Capítulo 01: Tiros e explosões depois da escola
“Você já se perguntou o que diabos tem de errado com sua vida? Tudo parece certo, mas mesmo assim você sente que vai sufocar. Já te aconteceu? Eu me senti vivo e livre assim realmente em poucos momentos da minha vida”.
Esses pensamentos passaram rapidamente pela cabeça de Renato enquanto ele cuspia o sangue da boca.
Ele fechou os punhos e partiu pra cima.
Renato nunca foi de briga. Quando foi a última vez que brigou com alguém? Já deve ter quase dez anos, mas lá estava ele, trocando socos contra um cara da sua escola. Ele nem se lembrava mais do motivo. Só sabia que aquele tédio de sempre, por um momento, foi suprimido pela intensidade da luta.
O valentão a sua frente era Roger, um moleque que se dizia membro de uma gangue. A gangue onde, a propósito, seu primo seria o líder, o que o enchia de orgulho. Ele andava pelos corredores dando trombadas nas pessoas, fumava no banheiro e roubava bonés. Grande bandidão ladrão de bonés! Diziam até que ele batia na namorada e, no meio do pátio da escola, o rumor se materializou e deixou de ser apenas fofoca. O tapa foi certeiro, e fez Tâmara girar no próprio eixo como um pião, cuspindo saliva misturada com sangue; antes, porém, que ela pudesse cair, ele desferiu um soco. Ainda levantou a mão para preparar mais um golpe contra a menina.
Ninguém entendeu quando Renato, um passivo e quieto aluno do ensino médio, que sonhava em cursar psicologia, interferiu naquilo.
Roger acertou um soco na barriga de Renato, que se afastou, sentindo o ar sumir dos pulmões.
O valentão empreendeu outro ataque, mas Renato bloqueou seu golpe e, na sequência, deferiu três socos seguidos na barriga do adversário.
Roger caiu no chão, com as mãos sobre o estômago.
Renato pôs-se sobre ele e desferiu socos no rosto. Ele não parava. Há quanto tempo ele não dava um soco em alguém? Até que não era uma sensação ruim.
O rapaz não reagia.
Hiro, o único amigo próximo que Renato tinha, puxou-o, tirando ele de cima do outro e berrando:
— Já chega! Você quer matar ele?!
Renato olhou para Roger caído no chão. Ele estava inconsciente. Um dos olhos estava fechado, e o outro, semiaberto. A boca aberta deixava escorrer um misto de saliva e sangue. O nariz parecia quebrado.
Os punhos de Renato, ainda cerrados, doíam.
— Merda! — Renato levou as mãos à cabeça.
— Tudo bem. Você ajudou ela. Você fez uma coisa boa.
— Ajudei?
— Sim. Se você não tivesse interferido, esse imprestável teria batido mais ainda na Tâmara.
Renato hesitou por um instante antes de se lembrar. Sim, Roger havia dado um tapa violento no rosto de Tâmara, e depois um soco nela, e levantou a mão para dar outro, quando Renato o impediu.
Ali, caído, ele não parecia tão valente assim.
Tâmara, que assistiu a briga em silêncio, tentou se aproximar de Renato, lhe agradecer, mas Alicia chegou primeiro, e a garota dos olhos âmbar recuou. Pôs a mão no rosto. Ardia.
— Olha só para sua mão! Tá toda machucada! — disse Alicia.
— Tá tudo bem. — Olhou mais uma vez para Roger e estranhamente ele sentiu uma pontada de culpa. Não precisava ter batido tanto, pensou. “Por que eu não parei? Eu comecei pela Tâmara, mas em algum momento da luta eu meio que esqueci dela e só continuei batendo porque… porque eu gostei.” Sentiu um arrepio.
— Maluco, eu sou o asiático da galera, mas tu que manja do Kung Fu pelo jeito! — disse Hiro, dando risadas.
— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui?
Com olhos severos, de pé em seus quase dois metros de altura, estava o diretor da escola.
— O Roger e o Renato brigaram! — A voz de algum caguete reverberou pelo pátio da escola.
— Seu x9! — Mais alguém berrou da multidão.
— Eu falo mesmo! — A primeira voz voltou.
— Tá puto só porque perdeu dinheiro!
— Roger e Renato? — O diretor franziu o cenho.
