Índice de Capítulo

    Depois de um suspiro profundo, Volfizz despertou. Ele se virou de barriga para cima e começou a arfar descontroladamente.

    Ele tossiu inúmeras vezes e sentou-se no chão.

    Sentiu uma pontada no peito e se assustou ao olhar para o lado e ver Dorothea de pé o encarando.

    Ele olhou para as mãos e depois tocou seu peito.

    Volfizz estava completamente curado.

    — Quem é você? — ele perguntou ainda descrente de que ainda estava vivo.

    Volfizz somente ouviu falar das moiras por parte de Coen, mas nunca chegou a vê-las pessoalmente.

    — Você é bem impressionante… tem o domínio de tantas árvores mesmo para um jovem de vinte e poucos anos. Aquele errante realmente soube escolher quem trabalharia para ele, porém, no seu caso falta polimento.

    Volfizz se ergueu ainda trôpego e tentou usar magia, mas não conseguiu.

    Dorothea se agachou e encarou de perto o belo Volfizz.

    — Ainda estou tentando descobrir como você ou a pequena tem as essências que deram origem a árvore… o mais intrigante é saber que Coen reuniu vocês dois… Minhas irmãs e eu concordamos que você ainda pode fazer grandes coisas, por isso decidi te salvar.

    Dorothea esticou a mão e conjurou um cubo que parecia tem um pequeno amontoado de estrelas e galáxias dentro.

    — Você levará alguns anos para se recuperar, mas isso pode ajudar você.

    Ela jogou o cubo na mão de Volfizz.

    Ele encarou o artefato e depois olhou para Dorothea.

    — O que é isso?

    — Foi feito por um apógrafo séculos atrás. Ele fará um contrato forçado com seres mágicos dentro de um raio de ação. Os seres não vão poder te ferir, ferir sua raça nem se opor as suas vontades. Enquanto estiverem sobre o efeito do seu contrato, você se alimentará de suas manas, se fortalecendo pouco a pouco.

    Volfizz engoliu o seco.

    Não havia sobrado muita gente para ele usar o artefato com perfeição. As pessoas que sobraram não tinham uma mana alta, muito menos sabiam usar magia.

    Dorothea ergueu o indicador.

    — Alucard foi banido para um plano distante no cosmos, nosso palpite é que ele ainda pode voltar cedo ou tarde, então você é nossa esperança para impedi-lo caso isso aconteça.

    Volfizz engoliu o seco. Mesmo dando tudo de si, ele não foi sequer um desafio para Alucard.

    Dorothea abriu um sorriso de canto.

    — Ilha das fadas, ela é cheia de seres místicos, seres com manas absurdamente altas. Usar isso lá pode ser bem útil.

    — …

    — Se levante, eu levarei você até lá.

    — Eu… onde está Coen?

    — Ele está bem, mas vocês ficarão um tempo sem se ver, ordens dele.

    Com dificuldade, Volfizz se ergueu.

    — Certo, eu estou pronto…

     



     

    Ferido e a um passo de ficar inconsciente, Coen caminhava na floresta com uma das mãos apoiada no abdômen. Ele seguia para o Oeste como Dorothea instruiu, mas suas pernas bambearam e ele caiu no chão, desfalecendo em seguida.

    Celae seguiu pela floresta apavorada com o que seus olhos enxergavam. Haviam tantos corpos e tanto sangue que ela ficou enjoada.

    Ela testemunhou bolas de fogo lançada por catapultas cruzarem o céu, e viu também um humanoide feito de sangue se erguer tão alto quanto as nuvens.

    Só decidiu adentrar o cenário de batalha quando não sentiu mais nenhuma mana naquele lugar. Ela caminhava com cuidado, olhando para todo cadáver que se parecesse minimamente com Coen.

    A cada encarada seu coração apertava.

    Ela suplicava a seus deuses para que ele não estivesse entre os corpos.

    Suas pernas tremeram quando ela viu um homem de pele morena e cabelo longo deitado de bruços no meio da floresta. Celae relutou ao se aproximar, mas logo o fez.

    A Elfa levou a mão na boca ao perceber que aquele era o homem que ela procurava.

