Capítulo 45 - Um nível fora do comum
Após todos aqueles eventos, a situação ficou desesperadora. Os Ninkais dizimaram uma grande parte dos soldados da organização; já que eles estavam em maioria, eram mais visíveis para os monstros.
Além do mais, com seu general derrotado, a moral, tanto dos homens no campo de batalha quanto na sala de comando, havia caído e, como consequência, eles ficaram desnorteados. A maioria pensava que aquilo era uma batalha perdida desde o início, e eram poucos os que tentavam encorajar seus companheiros.
Sem comando e temendo por suas vidas. Não havia forma pior de fazer alguém se perder completamente em uma guerra.
Mas não era esse resultado que Mayck desejava. Junto com os outros líderes e aqueles que ainda estavam sãos, eles lutaram contra os Ninkais e os eliminaram totalmente depois que amanheceu.
Com o fim dos monstros, parte do problema foi resolvido. Os soldados sem comando não podiam fazer nada, então poderia-se dizer que aquela guerra contra a organização estava terminada — não totalmente, mas estava — tudo o que restava era que Alexander e Diogo impedissem a fuga dos presidentes da organização e poderiam dizer adeus aquela fase.
Mayck e os líderes se reuniram no meio da rua, e enquanto o garoto analisava o rastro de destruição naquela parte da cidade, Elias perguntou o que fariam com os soldados da organização.
“E aí? Vamos matar o resto?”
“… Não. Eles não tem mais porque lutar. Então não precisa.”
“Aff… que cara bonzinho você é. Todo misericordioso. Sabe que eles são os inimigos, não é? Não duvido que eles se rebelem alguma hora.”
“Para de ser chato. Que tipo de monstro mata seus inimigos que não têm mais nenhuma vontade de lutar?” Mayck repreendeu-o. “Além disso, essa é uma boa situação. Melhor que eles fiquem quietos, assim poderemos nos focar em lidar com aquela coisa.”
“Pois é, Elias, ele tem razão. Nós perdemos um grande número dos nossos, então essa também é uma ótima oportunidade para repormos nossas forças.”
Hugo, então, propôs que eles dividissem o exército igualmente entre eles e Mayck não viu problemas nisso, na verdade, ele nem ligou.
“Bom, primeiro vamos retirar os feridos e tratá-los na praça. Talvez vocês queiram enterrar os que não conseguiram sobreviver. Eu vou esperar vocês na sala.”
Mayck deixou suas palavras e se virou, mas lembrou-se de algo.
“Ah, e podem fazer um pedido de desculpas por mim? Digam que eu lamento a morte de seus companheiros. Eles podem estar tristes por perderem seus amigos ou alguém próximo. O mesmo vale pra vocês: me desculpem por matar boa parte de seus subordinados.”
Elias levantou uma sobrancelha. Era verdade que ele ficou um pouco enfurecido e os outros também poderiam ter ficado, mas ele não queria perder uma única chance de provocar o garoto.
“Como é? Ficou todo sentimental agora?” O seu ar sarcástico permaneceu, mas o olhar de Mayck demonstrou que ele não entendeu a provocação, ou apenas decidiu ignorá-la.
“Você deve ter razão. Mas, de qualquer forma, me desculpem.” Com isso, Mayck saiu, deixando Elias com uma interrogação na cabeça.
“Qual o problema dele?”
“Vai ver ele não conseguiu lidar com toda a pressão de ter várias vidas em suas mãos.
“Hehe… No fim, ele é só um garoto.”
“Hahaha. Ele tem muito o que aprender ainda. Força não é apenas física. Força também é saber lidar com a realidade.”
Após a frase, todos, inclusive Mathias, olharam para Roger com uma expressão desconfiada. Ele questionou o motivo com um sorriso, claro.
“Bem, é só que… ouvir você falar assim me dá nos nervos. Faz eu me sentir burro.”
“Hahahaha! Não consegue ouvir a verdade de alguém melhor do que você, não é? Parece que você também tem que crescer bastante. Hahahaha.”
Roger continuou com sua gargalhada, enquanto Elias apertou sua mandíbula, e Hugo riu levemente. Mathias, por sua vez, apenas saiu com suas guardas pessoais, que estavam bastante feridas com as lutas, mas nada muito sério, apenas alguns arranhões e pequenos cortes.
“Vamos indo logo, não temos tempo a perder.”
Eles deixaram as brincadeiras de lado e se dirigiram para o campo onde ocorreu a batalha.
Anunciaram suas intenções de tê-los como subordinados e começaram a retirar os feridos do local, conduzindo-os para a praça central. Lá, os que podiam se mover com liberdade pegaram itens de primeiros socorros e ajudaram os que estavam com feridas mais graves.
