Capítulo 5: Este é o final.
E eu irei esperar o dia em que essas memórias forem apenas uma história.
A primeira boa notícia que tive foi que os três idiotas estavam vivos. A Encapuzada disse que aceitou o pedido de namoro do Kris, e me senti feliz por esse maluco.
Outra coisa que ela me falou foi que eu iria ficar nesta torre, onde agora estou deitado em minha cama — uma do tipo casal e bem macia, diferente da outra em que estava — escrevendo neste diário, até me recuperar.
Meus amigos e Kazuhito estavam preocupados com os efeitos das ervas Riocalu em mim. Aparentemente, ninguém, e quando digo isso, estou dizendo que nem mesmo os acadêmicos mais doentes cogitaram estudar os efeitos delas no espírito do usuário.
Como assim? Bom, os sentimentos fortes, segundo os magos, faz com que a energia espiritual se manifeste. E é a partir disso que se faz magia. O que as ervas Riocalu fazem é estimular essas emoções.
Um viciado nessas ervas, como eu, não teria só suas emoções descontroladas e um psicológico afetado, mas um espírito que pode ora de incendiar, ora se apagar. Era algo perigoso s su não entendi muito dos detalhes.
Enfim, eu estou em uma torre. Aqui moram eu, Kazuhito e a princesa Takatsukasa Kuroe. Sim, a filha do cara que eu matei. Seis longos meses se passaram desde o dia em que eu destruí aquela sala cheia de espelhos.
Os dias iniciais, sem o uso das ervas, foram infernais. Ao saber que eu seria tratado pela filha do cara que tentou destruir minha mente, enlouqueci e quase que algo infeliz aconteceu. Ainda bem que minha namorada — agora posso a chamar assim — foi forte o bastante para me deter.
Também fico feliz em ter Kuroe ao meu lado. Ela é uma boa médica, e uma psicóloga competente. Sinto vergonha e medo só de pensar em confessar para minha amada sobre tudo que me aconteceu quando ela desapareceu, e é por saber disso que a princesa me ouve em seu lugar.
Há muitos mistérios em torno dos acontecimentos que narrei, e o motivo para Kazuhito estar em Nehder era um deles. Quer dizer, eu tenho uma ideia, e sinto que até a escrevi, mas prefiro ouvir da boca dela. Especular não é o meu forte.
Acho que após o terceiro mês de tratamento, Kuroe me disse para escrever um diário. Ela me deu um caderno e um graveto que se parece com uma caneta. Ela diz ser um mineral, mas acho que não é carvão. Enfim, isso resultou na história que você leu.
Não penso em mostrar isso pra alguém em específico. Uso o “você” porque imagino estar contando isso pra alguém. Quando contamos algo, estamos falando pra uma pessoa, não acha?
Tentei escrever de forma que saísse igual aos isekais que eu lia quando estava na Terra, mas acho que o meu estado mental fez isso tudo parecer um grande discurso sobre mim — e foi, como dito no capítulo anterior.
Mas confesso, foi divertido. Bom ou ruim, foi divertido. Queria fazer algo mais, mas penso que não vai dar bom. Sabe como é, né? Não se consegue algo bom apenas porque quer.
Falando sério, acho que vou continuar a escrever.
ㅡㅡㅡ
Tô com muito sono e hoje foi um dia muito bom, e me vejo na obrigação de bater minha meta diária de páginas escritas.
Darei apenas o contexto. Você leu até aqui, então acho que não vai se importar.
Kazuhito decidiu vir ao meu quarto. Ela queria dormir ao meu lado, e eu, todo bobão, apenas congelei e sussurrei um “sim”. Há quase duas horas, pelas minhas estimativas, ela se sentou ao meu lado, na cama.
Ela vestiu uma camisa branca que cobria metade das coxas.
— Um, um… você está bem? — indagou ela.
— Mais do que bem. A garota que eu gosto quer me fazer companhia em uma noite que seria solitária…
— Entendi. O seu rosto mudou.
— Como?
— Não vejo mais aquela expressão de cansaço. Não, tem um pouco, mas parece bem melhor.
— Heh… não é algo que se trata do dia pra noite.
— Sim, eu sei… — E me abraçou. — Mas você ainda tem picos de irritação.
— Infelizmente… mas acho que isso acontece mais quando escrevo sobre minhas memórias.
— Não escreva sobre elas, então.
— Não?
— Não.
— Por que elas me deixam puto?
— Sim. Não pense mais nelas, por enquanto.
— Mas tem muita coisa que eu queria saber… E terminar desse jeito é sacanagem…
— Isso é mais importante do que pensar em mim?
— Ah… não.
— Mais importante do que viver o agora ao meu lado?
— Claro que não.
— Mais importante do que a sua vontade de viver sossegado?
— Obviamente que não…
— Mais intensa do que a sua vontade de me trair com a Kuroe?
— Não… PERA, ei, como é que é?!
— É brincadeira! Haha!
— Ah, ah… pensei que não fosse.
— O quê? Por acaso não é?
— Cla-claro que é, idiota! — exclamei. Provavelmente eu estava vermelho.
— Pois bem. Está decidido, então.
— Sim, não escreverei mais sobre as minhas memórias.
— Ótimo — E me fez cafuné.
— Por enquanto, como você disse. Tô meio cansado e eu ainda não bati minha meta, então…
— Escreva e volte para mim — pediu ela.
Pronto, terminei. Ela está me esperando, então até mais — isso não é um adeus, mas um “até logo”.
— — —
Aliás, por algum motivo, a princesa passou a se vestir de empregada.

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