Capítulo 72 — Deus Da Morte
O festival foi iniciado por volta do meio-dia, banhando as ruas do reino dos vampiros em uma atmosfera vibrante. Os moradores do reino se reuniram nas ruas para aproveitar a grande festa, e os guardas pareciam estar tendo dificuldades para controlar a multidão que se aglomerava em frente ao local onde o monarca Vlad faria seu discurso.
O discurso de Vlad foi revigorante de ouvir, fazendo-me perceber que, apesar de sua aparência imponente, ele era um verdadeiro rei, amado por seu povo. Os gritos e aplausos dos moradores se tornaram ensurdecedores quando ouviram meu nome mencionado em seu discurso. O anúncio oficial de Vlad marcou o início do grande festival, e as multidões logo se dispersaram para participar dos diversos eventos que aconteciam por toda a cidade principal.
Milhares de barracas com comidas de diversas partes do universo foram espalhadas em locais estratégicos, oferecendo iguarias gratuitas para aqueles que desejavam experimentar sabores de outros planetas. Ouvi Vlad mencionar que Ethan havia aprovado seu pedido e que alguns chefs renomados da facção humana foram enviados para recriar os pratos típicos do planeta.
Enquanto observava a realeza, Elara e Lethea sentadas ao lado de seu pai, dei uma olhada na minha própria aparência. Estava usando um vestido casual escolhido por Samael, e me sentia um tanto deslocado nesse tipo de roupa. Por outro lado, Eriel vestia uma roupa formal fornecida por Vlad para comemorar o dia especial.
“Você está se sentindo desconfortável?” perguntei a Eriel, que continuava a olhar para um ponto vazio.
Ela me lançou um olhar e deu um leve sorriso. “Um pouco… Não imaginei que ser você seria tão trabalhoso. Desculpe por pensar que você tinha privilégios”, disse ela com um suspiro. “Mas, quanto à roupa… está tudo bem?”
Respondi com um toque de ironia. “Não tenho problemas com isso. Na verdade, é bem confortável ter um ‘ar-condicionado’ nas partes inferiores.” Então, mudei de tom. “Mas estamos aqui para celebrar, certo?”
Eriel confirmou com um aceno, e nesse momento decidi me levantar da cadeira e caminhar na direção de Vlad. Me ajoelhei assim que me aproximei o suficiente.
“Monarca, peço permissão para transmitir uma mensagem de Azrael”, falei, mantendo-me no papel.
O rei sorriu, indicando que eu poderia continuar.
“A mensagem foi a seguinte: ‘Hoje é um dia de celebração, então por que estamos em um lugar tão monótono?'”
Minhas palavras pareceram surpreender o monarca. “E o que ele sugere?”, perguntou Vlad, visivelmente curioso.
“Ele deseja passear pelo festival e espera que seu desejo seja considerado.”
“Eu lhe concedo a permissão. Mais alguma coisa?”
“Sim. Eu levarei Elara e Lethea comigo para que possam se divertir um pouco e aproveitar o festival”, continuei, vendo os olhos das duas princesas brilharem com minhas palavras. “Visto que os guardas estão ocupados com os civis e a multidão é grande, imagino que os guardas não poderão escoltá-las.”
O rei dirigiu seu olhar para suas filhas e sorriu para elas. “Oh? O Azrael conseguiria proteger minhas filhas?”
Eu mantive meu olhar firme enquanto respondia. “Certamente. Apesar das aparências, ele é capaz de protegê-las.”
As palavras pareciam acalmar as preocupações do rei, que então olhou novamente para suas filhas e assentiu com aprovação. “Então, o Azrael tem minha permissão.”
Com a permissão do rei Vlad, eu me levantei do chão e olhei para Elara e Lethea. Um sorriso se formou em meus lábios enquanto me dirigia a elas.
“Princesas, que tal darmos um passeio pelo festival e aproveitarmos todos os eventos que estão acontecendo?”, sugeri com entusiasmo.
