Índice de Capítulo

    Cruzando a floresta de uma ponta a outra, Colin usava a análise a fim de encontrar uma mana alta e gentil. Normalmente usuários da árvore do reparo tinham este traço de mana em específico.

    Seu corpo já não aguentava mais, mas ele não desistiria até encontrar alguém que ajudasse Samantha. Foi quando Colin enxergou ao longe este mesmo rastro de mana. Cruzou os portões de um vilarejo e foi até onde a mana estava.

    O vilarejo parecia bem pacato e moderno. O chão era ladrilhado, haviam árvores por todo canto e as construções ao redor pareciam bem firmes. Ele olhou para cima, lendo o letreiro que dizia que ali era uma enfermaria.

    Com pressa, Colin chutou a porta abruptamente, quase a arrancando. Os curandeiros se assustaram num primeiro momento ao verem um homem ensanguentado segurando uma mulher nos braços.

    — Alguém pode me ajudar?! Minha amiga está ferida, ela está morrendo, alguém?

    — Por aqui! — disse um homem musculoso de óculos redondo apontando para uma maca no fundo do cômodo.  — Coloque-a aqui!

    Com cuidado, Colin a colocou na maca. Samantha já não estava mais consciente e sua respiração estava quase cessando. O médico ergueu a cabeça, dando-se conta que o estado de Colin também não era dos melhores, era difícil de acreditar que ele conseguia ficar de pé.

    — Você também precisa de ajuda!

    — Ela primeiro!

    — Juliana, Anuna, me ajudem aqui!

    As duas assistentes, rasgaram a blusa de Samantha e parte da calça.

    — Juliana! — chamou o médico — Mande mana pro coração dela, Anuna, cure o ombro e eu fico com o abdômen. Tenham cuidado, mantenham uma cura lenta, se passar mais mana que o necessário, o coração dela pode parar. O Objetivo é restaurar os órgãos internos, depois os tecidos principais e só assim os ossos.

    — Sim, senhor! — disseram as duas em uníssono.

    Colin cambaleou e bateu com as costas na parede.

    — Alguém preste primeiros socorros ao elfo!

    Outras duas curandeiras seguraram Colin para que ele não caísse e o deitaram em outra maca. Ele estava exausto, não pensou que fosse ter uma luta tão difícil contra um inimigo tão poderoso. Ao menos, ele estava satisfeito por conseguir livrar Samantha da morte.


    Depois de quase seis horas, Colin abriu os olhos se deparando com um teto branco. Ele se endireitou na cama e olhou ao redor. O quarto não era muito cheio. Tinha duas camas vazias ao seu lado e um criado mudo ao lado de cada cama.

    A maçaneta que ficava do outro lado do quarto girou, e o médico que atendeu Samantha entrou no quarto com uma prancheta em mãos.

    — Já está acordado? Incrível!

    O homem ficou do lado de Colin e colocou os braços para trás.

    — Sua amiga está fora de perigo. Conseguimos fechar os ferimentos mais graves e acredito que ela vá despertar em breve.

    Colin nada disse, apenas continuou encarando o médico.

    — Sou o Dr. Zankas… e você?

    — Colin.

    — Certo, Colin… Bem, sua amiga tinha traços de mana interessantes. O ferimento dela… foi causado por um ser do abismo, não foi?

    Colin franziu o cenho.

    Dr. Zankas balançou uma das mãos.

    — Não precisa se preocupar, eu não sou seu inimigo. É que não é a primeira vez que vejo um ferimento assim. Não existem muitas pessoas com mana alta o suficiente para invocar seres do abismo, e o mais interessante, é que a taxa de pessoas que sobrevivem ao ataque de um ser do abismo é de 1%.

    — Não me enrole. — disse Colin — O que você quer?

    Zankas ajeitou os óculos e pigarreou.

    — Vocês são o que, mercenários?

    — Não. Somos da universidade da capital. Estávamos escoltando uma carruagem quando fomos atacados.

    Alisando o queixo, Zankas fez que sim com a cabeça.

    — Isso explica muita coisa, mas não explica como dois estudantes universitários conseguiram vencer um ser do abismo. Não estou duvidando da sua força, é apenas questão de improbabilidade.

    Colin jogou a coberta de lado e sentou-se na cama.

    — Nós o banimos. Agora, se me der licença, preciso encontrar meus companheiros.

    — Receio que isso será meio impossível por hora. Sua reserva de mana está zerada. Creio que retornará em três dias.

    — O quê?

