo inerte nos braços do elfo. A visão fez algo em seu peito se partir. O medo, a culpa e a raiva se misturaram em um turbilhão que ameaçava engolir sua sanidade.
“Senhor anjo da morte, é uma honra te conhecer pessoalmente.” A voz do elfo era carregada de desdém.
Azrael cerrou os punhos, sua voz saindo baixa e perigosa. “Se você soltar essa garota, garantirei sua vida.”
O elfo gargalhou, ignorando a ameaça. “Não, não. Na verdade, a Aliança está mirando em você atualmente. Se eu levar o seu corpo, posso conseguir uma recompensa interessante. Então seja um bom menino e se renda. Talvez assim eu deixe essa humana viva.”
Azrael ergueu as mãos lentamente, mostrando estar desarmado. “Tudo bem. Apenas deixe-a. Você pode me levar. Não resistirei.”
O elfo estreitou os olhos, desconfiado. “Esse é mesmo o anjo da morte? Que merda está acontecendo? Você deveria tentar me atacar sem se importar com os companheiros. Foi isso que os relatórios disseram.”
Antes que Azrael pudesse responder, Júlia começou a recobrar a consciência. Ela abriu os olhos lentamente, sua respiração irregular. Ao notar Azrael, tentou falar, mas o elfo apertou seu pescoço, interrompendo qualquer palavra.
“Ei, ei! Vamos lá, não vai me atacar?” O elfo provocava, mas Azrael sabia que qualquer movimento precipitado poderia significar a morte de Júlia. A frustração crescia em seu peito, sufocante.
“Júlia, fique calma e não ative seu poder.” Sua voz estava controlada, mas por dentro ele lutava contra o desespero. Ele precisava de mais tempo, precisava de um milagre.
Júlia assentiu levemente, tentando obedecer apesar da dor que sentia.
“Azrael, você realmente se importa com ela? Quem diria que algo assim é possível?” O elfo zombava, mas Azrael apenas tentava manter a calma, esperando que seus companheiros chegassem a tempo.
“Vamos, Azrael. Me enfrente. Como fez no extermínio dos elfos negros.”
“Então é isso.” Azrael estreitou os olhos, sua voz carregada de amargura. “Você busca vingança pelo extermínio do clã dos elfos negros. Sabe, naquele tempo, eu estava apenas cumprindo ordens dos deuses.”
“Você fez o massacre, não os deuses.” O elfo rosnou, o ódio evidente em cada palavra.
“Quando alguém usa uma espada para matar, culpamos a espada? Não.” Azrael tentou apelar à razão. “Eu era apenas uma ferramenta.”
“Então logo entenderá os meus motivos.” Com um movimento rápido e cruel, o elfo negro atravessou o peito de Júlia com a mão. O tempo pareceu parar quando o corpo dela foi jogado na direção de Azrael.
“Não!” Ele gritou, correndo para segurá-la. O sangue tingia suas mãos enquanto ele tentava desesperadamente curar o ferimento.
“Cura, cura…” Ele repetia como um mantra, mas sabia que não tinha mana suficiente para salvar a vida dela. “Júlia… Não faça isso comigo.”
Ela abriu os olhos, a vida escapando lentamente de seu corpo. “Az… Obrigada por cuidar de mim… por todos esses anos. Obrigada…”
“Não… Júlia, não! Fique comigo. Por favor…”
Ela sorriu levemente antes de fechar os olhos pela última vez. Azrael ficou imóvel, sua mente incapaz de processar a perda. Uma raiva avassaladora começou a se formar, queimando tudo dentro dele.
“Noir.” Sua voz estava carregada de uma fúria contida, prestes a explodir.
Um espaço dimensional se abriu e sua espada negra surgiu em sua mão. Noir tentou intervir. “Mestre, não faça isso. Seu corpo será destruído.”
Azrael ergueu a espada, sua aura crescendo em intensidade, uma promessa de destruição iminente. “Isso não importa mais.”
Todo o corpo de Eriel tremeu ao observar Azrael naquele estado. Era a mesma sensação sufocante que sentira ao testemunhar a perda devastadora que o consumiu no passado. O olhar vazio de Azrael, agora preenchido por uma fúria avassaladora, era um reflexo do seu desespero. O ar ao redor dele parecia vibrar com a tensão de um poder descontrolado, pronto para morrer.
Embora seu poder atual fosse uma sombra do que fora em seu auge, ele ainda estava muito acima do que qualquer ser humano poderia conceber. Depois de anos recuperando suas forças, Azrael alcançou novamente o ápice que ostentava no momento de seu primeiro encontro com Eriel. Ele não era apenas forte; naquele momento, ele era o ser mais poderoso do planeta, superando até mesmo o líder da facção. Havia uma razão para isso, algo que se revelaria de forma brutal e inquestionável.
“Noir, terceira forma.”
A voz de Azrael era grave.
{Terceira forma: Divindade.}
Em um instante, a espada negra que ele empunhava foi afastada de sua mão. Mas sua ausência foi substituída por algo ainda mais impressionante: uma mudança tangível em sua presença. O poder que emanava de Azrael tornou-se algo além da compreensão. Sua mana e aura transcenderam os limites de um mortal ou mesmo de um imortal. Ele estava, além disso; ele havia cruzado para o domínio das divindades.
