Capítulo 03 -“Fos apud Elpizo… ou só Fos.”
1
Ayasaka, esgotada após um sincero desabafo sobre sua vida, entregando uma bela dança a um instrumento de outro mundo, encontrou-se deitada sobre pastos azuis de textura dócil. O ambiente exalava o aroma de grama recém-cortada.
Com as pálpebras cansadas, ela lutou para abrir os olhos delicadamente, encontrando sua visão turva e sentindo-se um pouco desnorteada. Ela tentou recuperar sua coordenação, mas, após várias tentativas agoniantes de mexer seu corpo, acabou adormecendo devido ao esgotamento físico.
2
Brisas leves acariciaram seu rosto, bagunçando sua franja que cobria sua sobrancelha esquerda e parte de seus olhos. Sua pele refletiu os fracos raios de sol que pareciam envolver o rosto de Ayasaka com uma camada de proteção dourada. Era um fim de tarde deslumbrante, com reflexos alaranjados misturados com um purpura fracamente brilhante.
“Me sinto um pouco melhor”, pensou Ayasaka com os olhos abertos, observando nuvens de cores próximas de um amarelo claro. Criaturas de grande porte voavam acima delas, suas asas curvas e alongadas ditavam um ritmo lento e calmo de voo, uma cena que transmitia paz.
“Então eu realmente vim parar aqui… em carne e osso?”
Ela permaneceu deitada ali, com os braços abertos, sentindo a grama gelada graças ao orvalho que a cobria como uma fina manta protetora. Seus olhos analisavam o lugar como se quisessem ficar ali para sempre, absorvendo os detalhes daquela nova dimensão por tempo indeterminado, como se nada mais importasse.
Após algum tempo, Ayasaka recobrou sua vontade de se mover e mudou de posição de forma brusca. Ela ficou sentada no chão úmido coberto de orvalho.
“A mesma roupa”, concluiu ela ao olhar para seu manto vermelho escuro de detalhes pretos. Suas coxas estavam arrepiadas devido à brisa quase crepuscular da planície.
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Ayasaka levantou-se e bateu suas mãos em sua cintura para remover qualquer grão de terra que pudesse ter ficado em suas vestes. Ela olhou ao redor e avistou um violão, o mesmo que a havia ajudado recentemente em seu desabafo melódico em seu quarto. Estranhando sua aparência, ela se aproximou lentamente, observando-o intrigada.
O instrumento repousava sobre as gramas de cores exóticas, banhado pelas mesmas luzes que haviam envolvido seu rosto. Tinha um braço alongado e estreito, completado por um corpo abaulado e oval, com uma boca estreita circundada por uma cor predominantemente clara. Detalhes dourados reluzentes adornavam o instrumento, lembrando formas abstratas arredondadas. O restante do corpo seguia uma cor roxa, com uma leve mudança de tom, tornando-se opaco e escasso em reflexos.
— Tenho certeza de que é você! — exclamou Ayasaka, aumentando o ritmo de seus movimentos, agarrando o braço do violão bruscamente. Agora com o instrumento em suas mãos, Ayasaka notou algo realmente fora do padrão. As cordas eram translúcidas, mas não como cordas de Nylon; ao tocar as cordas, ela sentiu um frio intenso, semelhante ao toque de cordas de aço.
Com uma expressão de surpresa, Ayasaka colocou o violão sobre o ombro direito, encaixando-o delicadamente sob seu manto vermelho. Uma corda rústica prendia o instrumento, facilitando seu manuseio.
Confortavelmente acomodada com seu novo fardo, Ayasaka caminhou até uma pequena poça de água à sua esquerda e se agachou para observar seu reflexo nas águas incrivelmente cristalinas da poça, onde seu rosto era levemente distorcido pelas ondulações da água.
O clima ameno deixou suas bochechas levemente coradas, e enquanto ela analisava suas feições com calma observando seu reflexo em uma poça d’agua cristalina que estava próxima, percebeu uma mudança notável em suas características; seus olhos, sempre considerados grandes e reveladores de seus sentimentos, apresentavam agora uma transformação intrigante.
