Capítulo 42 — Big Bang
Azrael viajava em direção a Hidekon quando decidiu fazer uma pausa no caminho. As palavras do Deus Supremo sobre uma missão específica ecoaram em sua mente. Desde o momento em que as leu, teve certeza de que aquela tarefa era destinada a ele.
A razão era simples: no passado, uma ramificação da linha do tempo original havia se formado após um evento ser alterado. Essa ramificação, embora inicialmente ignorada, começou a se afastar perigosamente da linha original. Criou-se, assim, uma distopia onde os seres que antes coexistiam em equilíbrio colapsaram em caos.
A solução proposta foi corrigir essa anomalia temporal, e o Deus Supremo incumbiu Azrael dessa tarefa. Não houve oposição de sua parte, pois sabia que, inevitavelmente, ele seria o escolhido para tal missão.
Sua jornada o levou a um planeta comercial, localizado a cem mil anos-luz da Terra. Após pousar, Azrael caminhou discretamente em direção a uma floresta nas proximidades. Com o capuz ocultando sua identidade, evitava atrair a atenção dos habitantes locais e mantinha a missão em segredo. Ele sabia que mercenários e exploradores não ousavam se aventurar em Hidekon devido aos perigos que o planeta apresentava, mas o menor rumor sobre algo valioso poderia mudar suas intenções.
Já afastado na floresta, Azrael encontrou uma grande árvore repleta de frutos peculiares. As frutas, semelhantes a maçãs de cor âmbar com manchas vermelhas, exalavam um odor intrigante. Observando-as com atenção, ele reconheceu, graças à experiência em sobrevivência ensinada por Samael, que eram altamente venenosas.
{Jofiel.}
Chamou seu anjo protetor, e, em um instante, uma luz azulada brilhou diante de seus olhos.
A figura que emergiu era de uma mulher de beleza etérea. Seus olhos azuis e pele pálida davam a impressão de inocência, quase como uma boneca delicada. Os longos cabelos brancos e asas imaculadas realçavam ainda mais essa aparência frágil. No entanto, a poderosa aura divina que emanava dela e a intensidade de sua mana celestial lembravam Azrael de que Jofiel era, na verdade, um dos seres mais temidos entre os mortais.
“Não é comum você me chamar…” disse ela, sua voz delicada soando como a mais bela das melodias.
Azrael a encarou com determinação.
“Estou pensando em adiantar uma tarefa. Poderia me levar até lá?”
Jofiel havia se oferecido para o cargo de anjo protetor do Azrael, uma função normalmente destinada a anjos que escolhiam seus sucessores. No entanto, como Lúcifer o havia escolhido, e ele não tinha permissão para pisar no reino celestial, Jofiel assumiu a responsabilidade. Azrael imaginava que ela poderia guardar algum rancor por ter perdido a oportunidade de escolher um sucessor, mas, ao contrário de outros anjos, Jofiel parecia indiferente ao fato de ele ser um demônio.
“Claro! Quanto mais trabalho você cumprir, maior meu ranking, afinal.”
O tom casual de Jofiel contrastava com a seriedade da situação. Atualmente, Azrael era reconhecido como aquele que concluía as missões mais difíceis, ocupando uma posição de destaque em relação aos outros sucessores.
“Tenho apenas um pedido a fazer,” ele disse. “Poderia me levar até Hidekon?”
Jofiel colocou a mão no queixo, pensativa.
“Hmm… Tudo bem, contanto que você finalize o trabalho.”
“Sem dúvidas.”
Uma viagem até Hidekon normalmente levaria dois meses, mas com Jofiel, o deslocamento seria quase instantâneo. Assim que saíssem do outro universo, estariam no destino.
“Então vamos… Terminarei isso o mais rápido possível.”
Azrael sabia que tinha sorte de contar com Jofiel. Não conseguia imaginar Miguel o ajudando em uma situação dessas.
“Vou abrir o espaço-tempo para irmos ao segundo universo,” anunciou Jofiel.
Embora não possuísse habilidade inata para viagens interdimensionais, ela dominava uma magia tão poderosa que superava os limites da compreensão. A energia necessária para tal feitiço era algo além do alcance de qualquer ser comum.
Quando a magia foi concluída, um portal em forma de espiral se abriu diante deles, brilhando com uma luz intensa. Azrael atravessou o portal, sentindo a mudança instantânea. O ambiente ao redor era diferente, e ele imediatamente começou a buscar por sinais de sua própria presença nesse universo.
“Como imaginei…” murmurou. “Estou morto neste universo.”
Isso simplificava as coisas. Em uma ramificação onde ele ainda estivesse vivo, sua presença poderia ser detectada rapidamente, e o confronto com uma versão alternativa, possivelmente mais poderosa, seria um grande obstáculo. A mana corrompida que sua outra versão poderia possuir complicaria ainda mais a tarefa de destruir aquele universo desestabilizado.
“Por favor, termine o mais rápido possível. Me dói observar um universo inteiro desaparecer.”
“Não se preocupe.”
Jofiel fechou o portal atrás de si com um gesto firme. A barreira mágica impedia qualquer vestígio de mana do segundo universo de cruzar para o universo principal.