— O diretor não vai lembrar quem é você, então vamos sair de fininho logo daqui porque… — Hiro já pensava no plano de fuga.
— Renato sou eu. Aluno do segundo ano A.
— Mas puta que pariu! — Hiro ficou indignado com a honestidade do amigo.
— Entendo — o diretor suspirou cansado, meteu a mão no bolso e tirou um celular. — Alô? Aqui é o diretor da Escola Estadual Doutor Pirulla. Tem um aluno que se feriu numa briga. Ele não está se mexendo. Parece grave. Eu gostaria de solicitar uma ambulância. Certo. Sim, ele tá respirando sim. Ok, tudo bem, não iremos mexer nele. Estamos no aguardo.
Ele guardou o celular no bolso e encarou Renato.
— Vamos pra minha sala.
— Certo.
— Certo, gente, voltem para a sala de aula. Acabou o espetáculo! Vocês … — ele se virou para os assistentes de pátio — cuidem dele e me chamem quando a ambulância chegar, por favor.
A sala do diretor não era muito grande. Renato se sentou numa cadeira de frente para a escrivaninha.
— Você… estuda aqui desde a educação infantil, não? — disse o diretor.
— Sim.
— Não me lembro de nenhuma vez em que você se meteu em briga. Por que isso mudou agora?
Renato pressionou os lábios. Estava nervoso.
— O Roger estava espancando uma garota no meio do pátio da escola. Eu interferi e… bom, ele não gostou muito da ideia.
— Então você brigou com ele para defender uma garota que ele estava batendo?
— Acredita em mim?
— E por que não acreditaria? Eu conheço meus alunos, Renato. Sei que o comportamento do Roger não é dos melhores. Respeito sua atitude, mas você ainda é um aluno e eu sou o diretor. Preciso reportar o que aconteceu para os seus pais. Eu pedi para o coordenador ligar para eles. Você vai ficar aqui até eles chegarem.
Renato suspirou e um sorriso sarcástico surgiu no canto de seus lábios.
— Aqueles colchonetes que a gente usa nas aulas de educação física… será que eu posso pegar um daqueles?
O diretor franziu o cenho, sem entender.
— É que se eu vou ficar aqui na escola até meus pais chegarem, então acho que eu vou dormir por aqui mesmo.
O diretor suspirou. Achou que o comentário petulante merecia uma bronca, mas faltou vontade para dá-la, então ele apenas se levantou e disse:
— Vamos falar com seus pais.
Quando o diretor sumiu na portinha detrás, Renato pegou o celular para dar uma olhada no TalksApp. Nenhuma mensagem nova. Ele clicou na tela para abrir a janela de conversa com sua mãe, mas desistiu e guardou o celular no bolso sem dizer nada.
Tomou um susto quando olhou para a janela. Hiro estava lá, com sua imagem distorcida através do vidro cheio de ranhuras, parecendo uma aparição fantasmagórica.
Renato se levantou e abriu a janela.
— E aí?
— Então, cara? O que tá rolando? O diretor vai te dar uma suspensão?
— Eu acho que não. Ele só tá tentando falar com meus pais.
Hiro começou a gargalhar.
— Então é melhor você pegar um daqueles colchonetes da educação física, porque você vai precisar dormir aí!
— Cara, você roubou minha fala.
— Falando em roubar, a gente não vai mais poder ir assistir a estreia de Gatas e Ladras no cinema segunda-feira. Eu meio que perdi o nosso dinheiro.
— Perdeu o nosso dinheiro? Como assim? Hiro, era pra você ter guardado isso com a sua vida!
— É que quando você começou a brigar com o Roger, os moleques do terceiro ano começaram a organizar umas apostas…
Renato franziu o cenho.
— Mas eu ganhei a luta.
— Pois é.
— Tá dizendo que apostou contra mim?
— É. Foi mal.
— Você apostou contra mim, seu filho da mãe?! Nem Judas foi tão…
— É que eu nunca te vi brigando! Achei que você ia desmaiar no primeiro soco. Minha intenções eram boas, sabia? Eu ia usar o dinheiro extra pra pagar seu tratamento no hospital!
— Apostou contra mim! Valeu pela confiança, meu parceiro! Você pelo menos guardou algum dinheiro para a festa junina?
— Ah, então, sabe como é né… eu apostei tudo. Se você tivesse perdido, o dinheiro teria quintuplicado!
