Índice de Capítulo

    1

    — Mestre… Acorde.

    Ayasaka levantou-se da cama, assustada após o sonho aterrorizante daquela noite.

    — Bom… bom dia, Tuphi… — respondeu Ayasaka a Tuphi, que estava com as mãos na sua cama, olhando-a.

    Tuphi deu um leve sorriso meigo, fechando os olhos em resposta ao “bom dia” de sua mestra.

    — Hoje, a sua professora vai dar a melhor aula que você poderia imaginar sobre o alfabetus. Já estou com todo o material pronto. Avise-me quando estiver pronta. Esperarei lá embaixo — Tuphi apontou para a pilha de livros ao lado da cama de Ayasaka.

    — Tudo bem… me dê um tempo para me arrumar, okay?

    Tuphi acenou com a cabeça em sinal de concordância enquanto observava Ayasaka se espreguiçar e lentamente levantar da cama.

    — Bom dia para você também. — Ayasaka disse quando seu olhar sem querer encontrou o Kazewokiru.

    — Vamos tomar café da manhã quando você estiver pronta. Aguardarei, mestre — Tuphi fez uma reverência e se retirou do quarto com cuidado.

    Ayasaka observou Tuphi desaparecer no horizonte visível, onde, bem no fundo, os exóticos raios solares da manhã daquele mundo distorciam o imenso corredor, deixando tudo branco ao alcance de sua visão.

    “Quem era naquele sonho? Todas aquelas pessoas… elas estavam sofrendo. Terrível…”

    A garota, em uma tentativa ríspida de cortar o fluxo de pensamentos que a amedrontava, dirigiu-se ao banheiro com a intenção de lavar o rosto e se preparar para encontrar a menina lobo para o café da manhã, pois Ayasaka já estava ficando com fome.

    — Bom dia, prometida. Dormiu bem?

    Beatrice perguntou a Ayasaka sobre sua noite de sono, como costumava fazer todas as manhãs ao vê-la.

    — …é, até que sim — disse Ayasaka, com um olhar desconfortável.

    Beatrice se aproximou lentamente da garota, que permaneceu imóvel, observando sua atitude. A bela mulher aproximou a boca da orelha esquerda de Ayasaka e sussurrou delicadamente com um toque de sadismo em sua voz:

    — Está sendo difícil, não está? Bom… vamos comer?

    A garota imediatamente arregalou os olhos, sua mente em branco, sem saber como responder à provocação de Beatrice. Antes que pudesse formular uma resposta, Beatrice se afastou com um sorriso atroz e seguiu em direção à cozinha, sem se importar com qualquer explicação que Ayasaka pudesse dar naquele momento.

    “O que foi isso?” Ayasaka pensou enquanto seguia Beatrice até a cozinha.

    A mesa estava repleta de frutas coloridas, e Tuphi estava sentada à mesa, sorrindo e abanando sua cauda de lobo quando as duas entraram na sala.

    — Sirva-se

    Ayasaka assentiu com a cabeça para Beatrice, que se sentou no extremo da mesa, observando as duas garotas de longe. Ayasaka então se sentou de frente para Tuphi.

    Com timidez, Ayasaka examinou a mesa rapidamente e pegou sua comida favorita até o momento: Rango Caramelizada.

    — Hoje vou te introduzir ao nosso alfabetus. Temos três deles, mas explicarei com mais detalhes após a nossa refeição. Até o final da semana, você deve ser capaz de ao menos ler contos infantis e placas de referência, mestre!

    Ayasaka tentando manter a seriedade, colocou a mão na boca antes de dar uma gargalhada fofa enquanto olhava para Tuphi.

    — Mas ué…?

    — Tuphi, de onde você tirou esses óculos? — Ayasaka não conseguiu conter o riso.

    — Achei que eu ficaria mais respeitável assim. — Tuphi cruzou os braços, e sua explicação foi tão inocente que fez Beatrice rir também.

    — Poxa, esses óculos nem têm lentes. — Ayasaka pegou os óculos do rosto de Tuphi, rindo.

    Ayasaka olhou para Beatrice com os óculos no rosto e fez uma careta, apontando o dedo indicador da mão esquerda para cima e mostrando os dentes, forçando uma expressão de “nerd”.

    — Eu pareço mais inteligente, Beatrice?

    — Definitivamente. — Beatrice riu, colocando as mãos na barriga.

    — Ei, parem de me zoar! Estou em horário de trabalho como professora! — Tuphi protestou de brincadeira.

