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    Ao subir as imponentes escadas de mármore para o segundo andar, fomos servos ao elegante escritório de Grumir. Ao entrar no recinto, percebi imediatamente que Eriel estava visivelmente nervosa. Seus olhos inquietos e os pequenos tremores em suas mãos denunciavam seu estado de obrigação. Aproximei-me dela, consegui sentir sua aura turbulenta envolvendo-a.

    “Algum problema?”, perguntei curioso, enquanto minha curiosidade se misturava com uma pitada de preocupação.

    Eriel arregalou os olhos em surpresa, seus lábios entreabertos revelando sua perplexidade. Era evidente em seu rosto a pergunta silenciosa: “Como ele notou?”. Mas com um pouco de atenção, era fácil captar os sinais sutis.

    “Esse planeta… Parece incrivelmente semelhante à Terra”, ela disse, sua voz carregada de espanto.

    Ela estava certa. A similaridade entre os planetas não era incomum. Embora as culturas variem, há momentos em que os seres vivos viveram pensamentos e experiências. Além disso, a influência de Deus Supremo no desenvolvimento humano também havia desempenhado um papel na evolução de outras raças.

    “É compreensível pensar assim. Embora as culturas sejam diferentes, é natural que existam semelhanças entre os seres conscientes. Se os humanos tiveram ideias para o seu progresso, é provável que outras raças tenham concebido pensamentos semelhantes. Às vezes, uma única ideia pode ecoar por milhões de milhas de distância”, respondi, buscando trazer um pouco de tranquilidade à mente de Eriel.

    “Entendi… De qualquer forma, é estranho e fascinante observar outras raças”, acrescentou ela, com um misto de curiosidade e admiração.

    Fiquei imaginando o quão surpresa e encantada ela ficaria ao conhecer as fadas pessoalmente. As maravilhas que aguardavam sua visita certamente deixariam uma marca indelével em seu coração.

    Após um breve trajeto, chegamos à sala principal do líder Grumir. O ambiente era amplo e majestoso, com móveis de época e decoração que emanavam um ar de grandiosidade histórica.

    “Por favor, sintam-se à vontade e escolham seus assentos. Em breve, começaremos a reunião”, disse Grumir, enquanto seu olhar perspicaz percorria a sala.

    Cada um de nós encontrou seu lugar e a atmosfera se encheu de expectativa. O líder Grumir era conhecido por sua sagacidade e sabedoria, despertando em nós uma mistura de respeito e ansiedade.

    “Primeiramente, gostaria de ouvir os seus planos”, solicitou Grumir, com uma expressão expressiva e intrigada.

    “Certamente. Estou em busca de uma missão que me leve ao enigmático planeta das fadas”, revelou, sentindo uma mistura de empolgação e emoção.

    Como normalmente não era possível entrar facilmente no planeta das fadas, a melhor maneira de fazê-lo era por meio de missões.

    “Deve ser o destino”, falou Grumir com um suspiro aliviado.

    “Então, existe uma missão assim?”, perguntei, com interesse crescente.

    “Certamente que sim. No entanto, não é como você imagina. É uma missão perigosa, a ponto de requerer alguém do seu nível”, alertou Grumir, com seriedade.

    Fiquei surpreso com as palavras do mestre da guilda. Embora nunca tivesse ponderado muito sobre isso, uma missão que exigia alguém do meu nível de habilidade mercenária era considerada quase impossível.

    “Deixe-me saber mais sobre a missão”, solicitei, curioso.

    “A rainha das fadas solicitou uma missão de busca há cerca de dez dias. Sua filha encontra-se em um planeta chamado Aetheria”, revelou Grumir, observando um leve sorriso se formar em seu rosto ao notar minha surpresa.

    “Então você já sabe sobre Aetheria”, afirmou ele.

    “Sim…”, respondi, um tanto desconcertado.

    Samael, lançou-me um olhar preocupado.

    “Eu nunca ouvi falar de um planeta chamado Aetheria”, elogiou Eriel, demonstrando perplexidade.

    “Aetheria está na lista dos Cavaleiros do Apocalipse. Se não me engano, o primeiro cavaleiro já chegou ao planeta”, expliquei.

    Com os Cavaleiros do Apocalipse começando a agir no planeta, era quase impossível encontrar alguém que não fosse afetado pela maldição.

    “Então você sabe. Bem, isso facilita as coisas. Outros mercenários foram enviados, mas logo foram atingidos pela maldição e alguns até faleceram”, revelou Grumir, com um tom sombrio.

    A maldição dos Cavaleiros do Apocalipse era algo sem cura. Uma vez marcada pela maldição, a saída única era a morte.

    “Se os Cavaleiros do Apocalipse estão agindo, não há provas de que a princesa das fadas ainda esteja viva, correto? Seria mais sensato desistir, não é?”

