Capítulo 85 - Centelhas de Conhecimento

Magnus sentiu que algo estava errado quando viu a dramática reação exagerada do menino. Sua curiosidade foi imediatamente despertada.

‘Não me faça suar. Diga-me que Centelhas você tem.’ O Vampiro o pressionou com expectativa.

Ikaris recuperou a compostura e contou-lhe o que acabara de ler. Depois de ouvir o que eram as duas Centelhas, Magnus também ficou sério.

‘Isso é… inesperado.’ Ele admitiu hesitante um momento depois. ‘São Centelhas de Conhecimento. E muito abrangentes. Os Feitiços de Conhecimento mais raros e os mais problemáticos de cultivar. À medida que eles crescem, seu conhecimento desses dois tipos de magia aumentará exponencialmente, mas também será mais fácil ensiná-los. Este Anjo de Faulch… deve ter grandes expectativas para seu sucessor.’

‘Mas os nomes dessas duas Centelhas parecem um pouco maus demais.’ Ikaris objetou enquanto apertava os olhos. ‘Devo considerar que todos os descendentes talentosos da Casa Morgunis se destacam em ambas as magias? A necromancia é controversa, mas ainda assim está bem. Por outro lado, não importa como eu olhe para isso, a magia negra soa mal…’

O velho Vampiro não o contradisse. Em vez disso, ele grunhiu,

‘Só há uma maneira de ter certeza. Cave em sua memória e veja se consegue encontrar algum novo conhecimento. Dado o desenvolvimento dessas duas Centelhas, na melhor das hipóteses você deve sentir uma vaga familiaridade com certos temas que o ajudarão a aprender essas duas magias mais rápido quando você começa a praticá-los.’

Ikaris seguiu as instruções de Magnus e fechou os olhos. Ele encontrou novas memórias de fato. Embaçado e indistinto, como memórias distantes da infância que quase desapareceram, mas ainda assim memórias.

Então, sem pensar em nada, ele entrou em transe meditativo e a escuridão ao seu redor parecia atraí-lo. Esse ‘nada’ silencioso não parecia mais tão vazio e ele teve a estranha sensação de que só precisava desejar que respondesse ao seu chamado.

Claro, tudo isso era apenas uma ilusão. Nada tão maravilhoso aconteceu. No entanto, Magnus, cuja Alma reteve suas faculdades de percepção extra-sensorial, percebeu algo muito diferente.

Os poros da pele de Ikaris se abriram e um fluxo de minúsculas partículas pretas e cinzas invisíveis para qualquer um, exceto para ele, penetrou em seu corpo, dissolvendo-se por dentro. Esse fluxo era tão vago e inconstante que mesmo depois de anos nada de significativo aconteceria, mas para o Vampiro era a confirmação que ele tanto esperava.

A afinidade do menino com a Morte e os Elementos das Trevas havia sido despertada e seu corpo já havia subconscientemente entendido como aproveitá-la. Por mais talentoso que Ikaris fosse, tal instinto só poderia ser atribuído a suas duas novas Centelhas.

Cerca de uma hora depois, Ikaris abriu os olhos com uma expressão atordoada. Ele não havia notado nada do que acabara de acontecer, exceto que se sentia incrivelmente confortável. Fazia muito tempo que não sentia uma sensação tão grande de realização.

‘Sem memórias claras.’ Ele afirmou com decepção. ‘Eu ainda não tenho ideia de como usar qualquer uma dessas duas magias.’

‘Não se preocupe com as pequenas coisas.’ Magnus o consolou de maneira escorregadia. ‘Tudo virá com o tempo. Apenas continue absorvendo a Centelha de Sangue quando você se sentir pronto.’

Ikaris assentiu e então mais uma vez se concentrou na pena preta em suas mãos.

‘Assimilação.’

O resto da noite passou num piscar de olhos e pouco antes do amanhecer o menino se levantou e se espreguiçou. Ele inspecionou seu status, então deixou sua tenda com contentamento.

Se outro Feiticeiro visse as estatísticas de Ikaris e seu número de Centelhas Secundárias, eles sem dúvida ficariam em choque por muito tempo. Não eram as estatísticas ou o número de Centelhas que eram incompreensíveis, mas tudo isso poderia ser realizado com uma pequena Centelha Divina.

Quando o adolescente saiu de sua barraca, encontrou Tesão já pastando alegremente no prado. Obviamente, ele não estava lidando bem com o confinamento noturno. Um bisão não deveria dormir em uma barraca.

