Capítulo 39 - Meu legado de sangue

Ikaris ficou surpreso quando ouviu, mas percebendo que a condição do velho era realmente crítica, ele correu. Abraçando a enorme presa venenosa com toda a sua força, ele puxou para trás enquanto fingia ignorar o fedor que ardia em suas narinas.

“Huff, huff, caramba! É pesado pra caralho!” O adolescente engasgou quando mal conseguiu desalojá-la uma polegada enquanto o puxava com cada fibra de seu ser.

Mas isso foi o suficiente para Magnus. O espaço liberado regenerou-se laboriosamente e ele recuperou algumas forças. Juntos, um empurrando e outro puxando, aos poucos conseguiram retirar a enorme presa.

Quando estava quase fora, Ikaris a inclinou para o lado e ele caiu pesadamente no chão, rolando ao longo da pequena plantação de Malia. Isso fez com que o homem empalado sofresse mais ferimentos quando a ponta afiada deslizou de seu peito em direção ao pescoço, mas não foi nada para seus poderes regenerativos.

Uma vez livre desse objeto invasivo, o velho recuperou um pouco de cor, mas isso não mudou seu destino. A recuperação foi muito lenta e o veneno se espalhou muito rápido.

“Minhas feridas cicatrizaram, mas o veneno danificou muito minhas células.” Ele suspirou profundamente. “Tenho menos de uma hora. Mas com SANGUE, posso te dar o presente que prometi.”

“Um feitiço não poderia ser suficiente? Tenho certeza que sua Centelha Divina deve estar superdesenvolvida, certo?” Ikaris perguntou com incompreensão. De sua perspectiva, desintoxicar um veneno com magia deveria ser mamão com açúcar.

“Aah! Você não sabe do que está falando, garoto. Este não é um veneno comum, mas o de um Narvath.” Magnus o menosprezou duramente. “Você está esquecendo a Maldição de Neia. Se eu usar minha Centelha Divina mais uma vez, minha Alma se desintegrará e meus ossos virarão pó. Há muito tempo cheguei ao meu limite. Já se passaram 3.700 anos desde a última vez que usei minha Centelha Divina, esperando minha hora chegar, cuidando de meu império e do continente. Minha morte terá algumas consequências irritantes para a Confederação e os vários clãs de vampiros, mas nada que não possa ser controlado.”

“Espere um segundo, você é um vampiro? Você não deveria ser incapaz de andar no sol?” Ikaris questionou com interesse. Ele já tinha suas dúvidas depois que a criatura o hipnotizou e tentou beber seu sangue, mas agora estava pronto.

“Peh! Não me compare com esses vampiros mesquinhos.” O velho resmungou indignado. Então ele admitiu timidamente: “Eu uso um anel encantado.”

O Vampiro estendeu a mão e tocou suavemente o anel com o dedo. Era um grosso anel de ouro com um rubi do tamanho de um ovo de codorna. Se ele quisesse, poderia usar seus anéis como soco-inglês.

Querendo saber quanto esses anéis valiam, Ikaris olhou com inveja para Magnus, que bufou,

“Quando eu morrer, você pode ter tudo. Você vai precisar. Mas eles têm a minha marca de alma neles, então não espere usá-los como quiser.”

O menino não respondeu nada, mas interiormente ele riu desdenhosamente,

‘Se é tão problemático, por que você não tira antes de morrer?’

Isso era o que ele gostaria de dizer, mas seu senso de propriedade o impediu de fazê-lo para seu próprio bem. Em vez disso, buscou o sangue que o Vampiro precisava. Mesquinho, ele selecionou o aborígine mais feio da aldeia (que obviamente não tinha cabeça) e o arrastou até o velho.

“O quê? Você vai me fazer beber o sangue dele?” Os lábios de Magnus se contraíram ao ver o estado do cadáver. “Ele não tem mais cabeça, idiota. Ele está sangrando há muito tempo e o pouco que resta está coagulando.”

Também bastante trapaceiro, Ikaris sorriu maliciosamente,

“Mas tenho certeza que para um vampiro proeminente como você, usar algum tipo de magia de sangue para absorver seu sangue deve ser fácil, certo? Ou você apenas gosta de beber o sangue na fonte?!”

“Ahem… Isso mesmo, haha… De qualquer forma, não vou afundar minhas presas nisso. Ponto final.” Magnus encerrou enfaticamente o debate. “Traga-me um corpo apresentável.”

Ikaris resmungou enquanto voltava para a vila para encontrar um corpo palatável e, depois de muita hesitação, encontrou apenas o corpo de Bree que atendia às expectativas do Vampiro. Todos os outros há muito sangraram até a morte quando suas cabeças explodiram.

Quanto aos outros… eles ainda estavam vivos. Portanto, piorar a condição deles estava fora de questão.

“Ai está.” O adolescente exclamou desanimado ao deitar o corpo da jovem que ainda estava viva e andando alguns minutos atrás.