    Ela ficou de joelhos e com as mãos trêmulas o tocou. O corpo dele ainda estava quente e ele ainda tinha pulsação. Com cuidado, ela o virou e apoiou a cabeça dele em suas coxas.

    Limpou a grama do rosto dele e o sangue que escorria do canto de seus lábios.

    O sol da manhã veio e com ele o canto de pássaros, assim como corvos e abutres que tinham um interminável banquete pela frente.

    Coen abriu os olhos lentamente e sentiu que sua cabeça estava apoiada em coisas macias. Sentiu um cheiro bom e olhou para cima, vendo o rosto de Celae.

    — É bom ver você… — ele sussurrou abrindo um sorriso.

    Ela abriu um sorriso e afastou uma mecha de cabelo para detrás da orelha.

    — Sabia que te encontraria aqui. É a primeira vez que te vejo tão detonado assim…

    — Pois é, Alucard me deu uma surra, mas vencemos no fim. Se é que posso chamar isso de vitória…

    Coen se sentou e deu um suspiro.

    — Desculpa ter desaparecido assim do nada, eu não queria te preocupar. Eu tinha que me preparar para enfrentar os vampiros… a maioria das “coisas” que eu tinha que resolver eram por causa disso…

    Celae assentiu e desviou o olhar.

    — Aconteceu muita coisa desde que nos vimos pela última vez. Meu pai descobriu sobre a gente e me expulsou do reino… Acho que ele e os outros só estão confusos com os Elfos Negros e a guerra — Ela segurou as mãos de Coen — Acho que você pode ajudar meu povo a lutar contra os Elfos Negros… talvez se convencer seus amigos errantes.

    Coen assentiu.

    As notícias de que um dragão arrasou os Elfos negros e Elfos da floresta ainda não havia se espalhado.

    Coen apoiou gentilmente a mão no rosto de Celae.

    — Você sabe que eu te ajudo em qualquer coisa que precisar, mas primeiro tenho que me recuperar, daí falo com meu pessoal e a gente tenta chegar a algum consenso com seu pai, pode ser?

    Ela abriu um sorriso e depois o beijou.

    — Eu sabia que podia contar com você!

    — Eu te amo, Celae, sempre vou te ajudar no que precisar. Agora me ajude a me levantar, estou sem um pingo de magia para poder usar os portais.

    — Sem problema!

    Ela passou o braço dele pelo ombro dela o erguendo. Coen era um homem alto e forte, mas ela não o achou tão pesado naquele instante, na verdade, estava tão leve quanto um travesseiro de plumas.

     



     

    Durante o restante do dia, salteadores exploraram o campo de batalha pegando tudo de valor de cadáveres. Alguns até mesmo espalharam a notícia da grande queda da humanidade, e também a grande queda dos vampiros.

    Os mais espertos e aqueles líderes que permaneceram escondidos começaram a agir. Não haviam soldados protegendo vilas, mulheres e crianças estavam vulneráveis.

    As vilas mais próximas do confronto foram tomadas e se instaurou ali novos regimes com novos líderes. Indo de líderes bons e justos até o mais cruel e impiedoso.

    Todo centro do continente se tornou alvo de todo tipo de gente, gente que estava se organizando para tomar outros vilarejos o mais rápido possível.

    Os mais ambiciosos queriam se tornar imperadores e terem haréns com as mulheres mais belas de seus reinos.

    Uma nova era de terror se iniciaria, agora com somente humanos participando.

    A noite havia chegado mais uma vez e o artefato que prendia Graff no fundo do oceano rachou, quebrando em seguida. Se seu corpo não fosse tão resistente, ele teria sido esmagado pela pressão da água.

    A esfera foi criada justamente para reprimir um grande poder. Graff sabia disso, por isso ele passou o tempo todo tentando descobrir uma forma de diminuir a própria força para invalidar a condição da esfera.

    A forma que encontrou foi a de selar o próprio poder, ele o reprimiu o máximo que pôde, e isso o fez retornar a sua forma de criança de séculos atrás, invalidando a condição da esfera.

    Suas asas negras saíram de suas costas e eles as bateu saindo do oceano num estrondo.

    “Aquelas vadias, elas me pagam!”