“Muuu.” (E aí?)

Ikaris não falava a língua bovina e obviamente não soube responder, mas deu algumas castanhas ao animal, que pareceu gostar da guloseima. Ainda faltando uma hora para os novos aldeões serem convocados, o garoto aproveitou o silêncio para continuar dissecando a Besta Mágica de Nível 4.

Para ser totalmente honesto, ele ficou surpreso que a carcaça não tivesse sido devorada ou dilacerada por todas as abominações e esqueletos enxameando nessa névoa negra, mas aparentemente subestimou a eficácia das runas cobrindo a pele do javali.

Ele teria pensado que depois de sua morte e depois de ser parcialmente dissecado, os esqueletos e outras monstruosidades teriam se aproximado dele, mas não foi o caso, apesar do fato de que a pele não cobria mais totalmente a carne do cadáver.

‘Assim que pudermos, teremos que cuidar dessa pele.’ Ele lembrou a si mesmo mentalmente. ‘Se não podemos fazer roupas com ela, ainda podemos usá-la como um manto ou lençol para sobreviver à noite em uma situação de emergência.’

A questão era que, além dele, Malia e Ezrog, ninguém tinha força para cortar aquela pele. E se a destreza fosse considerada, ele provavelmente era o único que restava.

A Aldeia do Último Santo tinha Danchun e Ling, a costureira, mas nenhuma das mulheres tinha a força física necessária para a tarefa. A cultivadora lutou para cortar a carne muito mais macia, apesar de sua experiência como Cultivadora e sua requintada técnica de abate.

Os próximos a se levantar foram Danchun e o anão Nardor. A mulher voltou a praticar seu Tai Chi em frente ao sol da aurora, enquanto o anão prontamente passou a fazer medições e cálculos enquanto caminhava pela aldeia.

Pouco antes da convocação diária, o anão trotou até Ikaris e disse:

“Meu Senhor, levando em consideração os próximos aldeões que se juntarão a nós nos próximos dias, estimei que a paliçada¹ será concluída em 5 a 7 dias a uma taxa de 3 viagens de ida e volta à floresta por dia para coletar madeira. Com o Executor do Tártaro e o Tesão, podemos reduzir isso para 3 dias, mas a vila ficaria indefesa.”

Ikaris recusou-se resolutamente.

“Com esses lobisomens à espreita ao nosso redor, não posso deixar a Estela indefesa. O Executor do Tártaro deve ficar na Aldeia do Último Santo. Quanto a Tesão, é verdade que ele pode ser um grande animal de carga, mas também é difícil de disciplinar. Ao deixá-lo pastar à vontade aqui, ele se torna mais um guardião para a vila.”

“Será feito como você deseja, meu Senhor.” Nardor não insistiu. Ele, no entanto, afirmou de forma conservadora. “Após o primeiro carregamento de madeira, eu também devo ficar na aldeia para supervisionar a construção.”

Ikaris assentiu em compreensão, então foi para o ponto de invocação. Um momento depois, sete mulheres e oito homens apareceram nus diante dele. Depois de instruí-los e dar-lhes comida e roupas, eles começaram a trabalhar.

Sua sorte desde o primeiro dia parecia ter acabado, já que o talento desses novos aldeões variava de D a E. Um deles, Dwayne, era até um paciente com Síndrome de Down com talento G. Ironicamente, ele foi o único terráqueo convocado pela Estela hoje.

O adolescente já havia cogitado a possibilidade de conseguir cidadãos deficientes, e não tinha intenção de rejeitá-los. Cada pessoa pode encontrar um trabalho que lhe agrade e com magia pode não ser impossível curá-los de suas deficiências.

No entanto, não imaginava que ganharia tal aldeão tão cedo, quando a Aldeia do Último Santo precisava urgentemente de pessoal competente. Pelo menos ele era forte e obediente, e Ikaris decidiu levá-lo para ajudar a carregar a lenha.

Além desse deficiente, havia 12 camponeses, um padeiro e um fitoterapeuta. Todos eram humanos. Infelizmente, de acordo com a avaliação feita pela Estela, eles eram medíocres e carentes de ambição, aspirando apenas a uma vida simples e pacífica.

Suprimindo sua decepção, Ikaris deixou Ellie, Danchun e Kellam para cuidar da aldeia, e então seu grupo improvisado de lenhadores partiu. Sem hesitar, ele designou todos os homens aptos para o grupo de lenhadores, aceitando até mesmo duas voluntárias para trabalhar com eles.

1. entendam como muro[↩]