— Então a festa junina é daqui a poucos dias e a gente tá sem nenhum tostão? Puta merda, Hiro!
— Você devia ter perdido a luta. Quem mandou você virar o Jet Li do nada?!
— Ahém! — O diretor voltou.
— Eu não tive nada a ver com a briga! — berrou Hiro e fechou a janela.
— Não conseguimos falar com seus pais ainda — disse o diretor. — Você terá que permanecer aqui, por enquanto.
Quando o sol começou a se esconder no horizonte, o diretor entendeu que falar com os pais daquele jovem seria realmente difícil. Ele ficou verdadeiramente irritado. “Existe um limite pro quanto pais podem ser ausentes” pensou. “A escola do filho deles tá ligando!” As palavras “conselho” e “tutelar” passaram pela sua mente.
Suspirou, resignado, e decidiu deixar o garoto ir para a casa.
Renato caminhou até o ponto de ônibus. Sentou no banco. Tirou a mochila das costas, colocando-a de lado. Escorou as costas na viga metálica. O vento estava frio e um sereno gelado caía sobre ele. De vez em quando, um raio rasgava o céu, abrindo uma fenda luminosa nas nuvens.
A barriga do rapaz roncava de fome. Estava sozinho no ponto de ônibus.
Renato tocou seu punho ainda roxo de hematomas.
Foi quando ouviu alguns gritos e notou uma movimentação estranha num beco próximo. Ele forçou a visão, apertou os olhos, mas não conseguiu ver nada além de vultos no escuro. Parecia uma briga bem feia.
Ouviu gritos. Ouviu uma voz que parecia ser a de uma garota adolescente. Pensou em ligar para a polícia. Pegou o celular e constatou que a bateria havia acabado. “De que adiantaria mesmo? Até a polícia chegar, a desgraça já teria acontecido.”
Novamente aquele grito de adolescente pôde ser ouvido.
— Droga!
Renato se levantou e correu em direção ao beco. Os vultos ficavam mais nítidos conforme ele se aproximava. Havia uma mulher de longos cabelos, havia gente caída no chão. Viu o brilho inconfundível de uma lâmina.
Apertou o passo.
Entrou no beco. Então, um clarão cegou seus olhos e ele perdeu o equilíbrio, e quando a visão voltou, só havia a mulher. Ela olhou em volta e, vendo que era a única que restava, grunhiu de raiva e frustração.
— Merda! — berrou. — Eu fui descuidada.
— Moça, tá tudo bem?
Ela olhou rapidamente, ainda em alerta, para Renato.
— É um Atalaia? — Ela parecia cansada, respirando pesadamente.
— Um o quê? Eu nem sei o que essa palavra…
A mulher se aproximou dele. Havia algo de mágico nela. As sombras pareciam se dobrar a sua presença e uma comichão começou nas partes baixas do rapaz.
— Ei, qual o seu nome?
— Renato. — Ele não queria responder, mas respondeu mesmo assim.
— Muito prazer, Renato. Sabe — ela chegou muito perto —, eu tô com fome.
— Tem uma barraquinha de cachorro quente aqui perto, se você quiser, a gente pode…
— Eu tô com fome de outra coisa, Renato.
Ela ficou tão perto que o cheiro doce de seu perfume fez cócegas nas narinas do rapaz. Era um aroma delicioso.
— De outra coisa? V-você, por acaso, é uma vampira? — gaguejou ele.
— Não. Que coisa horrível de se dizer, Renato. Eu sou uma súcubo.
Ela o pressionou contra a parede. Renato teve que desviar o pé para não pisar sobre um homem ensanguentado que, claramente, parecia morto. Só então prestou atenção que, ocultados pela penumbra, haviam mais corpos como aquele. A visão deveria apavorá-lo, mas o perfume da mulher era tão bom! Difícil se importar com algo além disso!
— Eu tenho um pedido, Renato. Só um pedido.
— Só um… — Ele já estava quase perdendo o controle.
— Só um beijo.
— Só um beijo. — Ele se aproximou, fixando o olhar naquela boca. Que gosto teria seus lábios? Beijá-la era tudo o que queria. Todo o mundo parecia enevoado, confuso, como a gravação de uma câmera sem foco. Suas pernas tremiam. Seus pelos ficaram eriçados, como os de um pobre animalzinho encurralado pelo predador. Ele estava com medo e ao mesmo tempo encantado. Correr dela ou correr de encontro a ela? Difícil decidir!