    Após o clima brincalhão se cessar, Tuphi colocou alguns materiais de estudo sobre a mesa, junto do café da manhã rico que elas estavam saboreando.

    “Parece fácil,” Ayasaka pensou, notando certas semelhanças com a língua japonesa, enquanto olhava para Tuphi, que estava com um prato farto de verduras enquanto terminava sua explicação.

    — Tuphi…

    — Sim?

    Ayasaka desviou o olhar, observando os materiais em cima da mesa.

    — Obrigada pelo esforço de me ensinar. Eu vou me esforçar… Prometo, tá?

    — Nada mais que a minha obrigação, mestre, não se preocupe! — Tuphi com os óculos, imitou a pose que Ayasaka fez instantes atrás, fazendo todas caírem em gargalhadas novamente.

    Beatrice, que observava a conversa das duas garotas em silêncio, manteve-se calada até o fim da refeição. Depois disso, as duas garotas pediram licença e se retiraram em direção a um cômodo semelhante a uma sala de escrita no segundo andar.

    — Aqui. Estes são os símbolos do nosso primeiro alfabetus, o Dinji. Vamos começar com a versão simplificada, para você ter, pelo menos, uma base inicial — Tuphi colocou sobre a mesa onde Ayasaka estava sentada um papel de aparência antiga, semelhante a um tipo de papiro, com quatro símbolos escritos nele, enquanto o resto da folha se encontrava em branco.

    Claro, aqui está uma versão com exemplos adicionados ao diálogo para melhorar o entendimento:

    — Esses quatro símbolos base formam outros doze símbolos derivados dos quatro originários. Assim é feito o primeiro alfabetus, o Dinji. Por exemplo, a primeira letra “D” pode ser modificada para criar “B”, “G” e “P”. Com esses símbolos, construímos frases simples e de fácil entendimento. Imagine que queremos escrever “casa”. Usaríamos os símbolos “C-A-S-A”, cada um formado a partir dos quatro símbolos originais. É o que as crianças aprendem primeiro. No entanto, para algo mais elaborado, como um encantamento, precisaremos, no mínimo, do segundo alfabeto, o Jiuuchi.

    (Os símbolos reais que Tuphi comenta na verdade não são letras romanizadas, escrevi dessa maneira para facilitar o entendimento lírico do “Alfabetus.” 😊 )

    Ayasaka observava atentamente os símbolos escritos no papel, vendo como eles se transformavam para criar diferentes letras. Eles tinham formatos arredondados, parecendo desenhos de raízes de algum tipo de árvore, que se entrelaçavam de maneira simétrica e satisfatória.

    — Não é tão simples como eu imaginava… Mas acho que estou entendendo.

    Tuphi sorriu, satisfeita com a compreensão de Ayasaka.

    — Exatamente! Por hoje, sua tarefa será escrever essas letras até memorizá-las. Pelo menos com as quatro letras iniciais, conseguimos formar sílabas e palavras simples, como “casa” ou “direções”. Isso será um ótimo começo — completou Tuphi, seguindo com a explicação da pronúncia de cada letra a Ayasaka, que observava a garota gesticular de maneira interessada.

    2

    Metade da manhã já havia se passado, e a fauna nativa de Ataraxia ecoava por todas as janelas da imensa casa, que era invadida pelos raios solares de cores exóticas, criando um espetáculo visual deslumbrante.

    Ayasaka, por sua vez, tentava ao máximo não demonstrar seu cansaço na frente de Tuphi, o mesmo cansaço resultante da drástica mudança em sua rotina, passando de caminhadas pelo vilarejo a longas sessões de escrita ininterrupta.

    — … — Um som abafado surgiu por trás de Ayasaka.

    Ela tentou identificar a origem do barulho que vinha das suas costas, enquanto mantinha seu olhar fixo no papel à sua frente. Uma sensação de que estava sendo observada e minuciosamente analisada por Tuphi a fazia hesitar em virar-se.

    —… …

    A garota estava determinada a resistir à tentação de olhar para trás, mas sua paciência logo se esgotou, e ela se virou bruscamente na direção do som. O que Ayasaka viu a surpreendeu:

    Tuphi estava deitada de lado em uma poltrona vermelha escura de aparência antiga, com as pernas entrelaçadas sobre o braço esquerdo do móvel, enquanto o restante de seu corpo ocupava o lado oposto da poltrona, com o braço pendurado até o chão.

    Ela quase caía da poltrona, e sua cabeça repousava sobre o braço do móvel, que estava manchado por sua própria saliva. Tuphi tinha adormecido há duas horas, quando Ayasaka começara a escrever, e agora roncava sonoramente.