    — Isso é o que acontece quando se usa mana após atingir o limite. Seu coração bombeou tanto sangue que mais alguns minutos ele explodiria. Não precisa se preocupar, você e sua amiga estão seguros aqui. Tenho outra questão para tratar com você, sei que é cedo demais, mas gostaria de fornecer um trabalho. Já que vocês sobreviveram a um demônio do abismo, acredito que serão perfeitos para isso.

    Colin deu de ombros. Aceitar ou não o trabalho iria depender de quantas moedas estariam em jogo, mas antes de aceitar qualquer acordo, ele esperaria Samantha melhorar.

    — Que tal um café primeiro? — indagou Colin — Depois penso se dou atenção aos seus problemas.

    Zankas sorriu.

    — Bem perspicaz, era o que eu esperava dos elfos negros.

    Outra curandeira abriu a porta.

    — Dr. Zankas, a garota loira despertou.

    Zankas assentiu.

    Colin não deixou de se sentir aliviado. Ao menos havia completado sua missão e conseguiu salvar uma valiosa companheira.

    — Ótimo! Prepare um café bem regrado para os dois e arrume roupas limpas. Parece que eles vão ficar alguns dias conosco.

    Dentro de um refeitório não muito grande, Samantha e Colin usavam calças e blusas brancas, além de um chinelo de borracha da mesma cor. Samantha estava visivelmente bem, parecia até mais viva. Seus cabelos pareciam mais loiros, seus olhos mais azuis, e seus lábios mais rosados.

    Já Colin parecia o mesmo de sempre. Só sua blusa que estava um pouco apertada, realçando bastante seus músculos que pareciam ainda mais definidos. A tatuagem junto as olheiras de Colin, davam-lhe uma imagem bem intimidadora.

    Eles estavam do lado do outro, frente a uma mesa farta.

    Tinha de tudo, pão fresco, frutas, doces e vinho. Samantha comia tudo com ímpeto, enquanto Colin continuava inexpressivo e sem fome.

    — Isso tá ótimo! — disse Samantha de boca cheia. — Você devia comer também.

    — Já comi.

    — Um pão e um copo de vinho? Isso não é comer de verdade. — Samantha esticou o braço e pegou um doce em cima da mesa — Aqui, abre a boca!

    Colin ficou a encarando por alguns segundos.

    — Vamos lá, Colin, você nem tocou nesse… Confia em mim, tem um gosto inesquecível!

    Colin franziu o cenho e Samantha fez beicinho.

    — Vamos lá Colin, só um pedacinho…

    Samantha parecia não desistir da ideia, então Colin cedeu. Abriu a boca e Samantha colocou o doce nela com cuidado.

    Era realmente muito gostoso. Lembrava o gosto de um doce de leite misturado a brigadeiro. Sem perder tempo, Colin pegou outro e mais outro.

    Samantha sorriu e Colin retribuiu o sorriso.

    — Aquelas suas habilidades — disse Colin de boca cheia — É a primeira vez que vejo algum assim.

    — Bem… — disse Samantha também de boca cheia — Sou da árvore do transmuto. Consigo alterar a forma das coisas, mas para isso acontecer preciso saber a composição das matérias delas e conhecer o processo de construção dos materiais.

    Colin ergueu as sobrancelhas.

    — Como assim?

    — Por exemplo — Ela pegou uma faca de ferro ao lado — Digamos que eu queira transformar esta faca em uma adaga. Eu teria que saber a composição da adaga. Conhecer o ferro, o couro que cobre o cabo, saber em quantos graus ela é aquecida, quantas pancadas na bigorna ela leva. Então, eu penso em tudo isso de uma vez e pronto. — A faca começou a emanar faíscas e se transformou em uma adaga — É assim que a mágica acontece.

    Aquilo era impressionante. Isso explicava o fato de ela conseguir mudar a forma de moedas para armas como quisesse.

    — Consegue transformar pedra em ferro?

    Samantha fez que não.

    — Bom, a transmutação precisa seguir uma lei. Eu não consigo transformar pedra em ferro, pois não seria uma troca equivalente. As moedas que levo comigo são de ferro e prata, daí, sim, eu consigo fazer esse tipo de transmutação.

    — Entendi… É um poder interessante. E o lance das explosões, como isso funciona?

    — Normalmente faço a ponta das flechas explosivas. Uso ácido acético, bicarbonato de sódio, água e um pouco de pólvora. Quando estalo os dedos ativo um gatilho de condição e consigo intensificar as explosões. É diferente de transmutar, por exemplo — A adaga nas mãos dela exibiram faíscas novamente e ela se transformou em uma espada — Posso fazer um lingote de ferro pequeno se transformar em uma espada como essa, mas não consigo fazer uma pedra se transformar nisso, pois as propriedades são diferentes.