Seu olhar, refletido na água iluminada pelo tênue sol do entardecer, revelava uma mescla de cores em constante metamorfose. Começava com um amarelo vibrante na parte inferior da íris, que se transformava em um verde-água no meio e culminava em um azul na parte superior. As três cores se fundiam de forma sutil e natural, tornando seu olhar ainda mais cativante.
Empolgada com a descoberta, Ayasaka endireitou-se. No entanto, o chão começou a tremer, e seus cabelos assumiram um novo visual desgrenhado. Fortes rajadas de vento cortante a atingiram, penetrando seu manto espesso e fazendo-a tremer de frio. Assustada por um breve momento, ao olhar para cima, na direção das rajadas de vento, lembrou do que já havia presenciado na última vez em que esteve naquele mundo.
Enquanto seus cabelos voavam descontroladamente e suas pernas tremiam com as rajadas de vento, Ayasaka tentava manter a calma e a compostura, seus olhos multifacetados capturando a beleza e o caos ao seu redor.
Ayasaka ficou diante de um majestoso dragão de cor azul-esverdeada, suas asas moviam-se lentamente para mantê-lo pairando no ar, pousando de forma imponente com seu corpo repleto de cicatrizes que testemunhavam confrontos passados. Suas escamas refletiam o sol de maneira semelhante a uma sofisticada armadura medieval.
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O dragão pousou em frente a Ayasaka de maneira surpreendentemente elegante, levando em conta seu tamanho e peso. Sua aterrissagem parecia leve, quase graciosa, como se carregasse o peso de Ayasaka com facilidade.
Ele aproximou seu focinho do rosto da garota, que estava paralisada novamente, mas dessa vez não existia tanto medo quanto do último encontro. Ayasaka observou os detalhes do focinho do dragão e notou a condensação da água em seu nariz que se formava enquanto ele respirava. Inesperadamente, o dragão bufou, fazendo seus cabelos esvoaçarem, e retornou à sua forma normal quando o vento os acalmou.
Ayasaka balançou-se depois de alguns instantes sem reação. Um frio percorreu sua espinha, fazendo-a tremer como um cachorro pequeno. Ela bufou de volta automaticamente, em uma reação involuntária à ação do dragão.
Por um breve momento, o silêncio pairou entre os dois, enquanto se encaravam. Ayasaka sentiu sua visão ficar mais nítida e aguçada, e ela percebeu o olhar penetrante do dragão com sobrancelhas levemente franzidas e olhos amarelos semelhantes aos de um gato. O dragão, por sua vez, notou a transmutação da cor dos olhos de Ayasaka, que agora exibia um amarelo predominante.
O rosto do dragão, marcado por cicatrizes ao redor dos olhos e focinho, deixou de parecer ameaçador para Ayasaka, tornando-se mais curioso. No entanto, ela se assustou ao ouvir uma risada grave que parecia se infiltrar em seus pensamentos.
O dragão à sua frente mudou sua postura, e Ayasaka ouviu uma voz em sua mente:
“Concentre-se.” A voz parecia abafada por algum tipo de líquido.
A garota tentou ignorar o fato de ter um dragão de contos medievais ocidentais diante dela e começou a controlar sua respiração e batimentos cardíacos, observando os detalhes no rosto imponente do dragão, enquanto suas respirações se sincronizavam.
“Eu sou Fos apud Elpizo, o lendário dragão guardião da descendente da família celestial, e estou aqui para escoltá-la, garota da profecia. Por favor, suba em minhas costas, que a levarei para um local seguro enquanto ainda há luz Solus”, disse o dragão, recolhendo suas asas em um gesto gracioso semelhante a uma reverência em direção a Ayasaka.
Ela o observou com um olhar de incredulidade e pensou:
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“De novo com essa história de garota da profecia… Pelo menos agora sei de quem é aquela voz misteriosa. E com ‘Solus’, ele se referiu ao sol?” Ayasaka murmurou suas dúvidas em voz alta, gesticulando com as mãos enquanto escondia seu nervosismo atrás das costas.