“Muito melhor. Obrigado.”

Tirando um lenço branco sabe-se lá de onde, Magnus colocou-o em volta do pescoço como um babador e começou sua “degustação”. Vendo sua expressão voraz e seus olhos vermelhos esbugalhados como se ele não comesse há anos, Ikaris cautelosamente deu três passos para trás. 

A refeição acabou num piscar de olhos. Jogando o corpo ressecado de Bree como um lenço velho e gasto, Magnus limpou elegantemente os lábios manchados de vermelho com o babador e exalou em frustração,

“Foi bom, mas só abriu meu apetite…”

Ao dizer isso, ele deu uma piscadela para Ikaris, que formalmente o esnobou.

“Ok, ok. Brincadeira.” Magnus cedeu com a apatia do menino. Ele era muito legal para sua idade.

O Vampiro balbuciou e brincou muito, mas Ikaris notou que ele não se movia. Ele mal conseguia ficar de pé mesmo depois de beber sangue. Vendo que o adolescente tinha visto através de seu ato, o velho deixou cair a máscara e disse sério:

“Vou começar. Depois de lançar o feitiço, desaparecerei. Se eu falhar, meu desejo final não mudará. Como você tem uma Estela de Elsisn e uma Vampira Kitsune ao seu lado, tenho ainda mais esperança em meu idealista sonho. Então me escute com atenção.”

“Meu verdadeiro pedido é um pouco complexo, mas vamos começar com o primeiro passo. Quero que você se torne o décimo terceiro Cavaleiro das Terras Esquecidas. Na verdade, quero que você os supere e quebre a Maldição de Neia que nos prende e nos condena à extinção, mas mesmo eu não ouso pedir tal coisa de você. Porque é impossível. Em vez disso, torne-se o décimo terceiro Santo e o novo Mago Sagrado da Confederação. Se for impossível… Destrua-a.”

“Ao mesmo tempo, expanda seu império com a Estela de Elsisn e adquira um exército forte o suficiente para sobreviver até mesmo aos Glenrings e à queda da Confederação. Voce entende? Se você for bem-sucedido, o que eu deixar no anel do meu clã agora lhe dirá o que fazer a seguir.”

“Antes que eu diga qual será meu presente, você aceita? Não minta, eu saberei. Prefiro morrer pacificamente em algumas horas do que morrer agora por um covarde ou um ingrato.”

Ikaris franziu a testa, mas não precisou pensar por mais de um segundo para responder,

“Sem orientação, não sei se o seu pedido é realista ou não. No entanto, quando faço algo, sempre dou tudo de mim. Sempre uso todas as cartas que recebo. Sou o melhor em tudo e faço de tudo para continuar.”

A última frase provavelmente foi demais, mas tudo bem… Veio do coração. Sentindo que precisava compensar isso, ele contou brevemente,

“Estou acostumado com as pessoas tendo inveja ou desconfiando de mim, e já tive uma lição inesquecível a esse respeito. Então não se preocupe, Magnus. Conseguir meu reino e me tornar um feiticeiro invencível está alinhado com meus interesses. Quanto a por que você quer que eu assuma o controle da Confederação ou a destrua de outra forma, posso pensar em várias possibilidades, mas isso não me assusta. A corrupção da classe dominante existe em todos os mundos.”

“Bem dito!” O Vampiro riu. “Então, não percamos mais tempo. Vamos começar…”

Magnus conjurou uma velha caixa de joias de madeira coberta com estranhas inscrições rúnicas vermelho-sangue e fez sinal para que Ikaris se aproximasse.

“Abra.”

Com medo de destrancar a caixa de ‘Pandora’, o adolescente obedeceu, mas empurrou a tampa com o pé antes de mergulhar imediatamente no chão, protegendo a cabeça como se uma granada tivesse acabado de ser puxada.

Silêncio constrangedor.

“Felizmente, somos apenas dois.” Magnus se encolheu ao se parabenizar por não ter sido visto em público com o menino. Sua reputação de Vampiro cavalheiresco teria sido arruinada.

Ikarus ignorou o sarcasmo do velho e olhou para o conteúdo da caixa com cautela. O que ele viu o surpreendeu. Não era o que ele esperava encontrar.

Não eram joias, dinheiro ou mesmo um tesouro, ou talvez fosse. Ele não tinha certeza.

Nesta caixa havia, em ordem, uma escama azul brilhante como uma safira, uma presa de lobo branca como a neve, um olho arroxeado com múltiplas pupilas hexagonais polidas como uma pedra preciosa, uma pena branca, outra preta, e ainda outra vermelha e, por último, uma pérola cinza fria como um freezer.

“O que é isto?” Ikaris finalmente perguntou.

“Meu Legado de Sangue.” Magnus respondeu enigmaticamente antes de acrescentar: “Mas também o seu caminho para a grandeza.”