Os olhos de Elara e Lethea se iluminaram ainda mais, demonstrando sua empolgação com a ideia. Tethea também parecia estar abrindo um pequeno sorriso, o que era raro de se ver.
O rei Vlad observou a interação com um sorriso divertido. “Parece que você tem a aprovação das minhas filhas, Azrael. Que aproveitem o festival.”
Assenti com um sorriso de gratidão para Vlad e então olhei novamente para as princesas. “Ótimo! Então, vamos nos divertir e aproveitar tudo o que o festival tem para oferecer.”
Começamos a caminhar pelas ruas movimentadas do reino dos vampiros, imersos em uma atmosfera de alegria e celebração. As barracas de comida exalavam aromas tentadores, e os sons de músicas animadas e risadas enchiam o ar. A multidão era diversificada, com vampiros e outras criaturas sobrenaturais desfrutando do evento.
“Vamos começar pelas barracas de comida?”, sugeri, percebendo que o aroma delicioso estava atraindo nossos estômagos.
As princesas concordaram com entusiasmo, e logo estávamos explorando as diferentes opções culinárias de várias partes do universo. Experimentamos pratos exóticos e sabores únicos, compartilhando risadas e histórias enquanto desfrutávamos da refeição.
Enquanto caminhávamos, passamos por várias atrações do festival. Havia shows de malabarismo e acrobacias, competições de força e habilidade, dançarinos de diferentes mundos exibindo suas performances e muito mais. Cada canto que virávamos revelava algo novo e emocionante.
Elara, Lethea e Eriel pareciam estar se divertindo genuinamente, o que me enchia de alegria. Ver as princesas se permitindo relaxar e aproveitar o momento era um alívio, considerando as responsabilidades que elas carregavam como membros da realeza.
Senti um misto de satisfação e nostalgia.
“Isso me lembra dos festivais em meu próprio reino”, murmurei, mais para mim mesmo.
Lethea, olhou para mim com curiosidade. “Seu próprio reino… Você quer dizer o reino dos Demônios?”
Assenti. “Sim, costumávamos celebrar ocasiões especiais com festivais semelhantes. Parece que, independentemente do mundo, as pessoas sempre encontram uma maneira de celebrar a vida.”
Ela pareceu contemplar minhas palavras por um momento e então sorriu de volta. “Você está certo. É bom poder se afastar de todas as responsabilidades e apenas aproveitar momentos como este.”
Continuamos a assistir ao espetáculo que acontecia diante de nós, perdidos em nossos próprios pensamentos por um momento. Refletindo nas expressões extasiadas das pessoas ao nosso redor. Era um cenário mágico, quase etéreo, que contrastava com o peso das responsabilidades que carregávamos.
Foi então que meus olhos se voltaram para a área onde as comidas terrestres estavam sendo preparadas. A visão das iguarias familiares despertou um desejo súbito em mim. Aproximei-me dos chefes responsáveis, sussurrando algumas palavras em seus ouvidos. Eles pareciam surpresos, mas após um gesto de confirmação, comecei a escrever ingredientes em um pedaço de papel e entreguei-o ao encarregado das refeições.
Com um pouco de persuasão, aproveitando minha identidade como “Eriel”, consegui persuadir os chefes a permitir que eu usasse seu espaço de preparação. Enquanto organizava os ingredientes e utensílios, percebi que Lethea, Elara e até mesmo Eriel haviam se aproximado, observando-me com curiosidade enquanto eu me movia pelo espaço.
A preparação da refeição começou, e com a ajuda de um dos assistentes da cozinha, comecei a executar as etapas com confiança. Aromas deliciosos começaram a se espalhar pelo ambiente, atraindo uma multidão crescente de curiosos que se perguntavam o que estava acontecendo. As técnicas e os toques únicos que eu estava aplicando pareciam despertar a curiosidade até mesmo dos chefes experientes.
À medida que o tempo passava, e após um intenso esforço, finalizei algumas porções da refeição. Agradeci aos chefes por sua cooperação e por me permitirem usar a cozinha, deixando o restante da comida para ser compartilhada entre eles e a multidão que se aproximava. Sugerindo um local mais calmo, nos dirigimos a uma área arborizada do festival, onde encontramos um lugar para nos sentarmos sob a sombra de uma das árvores majestosas.