Todos ali eram humanos, então uma boa parte deles lamentou a morte de seus companheiros. Não apenas os subordinados dos líderes, mas também os soldados da organização, que até tentaram se rebelar, mas foram controlados quando perceberam sua impotência perto dos líderes.
Trataram os feridos pela manhã e, à tarde, enterraram, nos morros há alguns metros da sede da organização, aqueles que não sobreviveram à batalha brutal.
O fim da guerra trouxe um gosto amargo às suas bocas e o pedido de desculpas de Mayck foi entregue a eles, mas não foi muito bem recebido pela maioria.
Elias também não pôde guardar toda a sua frustração, visto que Albert foi um dos que não sobreviveram, assim como Vini, e Fabrício estava seriamente ferido; acabou perdendo o seu braço esquerdo.
Hugo não havia perdido tanto de seus homens, mas Leon acabou não saindo ileso, assim como William, subordinado de Roger.
Foi por isso que Mayck pediu desculpas. Ele sabia que em uma guerra, as chances de sobreviver eram baixas e elas ficaram menores ainda quando os Ninkais invadiram o lugar. Era mais do que óbvio que as perdas seriam enormes.
Mas esse foi um fardo que ele mesmo decidiu carregar.
Tem mais… né? Mais vidas…
Vidas tiradas diretamente e indiretamente. Mayck se perguntava o que ele era além de um assassino.
Isso não é bom. Eu preciso relaxar. Ainda tem mais coisas para lidar. Se eu cair agora, tudo vai ter sido inútil.
Ele se recompôs e esperou os líderes chegarem, para que pudessem discutir sobre como lidariam com o Ninkai gigante.
Era uma existência que eles não poderiam descrever. Nenhum deles havia visto nada como aquilo alguma vez na vida. Se dissessem que não se importavam, era mentira. No fundo, todos sentiram temor em seus corações.
“Eu já matei alguns Ninkais bem grandes, mas nunca vi nada como aquilo. Será que é mesmo um deles?” Elias perguntou enquanto tomava um pouco de café em uma xícara.
“Eu também nunca vi. Mas não tenho dúvidas de que é um monstro problemático. Também acho que meios convencionais são inúteis contra ele.”
“Como assim? Meios convencionais… você quer dizer que não podemos matá-lo como fazemos com os outros?”
“Algo assim. Eu não queria me aprofundar, mas eu posso sentir o nível de poder de cada um. Seja humano ou monstro. É com base nisso que eu decido como vou lidar com cada situação.”
Mathias estava falando bastante. Mas não era nada inútil — o que era seu lema, algo do qual Mayck concordaria sem pestanejar: se não fosse relevante, era melhor ficar quieto.
“… Você pode dizer que não podemos matar ele como os outros. O que funcionaria contra ele, então?”
“Não sei. Isso é o que precisamos descobrir.”
“Peraí, peraí. Poderia nos dizer, primeiro, qual o ‘nível’ daquela coisa?”
Mathias ponderou por um momento, mas logo continuou.
“Você já enfrentou a classe Pesadelo antes?”
“Já… alguma vezes.”
“Comparado a um Ninkai de classe ‘A’, de 0 à 10, quantas vezes mais forte você diria que um de classe Pesadelo é?”
“Hmm… Talvez… 10 vezes mais forte…”
“Pois bem, aquela coisa se encaixaria em 10.000 vezes mais forte que ele.”
“Hã?!”
“Sério…?”
Todos se surpreenderam com a magnitude do poder. Um Ninkai de classe pesadelo daria trabalho para um portador de nível 5, então derrotar aquela criatura gigante parecia estar fora do alcance de todos ali.
“Hum… Mas, mesmo que ele seja forte assim, ele deve ter um ponto fraco. Nós só precisamos dar um jeito de explorar isso.”
“Você é bem otimista. Mas não vai ser tão fácil assim.”
Se aproximar do monstro, por si só, seria um grande desafio. A criatura desconhecida sobrevoou a cidade a uma altura considerável, e para descobrir alguma coisa sobre ela, eles precisavam estar bem perto.
“Sobre isso, eu tenho uma ideia. Só precisamos de uma forma de chegar até ela e alguém bom o bastante para não cair.”
Eram duas condições simples à primeira vista, mas se pesquisasse mais a fundo, poderia ver que a ponte até elas era muito estreita. Isso não parecia difícil para Roger, no entanto.
“Eu posso usar minha força para lançar alguém até lá. O resto eu deixo com vocês.”
“Você se garante bastante. Mas não é uma proposta ruim. O que acham?”
Mayck ficou em silêncio esse tempo todo, apenas analisando a conversa deles e criando métodos que poderiam ser eficazes dentro da ideia de Roger.
“Pode ser que funcione. Mas eu não tô a fim de me meter tanto nisso. Então estou fora.” Elias decidiu abandonar o navio.
“Não tenho nenhum problema, mas eu não quero me arriscar tanto também.”
“Nem eu.”
