Capítulo 45 — Labirinto Superior
Azrael
Azrael suspirou em desânimo, sentindo o peso do que parecia ser quase um mês de busca infrutífera. O tempo parecia distorcido naquele planeta. Dias e noites se alternavam de forma irregular, e ele havia perdido completamente a noção de quanto tempo havia passado.
A floresta onde ele se aventurava era como um labirinto vivo, pulsando com uma energia opressiva que parecia espremer sua consciência a cada passo. Árvores imensas e retorcidas se erguiam como torres sombrias, seus galhos formando cúpulas que bloqueavam quase toda a luz. A pouca claridade vinha de cogumelos bioluminescentes e plantas luminescentes que emitiam um brilho pálido, quase fantasmagórico.
As folhas sob seus pés eram de um verde-escuro e brilhante, mas emitiam um cheiro acre que fazia sua garganta arder a cada inspiração. Lianas pareciam se mover lentamente, como se tivessem vida própria, e por vezes ele sentia que o próprio solo pulsava, como se o planeta respirasse.
O ar estava impregnado com miasma, tornando-se mais venenoso à medida que Azrael avançava em direção ao núcleo da floresta. A energia que emanava daquele ponto era sufocante, carregada de uma força que parecia ultrapassar até mesmo os mais poderosos usuários de mana que ele conhecera.
“Preciso continuar…” murmurou, enquanto sua mente lutava para permanecer alerta.
Com cada passo, seu corpo parecia mais pesado. O ar ao redor tornava-se uma mistura sufocante de calor, umidade e partículas venenosas. Cada respiração era um esforço doloroso. Sentia os pulmões queimando e a garganta arranhava como se estivesse engolindo brasas.
“Na verdade… preciso descansar um pouco…”
Os olhos de Azrael percorreram os arredores em busca de um local seguro. Ele encontrou uma árvore que parecia mais sólida e subiu agilmente, apesar do cansaço. Sentou-se em um galho grosso e inclinou a cabeça para trás, tentando recuperar o fôlego.
Enquanto fechava os olhos por um instante, lembranças vieram à tona. A imagem de uma cachoeira cristalina preencheu sua mente. Ele podia quase sentir o aroma das rosas que cercavam aquele lugar. Lembrava-se de uma presença distinta — passos leves se aproximando e uma mana de luz emanando de forma descontrolada.
Normalmente, a luz seria sutil e difícil de sentir, mas sua própria afinidade com a escuridão tornava aquele contraste gritante. A memória de acompanhar aquela figura até uma casa de madeira escondida na floresta permaneceu em sua mente.
“Hmmm… um sonho?” murmurou ao abrir os olhos.
Recobrou a consciência, mas a dor em seu corpo ainda persistia. Sua garganta ainda queimava, mas ele não podia ficar parado. Descendo da árvore, Azrael voltou a caminhar, ignorando os sinais de exaustão.
Conforme se aproximava do núcleo da floresta, percebeu algo perturbador. O silêncio era absoluto. Não havia o som de folhas sendo movidas pelo vento, nem o rugido de monstros, que deveriam infestar aquela área.
Então, ele viu.
A cerca de vinte metros, uma área de aproximadamente quatro metros quadrados destacava-se no meio do caos natural da floresta. As plantas ali eram diferentes, de um verde vibrante, mas com bordas negras que exalavam uma energia perigosa. Pareciam formar uma espécie de barreira viva, irradiando mana que Azrael reconheceu imediatamente como a fonte de toda a energia maligna da floresta.
Ele avançou lentamente, cada movimento medido. Seus olhos avaliavam cada detalhe, atento para não ser pego desprevenido. Conhecia a inteligência dos monstros locais e sabia que aquilo poderia ser uma armadilha.
Ainda assim, a ausência de qualquer criatura era inquietante. Não era normal que a vida evitasse um local assim, a menos que algo muito pior estivesse presente.
“Tudo vem daqui…” murmurou, enquanto dava mais um passo em direção ao núcleo.
A opressão era esmagadora, mas Azrael continuou, sua determinação inabalável. Ele sabia que todos dependiam dele — e falhar não era uma opção.
Os monstros que normalmente infestavam as áreas de perigo daquele planeta estavam ausentes, o que fazia o silêncio parecer antinatural. O ambiente, geralmente repleto de ruídos e presenças ameaçadoras, agora parecia conter uma ameaça invisível, mas ainda mais mortal.
Azrael se aproximou lentamente da área central da floresta. Usando uma lâmina de mana, cortou raízes e plantas que formavam uma barreira quase impenetrável. Cada golpe liberava um cheiro ácido, como se o próprio ambiente estivesse reagindo à invasão.