Entreguei a comida para as garotas e a mim mesmo, enquanto guardava o restante em um espaço dimensional nos brincos em forma de ampulheta. Ao provar minha porção, senti uma mistura de satisfação e autocrítica. Embora não estivesse perfeito aos meus olhos, o olhar de surpresa e admiração nas faces das garotas me trouxe um sentimento de realização.
Elara, sempre direta em suas palavras, não hesitou em expressar sua surpresa. “Que porra é essa?”
Eu ri, prestes a oferecer uma explicação, mas Lethea interveio com emoção. “Não ficou perfeito? Como é possível?”
Elara complementou, reforçando o impacto da refeição. “Nem mesmo o cozinheiro mais renomado do palácio conseguiria recriar esse sabor.”
Eriel, por sua vez, parecia estar saboreando a comida com uma expressão surpreendentemente feliz. “Certamente está delicioso.”
Eu me senti humilde diante de seus elogios. “Fico feliz que tenham gostado. Acredite ou não, não e sempre que consigo cozinhar algo que agrade ao paladar…”
O momento se desenrolou em meio a risadas, histórias e degustações. Sob a magia do festival, compartilhamos uma conexão única. Era uma pausa tão necessária das nossas responsabilidades e desafios.
Conforme o tempo passava, as conversas se tornavam mais tranquilas, e nós nos permitíamos desfrutar da serenidade do momento, criando uma atmosfera mágica e acolhedora.
Entretanto, a atmosfera festiva foi interrompida abruptamente por uma série de explosões ressoando por toda a capital. Os estrondos eram potentes e desconcertantes, cada um ecoando em diferentes áreas da cidade. Nossos olhares se voltaram para os céus, onde os fogos de artifício já não pareciam uma explicação plausível para tamanha força destrutiva.
“Fogos de artifício?”, Eriel comentou, surpresa.
“Impossível”, respondi, minha intuição alertando-me de que algo sombrio estava acontecendo.
As explosões continuaram, cada uma mais poderosa do que a anterior. Algumas delas pareciam estar muito próximas, provocando um arrepio de apreensão em minha espinha. Meus olhos atentos captaram algo sinistro se movendo a uma velocidade alarmante. Uma figura sombria emergiu de entre as sombras, observando-nos do céu.
Minha visão focou-se naquele ser macabro. Ele emanava uma aura de escuridão que parecia viva, serpenteando ao seu redor como uma entidade própria. Seu corpo era esguio e envolto por vestes tão negras quanto a própria noite, absorvendo a luz ao seu redor como se fosse devorada por um abismo.
O que me perturbou profundamente foi seu rosto. Uma máscara grotesca em forma de caveira encobria sua face, evocando a própria imagem da morte personificada. Seus olhos, vazios e sombrios, pareciam refletir uma escuridão que transcendia a compreensão humana. Eram olhos que carregavam o peso de inúmeras almas perdidas, fixados intensamente em Eriel. Um olhar gélido que sugeria uma existência que ultrapassava os limites do reino mortal.
Sua aparência era estática, como se houvesse esquecido o que era sorrir. A máscara, rachada e envelhecida, contava uma história de séculos de tormento. Uma linha sinistra marcava o contorno da boca vazia da caveira, evocando um sorriso cruel que parecia ecoar através das eras.
O ar à sua volta parecia congelar, enquanto um cheiro pútrido e pesado se espalhava. Minhas pernas tremeram involuntariamente, um arrepio percorrendo minha espinha enquanto aqueles olhos vazios e aterradores permaneciam fixos em Eriel.
“Grande Rei Demônio. Foi-me concedido o direito de levar-te ao mundo dos mortos.”
Olhei para Eriel em pânico, percebendo que estávamos diante da Primeira Geração, um Deus da Morte cujas intenções pareciam tudo, menos amigáveis.
Eriel estava no chão, aparentemente sem forças para se mover. “Azrael, não consigo me mexer”, ela disse com olhos desesperados.