    “Isso seria verdade se ela fosse uma fada comum, mas a princesa possui uma magia que lhe permite neutralizar maldições. No entanto, o mesmo não se aplica à sua escolta, que ficou presa no planeta sem conseguir sair”, explicou Grumir.

    “Não preciso ouvir mais. Aceito a missão”, declarei, decidido.

    Foi quando senti algo familiar. Uma aura familiar que parecia me chamar.

    “Nesse caso, vamos discutir os detalhes”, admitiu Grumir, preparando-se para nos fornecer as informações necessárias.

    ***

    Após a reunião, que transcorreu de maneira habitual, pedi para Samael que levasse todos para providenciar os cartões da Guilda. Jofiel mostrou relutância em obter um cartão, mas não havia muito o que fazer, já que ela estaria ao meu lado, enquanto estou assumindo o papel de Dahak.

    A aura que eu havia reconhecido anteriormente estava a poucos metros de onde eu estava, e tanto Samael quanto Jofiel também percebiam sua presença familiar. Fiquei um pouco aliviado por eles não mencionarem nada, pois esse encontro poderia se tornar turbulento.

    A localização identificada era uma cafetaria a alguns quarteirões de distância da guilda. Entrei rapidamente na loja e fui recebido por uma das atendentes.

    “Olá, querido cliente…”, cumpriu ela, notando que eu estava procurando uma pessoa responsável pela aura. Um sorriso surgiu em seu rosto. “Olhos vermelhos e cabelos negros, como ela disse… Sua acompanhante está lhe esperando na sala vip.”

    Percebi que não havia sido uma coincidência ter sentido sua aura. Ela estava me convidando para esse encontro específico.

    Seguindo um atendente, adentramos a área vip, onde a pessoa aguardava por mim. Não fiquei surpreso ao ver o rosto familiar que me atendeu assim que entrei em seu campo de visão. Seu poder transcendia sua própria raça, fazendo-a parecer quase divina.

    Me aproximei cautelosamente, observando seus movimentos, mas ela não parecia se importar e me olhou com um lindo sorriso nos lábios. Seus olhos azuis, que lembravam o céu, eram marcantes, assim como seus cabelos castanho-avermelhados.

    “Faz muito tempo desde a última vez que conversamos”, disse ela, com uma voz suave e envolvente.

    Sua voz suave e gentil fazia meu corpo tremer enquanto eu tentava processar a realidade diante dos meus olhos. Todos os meus sentidos afirmavam que ela era real, mas meu cérebro relutava em acreditar.

    Era como ver um fantasma. Não conseguia acreditar que ela estava ali na minha frente, agindo de forma tão natural.

    “Desculpe por te chamar assim. Na verdade, nem mesmo eu, acreditei que você viria”, disse ela, com um misto de surpresa e sinceridade.

    Ainda em choque, as únicas palavras que consegui pronunciar foram: “Você parece bem, Julia…”

    “Quase não te reconheci. Se não estivesse te visto da cidade quando chegou, não teria percebido que você tinha pintado o cabelo”, ensinou Julia.

    Minha magia dissipou, fazendo meus cabelos voltarem ao seu tom original. Julia sentiu um pouco de surpresa por um momento, mas tudo o que pude fazer foi sorrir enquanto a observava.

    Uma sensação de nostalgia ao reencontrá-la era estranha, mas estava aliviado por poder conversar com ela novamente. Sentei-me ao seu lado e não pude conter minha expressão, o que rapidamente chamou a atenção de Julia.

    “Queria conversar um pouco com você, agora que minha existência foi descoberta. Não há mais motivos para me esconder”, revelou ela.

    “Vamos direto ao ponto principal. Como ‘Ele’ permitiu que você fosse liberada? Ele não imaginou que eu faria de tudo para te recuperar?”, indaguei, com uma mistura de preocupação autônoma.

    Sendo um ser divino, eu sabia que aquela pessoa era cautelosa e perder sua arma principal era algo que ele não aceitaria facilmente.

    “Não há motivo para se preocupar. Na verdade, eu nunca ponderei traí-lo. Para você entender melhor, eu certamente não estou agindo sob o efeito de alguma manipulação. Na verdade, estou elaborando tudo por vontade própria, até certo ponto.”, explicou Júlia.

    Isso significava que ela estava sendo controlada, mas não ao ponto de ter esquecido de si mesma.

    Uma magia que eu conhecia muito bem.

    “O controle de Ares não é tão severo. Na verdade, o único objetivo é que eu o siga, nada mais. Sem restrições, sem selo de memória. A pessoa que está à sua frente é a mesma Julia que cresceu ao seu lado e o considerava um exemplo”, explicou Julia.

    “Era…”, murmurei, com um tom de tristeza em minha voz. Julia apenas sorriu, como se minhas palavras não a afetassem.

    “Além disso, não há motivos para preocupação. Seja sincero, você realmente acha que pode me vencer ou me convencer com o poder que possui agora?”, provocou ela.