— Meu nome é Mio Ayasaka. Sou uma colegial de Tóquio, no país chamado Japão. Tenho dezesseis anos e, sinceramente, não sei absolutamente nada sobre ser a garota de alguma profecia. A única coisa que sei é que consegui abrir uma espécie de portal para este mundo com este instrumento aqui — disse a garota, gesticulando enquanto puxava o violão pelo braço, colocando-o sobre seus ombros e mostrando-o ao dragão.
— Este é todo o meu conhecimento sobre a situação atual. Sinto muito se não servir de muita ajuda, mas aceitei vir a este mundo porque senti a necessidade de ajudar, um sentimento que não consigo explicar, mas que me fez sentir a responsabilidade de lutar por uma causa da qual nem conheço o motivo — completou a garota, mantendo uma postura firme e corajosa, mesmo com tantas incertezas.
O dragão observou o instrumento nas mãos de Ayasaka, as cordas refletiam um azul vibrante à medida que ele se aproximava, chamando a atenção dela.
“É uma honra estar na presença de uma ilustre entidade, Kazewokiru”, disse o dragão na mente de Ayasaka, inclinando a cabeça em sinal de respeito.
O instrumento continuou a brilhar de forma constante nas mãos de Ayasaka, o que a deixou intrigada. Depois de colocar o instrumento nas costas, ela perguntou:
— Você me deve muitas explicações Fos, mas enfim. Está ficando bem escuro. Para onde iremos? — A garota olhou ao redor, onde a luz do luar começava a banhar a vasta planície, tingindo tudo de azul.
“Ao sudeste, a um vilarejo comandado pela resistência chamado Kratkar. Lá você encontrará algumas respostas para suas perguntas”, respondeu o dragão.
— Seu nome é muito complicado para uma pessoa humilde como eu — protestou Ayasaka com sarcasmo, enquanto colocava a mão no queixo em pose pensativa. Em seguida, levantou a mão como se tivesse uma solução e completou — Vou te chamar de Fos! soa menos assustador — terminou com um olhar travesso.
Fos, o apelido escolhido por Ayasaka, puxou o ar perto do rosto dela, fazendo seus cabelos seguir a corrente de ar e, em seguida, bufou, deixando-os bagunçados novamente.
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— Aaarghh… exijo respeito — disse Ayasaka, fazendo bico enquanto olhava de lado para o dragão, e logo arrumando sua franja com as mãos.
O enorme dragão encolheu-se e colocou a cabeça na grama gelada, pois a noite já havia caído.
“Suba”, disse Fos.
Ayasaka aproximou-se lentamente da lateral do dragão, subindo em suas costas pela asa esquerda com alguma dificuldade. As escamas estavam incrivelmente macias naquele momento, parecendo tão sedosas quanto o pelo de um cavalo de competição japonês. Cada escama era uma maravilha da natureza, perfeitamente polida e de um brilho iridescente. Elas a faziam lembrar do esplendor das pérolas do Mar do Japão.
Ela se acomodou entre o pescoço e o início do torso do dragão, acariciando as escamas da altura do pescoço com a mão. Sentia a textura impecável que se assemelhava à seda luxuosa de um kimono imperial. A beleza e suavidade das escamas eram impressionantes, cativando Ayasaka com a perfeição da criação diante de seus olhos.
Aproveitando o momento, Ayasaka deslumbrou-se com a visão fantasiosa à sua frente. Firmou seus pés descalços e ligeiramente molhados da terra fria nas laterais do dragão. Suas mãos seguraram firmemente o local onde tinha acariciado, sentindo o calor vindo do corpo poderoso do dragão, que irradiava uma sensação reconfortante e protetora.
Fos considerou que Ayasaka estava pronta. Com um bater pesado e majestoso de suas asas, esticou-as apontando-as para o céu, depois as rebateu de forma brusca e veloz. Isso criou uma corrente de ar que fez a grama sob eles convulsionar em direções descontroladas devido à pressão.
O dragão levantou-se do chão, e Ayasaka, com as bordas de seu manto tremulando descontroladamente, soltou um grito de emoção ao vê-lo cada vez mais alto com ela sobre suas costas. Ela arrumou o cabelo com uma mão, enquanto segurava firmemente Fos com os braços e pernas, experimentando a sensação de voar em um mundo completamente novo.
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