Quando seus lábios se tocaram, foi como uma explosão. Ele foi sugado, drenado completamente. Ficou tonto. As pernas perderam a força. Sentiu fome, sede, sono e um prazer lancinante percorrendo sua pele como choque elétrico. Ele a agarrou, passou os braços por seu pescoço e pressionou seu corpo contra o dela com mais força. A mulher ficou surpresa, mas permitiu. A pele dela era macia.
Faltou ar. Renato caiu no chão sem conseguir respirar. Forçou os pulmões o máximo que pôde para puxar o oxigênio teimoso.
A súcubo se afastou.
Renato não poderia deixá-la ir! Ele queria mais disso! Queria mais dela!
Ela, aos poucos, se misturava à penumbra e desaparecia.
O garoto forçou as pernas, cerrou os dentes, apertou os punhos e forçou todos os músculos do corpo até se levantar.
— Espere! — disse ele.
A mulher olhou para ele como se ele fosse um tipo de fantasma. Estava assustada e incrédula.
— Como é possível? — disse ela, se aproximando com cuidado. — Que tipo de coisa é você?
— Espere. Qual… qual o seu nome?
— Clara — ela respondeu no automático. — Como… quem é você?
— Renato.
Ela o agarrou pelo colarinho e o empurrou contra a parede. Seus olhos brilharam num vermelho assustador.
— Não brinca comigo! Quem mandou você?! Responda! Foi o BaelZubub?! Satanakia? Responda se não quiser que eu exploda seu pinto!
— Explodir meu o quê? Não, espera, como assim? — O rumo da conversa estava deixando Renato preocupado.
— Olha só pra você! Todo recuperado depois de eu ter tirado tanto! Como pode ter tanta força vital assim?
— É meu histórico de atleta… — ele disse, forçando um sorriso sarcástico.
Ela se aproximou e começou a cheirá-lo como um cão policial procurando droga. Começou pelo pescoço, depois desceu pro peito, barriga, e continuou descendo.
— Hum, virgem? Que fofinho! — disse ela, após cheirar a virilha dele.
— Ei, espera! Eu não sou… hum… como sabe?
Ela se ergueu. Franziu o cenho. Parecia confusa.
— Não tem nem um sinal de presença demoníaca em você. Nada. Nem aquela poluição de credulidade tão comum na sua gente. Não passa de um humano de aparência mediana e punhos machucados. Mas como? Olha só pra isso! Eu vejo o fogo brilhando ainda mais forte do que antes! Me diz o que é você.
— Eu já disse. Eu sou Renato.
— Renato é o nome de uma nova espécie de monstro?
— Não. É só o nome que meu pai escolheu mesmo. Era pra ser Roberto, mas depois mudaram. Eu pessoalmente prefiro Roberto.
— Você vem comigo! — Ela o puxou pelo colarinho, levando-o para algum lugar.
— Pra onde?
— Pode chamar de uma missão de resgate.
— Tipo no filme Gatas e Ladras?
— Eu não sei. Eu não vi esse filme ainda.
— Nem eu. E pelo jeito nem vou ver tão cedo.
Saíram do beco. Renato quase perdeu o fôlego de novo quando viu o belo Camaro preto estacionado no canto da rua. Ela meteu a mão no bolso e tirou um chaveiro. Apertou um botãozinho num controle para destrancar as portas, e na hora as luzes azuis de neon surgiram embaixo do carro.
Clara abriu a porta do carona e jogou Renato lá dentro.
— Você vai me sequestrar? Não que eu tenha algo contra. Só tô perguntando mesmo.
— Relaxa. A gente só vai dar uma volta. Como eu disse, é uma missão de resgate.
Ela fechou a porta e deu a volta no carro para entrar pela porta do motorista. Antes de entrar, porém, ela parou para farejar o ar. Fechou os olhos e inspirou. Sentiu os sutis cheiros da noite. O ar frio batendo em seus cabelos trazia os aromas de longe. Os sons distantes soaram em seus ouvidos. Ela se concentrou na energia santa que aqueles homens emitiam.
Clara sentiu a presença deles cintilando a oeste. Era incrível! Sua percepção sobrenatural sempre foi um dos seus pontos fortes, mas agora tudo parecia mais intenso. Os sons, aromas, pulsando como um farol.