    Samantha transformou a espada na faca de antes e a usou para cortar um pedaço do doce que comia. Colin continuou em silêncio, pensando em que tipo de proposta Dr. Zankas faria.

    — Colin…

    Ele a encarou com o canto dos olhos.

    — Obrigada por me salvar…

    — Não foi nada, aliás, eu estava pensando em uma coisa…

    Samantha colocou uma mecha do cabelo para trás da orelha.

    — Que coisa?

    — Não está tudo oficializado ainda, mas você e Wiben gostariam de se juntar a minha guilda?

    Aquela proposta a pegou de surpresa.

    — Vou entender se não quiser aceitar, afinal, não tivemos um começo amigável.

    — Não é isso. — disse Samantha abrindo um sorriso bobo — É que é tudo tão… engraçado. O modo como a gente se conheceu, e na noite passada protegemos um ao outro enquanto lutávamos. Devem ter males que vem para o bem…

    Colin deu de ombros.

    — Sei… Se aceitarem, eu não deixarei que Loafe mexa com vocês. Tem gente bem forte no meu grupo, e com você nele, os garotos podem aprender muita coisa.

    Samantha abriu um sorriso gentil e fez que sim com a cabeça.

    — Tá bom, eu aceito!

    Hurum! — O doutor estava na frente de ambos — Estou atrapalhando algo?

    — Não sei. — disse Colin — Está?

    Dr. Zankas ofereceu a porta que ficava no fim do corredor.

    — Queiram me acompanhar por favor?

    Colin e Samantha se levantaram e seguiram Zankas para fora do pequeno refeitório. Saíram da enfermaria e começaram a seguir o doutor pela rua. As pessoas começaram a encará-los, principalmente Colin.

    A população usava roupas pretas e a maioria tinha um olhar cabisbaixo. Mesmo sendo um vilarejo grande e de belas construções, a população parecia lamuriosa.

    Até mesmo as crianças tinham um olhar morto.

    Secando Colin de cima a baixo, as pessoas cochichavam coisas perversas sobre ele, coisas que dava para ouvir. Eram comentários maldosos sobre elfos negros ou do porquê Zankas havia permitido alguém como ele na enfermaria.

    Samantha se sentia incomodada com aquilo, mas Colin não se importava, ele já havia se acostumado.

    — Não ligue para essas pessoas — sussurrou Samantha ao lado de Colin, quase colada nele — Você não é nada disso, tá?

    Colin não sabia o que era mais engraçado, a tentativa de Samantha para o fazer se sentir melhor ou ela pensar que aqueles comentários o afetavam.

    — Devia tentar parar de me animar — zombou ele — Você é péssima nisso.

    Samantha deu uma cotovelada na costela de Colin e os dois sorriram um para o outro.

    — Onde ele está nos levando? — ela perguntou baixinho.

    — Não sei, o cara ali disse ter um serviço para gente. Ele pensa que somos muito fortes.

    — E não somos?

    Colin deu de ombros.

    — Eu sou, você eu não sei.

    Samantha deu outra cotovelada nele.

    — Eu não sabia que você era tão engraçadinho.

    — Falei alguma mentira?

    Hehe idiota!

    Eles haviam chegado em uma grande mansão.

    A residência não era nada humilde. Havia quadros belíssimos de reis, estátuas de mármore na entrada e o chão era coberto por um gigante tapete felpudo. Sem contar no aroma doce, quase afrodisíaco, que rondava o local. Seguiram por um corredor estreito, até chegarem em um lugar mais amplo. O lugar era um quarto com uma grande cama no centro. Um defunto estava ali deitado.

    Ele parecia uma criança, não aparentava ter mais que quinze anos.

    Uma mulher estava aos prantos chorando capciosamente, enquanto outras pessoas tentavam acalmá-la. Ela estava vestida como uma viúva, usava um pequeno véu preto na frente do rosto e segurava um lenço também preto.

    As pessoas abriram espaço para que um homem velho de cartola se aproximasse. Ele parou frente ao defunto e retirou o chapéu, segurando-o firme no peito.

    — Ele sofreu? — perguntou o velho a um homem magricela usando óculos.

    — Não, senhor, foi tudo bem rápido.

    — Certo, vamos dar um enterro descente a ele.

