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    Enquanto me encaminhava para a sala do trono, percebi uma movimentação estranha entre os guardas e os empregados do palácio. Todos pareciam agitados, correndo freneticamente de um lado para o outro. Foi somente quando me deparei com Charlotte que fui informado do que estava ocorrendo.

    “Aparentemente, os deuses do Olimpo enviaram alguns mensageiros”, ela relatou, lançando um olhar preocupado à confusão que se desenrolava. Alguns desses mensageiros pareciam estar causando tumulto, exigindo diversas coisas dos empregados e impondo uma carga de trabalho intensa.

    “Deuses…”, murmurei em um suspiro desanimado. “Eles são os próximos após minha reunião com Samael?”

    “Sim, vossa majestade. Não há mais compromissos agendados.”

    “Então…”, refleti, “diga a todos que não precisam atender aos pedidos dos deuses. Eles não merecem nossa atenção.”

    As palavras surpreenderam Charlotte, ciente de que tal atitude poderia ser interpretada como uma afronta à autoridade divina.

    “Mas, majestade—”

    “Se questionarem, diga que foi uma ordem minha.”

    Prosseguindo em direção à sala do trono, uma multidão de pessoas veio me cumprimentar, cada uma responsável por uma função específica, incluindo um dos anciãos do conselho.

    “Majestade, bom dia. Ouvi dizer que—”

    “Não vamos discutir esse assunto agora. Marquem uma reunião formal para mais tarde”, interrompi, ciente de que uma discussão prolongada tomaria muito do meu tempo.

    Os responsáveis por minhas vestes reais chegaram no momento exato. Uma vez pronto, entrei na sala do trono, o anúncio foi feito de forma rápida, e enquanto caminhava em direção ao trono, meus olhos se encontraram com Samael na plateia. Ela exibiu um sorriso malicioso, como se já soubesse o que eu estava pensando, provocando um suspiro desanimado de minha parte.

    Ao me assentar no trono, Samael foi anunciada e se apresentou formalmente como a mensageira direta de Lúcifer. O clima tenso se intensificou, dando início a uma reunião que prometia ser intrigante.

    “Então, majestade, como já foi informado na carta: Lúcifer renunciou ao trono, e o próximo na linha de sucessão era você”, disse Samael animadamente, como se estivesse orgulhosa de suas palavras.

    “Eu entendo, mas o que vai acontecer com os caídos? Eu não posso simplesmente mudar meu povo para o país—”, fui interrompido por Samael, como se eu tivesse entendido algo errado.

    “Não é assim, majestade. Na verdade, os caídos que seguem a Lúcifer voltaram ao mundo demoníaco.”

    “E onde eles vão ficar?”, Samael parecia confusa por um momento até se dar conta da situação. “O continente demoníaco é vasto, mas o mesmo vale para as legiões de caídos. Sinto que o continente demoníaco entrará em crise com a superpopulação.”

    No entanto, eu já tinha um plano para esse assunto, mas não o compartilhei imediatamente para observar a reação de Samael.

    “Me desculpe, eu… Digo, Lúcifer, não pensou nesse assunto. Foi rude da parte dele considerar algo dessa magnitude sem antes consultar o rei dos demônios.”

    Não pude deixar de sorrir com a reação de Samael. Ela parecia uma pessoa normal nesse momento, agindo como uma diplomata.

    “Contudo, eu planejei me tornar o imperador, já que não é de todo mal. Mas tenho uma condição, poderia ouvir.”

    Samael parecia feliz com minhas palavras.

    “Claro, majestade. O que deseja?”

    “Quero Samael como uma das minhas súditas, em um posto elevado e morando no castelo demoníaco”, respondi sem demora.

    “Contudo, isso não resolve o problema de espaço. Os anjos não poderão ocupar o lugar dos demônios.”

    Com um leve suspiro, comecei a explicar meu plano.

    “Na verdade, após receber sua carta, conversei com Alice, e ela concordou em liberar o continente de Nagiver.”