Clara manobrou o carro e deu meia volta na avenida. Quando pisou fundo, o motor rugiu e a força da inércia colou Renato ao banco por um instante.
O lado de fora virou um borrão. A chuva ficou mais forte, chicoteando o para-brisa sem misericórdia.
— Olha ali! Cuidado! O sinal tá fechado! Cuidado! Caralho! Freia, mulher!— Renato fechou os olhos.
Ao constatar que ainda estava inteiro, soltou o ar que havia segurado nos pulmões e abriu os olhos.
— Tá querendo matar a gente?
— Pega mal agir tão medroso na frente de uma mulher, sabia?
Renato não disse nada, mas achou que seria uma boa ideia prender o cinto de segurança em volta de seu corpo.
Depois de alguns minutos no trânsito furando sinais vermelhos e ultrapassando, de forma perigosa, os outros carros, viram adiante uma limusine sendo conduzida tão loucamente quanto o Camaro.
— Ali estão eles! — apontou.
A limusine acelerou mais ainda. Perceberam que estavam sendo seguidos.
Clara desceu o pé no acelerador ao máximo. O motor berrou e os pneus giraram como tufões.
A perseguição estava implacável.
Um policial tranquilo, sentado no banco do motorista de uma viatura, fuçava no celular, passando o dedo sobre a tela.
Ele estava irritado porque recebeu um vídeo de um amigo, e quando o abriu, o som de uma mulher gemendo ecoou por todo o carro. Seu parceiro caiu na gargalhada, o que o deixou ainda mais bravo.
Foi quando viu a Limusine voando sobre a pista, e, logo atrás, aquele Camaro. Ele empurrou o celular no bolso e entrou na perseguição também.
— Mas que merda! — gritou Clara ao ouvir a sirene e ver o giroflex no retrovisor.
A janela traseira da Limusine se abriu, e um homem pôs metade do corpo pra fora. Ele apontou uma pistola.
Renato, por instinto, se abaixou em seu banco.
— Calma, garoto. Esse vidro é blindado. Aquela pistola não consegue nem arranhar meu para-brisa.
Pequenos círculos foram desenhados sobre a superfície do vidro conforme as balas o atingiam, mas nenhuma conseguiu atravessá-lo.
O homem na janela jogou a pistola pra dentro do carro e puxou algo mais pesado. Ele pôs pra fora e apontou uma bazuca.
— Mas talvez aquilo consiga! — Clara manobrou o carro, tirando-o da mira do míssil que veio sedento cortando o ar.
O míssil passou raspando na lataria do Camaro e se chocou contra a viatura que vinha logo atrás. Ela, com a explosão, rodou no ar, em chamas.
Clara acelerou mais, e seu carro se aproximou tanto da limusine que o para-choque quase tocou a traseira, embora não estivesse exatamente atrás, mas do lado.
— Sabe dirigir? — perguntou ela.
— Mais ou menos!
— Então assume o volante!
A imagem dela oscilou, ficou um pouco translúcida, então Clara se transformou num vulto enevoado nas cores preto e vermelho, e atravessou a porta de metal dos dois carros, indo parar, de maneira mágica, dentro da Limusine.
Renato soltou rapidamente o cinto de segurança de seu corpo e pulou para o banco do motorista. Segurou o volante com muita força.
Ele lutava para manter o Camaro na estrada enquanto tentava ver o que se passava dentro do outro carro. Os olhos arregalados e a respiração acelerada não deixavam esconder a adrenalina que corria por suas veias.
Foi quando a porta traseira da Limusine se abriu com violência, um homem veio voando de dentro dela e se chocou contra o para-brisa do Camaro. O sangue, que parecia fluir da região genital do homem, sujou todo o vidro.
Renato moveu o volante no susto, fazendo o carro dançar sobre a pista, e o corpo do pobre homem caiu do carro e rodou sobre a estrada.
Tiros e gritos ecoaram. Mais homens caíram para fora do veículo, até que, finalmente, a Limusine parou.
O rapaz encostou logo ao lado também.
Clara saiu da Limusine, linda, triunfante, coberta de sangue, trazendo consigo duas jovens garotas.
— Gostosa e doida, do jeito que eu gosto! — disse Renato, ao vê-la.
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