Os líderes já haviam se decidido, mas não era como se Mayck fosse insistir que eles fizessem algo.
“Não precisam se preocupar. Eu já estava planejando cuidar disso sozinho. Mas vocês ainda vão me ajudar com algo.”
Ninguém ali poderia garantir que o monstro apareceria novamente, mas eles tinham uma certeza misteriosa de que ele voltaria. Portanto, Mayck compartilhou suas ideias e foi moldando-as de acordo com o que cada líder pensava.
Era importante que eles criassem algo sem falhas e, caso desse errado, pudessem ter um novo plano para evitar uma destruição de longa escala na cidade.
<—Da·Si—>
Com a tarde chegando ao fim, todos os preparativos estavam finalizados. Mayck e Roger ficaram juntos no prédio mais alto que havia por ali, e os outros foram posicionados em pontos que formavam um triângulo em volta deles, de modo que pudessem ter uma visão clara do céu e pudessem ver a dupla no meio.
A ideia era simplesmente que eles mantivessem a criatura longe do solo, caso ela se aproximasse demais, e oferecerem suporte para Mayck quando precisasse.
Além dos cinco, não havia mais ninguém. Mayck decidiu lidar com o monstro sozinho, sem envolver os subordinados dos líderes e os que sobraram do exército da organização.
Seria uma punhalada ainda maior em suas costas se todos eles fossem dizimados depois de estarem tão desgastados. Portanto, sua vontade de acabar com a criatura era imensa e ele não iria se permitir falhar ali. Se ele perdesse, toda a cidade seria riscada do mapa.
Embora as horas se passassem, eles não viram nenhum movimento incomum e até começaram a pensar que ela não viria.
“O aparecimento dela deve ter sido só um evento raro. Talvez ele só apareça daqui 100 anos.”
Elias foi o primeiro a ter suas esperanças esgotadas. Ele já estava prestes a ir embora, quando uma ventania seguida de uma pressão enorme surgiu sobre ele. Olhou para cima e presenciou as escamas brancas e brilhantes presas àquele corpo que dançava no ar e que o paralisava com sua beleza incomum, enquanto encobria o luar.
“Ei, não durma. Fique atento”, Mayck falou pelo walkie talkie, tirando Elias de seu transe momentâneo.
Como planejado, Mayck subiu na palma da mão de Roger com um salto, se equilibrando perfeitamente.
“Não tá com medo, tá?”, disse Roger, preparando sua mão para o lançamento.
“Mesmo se eu estivesse, não poderia pedir para parar. Vamos em frente.”
Mayck balançou seu braço direito e pegou a adaga que caiu de sua manga.
“Pronto? Então lá vai!” Roger elevou sua voz. Uma aura branca o envolveu, enquanto focava sua energia máxima em sua mão para o arremesso.
Mayck foi jogado para longe. A resistência do ar foi quebrada pela força e velocidade do arremesso de Roger.
Em poucos segundos, após atravessar as nuvens, Mayck pôde sentir o calor vindo da criatura e rapidamente, impulsionou a adaga com eletricidade e a arremessou, para que ela penetrasse o corpo da criatura. No entanto, sua escama dura igual o metal rebateu a adaga e naqueles milésimos de segundos, ele foi obrigado a mudar de estratégia.
A adaga foi lançada novamente, fazendo um movimento circular em volta da imensa criatura. Mayck torceu para que o fio desse a volta e pudesse, ao menos, agarrar a ponta da adaga.
Quando pôde segurá-la, fez o mesmo com a adaga escondida sob a outra manga. Assim, ele conseguiu se segurar na criatura com firmeza, já que ela estava viajando a uma velocidade incalculável.
“Conseguiu se segurar?”
“Consegui. Deixem o resto comigo”, Mayck respondeu Hugo pelo walkie talkie. Mas, depois disso, eles não poderiam mais se comunicar, já que uma misteriosa onda de rádio cortou o sinal entre eles.
O que aconteceu…? Bem, não importa. Eu preciso subir nela. Não vou poder fazer nada daqui.
As escamas da criatura eram mais duras que 30 centímetros de ferro, então perfurá-la seria impossível.
Talvez por instinto, Mayck quis ir até a cabeça dela — e só porque queria. Ele pensava que essa era a coisa certa a se fazer.
Com muito esforço, ele agarrou as pequenas brechas entre as escamas, que seus dedos mal cabiam. Se usasse a eletricidade, poderia magnetizá-las e se manter firme.
Assim, ele escalou pela lateral até as costas da criatura. Levou um bom tempo, mas ele finalmente chegou lá. E quando chegou, ficou abismado com aquela enorme área que ela cobria.
Vista de baixo ela já era imensa, mas caminhar por cima dela era como se estivesse em um aeroporto feito para dez ou mais aviões.
Acho que ela não vai nem me perceber aqui.
