Capítulo 27 - Batalha da Clareira (parte 2)

“Grallu, fique para trás e me cubra.” Malia ordenou enquanto corria sozinha em direção ao rebanho enfurecido.

Quando os membros da tribo se depararam com o rebanho de Bisões Demoníacos, Malia não buscou uma colisão frontal como os outros, mas usou seu pequeno tamanho e agilidade para se contorcer e passar entre as feras. Quando se esquivar no chão se tornou impossível, ela deu um salto frontal, sua silhueta girou no ar enquanto ela deslizava de besta em besta com passos leves.

Asselin não era tão ágil, mas usou um método semelhante. Empurrando com força com as pernas, seus pés se ergueram a mais de três metros do chão e ele caiu pesadamente nas costas de um dos bisões.

Empurrando com força novamente, ele o usou como um trampolim para pular sobre outra fera ou de volta ao chão, se o espaço permitisse. Ao repetir a ação, ele conseguiu manter Malia por perto.

Klayzer, o líder Hob-Goblin, rugiu com raiva enquanto segurava um enorme bastão e, balançando-o como um taco de beisebol, acertou o rosto de um bisão com força total. A cabeça do bovino foi lançada para a direita, chifrando o vizinho, o resto do corpo seguiu o movimento do pescoço e o fez tropeçar.

Ainda assim, uma besta tão grande não poderia ser detida tão facilmente. Com o búfalo retendo a maior parte de sua inércia, Klayzer ainda foi abalroado pela criatura e mesmo agarrado aos dois chifres do bovino foi empurrado de volta para a entrada da clareira.

No momento em que ele nocauteou o búfalo, ele havia sido completamente derrotado.

O chefe kobold se saiu um pouco melhor. De acordo com os mitos tradicionais, os kobolds eram espíritos de má reputação, mas na ficção de fantasia moderna e nos videogames, eram cães lagartos humanoides ou mesmo ratos.

O líder kobold era uma mistura das duas últimas descrições. Mais lagarto que humano, mais cachorro que lagarto, mais rato que cachorro. Sua aparência era difícil de descrever, mas uma coisa era certa, ele era tão musculoso e gordo que não teve chance de se esquivar do ataque dos bisões. Por outro lado, foi o único que não foi lançado ao ar durante a colisão.

Rosnando como um animal selvagem, ele deixou o bisão à sua frente bater em sua barriga, seus pés deixaram sulcos profundos na terra por vários metros. Sem descansar, ele ergueu os dois punhos acima da cabeça e os esmagou como um martelo no topo do crânio do bovino.

A cabeça da criatura foi jogada no chão e o gordo kobold saltou sobre ela no processo. Ele estava atrás de Malia e Asselin, mas ainda estava na corrida.

Os outros humanos, goblins e kobolds não eram nem de longe tão ágeis ou fortes. Do pânico à adrenalina, eles só podiam se preparar para o impacto. Para os goblins e kobolds foi um banho de sangue, mas a tribo de Asselin também não escapou ilesa.

Seus quatro melhores guerreiros equipados com escudos uivaram por coragem e enfrentaram o ataque do bisão de frente com seus escudos. Ikaris e Krold desviaram os olhos com um estremecimento quando ouviram o baque da colisão, acompanhada por gemidos de dor e ossos esmagados.

Dos quatro escudeiros, dois morreram instantaneamente, seus escudos acertaram seus peitos quando os chifres curvos do bisão empalaram suas gargantas enquanto eles erguiam suas cabeças.

O escudo do terceiro homem permaneceu firme, mas o usuário foi arremessado para trás uma dúzia de metros antes de ser pisoteado pelo rebanho. Por fim, o quarto sobreviveu rolando no chão no último momento, mas não estava mais em condições de lutar, seu esqueleto mutilado não mais se parecia com o de um humano.

Se os mais fortes e mais bem equipados da tribo acabaram nesse estado, então a situação dos outros armados apenas com seus arcos e azagaias falava por si. Dos treze ou quatorze guerreiros restantes, onze sobreviveram à colisão, mas apenas três deles ainda conseguiram lutar.

Entre os goblins e kobolds menores e mais frágeis, o preço era ainda pior. Dos mais de cinquenta goblins que participaram do ataque, menos de dez conseguiram se levantar. Do lado kobold, dos cerca de trinta que participaram, uma dúzia conseguiu se levantar, mas nenhum saiu ileso, nem mesmo seu líder.

Essas três tribos subestimaram esses bisões. Estes não eram bisões normais, mas Bestas Demoníacas. Sua mera presença aqui tão perto da Grande Muralha provou que sua força era suficiente para afastar os Rastejantes que passavam pela muralha todas as noites.

O Alfa sozinho não foi suficiente para impedir que os Rastejantes massacrassem seu rebanho. Nesse caso, havia apenas uma outra explicação. Sob a liderança de seu Alfa, esses Bisões Demoníacos tornaram-se destemidos e temíveis o suficiente para repelir matilhas de Rastejantes.