    Alice ganhou um continente inteiro como presente de aniversário. Como a população demoníaca estava em outras mitologias e com outros deuses, nunca precisamos usá-lo, já que a população não era tão grande antes. Mas os anjos e os demônios juntos me fizeram considerar essa alternativa.

    “Assim como o continente de Nagiver foi liberado, o mesmo ocorrerá com o continente de Elehier.”

    O segundo continente privado era Elehier, o continente de Ex, dado a ele pelo nosso pai quando ele ganhou uma batalha como general.

    “Enviei uma carta para Ex, e logo recebi sua permissão.”

    No total, existiam quatro continentes, mas o último continente era um santuário, por isso todos poderiam pensar que eu não estava disposto a abrir o último continente. No entanto, esse não era meu plano.

    “E, por último, Zenunim. Eu permitirei que o último continente seja usado.”

    Todos ficaram surpresos com minhas palavras, até mesmo Belial, que estava escutando em silêncio até o momento, pareceu não acreditar em minhas palavras.

    O continente Zenunim era um lugar que eu havia criado anos atrás, onde passei uma boa parte da minha vida, já que tinha um castelo no local. Eu criei um memorial para Eisheth naquele continente e proibi a entrada de qualquer pessoa, até mesmo o rei.

    Por muito tempo, vivi naquele lugar me lamentando pela morte de Eisheth, e ele continuou fechado até o meu retorno. Não, na verdade, ele está fechado até agora, já que não tive a oportunidade de visitar o local.

    “Azrael, o continente de Zenunim é—”, comentou Alice surpresa, antes de ser interrompida por mim.

    “Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. Você e Ex cederam o seu território, por que não posso fazer o mesmo?”

    “Azrael”, comentou Belial. “Você não precisa fazer algo assim se não quiser. Afinal, seu continente é importante.”

    “Assim como os outros. Por favor, entenda que não estou fazendo de má vontade, mas de coração. Tenho certeza de que ‘ela’ também permitiria que meu continente fosse liberado”, continuei com um leve suspiro. “Minha verdadeira vontade era levar todos para Givek, mas…”

    Não era possível no momento. Mudar os demônios para Givek iria alterar todo o planeta e a cultura. Eu teria que impor regras rígidas para que o ambiente não sofresse uma mudança drástica.

    “Estou verdadeiramente grato por sua decisão, e acredito que Lúcifer pensará o mesmo”, disse Samael com um sorriso animado. “Posso perguntar quais são seus planos? Afinal, aumentar o território significa mais terras para organizar e governar.”

    “Sei… Meus cavaleiros receberam o título de reis de cada continente e… Bom, discutiremos essa parte em uma reunião mais tarde.”

    “Como desejar, majestade.”

    Não pude deixar de me sentir triste ao ouvir as palavras de Samael. “Samael, antes de ser rei, sou seu discípulo, e você é minha mestra. Não precisa me tratar dessa forma; prefiro quando você é casual.”

    “Não posso—”, eu a interrompi.

    “Sim, você pode. Sou eu quem está pedindo, então, você poderia aceitar o pedido de seu discípulo?”

    “Assim seja, Azrael.”

    Terminando meus assuntos com Samael, permiti que os mensageiros dos deuses entrassem na sala do trono. Não tinha paciência para lidar com seres arrogantes, por isso queria terminar o mais rápido possível.

    Dois mensageiros entraram pela porta e se ajoelharam, me olhando de forma ríspida, o que não me incomodou.

    “Vejo que os demônios não têm modos, afinal, não tivemos nossos pedidos atendidos”, disse o primeiro mensageiro.

    “Majestade, saiba que os deuses ficaram sabendo sobre a forma que fomos tratados”, disse o segundo mensageiro.

    “Por favor, quando relatar, fale que foi o Azrael que lhes tratou dessa forma. Adoraria que soubessem que não são bem-vindos no reino.”

    Minhas palavras pareceram enfurecer os mensageiros. “Como ousa? Um mero demônio acha mesmo que está à altura dos deuses?”

    “Você não merece ser um dos súditos do todo-poderoso Zeus.”