Seu tamanho era como se um piolho naquele momento, ou até menor que isso.
Mayck balançou a cabeça levemente, voltando-se para o objetivo inicial e levantou os olhos, mas apenas para ficar espantado novamente.
Ele esperava encontrar um céu estrelado, em uma noite de lua cheia, mas…
“O que… é isso?!”
No céu, que era para estar escuro, havia uma enorme bola de fogo, que iluminava tudo ao seu alcance. A primeira vista poderia-se dizer que era o sol e mesmo que fosse, não fazia sentido.
Não importava para qual direção você olhasse, o que era para ser o céu azulado era cinza. Como se aquele lugar tivesse sido tomado pela poluição, mas não havia presença de nuvens ou fumaça.
Aos poucos, Mayck sentiu seu corpo ser levemente puxado, ou melhor, empurrado para cima, por uma força que poderia ser chamada de gravidade, mas reversa.
Ele se viu sendo jogado para aquele lugar cinza, onde não parecia existir solo e isso o assustou um pouco, já que não sabia o que estava acontecendo. Sua mente foi invadida por terror. A sombra da morte caiu sobre ele.
Tentou se manter firme com o magnetismo, mas sua mente estava tão perturbada que quando ele percebeu não dava mais tempo.
Não tem nada pra eu me segurar…
Ele pensou que poderia jogar a faca contra a serpente gigante, mas a velocidade com que ele foi afastado dela mostrava que a gravidade estava contra ele.
Droga. O que eu faço agora?
Ele pensou bastante naquele meio tempo, mas estava começando a se desesperar e quando tudo parecia acabado, aquele abismo cinzento foi tomando forma e ele conseguiu ver uma imagem, a imagem de uma cidade, com seus prédios altos e ruas asfaltadas.
E em alguns segundos, ele passou pelas janelas de um desses prédios. Ficou aterrorizado, mas voltou a si, quando percebeu que poderia se salvar da queda, ou melhor, da subida.
Ele lançou a adaga e a prendeu na parede de um dos prédios e se agarrou ao fio, conseguindo se segurar.
Por pouco…
Ele suspirou aliviado. E desprendeu a adaga da parede, indo para o chão.
Mas algo ainda o deixou perplexo. Ele estava de cabeça para baixo. Não. Na verdade tudo estava de cabeça para baixo, mas era tão natural que isso poderia passar despercebido por qualquer um.
“Que lugar é esse?”
Ele olhou ao redor. Aquilo era uma cidade normal, mas com algumas peculiaridades como a falta de cores. Parecia que o conceito de cor não existia ali, era tudo preto e branco, mas não era estranho.
“Verdade! Onde que ele está?” Mayck olhou para aquele céu estranho, procurando a criatura, mas não a viu. Ela desapareceu naquele imenso abismo, e para ela sumir de vista sendo daquele tamanho, o lugar só poderia ser maior.
Mas era infrutífero ficar plantado em um só lugar. Além de precisar descobrir uma forma de derrotar o monstro, ele ainda precisava encontrar um jeito de voltar para casa, visto que aquilo era, obviamente, uma outra dimensão.
Uma dimensão invertida, onde o planeta estava pelo avesso, e a superfície terrestre ficava no interior da esfera.
Era um local bizarro. Não havia sons nem nada e, a cada passo, Mayck sentia um calafrio percorrendo seu corpo. Enquanto caminhava sem rumo, ele buscava em sua mente uma justificativa para a não existência de vida ali. Isso porque não viu, em momento algum de sua caminhada, nem sequer um gramado.
Tudo o que havia ali era feito de pedra.
Mas se é pedra, então quem foi que fez tudo isso?
Não havia uma resposta clara. A única hipótese era que aquele lugar só existia por existir.
A não ser que aquele monstro tenha feito…
O silêncio era descomunal. Chegava a enlouquecer e os passos de Mayck também eram silenciosos. Ele imaginou que algo ruim poderia acontecer se fizesse barulho.
Avistou casas, parques e lojas, mas não tentou entrar em nenhum desses lugares. Apenas continuou seguindo pela rua solitária, daquele mundo vazio.
“Agora que eu paro pra pensar, aquele monstro também não fez nenhum barulho…”
Mayck parou de andar repentinamente e olhou para o lado. Era um beco. Mas não havia um muro do outro lado, e sim um enorme vazio, como se tivesse chegado ao limite do mapa. Porém, isso não era o mais importante. Havia algo o observando.
Mayck engoliu a saliva e ficou imóvel, encarando aquele rosto vazio de emoções e que não trazia conforto nenhum. Se para uma pessoa normal era aterrorizante, para alguém com medo de cobras seria algo tão terrível que era difícil descrever.
Aquele olhar fixou-se em Mayck, dizendo que ele não deveria estar ali.
Um chiado no walkie talkie o despertou.