    Indecisa sobre acordar a menina lobo que dormia desengonçada, Ayasaka decidiu levantar e se aproximou da garota. Ela ficou de frente para a poltrona, observando Tuphi em seu sono.

    — Agora, além de ser um cachorro idiota, ela também é dorminhoca. Só faltava isso para completar a imagem de idol que ela tenta projetar de si mesma — Ayasaka murmurou em negação.

    — Tuphi… — Ayasaka disse em um tom calmo e tímido, tentando sacudir a garota para acordá-la. No entanto, a cada respiração de Tuphi, os roncos tornavam-se mais altos.

    — Cinco… minu…tos…

    Ayasaka se perguntou o que fazer naquela situação. Como se acorda uma “cachorra” gigante? Seu olhar vagou pelo corpo de Tuphi até parar na macia cauda de pelos cinzentos da garota, que se enrolava ao redor de sua cintura, criando uma espécie de cobertor.

    Com um sorriso travesso, Ayasaka moveu lentamente suas mãos em direção à cauda de Tuphi, aproveitando a oportunidade.

    — Parece um Husky… É tão quentinha e aconchegante… — ela sussurrou, demonstrando um grande contentamento.

    — Heeeh?!

    A menina lobo ficou tão vermelha quanto a poltrona em que estava sentada ao abrir os olhos e ver Ayasaka abraçando sua cauda com expressões de extrema satisfação, acompanhadas de sons ininteligíveis.

    — E… e… eu posso explicar! Você estava dormindo, e eu vim tentar te acordar, e aí te vi deitada, e eu estava procurando uma maneira de te acordar, e… — Ayasaka tentou desesperadamente encontrar justificativas para a situação, articulando palavras rapidamente sem qualquer coerência, e seu rosto ficou mais vermelho a cada palavra, mesmo que continuasse segurando a cauda de Tuphi.

    Tuphi observava a garota tentando se desculpar desesperadamente, ainda agarrada a sua cauda, extremamente corada e constrangida. Então, teve uma ideia.

    Tuphi soltou uma leve risada para aliviar a tensão e fez uma expressão vaidosa olhando para Ayasaka.

    — Está tudo bem. Dessa vez, vou te conceder a honra de tocar em meus pelos de sangue puro.

    Ayasaka ficou surpresa.

    — Espere um pouco. Pelos de sangue puro?

    Tuphi pareceu relutante, mas levantou-se da poltrona, bateu levemente nas coxas e fez uma reverência com uma leve curvatura, segurando a barra de sua saia. Ela fechou os olhos e abaixou a cabeça em direção a Ayasaka com uma postura extremamente elegante, como se fosse uma nobre de primeira família de uma realeza, o que não era algo que se esperaria de Tuphi.

    — Princesa Altaris Tuphi, sangue legítimo de quinta geração da família real de Libidine, a capital do lendário reino dos Lobians, o principal centro de comércio do antigo domínio de Ataraxia!

    A surpresa de Ayasaka foi tão grande que ela se jogou no chão fingindo um desmaio perto da poltrona onde Tuphi estava de pé, com uma expressão atônita no rosto.

    — Como assim negão? Você é uma… princesa?! Real ou Barcelona?!

    Tuphi, sem entender a reação da garota, ficou olhando-a sentada no chão, parecendo atordoada.

    — Sim… Os únicos Lobians que têm pelo cinza são os Lobians de sangue legítimo, ou seja, membros da família real. Quem não tem alguma ligação com a elite geralmente tem pelos alaranjados ou amêndoa.

    Ayasaka sorriu ao notar as grandes semelhanças entre a raça de Tuphi e as Kitsunes: as raposas divinas do folclore japonês.

    — E por que você não está em Libidine?

    Tuphi caminhou em direção à porta do cômodo em silêncio e permaneceu ali por alguns momentos, de costas para Ayasaka.

    — A personificação do mal aniquilou e devastou o reino por completo, tipo… famílias foram dizimadas sabe? Sangue escorreu pelas calçadas. Eu ainda era uma criança naquela época, então não lembro de muita coisa. A única coisa que recordo de maneira clara é estar cercada por cavaleiros reais indo em direção ao portão norte do castelo, através de uma saída subterrânea, enquanto tudo ao nosso redor estava em chamas…

    — E seus pais?

    — Eles permaneceram em Libidine até o fim. A última vez que os vi, estavam com cavaleiros reais, tentando criar uma rota de fuga para os aldeões… — disse Tuphi, com pesar evidente em seu tom de voz.