“O Deus Supremo permitiu a remoção do selo.”
As palavras de Jofiel ecoaram em uma língua celestial que transcendeu a compreensão mortal. Mesmo com a tradução universal que Azrael possuía, era impossível discernir os significados exatos. Porém, o impacto delas era inconfundível.
Azrael sentiu seu corpo responder imediatamente. Um fluxo avassalador de poder percorreu suas veias, como se seu próprio ser tivesse sido moldado para conter um fragmento do infinito. Por um breve momento, o medo invadiu suas células. Com seu poder liberado a 100%, a ideia de perder o controle parecia perigosamente plausível.
“Não se preocupe,” disse Jofiel, sua voz carregada de confiança. “Desde que você não utilize aquela forma, tudo ficará bem.”
Azrael assentiu, colocando fé nas palavras do anjo guardião. Ele se preparou, convocando a magia mais destrutiva de seu arsenal. Precisava de algo capaz de obliterar não apenas os seres divinos e mortais, mas também todo o tecido da realidade.
Com uma concentração absoluta, ele estendeu a palma da mão, criando uma pequena esfera negra. Apesar de compacta, ela irradiava uma energia tão intensa que o espaço ao redor parecia distorcer-se. Era uma magia devastadora, mas ainda insuficiente para o que ele precisava.
Então, ele utilizou sua habilidade única: a capacidade de absorver a mana do ambiente. Essa característica, exclusiva de sua existência, permitia que Azrael drenasse a energia vital de todo o universo ao seu redor. A esfera negra começou a crescer enquanto absorvia mana de forma insaciável, como um buraco negro devorando estrelas.
Camadas de energia concentrada pulsavam na esfera, que vibrava com um som grave e ameaçador, quase como um coração batendo. O ar ao redor tremulava, e fissuras invisíveis se espalhavam pelo espaço-tempo.
Essa não era apenas uma magia; era uma força cataclísmica. Era o mesmo feitiço que Azrael usara contra Baal em sua última batalha, mas agora, impulsionado por sua mana total e a mana do universo inteiro, ela atingia um patamar inimaginável.
A esfera, antes cabendo na palma de sua mão, cresceu descontroladamente. Consumiu energia em uma escala tão colossal que estrelas inteiras apagaram, drenadas de sua vitalidade. Em segundos, todo o universo foi desprovido de mana, e a esfera negra tornou-se um colosso incomensurável, centenas de milhares de vezes maior que a maior estrela.
O horizonte desapareceu. Azrael não podia mais ver o começo ou o fim da esfera. Era como se o próprio espaço tivesse sido engolido por aquele abismo voraz de poder.
“Menos de um minuto,” comentou Jofiel, fascinada e horrorizada. “Achei que levaria mais tempo.”
Agora, toda a mana existente no universo estava comprimida em um único ponto. A pressão gerada era tão extrema que qualquer observador teria dificuldade em distinguir entre a realidade e a ilusão.
“Parece que seremos atingidos…”
Azrael agiu rapidamente, abrindo um espaço distorcido, uma espécie de refúgio dimensional que ele usava para guardar suas armas. Este espaço estava atrelado ao universo principal, tornando-o um local seguro.
“Estou curiosa para ver sua magia,” disse Jofiel, hesitante.
“Então, fique no espaço distorcido e não saia,” ordenou Azrael.
Assim que ela entrou, Azrael direcionou toda sua concentração à esfera. Ele começou a infundir nela sua mana corrompida, um tipo de energia que amplificava o potencial destrutivo ao extremo. A esfera agora pulsava com uma intensidade além da compreensão.
“Big Bang,” declarou Azrael, ativando a magia.
O universo inteiro foi iluminado por uma luz tão intensa que ofuscava qualquer coisa existente. A explosão reverberou com um som ensurdecedor, uma onda de choque que varreu galáxias inteiras em um piscar de olhos. Estrelas, buracos negros, constelações inteiras: tudo foi consumido sem resistência.
A destruição era total. Em questão de segundos, não restou mais nada. O universo tornou-se um vazio absoluto, um espaço escuro e desprovido de vida, mana ou matéria.
“Isso me dá calafrios,” murmurou Jofiel, ao sair do espaço distorcido e observar o vazio absoluto que restava.
Ela estava visivelmente abalada. Era a primeira vez que testemunhava a magia em sua forma máxima. Azrael, por outro lado, mantinha-se calmo, embora estivesse internamente surpreso com o alcance de sua criação.
“Parece que meu trabalho aqui terminou,” ele disse, com uma tranquilidade inquietante.
“Azrael…” começou Jofiel, sua voz vacilante. “Por favor, se algum dia você recuperar todo o seu poder… Lembre-se de que sou sua amiga. Me poupe se decidir destruir nosso universo.”
Ele soltou um leve sorriso, mas suas palavras foram diretas.
“Não haveria como. O Deus Supremo enviaria seus anjos antes que eu sequer terminasse de preparar algo assim.”
O Big Bang era uma magia que Azrael sabia não poder usar indiscriminadamente. Mesmo assim, o impacto de seu poder era um lembrete cruel de por que ele era temido em todos os planos.
“Vamos voltar. E não se esqueça de me deixar em Hidekon.”
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