O que…
O chiado foi ficando audível, mas as palavras incompreensíveis apenas deixaram Mayck mais apavorado, o que ele lutava para não deixar vazar. Mas uma ideia se formou em sua cabeça e não era uma ideia tão boa de se ter.
Ele está… tentando falar comigo?
A estranha criatura estava emanando ondas de rádio que eram captadas pelo walkie talkie.
O walkie talkie continuou transmitindo as palavras, que mais pareciam sons sem sentido, frutos de uma vontade macabra.
No entanto, mesmo sem saber o significado delas, o corpo de Mayck começou a tremer e a realidade veio sobre ele. Nem mesmo os Ninkais o faziam ter medo, mas aquilo era diferente. Se os Ninkais fossem monstros sobrenaturais, o que seria aquela coisa? Um ser superior à raça humana.
Nessa mesma hora, o que Mayck jurava ser prédios, casas, lojas e objetos começaram a se mover e seus aspectos sólidos foram se transformando em peles, cada uma com suas particularidades, escamas de peixes e pêlos.
Eles tomaram formas bizarras, mas pareciam ser seres vivos — não como os encontrados na Terra, no entanto. Os prédios viraram seres totalmente escuros, com a forma de mãos humanas, e os dedos eram suas pernas. Os postes eram criaturas que poderiam se camuflar em degraus de escadas caso deitassem no chão.
Até mesmo as faixas de pedestres começaram a se movimentar, mas elas se dividiram como milhões de insetos minúsculos e se espalharam pela única coisa que realmente era o que era: o chão.
Mayck não pensou duas vezes apesar do terror, e bateu em retirada, buscando um abrigo que não encontraria. Por onde ele passava as criaturas começavam a se movimentar.
Merda. Que lugar é esse? Ele pensou sem parar. Essas coisas não são como os Ninkais. Não foram criados por humanos. Eles existiam antes mesmo de nós. São seres de outro mundo.
Ele continuou fugindo. Até que as criaturas o cercaram, mostrando que sua única forma de sobreviver era lutando.
Não só todas aquelas criaturas deram sinais de vida, como o próprio ambiente ficou estranho e uma energia bizarra pairou sobre todo aquele lugar. Uma mistura de nostalgia, nojo e horror, que davam vontade de vomitar.
Como um cachorro dócil, uma pequena criatura parecida com uma aranha se aproximou dele. Uma aranha que tinha ao menos 1 metro de comprimento. Mas apesar de parecer dócil, Mayck percebeu que seria devorado por aquela coisa antes que pudesse pensar.
Então ele saltou o mais alto que pôde, usando água em seus pés como propulsores.
Eles vão me matar! Não. Pode ser que eles façam algo mais terrível do que a morte. Eu posso sentir isso.
O terror não estava deixando o garoto pensar direito. Ele nunca havia imaginado que enfrentaria coisas como aquelas um dia e isso o deixou à beira da loucura.
O lugar, até então silencioso, foi tomado por sons sinistros, que poderiam acordar todos os sentimentos mais tenebrosos escondidos no coração humano e fazê-los cair no abismo de seus próprios temores e no profundo de seus horrores.
A mente do garoto virou uma bagunça. Ele estava quase cedendo aos seus instintos de sobrevivência ou desistindo de sua vida, até que um calor em seu coração o confortou, trazendo-o de volta a si.
Alana…
Quando percebeu que estava salvo, ele respirou fundo.
Não posso ficar aqui tremendo. Minha única chance de escapar é lutando. É pra isso que eu tenho esses poderes.
Com suas mãos ainda um pouco trêmulas, Mayck pegou a espada na bainha em suas costas e se preparou.
Pela primeira vez ele sentiu que não precisava se segurar ali.
“Podem vir. Se tudo que existe aqui nesse lugar são monstros, então eu vou destruir tudo.”
Mayck manejou sua espada e correu para cima das criaturas que estavam mais perto dele e as eliminou com um corte fortalecido por um raio. Ele não parou, e em seguida saltou para os maiores, que lançaram tentáculos negros sobre ele, dispostos a apagar sua existência.
O garoto então, usou a <Observação Elevada> e cortou todas as dezenas de tentáculos que vieram até ele como um breve feixe de luz.
Ele não iria se conter nenhum pouco, por isso disparou todas as suas habilidades ofensivas, na esperança de destruir todo o lugar rapidamente, supondo que essa era sua única maneira de voltar para seu mundo.
Quando chegou ao chão, a espessa nuvem de poeira havia bloqueado sua visão, mas ele disparou outra vez sem se importar e cortou as pernas da enorme criatura em formato de mão e faria o mesmo com todas as outras.
Os pequenos monstros foram sendo eliminados aos montes pelos <Canhões Elétricos>, os círculos azuis disparando lasers de várias direções consecutivas, algo que Mayck aprendeu a controlar com o tempo — se calculasse o tamanho e alcance, poderia lançar vários seguidos ou juntos, sem que eles perdessem seu poder destrutivo.