Eriel observou com uma mistura de fascínio e terror enquanto Azrael atingia esse nível sublime. Sua aura, fornecida de poder divino, parecia dobrar o próprio espaço ao redor. Ela sabia o que isso significava. As classes de poder, delineadas em um esquema quase universal, estavam agora vívidas em sua mente.
Mortal : Humanos, trolls e outras criaturas simples, seres cuja expectativa de vida geralmente não passa dos 200 anos. Fracos, com humanos ocupando o nível mais baixo nessa escala.
Imortais : Elfos, vampiros, demônios de médio escalonamento, e anjos de classes inferiores. Seres com controle avançado sobre a mana, vivendo por séculos ou até milênios.
Divindades : Anjos de classe alta, demônios primordiais, dragões, titãs e os próprios deuses. Esses seres dominavam a mana de forma absoluta, e suas auras divinas transcendiam os limites do possível.
Agora, Azrael estava nessa última categoria. Eriel podia sentir a energia em cada fibra de sua existência. Ele não parecia mais um demônio — ele se tornaria algo que pertencia a um reino muito além do seu próprio.
“Mestre, por favor…” Noir, o espírito de sua arma, sussurrou em desespero, ciente do custo que isso exigia do corpo de Azrael.
Azrael, porém, ignorou o aviso. Seu olhar estava fixo no elfo negro à sua frente, como se toda a sua fúria e dor pudesse ser canalizada para destruir o inimigo em um único golpe.
“Eu lhe dei várias chances. Mas você ultrapassou todos os limites. Você ousou afrontar, invadiu esta terra, e feriu alguém próximo ao príncipe herdeiro.” Sua voz retumbou como um trovão, fornecida de um poder que parecia abalar o próprio tecido da realidade.
A aura divina ao redor de Azrael pulsava como um coração colérico, cada batida ecoando sua ira e determinação. Eriel sabia que, naquele momento, não existia força no mundo que pudesse detê-lo. Ele havia se tornado algo além de uma arma ou de um soldado. Ele era, naquele instante, o poder absoluto — um deus encarnado em carne e ossos, disposto a esmagar quaisquer obstáculos em seu caminho.
Azrael
Azrael sentiu o peso de suas escolhas, esmagando-o como um abismo sem fim. Fui ingênuo novamente? Deveria ter ficado na caverna? Talvez me exilado em um canto esquecido, onde a vida não ousasse florescer? As perguntas se repetiam em sua mente, cada uma mais corrosiva que a anterior. Se tivesse seguido o exemplo do dragão do destino, todos estariam seguros? Será que sou o epicentro de cada desgraça que testemunhei?
Seu coração, pesado de dúvidas, ecoava mais uma questão: O destino me odeia? O que fiz de tão errado? Quando foi que errei? Quando desafiei o destino? Sou tão indigno de amar assim?
Esses pensamentos não encontraram resposta, mas foram varridos por uma torrente de poder que começou a tomar conta de seu corpo. Noir havia ativado sua terceira forma. A energia divina de um deus percorreu cada fibra de sua existência, inundando-o com uma força esmagadora e avassaladora.
Com a ativação da terceira forma, Azrael e Noir se tornaram um só. O poder de um deus, guardado no âmago de Noir, agora corria pelas veias de Azrael como se lhe pertencesse. Essa era a essência da terceira forma: a fusão total entre os dois, unindo a divindade da espada e o corpo mortal de Azrael. Mas tal poder vem com um custo inescapável: a destruição do corpo que ousasse canalizá-lo.
Enquanto sua aura divina pulsava, a determinação de Azrael perdurava. Não havia mais compaixão, dúvidas ou hesitação. Ele encarava o elfo negro à sua frente com olhos ardentes de fúria e desprezo. Acabarei com a sua existência. Não há perdão. No mundo, ou se é forte ou se é fraco. Simples assim.
“Seu tempo… acabou”, declarou, sua voz reverberando com uma autoridade divina.
Azrael avançou. Cada passo era uma agonia indescritível, enquanto o poder transcendente fluía por seu corpo. Da ponta dos pés ao último fio de cabelo, ele sentiu sua essência transbordar. Cada movimento era acompanhado por uma dor lancinante, mas ele a ignorava. Havia algo maior em jogo — algo que valia o sacrifício de seu corpo e sua alma.
“Isso é tudo o que você tem? Então, vejamos como será a verdadeira dor.” Ele direcionou sua mão para os olhos, ativando uma habilidade há muito guardada.
“Olho perfeito.”
Com isso, todas as habilidades que ele copiou ao longo de séculos de batalhas estavam ao seu alcance. Mas usá-los agora parecia indigno. Essas habilidades, ainda que poderosas, eram insuficientes para expressar a extensão de sua fúria. Ele queria algo maior. Queria que o elfo negro não fosse apenas destruído, mas sentisse cada segundo de sua aniquilação.
“Você merece sentir tristeza. Agonia. O peso do desespero.”
Foi então que ele convocou o ápice de seu poder:
“Criação: Olho de Deus”.
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