    Silenciei. Não havia necessidade de responder. Julia se tornará uma entidade além do alcance do meu poder atual. Mesmo se eu chamasse as garotas, ainda seria uma batalha difícil. Sem mencionar que poderia haver membros da Aliança presentes, e uma luta na cidade não traria resultados que eu estaria disposto a encarar.

    “Você não é tolo. Já sinto que me tornei uma deusa, algo que não deveria ser possível. Um humano atingir o nível de um deus era impensável até alguns anos atrás”, afirmou ela.

    “Isso não importa agora. Você veio até mim por um motivo, não é? De qualquer forma, eu estou cansado. Não vou mais tentar. Por muito tempo, agi da forma como os outros queriam. Agora é a minha vez. Não tenho interesse em correr atrás de você, agir como um amigo ou algo do tipo. Estou cansado, verdadeiramente cansado”, desabafei.

    Não fazia mais sentido tentar ser o que os outros desejavam. Deixe-me ser quem realmente sou.

    “Se você deseja ser minha inimiga, saiba que no nosso próximo encontro serei o pior inimigo que você poderia desejar”, afirmei com força.

    “Estou realmente ansiosa por isso, mas, como Eriel vai se sentir quando você vier com tudo?”, provocou Julia.

    Olhando na direção de Julia, as únicas palavras que consegui pronunciar foram: “Não importa.”

    Julia olhou para mim com uma mistura de curiosidade e desafio em seus olhos. Ela parecia intrigada com a minha atitude determinada, mas, ao mesmo tempo, sabia que havia despertado um lado sombrio em mim.

    “Interessante. Mal posso esperar para ver como Eriel reagirá quando você se mostrar como é de verdade.”, disse Julia, com um sorriso enigmático nos lábios.

    “Eriel não faz mais parte da minha vida. Eu não me importo com o que ela pensa ou sente”, respondi, com um tom de amargura.

    Julia franziu levemente as sobrancelhas, como se estivesse escutando minhas palavras. Ela sabia que algo havia mudado entre nós, que uma conexão profunda havia sido quebrada. 

    “Você mudou, Azrael. Não é mais o mesmo homem de antes. Mas lembre-se, as consequências de seus atos repercutirão além do que você pode imaginar”, alertou ela, expressiva.

    “Estou ciente das consequências. Não importa o que aconteceu, eu seguirei em frente, mesmo que tenha que caminhar sobe o sangue aliado, farei.  Agora, diga-me o verdadeiro motivo pelo qual veio até aqui”, insisti, desviando o assunto.

    Julia olhou para mim por um momento, como se ponderasse suas palavras. Finalmente, ela suspirou e revelou seu propósito.

    “Vim lhe oferecer uma oportunidade, Azrael. Uma chance de se unir a mim, de deixar para trás essa vida de lutas e desafios intermináveis.

    Fiquei em silêncio por um instante, contemplando suas palavras. Uma parte de mim foi atraída por essa ideia, pela possibilidade de deixar para trás todas as batalhas e encontrar um propósito maior. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim resistia, lembrando-me de quem eu costumava ser e dos valores que eu acreditava.

    “Aprecio o convite, Julia, mas meu caminho é meu e eu devo segui-lo sozinho. Não tenho em vista poder ou controle, mas sim a redenção e a paz interior”, respondi firmemente.

    Julia assentiu compreensiva, aceitando minha resposta. Ela sabia que não poderia me convencer facilmente, que eu era alguém obstinado em minha jornada pessoal.

    “Entendo sua decisão. Você sempre foi um homem de princípios. Mas lembre-se, Azrael, nossos caminhos podem se cruzar novamente no futuro. Até lá, tome cuidado”, advertiu ela, levantando-se da cadeira. “Minha missão era tentar te convencer, por ordens daqueles que acreditam que você mudaria de lado. Como falhei, a Aliança logo agirá, ou talvez demore um pouco. Não sei o que passa na cabeça daqueles idiotas.”

    Com um último sorriso em seu rosto, suas palavras pareciam vazias.

    “Mais uma coisa. Baal acredita fielmente que você matou o pai e mãe dele. Se desejar, posso lhe contar a verdade, ou talvez mostrar-lhe?”

    Meu silêncio foi o suficiente para entender.

    “Assim seja. Não vou me meter em seus assuntos. Ele permanecera no escuro então.”

    Nós nos encaramos por mais um momento, antes de Julia se afastar, desaparecendo entre as sombras da sala vip da cafeteria.

    Fiquei ali, perdido em meus pensamentos, refletindo sobre o que havia acontecido. O encontro com Julia tinha mexido comigo profundamente, despertando sentimentos e questionamentos que eu havia enterrado no fundo, de minha alma. Sabia que o futuro seria repleto de desafios e perigos, mas estava determinado a enfrentá-los com coragem e integridade

    Não importa o que aconteça, vou te trazer de volta, Pensei… Mesmo que tenha que me tornar um mostro odiado por todos. 

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