Mayck começou bem. No entanto, ele sabia que iria ficar desgastado em pouco tempo, dada a magnitude de seus ataques e a frequência com que os usava.
O solo, que era completamente plano há pouco tempo, já estava cheio de enormes crateras e pedregulhos jogados para todos os lados — parecia que centenas de meteoros caíam continuamente.
Assim não vai dar. Tem muitos deles aqui. Minha energia não vai durar até todos eles sumirem.
Além de ter que atacar várias vezes consecutivas, Mayck também precisava pensar rapidamente para desviar dos contra ataques das criaturas, que eram bastante diversificados e variavam de tentáculos a energias sombrias que o sufocavam só de chegar perto.
Isso fazia com ele gastasse mais energia que o normal.
Eu vou ter que apelar para outra coisa. Ele olhou para a cobra gigante, que apenas observava a luta toda, e saltou em direção a ela.
Ela não deve ser de enfeite. Aquelas palavras podem ter sido o sinal de ataque para os outros. Então ela deve ser a existência suprema daqui. Ela não vai ficar parada o tempo todo.
Mayck ergueu sua espada e a deslizou em direção a criatura, enviando uma lâmina de ar, que foi forte o suficiente para movê-la e causar uma enorme onda de choque que afetou os monstros na superfície; mesmo não tendo-a ferido.
Como ele havia pensado, uma luz branca surgiu na frente da boca da criatura e foi disparada em direção a ele, à uma velocidade que superou a luz. Mayck só foi capaz de desviar por causa de sua visão aprimorada, que o fez ver o ataque antes que fosse feito.
O raio branco atingiu o chão, causando uma destruição a nível nuclear, e como consequência, matou uma grande parte das criaturas que estavam no solo.
Mayck também foi afetado pela onda de choque e foi jogado para baixo, mas conseguiu se recompor naquilo que parecia ser o espaço.
Deu certo. Mas agora ficou mais perigoso. Mayck encarou as várias esferas brancas rodeando a serpente. Em seguida, as esferas foram jogadas contra ele. Dessa vez, porém, Mayck interviu com cinco <Canhões Elétricos> e as explodiu em pleno ar, causando uma onda de choque ainda maior que a primeira.
De volta ao chão, Mayck começou a correr, empunhando sua espada e cortando as criaturas magnificamente, imbuindo sua espada com eletricidade.
Outro laser poderoso foi disparado e Mayck fugiu dele. O laser o perseguiu por uma longa distância, dizimando tudo em seu caminho e facilitando o trabalho do garoto em matar as criaturas.
Vai dar certo. Se for só pra atacar de vez em quando e fugir, eu não vou gastar tanta energia.
Ele continuou com aquilo. Mas o número gigantesco de criaturas não parecia diminuir. Um momento de distração o fez ser atingido no rosto por uma garra extremamente afiada na ponta do dedo de uma criatura humanóide, cujos braços se arrastavam no chão, tentando carregar uma infinidade de dedos.
A máscara de Mayck se quebrou e o sangue escorreu por seu rosto. Virando-se para trás, ele posicionou a mão e disparou uma <Esfera de Eletricidade> em microssegundos, tostando a criatura por completo.
Ele já estava arfando. Não sabia quanto tempo já tinha se passado, mas já parecia uma eternidade. Ficar correndo de um lado para o outro sem descanso foi extremamente cansativo. O corpo dele mal conseguia acompanhar sua mente.
Isso precisa acabar logo. Se não eu não vou aguentar…
Outro laser foi disparado e ele teve sorte de se esquivar, mas ainda não saiu ileso. A explosão o arremessou e ele foi arrastado pelo chão se machucando consideravelmente.
Que droga!
As criaturas o cercaram e atacaram todas juntas. Elas não pareciam ter um coração para ter piedade e mesmo se tivessem, ele estaria tomado por ódio contra Mayck.
Eu não vou morrer aqui!
Mayck utilizou <Celeritas> e saiu de lá como se usasse teletransporte. No entanto, essa habilidade só o desgastou mais e ele só poderia utilizar mais duas habilidades ofensivas grandes.
Vou acabar com isso de uma vez. Não preciso matar todos eles aqui. Isso iria demorar muito mais e eu não iria aguentar. Então eu vou acabar só com o maior problema.
Era uma aposta. Se a criatura maior morresse, todo aquele lugar iria ruir. Isso supondo que ela o havia criado com seu poder.
Mayck se levantou e limpou o sangue de sua boca. Uma breve dor de cabeça o avisou que o <Moonlight Nightmare> seria desativado logo. Ou seja, ele precisava agir imediatamente.
Sem perder tempo, ele correu em direção aos monstros e saltou sobre eles, usando-os como apoio para subir o mais alto que pudesse sem usar seus poderes. Na verdade, até a altura da serpente bastava.