Toda a energia parecia ter abandonado seu corpo.
{Levi, você pode me ajudar?}, perguntei mentalmente.
“Claro”, respondeu Leviatã enquanto emergia de minha sombra. No entanto, seu olhar de surpresa ao cair no chão, assim como Eriel, causou-me preocupação.
Seu olhar me direcionou de maneira estranha enquanto ela tentava se erguer, como se seu corpo pesasse toneladas.
“É impossível resistir”, declarou o Deus da Morte, retirando um pequeno cristal vermelho de suas vestes. “Esse pequeno objeto foi criado para conter o Rei Demônio Azrael.”
O cristal irradiava uma magia sinistra, criado para me conter, mas de alguma forma afetava Leviatã também.
“A ordem que recebi foi levar a Princesa Elara e o sangue do Rei Demônio, e vou cumprir meu objetivo”, disse o Deus da Morte, descendo até o solo.
“Quem lhe deu essa ordem?”, perguntei desesperado.
“O líder atual da Aliança.”
Foi quando finalmente compreendi que a Aliança havia preparado uma panela para me deter. As explosões continuaram ecoando por toda a cidade, o que me fez perceber que estava diante de um grande ataque planejado meticulosamente para este dia. A sensação de cerco apertou, deixando-me com uma sensação sufocante.
Não havia escapatória visível. Normalmente, em uma situação como essa, Samael e Jofiel apareceriam devido a minha situação, ou mesmo Vlad, mobilizando seus guardas. Mas nada disso ocorreu. O silêncio pairava, como se estivéssemos abandonados.
“Você cuidou dos aliados?”, perguntou, tentando entender a extensão do ataque.
“Certamente. O rei dos vampiros está ocupado com meus aliados, enquanto alguns membros foram enviados para lidar com Samael.”
Parecia que tudo estava meticulosamente preparado, e estavam enredados em uma teia traiçoeira. Mesmo comigo no controle do corpo, a fraqueza de Eriel limitava minha capacidade de ação. A sensação de impotência era avassaladora.
“Não vou permitir que a leve”, declarei, tentando enfrentar o Deus da Morte. Mas suas palavras passaram indiferentes, como se minhas ameaças fossem inaudíveis.
“Como uma humana espera deter-me? Vou lhe dar uma chance para pensar em algo. Tem um minuto antes que meu ataque comece.”
Meus olhos buscavam freneticamente por uma saída, por um plano de ação. Contudo, mesmo meu contato com Zoe não produziria respostas promissórias. A ideia de uma luta direta também foi rapidamente descartada, visto que meu corpo não teria a resistência necessária.
Até que algo estalou em minha mente. Uma faísca de esperança.
{Zoe, se eu tiver mais poder? Quanto tempo até meu corpo ceder?}
{… Vinte minutos, usando todos os recursos.}
Um sorriso fugaz traçou meus lábios enquanto o plano começava a se desenrolar em minha mente.
{É extremamente perigoso, Azrael!}, alertou Zoe.
Porém, não havia tempo para hesitar. Se eu não usasse todos os meios disponíveis, perderíamos irremediavelmente.
“Parece que encontrei uma forma, Deus da Morte”, disse, avançando na direção de Eriel, que estava prostrada no chão. “Lamento por isso.”
Em um movimento rápido e preciso, cortei meu próprio pulso e permiti que o sangue escorresse, pingando no chão. Então, coloquei o pulso de Eriel em minha boca, ingerindo seu sangue. A energia vital percorreu meu corpo, junto com sua mana, expandindo meu poder.
“Elara”, gritei, minha intenção clara. Sem hesitar, ela cortou seu próprio braço, e também consumindo o sangue que fluía, alimentando-me de sua energia.
Afastei-me das duas, enquanto eu canalizava todo o poder que tinha em meu corpo.
{Forma Dracônica}
A explosão de poder interior foi monumental, liberando a aura dracônica que mantivera escondida por anos. A sensação era intensa, meu corpo vibrando com a energia voraz.
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