Capítulo 73 - Você é de Hadrakin, certo?

Ikaris preparou-se mentalmente para o pior. Na velocidade que este javali estava atacando, ele colidiria com eles em menos de um segundo.

Ele já havia tentado usar suas habilidades passivas de Visão Transparente e Perfuração do Coração, mas elas não surtiram efeito. Ele não ousou usar sua Centelha Divina para lançar aqueles dois feitiços por medo de desmaiar de exaustão no momento mais crítico.

Assim que ele decidiu abandonar sua aldeia no primeiro dia e evacuar seu primeiro grupo de aldeões através do Portal de Teletransporte, Anaphiel avançou, ficando entre Ikaris e o javali negro.

Ao avistá-la, o javali recuou, seus olhos vermelhos de fúria escureceu por uma fração de segundo. A beleza de preto exibiu um sorriso caloroso, quase fazendo com que eles esquecessem a escuridão e a crueldade da humanidade.

Ela lentamente levantou sua mão delicada para a Besta Mágica, mas quando ela estava prestes a acariciar seu focinho, o monstro rosnou com desprezo e bateu violentamente em sua barriga. A criatura se ergueu e lançou a mulher cambaleando pelo ar.

Ikaris e os outros ficaram boquiabertos de horror, paralisados ​​no local. Ela parecia tão confiante, tão controlada. Eles estavam errados?

Quando suas mentes abaladas estavam em turbulência, duvidando se conseguiriam sobreviver, eles ouviram um ronco raivoso acima de suas cabeças que ecoou pela planície. Anaphiel estava agora pairando no ar, um par de majestosas asas negras abertas em suas costas e obscureceu o sol.

Nuvens negras se reuniram ao redor dela, girando e se misturando com seu vestido. Uma aura opressiva cobriu a planície e o céu azul escureceu visivelmente como se estivessem no meio de um eclipse solar.

Ikaris, Malia e os outros aldeões foram derrubados no chão, suas peles pálidas como a de um cadáver exangue, um sentimento de fraqueza e pavor atacou seus corpos e suas mentes. Apenas levantar o queixo e olhar para cima exigia toda a força do menino.

Enquanto Ikaris resistia muito bem à influência psíquica dessa aura negra, os outros estavam encolhidos no chão, gritando de terror enquanto seguravam suas cabeças com as duas mãos ou puxavam seus cabelos. O aldeão Kellam não gritou, mas seus lábios tremiam de medo e ele obviamente não estava totalmente imune.

O javali negro também não escapou ileso. Embora ainda estivesse de pé sobre as quatro patas, elas estavam visivelmente bambas e cambaleava para frente e para trás, achando cada vez mais difícil ficar acordado. No entanto, o brilho de ferocidade em seus olhos vermelhos estava intacto, brilhando mais do que nunca. Ele havia resistido ao Feitiço do Medo.

“Apenas uma besta mágica de nível 4 e você já é tão arrogante e indisciplinada. Já que você veio até aqui, não há necessidade de voltar.” Ela declarou com uma voz tão gelada quanto a mais fria nevasca. “Morrer.”

Ela apontou o dedo para a criatura relutante e a massa de fumaça negra ao redor convergiu na frente dela, formando um orbe de luz negra do tamanho de uma bola de boliche. A esfera de repente se comprimiu, emitindo um estrondo alto, e então desapareceu.

Não houve som de explosão, nenhum som de impacto. O orbe de energia negra atravessou a testa do javali e desapareceu por dentro. Imediatamente depois, Ikaris ouviu com sua audição aguda o poderoso batimento cardíaco da besta desacelerar, então parar.

Sentindo sua morte inevitável, o javali preto cheirou o ar uma última vez e detectou o cheiro tão odiado que o trouxe aqui, deu um último olhar ressentido e cheio de ódio para Ikaris antes que o brilho vermelho em seus olhos morresse completamente. A atividade elétrica em seu cérebro cessou e ele desabou no chão com um baque.

Uma temível Besta Mágica de Nível 4 foi morta em um piscar de olhos, sem esforço. Todos os sobreviventes deram um suspiro de alívio e Anaphiel flutuou até o chão, já tendo retomado sua aparência normal como uma mulher vestida de preto.