Isso foi o que esses homens tribais ignorantes haviam esquecido e agora eles estavam pagando o preço.

Após a primeira investida dos Bisões Demoníacos, seu Alfa berrou loucamente e o rebanho se virou, iniciando sua segunda investida em rápida sucessão. Aqueles que mal se levantaram gritaram de terror e correram para fora do caminho antes que fossem destruídos para sempre. Os que já tinham a perna quebrada ficaram lívidos e fecharam os olhos, aceitando a morte em silêncio.

BAM!

Ikaris e Krold, que estavam assistindo o massacre da segurança dos arbustos, se encolheram ao ver a extensão da carnificina, mas pelo menos não houve uma terceira carga.

O Alfa finalmente notou os três líderes correndo lado a lado em direção ao precioso pé de morango. Os Bisões Demoníacos gostavam de um pouco de carne fresca e sangue para acompanhar a grama, mas também gostavam de uma fruta doce de vez em quando.

Desde que descobriram as propriedades saborosas e revigorantes dos Morangos Coração, eles fizeram dessa clareira sua base. Como poderiam deixá-los roubar suas guloseimas impunemente?

“MOOOO!” 

Sentido o perigo de ficarem sem seus doces, o rebanho se virou em uma corrida completa e com coordenação exemplar eles se viraram e atacaram o líder kobold e os outros dois humanos.

Foi quando Grallu entrou em jogo. Apontando seu bastão para o obeso líder Kobold, ela conjurou,

“Garo, Goku, Gara!”

O chão sob os pés do kobold se partiu, transformando-se em areia fina. Os pés da criatura gorda afundaram na areia e ele parou no meio do caminho, tropeçando de cara no chão.

Confuso, o líder kobold virou a cabeça em busca do culpado, mas quando viu Grallu sorrindo desdentada para ele, já era tarde demais.

“SOOO!”

O Alfa Bisão Demoníaco bateu nele com a velocidade de um caminhão na estrada e o pobre kobold foi derrubado como um pino de boliche. Totalmente enlouquecido, o monstruoso bovino empinou-se com sua vítima empalada em seus chifres e com um movimento de cabeça atirou-a contra uma árvore a dezenas de metros de distância.

“Meu Deus! Esse touro é maluco!” Krold cuspiu, começando a suar frio.

Não é de admirar que esses herbívoros tenham sobrevivido aos Rastejantes. O Alfa deles era um show de horrores! Se fosse ele no lugar, nunca teria ousado provocar tal rebanho dessa maneira.

E só por uma fruta! Ele preferia continuar comendo goblins…

Enquanto Krold estava pasmo e traumatizado com o que acabara de acontecer, Ikaris soltou um grande sorriso quando percebeu algo.

“Uau, isso é perfeito! Eu estava com medo que esses membros da tribo fossem completamente inúteis, mas eu deveria agradecê-los em vez disso” Ele exclamou com prazer.

“Sobre o que você está tagarelando?” O bárbaro rosnou enquanto seguia seu olhar. Quando ele viu o que Ikaris estava olhando, fez uma expressão cômica como se tivesse acabado de engolir uma mosca.

Na retaguarda do rebanho, bem na beira da selva, estava o Bisão Demoníaco nocauteado pelo Hob-Goblin Klayzer. Ele estava tão zangado por ter sido deixado para trás que se esqueceu do Bisão Demoníaco que acabara de derrotar.

Observando o enfurecido Hob-Goblin perseguir o rebanho de bisões, Ikaris zombou com desprezo e foi na ponta dos pés até o bisão desmaiado.

“Krold, me ajude a arrastá-lo.” O menino se regozijou enquanto lambia os lábios com impaciência.

O bárbaro estava um tanto inquieto, mas a euforia de ter obtido tanta carne com tanta facilidade o fez cooperar de bom grado. Juntos arrastaram o gado de volta para a selva com muita dificuldade, mas naquele exato momento, por pura má sorte, o Alfa virou a cabeça na direção deles.

Quando ele os viu levar um de seus companheiros bovinos, seus olhos ficaram vermelhos e ele berrou um estrondoso,

“MOOOOO!”

Seu olhar alternava entre Malia e Asselin, a quem ele estava prestes a alcançar, e Ikaris e seu ajudante. Enlouquecido, ele tomou uma decisão.

Os Morangos Coração tiveram maior importância! Mas ele tinha que se vingar de alguém.

Seus músculos já hipertrofiados de repente incharam e antes que alguém pudesse reagir ou detê-lo, a enorme besta cruzou dez metros em um piscar de olhos, passando por cima de Asselin e Malia.

Sangue jorrou, ossos quebrados e dois humanos ensanguentados rolaram sob os cascos do rebanho, sua condição desconhecida.

“MALIA!”