Ele conseguiu o que pretendia, mas a serpente já havia projetado outro laser, pronto para o disparo.
Dessa vez não!
Um <Canhão Elétrico> dez vezes maior do que os outros interviu e bloqueou o laser inimigo causando uma explosão imensa. Mayck o forçou até o limite, fazendo seu poder se sobressair ao da criatura e atingindo-o, finalmente.
A magnitude do poder foi tão grande, que o laser a arrastou para o outro lado do mundo e o destruiu por dentro, revelando a galáxia do lado de fora.
A criatura emitiu um ruído assustador que viajou pelo vácuo e foi o seu último suspiro de vida. Suas grossas escamas de metal foram pulverizadas assim como sua carne transformada em pó, que viajaria pelo espaço pela eternidade.
Mayck retornou ao solo e como imaginou, todas as criaturas começaram a se desfazer como um castelo de areia atacado pela água do mar. Aquele planeta desconhecido começou a desmoronar e seus destroços vagaram pela galáxia.
Parece que acabou, Mayck pensou, mas espera aí, onde é que eu tô?
O garoto olhou ao redor e viu as estrelas dentro de um breu infinito e só depois se deu conta da falta de oxigênio e se desesperou, mas nem conseguia se mexer. Ele estava entrando na atmosfera terrestre aos poucos e não sabia mais se iria sobreviver à queda.
Eu acho… que vou morrer mesmo…
Sua consciência se esvaiu e sua vista escureceu, enquanto continuou caindo pelo vácuo.
<—Da·Si—>
Depois de tudo, Diogo e Alexander escalaram para a superfície pelo mesmo lugar por onde Louis fugiu. Sua missão estava completa e os líderes da organização mortos, assim como os pesquisadores que tentaram resistir.
Diogo estava acabado. Suas roupas rasgadas e cheias de sangue mostravam seus sérios ferimentos adquiridos lá embaixo. Mas ele usou suas últimas forças para se agarrar às costas de Alexander que estava em condições melhores, mas não muito diferente.
“Droga é bom que aquele moleque me dê uma ótima remuneração por isso”, Alexander reclamou.
“Pensando em dinheiro neste momento? Você é um mercenário e tanto, hein… ai ai ai…”
“É melhor não falar muito. Se perder mais sangue, você não vai aguentar.”
“Tem razão. Mas nós fizemos um bom trabalho, certo? Será que eles já terminaram lá em cima?”
“Provavelmente sim. Não acho que os soldados resistiram tanto ao poder daquele imbecis.”
“Haha… convencido. Bom, eu também não acho que eles perderam… Foi mal… eu acho que vou dar uma cochilada aqui, só um pouquinho…”
“Ei, ei, se fizer isso não vai conseguir se segurar. Aguenta aí.”
“Eu vou me esforçar…”
Com Diogo quase caindo no sono em suas costas, Alexander se apressou em subir e conseguiu chegar lá depois de várias horas.
Quando alcançou a superfície, não conseguiu dar mais nenhum passo. Ele pôs Diogo no chão e caiu em seguida, extremamente exausto. Levou a mão ao bolso de seu terno, todo rasgado, e retirou um cigarro. Em seguida pegou um isqueiro e o acendeu.
Eu acho… que isso teria sido mais fácil se eu estivesse com os poderes dele.
A fumaça branca saindo de sua boca o ajudou a relaxar.
Essa foi uma luta intensa. Em toda a minha vida como mercenário, eu nunca me aventurei tanto. Espero que minha recompensa… seja ótima…
Alexander fechou os olhos e dormiu, derrubando o cigarro de sua boca. Ouviu alguns gritos ao longe, mas não despertou.
Ele acordou em um pulo com as várias vozes ao seu redor, como se uma imensa multidão o rodeasse. Se levantou e olhou e havia muitas pessoas utilizando uniformes específicos, que, depois de alguns segundos tentando se recompor, ele reconheceu: Strike Down.
O que… o que diabos eles estão fazendo aqui?! Sua cara de espanto ficou óbvia e ele estava prestes a fugir. Sendo um mercenário, ele era um criminoso aos olhos daquelas pessoas.
“Oh, finalmente acordou?”
Elias o chamou, se aproximando.
“O que tá rolando aqui? Onde tá o moleque?”
“Eu sei lá. Ele não voltou depois de lutar contra aquela coisa. Bom, eu duvido que ele tenha sobrevivido. E se ele tiver vivo, eu mesmo vou matá-lo.”
Elias cerrou seus punhos. Quando o dia estava amanhecendo, um grande número de aviões sobrevoaram a cidade e vários membros da Strike Down saíram deles e os cercaram. Ele, juntamente com os outros líderes pensaram em resistir, mas a presença de John, um dos principais líderes da organização, os fez mudar de ideia.