O menino congelou ao sentir a aversão do monstro e percebeu o que havia acontecido. Este enorme javali estava ali apenas para vingar sua família.

Ezrog se aproximou cautelosamente do enorme javali e o chutou para se certificar de que a criatura estava morta. Em seu rosto estupefato, seu pequeno cérebro claramente não podia aceitar a feitiçaria que acabara de acontecer diante de seus olhos.

“Ezrog não gosta de mulher de preto. Magia injusta.” O Oni resmungou com uma voz gutural cheia de convicção. 

No entanto, assim que Anaphiel olhou para ele, ele calou a boca e olhou para os pés. Ela passou por ele alheia, movendo-se para inspecionar o javali morto.

Embora ela tenha matado esta Besta Mágica sem esforço, pelo brilho do suor em sua testa, Ikaris e os outros aldeões observadores entenderam que não tinha sido tão fácil quanto ela queria que eles acreditassem. Ela havia sido atropelada por um porco de várias toneladas, correndo na velocidade de um carro em alta velocidade.

Ikaris e Malia esperavam que ela reivindicasse a criatura que ela havia caçado pessoalmente, mas ela os pegou desprevenidos quando sugeriu que deixassem a ilha.

“Uma Besta Mágica de Nível 4 não é algo que você e sua aldeia possam lidar.” Ela disse grosseiramente. “Já é louvável que o Lorde anterior tenha sobrevivido por mais de um mês em uma terra tão hostil. Não cometa o mesmo erro.”

Assim como no dia anterior, Magnus havia saído do radar após a chegada de Anaphiel. Ele parecia ser extremamente cauteloso com ela, mas enquanto isso Ikaris não podia contar com ele para tomar sua decisão. No final, ele escolheu perseverar.

“Estou correndo o risco de ficar aqui.” Ele respondeu nervoso. “Aquele javali… foi um erro meu. Matei a família dele esta manhã pensando que estava caçando uma presa fácil.”

Os olhos de esmeralda de Anaphiel se arregalaram ligeiramente em surpresa, mas ela aceitou sua explicação com a mesma calma régia. Ela lançou seu olhar sobre cada um dos aldeões, demorando-se brevemente em Ezrog, Kellam e Malia.

Depois disso, sem dizer uma palavra, ela se dirigiu ao Portal de Teletransporte. Ikaris se perguntou confusamente o que ela iria fazer com o javali, mas Ellie chegou antes dele,

“E o monstro?” Ela gaguejou timidamente.

Anaphiel fez uma pausa e, ao olhar para trás, para a aluna, suas feições suavizaram-se sutilmente e ela respondeu rigidamente:

“Muito pesado para carregar. Vou deixar com vocês.”

Ao dizer isso, ela pensou em algo e uma longa faca com uma lâmina azul metálica serrilhada apareceu em sua mão. Ela atirou-a em um movimento rápido aos pés de Ikaris, a faca cravou-se até o cabo na grama entre as pernas dele.

“As ferramentas fornecidas pelo Pacote de Boas-Vindas não são capazes de cortar uma Besta Mágica. Use seu pelo e pele para fazer algumas tendas ou roupas. Quanto à sua carne, ela permanecerá fresca por vários meses e uma pequena quantidade o manterá cheio por muito tempo. No entanto, é melhor armazená-la em um local seguro o mais rápido possível para evitar atrair outros predadores. E, por favor, faça isso antes do anoitecer. Você definitivamente não quer ter um Javali Gigante morto-vivo voltando à vida a alguns metros da aldeia.”

Ellie e os outros aldeões estremeceram de medo com seu último comentário. A loira sabia do que estava falando, enquanto os outros estavam presos na palavra morto-vivo. A vontade de esfolar aquele monstro imediatamente começou a coçar.

“Obrigado, Anafiel.” Ikaris respondeu sombriamente, também ansioso para começar.

A mulher de preto deu a ele um leve sorriso com um olhar astuto que fez seu coração disparar, e então ela voltou para o Portal. Quando ela já estava com um pé no vórtice, ela se virou novamente e anunciou com uma expressão compassiva,

“Ah, esqueci… Eu também vim por outro motivo. Você é de Hadrakin, certo? Recebemos a confirmação esta manhã de que Hadrakin caiu na calada da noite.”