    A mulher em luto se aproximou do velho, dava para sentir a raiva dela por debaixo daquele véu.

    — Você tem que fazer algo, você é a merda do duque!

    O duque colocou sua cartola na cabeça.

    — Estou tentando, minha irmã. Mas não é tão fácil quanto parece.

    — Não está tentando o suficiente, ele era o meu filho! — A mulher começou a chorar novamente — Sabe o quanto dói? O quanto dói perder um filho? É como se rasgassem o coração de meu peito e o apunhalassem mil vezes.

    Todos ali ficaram em silêncio, e o conde deu as costas, batendo forte com sua bengala no chão enquanto se afastava.

    — São esses dois? — O velho perguntou a Zankas.

    — São eles, sim, senhor.

    — Uma mulher e um elfo negro, que maravilha… bem, venham comigo e Zankas, retorne ao seu trabalho.

    O velho começou a subir as escadas.

    Colin e Samantha cruzaram olhares e logo deixaram aquele cômodo, se dirigindo para outro. Subiram as escadas e foram para uma biblioteca. Ela era grande o bastante para caber um grupo de trinta pessoas confortavelmente. Havia várias estantes com diversos livros. Desde títulos como alquimia até magia antiga.

    Assim que Colin e Samantha cruzaram a porta, o duque a trancou com a chave. Ele dirigiu-se para uma grande mesa redonda, onde um enorme lustre ornado pairava sobre eles. Retirando sua cartola, ele se sentou, dando um longo suspiro.

    — Aquela desgraçada… — ele enfiou as mãos no paletó, puxando um isqueiro de ouro e uma caixa de charutos — Meus filhos foram lutar nessa maldita guerra, e ela ainda fala como se eu nunca tivesse perdido nada.

    O duque ascendeu o charuto e deu uma longa tragada.

    Ele parecia uma pessoa misteriosa, e algo certamente estava acontecendo no ducado. Colin se sentou na cadeira frente ao duque e Samantha sentou-se ao seu lado.

    — O que você quer, duque? — indagou Colin — Não nos trouxe até aqui apenas para falar o que você perdeu, não é? Vá direto ao ponto.

    — Certo, vocês malditos elfos, são sempre dizem o que se pensa sem receio, né?! Muito bem, contarei porque arrastei vocês para cá.

    Ele deu outra tragada no charuto e continuou.

    — Sou um mago, não como vocês, mas sou. Senti vocês se aproximando e soube de cara que vocês são muito fortes, principalmente você, elfo. Tem pessoas morrendo com frequência aqui, as pessoas suspeitam de vampiros. Os cadáveres encontrados tem dezenas de marcas de mordidas… e existe um grande número de desaparecidos também.

    — Sinceramente, duque, seu ducado fede a magia proibida. Talvez não sejam só vampiros, podem ter necromantes também. — disse Samantha em tom firme.

    O duque deu outra tragada no charuto.

    — Pensa que não sei disso? Acredita que não tentei descobrir de onde vinha toda essa merda? Meus homens têm desaparecido, atualmente estou trabalhando bem pouco, e vocês sabem… Não quero gastar mais recursos com isso.

    Colin fez que sim com a cabeça. Ele sabia muito bem onde o duque queria chegar.

    — Deixe-me adivinhar — disse ele — Você resolveu optar por chamar dois forasteiros para fazer o que você não consegue? Não somos mercenários, senhor duque, recomendo que contrate uma Guilda para dar um jeito nisso.

    — Uma Guilda? Isso é caro demais!

    — Dinheiro não parece um problema para você. — disse Samantha.

    O duque franziu o cenho e esmagou o charuto com uma das mãos enquanto encarava Samantha.

    — Pelo visto você prestou atenção em tudo, né? Garota maldita.

    Samantha apoiou o cotovelo na mesa e entrelaçou os dedos frente aos lábios.

    — Vamos falar de negócio, duque. Nosso tempo é escasso, e parece que seu caso precisará de uma investigação minuciosa. Teremos que falar com várias pessoas, investigar lugares, estudar mais sobre seu ducado. Será um baita trabalho.

    — Então decidiu aceitar minha oferta?

    — Silêncio, ainda não acabei.

    O duque cerrou os dentes e Samantha continuou.

    Colin ergueu as sobrancelhas surpreso. Ela não esperava que Samantha assumisse as rédeas da situação tão rápido. Ela era filha de alguém da corte imperial, era normal que soubesse realizar esse tipo de negociação com tal maestria.