    Graff cruzou o céu noturno o mais rápido que conseguiu. Sua velocidade ultrapassava em muito a do som. Mesmo em sua forma de criança ele continuava fora do normal.

    Demorou uma hora para ele alcançar o continente e mais duas horas para ir em direção ao castelo dos vampiros. Seus olhos se arregalaram ao ver tamanha carnificina.

    Num mergulho ele desceu alcançando o castelo.

    Vagou pelos corredores de pedra vendo vampiros e humanos mortos por todo lugar. Escutou vozes e empurrou a porta de madeira.

    Lestat e Drewalt estavam discutindo.

    — Graff? — indagou Drewalt — Você finalmente voltou.

    — As bruxas do pântano me selaram. Onde está Alucard?

    Ambos desviaram o olhar.

    — Tio Alucard foi banido pelos caídos…

    Graff engoliu o seco e viu ali a oportunidade que sempre quis, a oportunidade de assumir o clã, ou o que restou dele.

    — Temos que revidar! — bradou Lestat — Com tio Graff aqui a gente vai conseguir se vingar!

    Drewalt cruzou os braços e fez que não com a cabeça.

    — Se vingar de quem? Os humanos foram reduzidos a nada. Eles provavelmente voltarão a se matar, essa guerra acabou.

    — Mas tio, enquanto tiver humanos vivos, eles não vão parar de tentar nos matar!

    Graff enfiou as mãos nos bolsos e abriu um sorriso de canto.

    — O garoto tem razão, mas seja paciente. Atacaremos de volta, mas não agora.

    Drewalt ergueu a sobrancelha.

    — Sobrou você, esse garoto e um punhado de crianças, acha que vai se vingar com isso? Tsc, se vocês pensam assim, então boa sorte.

    Depois de cruzar olhares com Graff, Drewalt desencostou da mesa e caminhou para fora.

    — Aonde vai? — indagou Lestat.

    — A gente já era, não tem mais nada aqui para proteger.

    — Mas tio, e os seus sobrinhos?

    — Graff cuidará de vocês. É isso que ele sempre quis, não é? Os vampiros pertencem a você agora. Farei minha própria história em outro lugar e levarei Carmilla comigo.

    Lestat apoiou a mão no pomo da espada e Graff ergueu a mão, sinalizando que estava tudo bem.

    — Carmilla é minha responsabilidade — disse Graff com um sorriso — Acha que ela quer ficar aqui com a família ou ir com você, um tio com quem ela mal conversa?

    A pequena Carmilla, ainda com Morgana nos braços, se assustou com a possibilidade de ser levada e foi para trás de Lestat.

    Drewalt ficou em silêncio e Graff continuou.

    — Espero que tenha sucesso nessa sua empreitada, irmão… tenho certeza que vai precisar.

    Sem dizer mais nada, Drewalt deixou o quarto e posteriormente o castelo sem levar absolutamente nada.

    — Reúna as crianças — disse Graff indo em direção a saída — Esse castelo não é mais seguro.

    — Sim senhor!

    Vanly andava sobre os escombros do laboratório iluminado pela luz da lua. Havia um gigantesco buraco no teto deixado por uma das bolas de fogo lançadas por catapultas.

    Despreocupada e com o grimório em mãos, ela revirava com os pés as pedras e pedaços de madeira. Seus olhos focaram em algo morto no canto do laboratório.

    Ela pulou alguns escombros e encarou um corpo que teve a cabeça esmagada. Colocou o grimório no chão e afastou a pedra.

    Analisou o corpo e viu que ele era o objeto de estudo de Alucard, o último experimento dele.

    Corpos de vampiros pegavam fogo mesmo depois de mortos ao serem atingidos pelo sol e, daquela posição, devido ao buraco no teto, era compreensível dizer que o sol bateu ali por boa parte do dia.

    Ela encostou aquelas mãos no chão, sentindo que ele ainda estava quente.

    — Funcionou!

    Ela pegou o grimório e se preparou para sair do quarto, mas foi surpreendida por Lestat.

    — Sabia que você estaria aqui, vêm, nós vamos para outro lugar.

    — Para onde?

    — Isso é com tio Graff.

    — Tio Graff voltou? — perguntou empolgada.

    — Sim, vêm, os outros estão te esperando.

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