John estava ali para investigar o que havia acontecido com a sede do país e quando chegou, viu a base em ruínas. Lá dentro encontrou Alexander e Diogo jogados no chão ao lado de um enorme abismo e os levaram para fora.
“E Diogo? Ele ainda tá vivo?”
“… Sim, ele está. Mas tem ferimentos internos muito graves e não vai se recuperar em menos de seis meses.” Elias suspirou. “Eu me pergunto o que vocês enfrentaram lá embaixo.”
“É uma longa história. Mas eu não tô afim de contar pra você.” Alexander se levantou e pegou o chapéu de coco no chão. “Bom, eu tô vazando. Como tudo isso acabou, não acho que vamos nos ver de novo.”
“Vai ser assim mesmo? Seus machucados não são sérios?”
“Eu sou um mercenário. Coisas assim não são incomuns nesse ramo.”
“Hm… Tanto faz. Se eu não preciso mais olhar pra sua cara, é ótimo.”
Alexander deu um leve sorriso e se retirou, evitando ser visto pelos soldados da Strike Down que estavam vigiando a área. Ele se perguntava o que havia acontecido com Mayck.
Ele deve estar bem. Aquele moleque não iria morrer tão fácil. Mas o que é essa coisa que ele enfrentou? Será que é melhor reportar isso?
Perdido em seus pensamentos, ele sumiu de cena.
<—Da·Si—>
Enquanto estavam vasculhando os destroços da sede, os soldados encontraram alguns documentos, que faziam menção aos projetos da energia artificial em que eles estavam trabalhando.
Outro grupo que desceu pela cratera por onde o laboratório móvel havia fugido, encontrou os corpos de Louis, Abner e todo o time de pesquisa.
“Uwah… que merda é essa…”
“Parece que a batalha foi brutal. Não vamos nos preocupar muito. Eram traidores, afinal.”
“Certo. Vamos avisar o chefe.”
Os soldados se retiraram e informaram a John, que os mandou soterrar o local, assim como derrubar a sede.
Enquanto ele vagava entre os destroços, encontrou uma pequena caixa de madeira, fechada com um cadeado. Ele não tentou abri-la, mas a deixou em um canto para levar à base no Japão.
Com isso, ele averiguou mais uma vez e, quando voltou, a caixa não como antes, ela havia sido aberta e não tinha mais nada dentro — isso se uma vez teve.
John estranhou e olhou ao redor, porém não havia nada suspeito e logo um dos seus soldados veio falar com ele, tirando sua atenção da caixa
“Senhor, a senhorita Amélie entrou em contato. Ela espera por você.”
“Ah, sim, claro. Estou indo.” Com uma última olhada ao redor, ele deixou as ruínas, que foram derrubadas em seguida por um grupo utilizando habilidades.
John seguiu para uma cabine móvel, onde falaria com Amélie por meio de um computador e reportaria o que havia acontecido.
“Eu me surpreendi quando de repente você quis ir pro Brasil. Então, o que houve?
“Residentes adormecidos, grandes marcas de lutas e uma traição por baixo dos panos. Parece que minha intuição é bem sobrehumana.”
“Traição? Quer dizer que a sede 02 da América Latina estava escondendo algo?”
“Não só algo. Se eu não tivesse vindo, eles teriam conseguido uma arma perigosa para o mundo inteiro. Mas não se preocupe. Eu estou lidando com a situação. Quando eu voltar conto com mais detalhes.”
“Tudo bem. Estaremos esperando.”
John assentiu e a ligação foi encerrada. Em seguida ele suspirou, pensando em como explicaria toda aquela bagunça.
Me ligando tão repentinamente e fazendo eu correr até aqui… você é um moleque bem mais problemático do que eu pensei. Mayck Mizuki. Até o de ser que você vai?
John estava ciente de que aquela bagunça foi arquitetada pelo garoto. Ele basicamente havia ordenado que eles fossem até lá para limpar a bagunça que ele causou.
Fala sério…
John riu. Aquela foi a coisa mais ousada que ele presenciou nos últimos 15 anos.
Você puxou mesmo a sua mãe.
Após isso, ele seguiu para junto de seus homens, dando ordens para conduzir os soldados da sede para o avião que os levaria para uma prisão de segurança no Japão, destruindo todo o esquema dos quatro líderes, que desapareceram quando tiveram a chance.
Acima de um prédio, observando todo aquele desenrolar, Mayck analisou a fita K7 em sua mão, que pegou da caixinha de madeira.
Sobre ela havia um adesivo escrito ‘000THF’.
“Essa deve ser uma das que eles estão procurando. Bom, vou levar comigo então. Obrigado pela ajuda, John.”
Deixando essas palavras flutuarem no ar, Mayck saltou do prédio.
<— Tempo até o final da batalha: 00:00:00—>
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