Finalmente, ele encontrou algo surpreendente: uma entrada antiga, coberta de runas desgastadas pelo tempo. Era um portal para um labirinto, e as inscrições nas pedras deixavam claro que aquele não era um lugar comum.
“Esse lugar…” murmurou Azrael, seus olhos fixos nos símbolos gravados nas pedras.
Seu sangue começou a ferver assim que reconheceu os detalhes das inscrições.
{Faz sentido não haver monstros… Eles estão aí dentro para proteger…}
A voz de Legion ecoou em sua mente, confirmando suas suspeitas. Os monstros, normalmente responsáveis por defender aquela área, haviam recuado para o interior do labirinto, percebendo o perigo que sua presença representava.
“Malditos…”
A raiva de Azrael não era irracional. Ele sabia exatamente o que estava ali. Não era uma arma ou um artefato poderoso. O que estava aprisionado naquele lugar era alguém.
Ao cruzar a entrada, as runas começaram a brilhar fracamente, ativadas pela sua presença. Eram marcas de aprisionamento e selamento, o tipo usado para conter entidades de poder inimaginável. Tudo indicava que ele havia encontrado um Labirinto Superior, uma construção criada para confinar seres primordiais ou entidades comparáveis aos primeiros criados pelo Deus Supremo.
Mas algo estava errado. As inscrições mostravam que a entidade aprisionada ali era ainda mais perigosa do que ele havia previsto. O labirinto não era apenas um confinamento; era uma fortaleza viva, com paredes que se moviam de forma aleatória para confundir invasores.
Não demorou para Azrael enfrentar o primeiro desafio.
Uma sala ampla se abriu diante dele, iluminada por uma luz pálida que emanava de cristais nas paredes. No centro, mais de duzentos monstros aguardavam, como uma horda faminta à espreita.
As criaturas eram grotescas: elfos negros em avançado estado de decomposição. Seus corpos estavam distorcidos pela mana tóxica da floresta e pelo ar venenoso que impregnava o labirinto. Olhos brilhantes, de uma luz gélida e sobrenatural, observavam Azrael com um foco inabalável.
Assim que o viram, os monstros avançaram, suas garras estendidas e mandíbulas abertas, prontas para dilacerá-lo.
Azrael avaliou rapidamente a situação. Usar magias destrutivas naquele espaço confinado era um risco enorme; poderia comprometer a estrutura do labirinto e inviabilizar sua missão. Ele precisaria derrotá-los com eficiência e sem causar grandes danos ao ambiente.
Invocando lâminas de mana, ele as lançou contra a horda. As armas cortaram torsos e membros, mas os monstros continuaram avançando, como se fossem imunes à dor.
“Que porra é essa?” murmurou Azrael, incrédulo.
Os elfos deformados não eram apenas lentos, mas completamente implacáveis. Mesmo quando caíam, levantavam-se quase imediatamente, indiferentes aos ferimentos que recebiam.
{Acerte a cabeça. Vai funcionar.}
A voz de Nêmesis ressoou em sua mente. Sem outra opção, Azrael mudou sua estratégia. Usando uma espada de mana, concentrou seus ataques nas cabeças dos monstros. Para sua surpresa, aqueles que eram decapitados finalmente ficavam imóveis.
{Como imaginei… É uma das habilidades da ‘Maldição’.}
Azrael não tinha tempo para analisar a situação mais profundamente. O importante era que funcionava.
Ele ativou a habilidade Lorde do Tempo, aumentando sua velocidade e precisão. Movendo-se como um borrão, ele avançou pela sala, decapitando os monstros com golpes rápidos e precisos. No entanto, o uso da habilidade começou a cobrar seu preço.
Seu corpo começou a fraquejar. O Lorde do Tempo drenava sua energia vital a cada segundo, sobrecarregando seus sentidos e acelerando suas funções corporais além do limite. Suor escorria por sua testa, e seus movimentos começaram a vacilar.
Quando a última criatura caiu, Azrael caiu de joelhos no chão, ofegante.
“Noir…” murmurou ele, invocando sua companheira para protegê-lo enquanto recuperava forças.
Sua visão começou a escurecer, e a exaustão tomou conta. Antes de perder a consciência, ele teve um último pensamento. O Lorde do Tempo, quando usado por Eriel, consumia apenas mana, pois ela havia dominado uma forma mais refinada da habilidade. Azrael, por outro lado, ainda usava sua vitalidade como combustível, e isso cobrava um preço alto.
Com sua energia se esgotando, ele desmaiou, deixando Noir de guarda em meio à sala silenciosa e ensanguentada.
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