    — Para começarmos — disse Samantha — quero 1000 moedas de ouro de entrada, e mais 1000 quando acabarmos.

    O duque se levantou abruptamente e a cadeira caiu, fazendo um grande estrondo.

    — Que absurdo! Sua maldita, sempre soube que mulheres são sugadoras de dinheiro, um bando de vadias que vivem querendo tomar o que tenho! Estão mortos de fome para pedir um valor tão absurdo?!

    — Ei! — chamou Colin com o cenho franzido — Quer juntar-se ao seu sobrinho? Veja como fala conosco!

    Sentindo um frio na espinha, o duque apenas engoliu o seco e ajeitou sua cadeira. Sentou-se nela e ascendeu outro charuto.

    — Senhorita… — disse o duque — Você não disse que precisaria de uma guilda para aceitar esse trabalho?

    Samantha sorriu e fez que sim.

    — Por isso cobrarei o valor de uma. Mas vamos lá, quero fazer um contrato com você.

    Samantha pegou uma folha amassada ao lado e apoiou o indicador em cima dela. Deixou pingar uma gota da tinta da canela e um círculo mágico formou-se abaixo de seu dedo, transformando o papel em um contrato cheio de cláusulas.

    — Aí estão os termos de contrato, senhor. Melhor assinar o mais rápido possível.

    Tsc! — O duque leu rapidamente por cima e pegou uma caneta molhando-a na tinta preta — Soube que são da capital. Esse tipo de burocracia funciona muito bem com aquele bando de sangue sugas malditos.

    Devolvendo a caneta ao tinteiro, o duque entregou o papel para Samantha, e ela abriu um largo sorriso.

    — Agradecemos sua preferência. — Zombou Samantha.

    — Eu não tive muita escolha.

    — Certo! — disse ela — Vamos nos hospedar na estalagem mais próxima daqui. Mande seus homens nos levarem o dinheiro mais rápido possível. Não começaremos o trabalho sem o adiantamento.

    O duque estava furioso, mas se segurou. Ele caminhou até a porta batendo com força sua bengala e abriu a porta.

    — Deem logo o fora daqui! Se eu olhar mais um minuto para cara de vocês irei surtar!

    Samantha apoiou as mãos na mesa e se ergueu, caminhando para fora da biblioteca. Ela olhou para baixo encarando o duque, que não tinha mais que 1,40 de altura.

    — É melhor não demorar demais.

    — Eu sei, agora saiam!

    Samantha e Colin desceram as escadas calmamente, observando todo recinto. Ela usou a análise disfarçadamente olhando ligeiramente a sua volta. Havia traços de magia que se movia por todos os lugares, uma magia perversa. Observou haver deste mesmo traço em um gigantesco quadro do duque e também em seu sobrinho falecido do outro lado do cômodo.

    Enfim deixaram a residência do duque.

    — O que foi aquilo lá dentro? — perguntou Colin.

    Ah! Aquilo? Bem, quando eu viajava com meu pai, ele sempre negociava com os mercadores. Alguns sempre tentavam enganá-lo, mas ele era mais esperto. A técnica para negociar permanece a mesma.

    Samantha respirou fundou e olhou para os dois lados.

    — Precisamos de uma estalagem para descansarmos e pensarmos em um plano.

    Colin suspirou e cruzou os braços.

    — Não posso usar magia por três dias. Suponho que estamos presos aqui.

    — Posso usar magia, então relaxa que protejo você.

    Colin ergueu as sobrancelhas.

    — Você me proteger?

    — O que foi? Pensa que não consigo?

    Colin fez que não com a cabeça.

    — Não é isso, é só um pouco estranho. Não estou acostumado com isso.

    Eles começaram a caminhar pela calçada.

    — Melhor se conformar com isso. Não sou tão rápida quanto você, então ficaremos presos aqui por três dias inteiros. Sei que não sou a melhor companhia, mas é o que você tem por enquanto.

    Colin deu de ombros.

    — Pois é, acredito que morri naquela luta contra o demônio e agora estou sendo castigado.

    Samantha deu outra cotovelada na cintura de Colin e os dois sorriram novamente.

    Colin não havia se soltado dessa forma nem mesmo com Stedd, que era seu colega de quarto. De uma forma que nem mesmo ele entendia, Colin se sentia confortável com Samantha, talvez fosse porque Samantha lembrava timidamente Agatha, sua melhor no ensino médio, ou talvez o risco de morte tivesse aproximando-os. Seja lá qual fossem os motivos, começava a nascer ali uma grande amizade.

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