    Ayasaka, sem saber como reagir à história de Tuphi sobre seu passado, se aproximou da garota lobo, que estava com suas grandes orelhas acinzentadas de lobo inclinadas de forma triste.

    Ela colocou firmemente sua mão direita sobre o ombro de Tuphi, que olhou na direção da mão que repousava delicadamente sobre seu ombro, sem exercer pressão sobre os bordados do seu traje tradicional.

    — Eu sinto muito — disse Ayasaka enquanto apoiava delicadamente sua mão no ombro fino da garota de estatura menor à sua frente.

    Ayasaka observou Tuphi de costas por alguns momentos e percebeu quão frágil aquela pequena garota realmente era por trás de toda a ferocidade que demonstrava no dia a dia.

    — Vamos comer, vai — Tuphi virou-se inesperadamente com um sorriso travesso no rosto, embora seus olhos estivessem notavelmente brilhantes de lágrimas.

    As duas garotas caminharam pelos corredores da casa em silêncio e com passos pesados. Ayasaka tentava pensar em algo para animar Tuphi, mas a atmosfera pesada do ambiente tornava a tarefa difícil.

    Tuphi notou pelas vibrações que refletiram em suas orelhas que Ayasaka a observava com preocupação enquanto desciam até a cozinha. Ela quebrou o silêncio dizendo:

    — Depois de comermos, iremos à central de operações e explicarei um pouco sobre nossa linha de frente, o que acha? Você precisará ficar a par de tudo que acontece por aqui, mais cedo ou mais tarde

    — Pode ser ó realeza! — Ayasaka concordou acenando com a cabeça, dando risada.

    Ao chegar à cozinha, as garotas foram calorosamente recebidas por Beatrice, que estava sorrindo enquanto terminava de montar a mesa. Ela carregava algumas panelas rústicas repletas de comida recém-tirada do fogo, criando uma atmosfera semelhante à de uma casa familiar na hora do almoço, um cenário incrivelmente aconchegante.

    — Como foi, Tuphi? — Beatrice perguntou, olhando diretamente para Tuphi depois de se sentar em seu lugar habitual à mesa.

    Tuphi olhou para Ayasaka dos pés à cabeça e, em seguida, voltou o olhar para Beatrice sorrindo.

    — Foi maravilhoso. Ela vai pegar o Jiuuchi facilmente. Tem uma ótima personalidade para estudar.

    Ayasaka lembrou que Tuphi passou a maior parte do tempo dormindo e olhou para ela, franzindo levemente a testa, Tuphi ignorou com um sorriso orgulhoso.

    Logo sua atenção se voltou para Beatrice, que afastou as cadeiras em que Tuphi e Ayasaka iriam se sentar com algum tipo de magia feita com um estalar de dedos.

    — Sentem-se, sentem-se — disse Beatrice com um olhar carinhoso para as garotas, que ainda estavam de pé.

    Ayasaka, paralisada diante do que acabou de presenciar, disse:

    — É impressão minha ou ela moveu as cadeiras com um estalar de dedos? Agora existe uma magia de mexer cadeiras de cozinhas?! — Disse a garota atônita enquanto se sentava de frente para Tuphi, que a observava rindo.

    Beatrice soltou uma forte gargalhada e colocou a mão sobre a barriga, enquanto as duas garotas a olhavam.

    — Isso foi um feitiço de afinidade mágica do tipo ar. É o que o meu raxy interior vibra. Logo, é a minha especialidade

    — Nós temos algumas afinidades mágicas diferentes. Uma delas é o ar. Ela faz com que o usuário que está conjurando o feitiço consiga dobrar correntes de ar, até mesmo mover objetos

    — Eu quero aprender a estudar magia logo… — Ayasaka disse enquanto revirava a comida em seu prato.

    — Tudo a seu tempo, mestre. Você irá se surpreender com seu potencial ainda — Tuphi respondeu com um imenso sorriso na direção de Ayasaka, dando continuidade à refeição do meio-dia.

    As garotas se preparavam para sair da casa em direção à central de operações no centro do vilarejo. Tuphi vestia sua usual roupa preta com meias cinzas de cor semelhante ao seu cabelo, e Ayasaka usava seu manto vermelho de costume. No entanto, as garotas foram inesperadamente interrompidas por Beatrice.

    — Eu vou com vocês. Sou a líder da linha de frente, não é mesmo? — Disse ela com uma leve risada meiga.

    — É, seria bom que nós duas aparecêssemos por lá no fim das contas — Tuphi concordou, acenando com a cabeça.

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