    “Súdito?”, eu disse enquanto me levantava do trono. “Vamos deixar uma coisa bem clara”, comecei a caminhar em direção ao primeiro mensageiro, que demonstrou uma aura hostil. “Vocês são apenas cachorrinhos dos deuses, já eu? Bom, eu sou Azrael, o rei dos demônios.”

    O primeiro mensageiro tentou se levantar, mas eu o impedi, pressionando seu ombro para que voltasse a se ajoelhar. “E futuro imperador dos anjos caídos”, a voz de Samael foi ouvida no canto da sala. “Se ousarem insultar o nosso próximo líder, saibam que Lúcifer não ficará feliz.”

    Foi quando a aura do mensageiro cessou.

    “Vamos deixar as desavenças de lado. Meu senhor ordenou que você fosse até a área nórdica em uma semana e eliminasse o deus caído que está destruindo tudo ao seu caminho”, disse o segundo mensageiro. “E não apenas isso. Pela benevolência do meu deus, em uma semana ocorrerá um eclipse, então esse é o melhor momento para um nascido da noite”, complementou o outro mensageiro.

    “Terei isso em mente. Se não têm mais assuntos para tratar, peço que se retirem”, eu disse enquanto me preparava para sair, mas parei de caminhar ao lembrar de algo. “Mais uma coisa. Se ousarem tratar os demônios ou qualquer outra raça como inferiores mais uma vez, eu irei pessoalmente fazer uma visita à sua moradia e farei questão de dizimar toda a sua linhagem. Então, vocês acham que os deuses vão me impedir? Fica a dúvida.”

    ***

    Com todos os assuntos cuidadosamente encerrados, encaminhei-me para o meu escritório, onde imediatamente solicitei a presença de Samael. Não demorou muito para que minha mestra se apresentasse, e foi nesse momento que decidi abordar a questão que fervilhava em minha mente.

    “Samael, posso perguntar se você conhece o Deus da Destruição, irmão do Deus Supremo?”

    Ao ouvir minhas palavras, os olhos de Samael se arregalaram em choque, enquanto ela tentava manter a expressão calma.

    “Como? Onde você ouviu sobre isso?”, perguntou Samael, confusa e assustada.

    “Digamos que visitei o universo reverso”, respondi, e com essas palavras, Samael correu em minha direção, verificando meu corpo com cuidado, como se procurasse algum ferimento.

    “Você está bem? Como é possível? Tem certeza que foi o Universo Reverso?”

    “Sim, encontrei a Alice daquele lugar, e ela me contou a história da criação. A verdadeira história.”

    Com um leve suspiro, Samael falou desanimada. “Você ouviu, certo Metatron? Estou solicitando uma audiência fechada com o Deus Supremo.” O silêncio tomou a sala por alguns segundos até um brilho amarelado surgir em meu campo de visão.

    Foi quando Jofhiel apareceu. Ela me olhou de forma amigável e disse: “Azrael, Metatron me mandou para lhe convidar aos aposentos do Deus Supremo. Foi dito que Samael também deveria ir.”

    Após o teleporte. A atmosfera tornou-se densa, carregada com uma expectativa palpável, enquanto nos dirigíamos aos aposentos do Deus Supremo para uma audiência que prometia revelações. O caminho até lá parecia mais longo do que nunca, e o silêncio entre nós era interrompido apenas pelo eco de nossos passos no corredor.

    Ao alcançarmos os aposentos do Deus Supremo, fomos recebidos por uma aura majestosa que preenchia o ambiente. Metatron, em sua imponência divina, nos aguardava, emanando sabedoria e autoridade.

    “Azrael, Samael, é uma honra tê-los aqui”, declarou Metatron com um aceno gracioso.

    “De fato, Metatron”, respondi, sentindo o peso da responsabilidade que pairava sobre nossos ombros.

    “Samael, parece que as revelações do universo reverso chegaram até Azrael. Diga-me, qual é a verdade que ele descobriu?”, questionou Metatron com seriedade.

    Por um momento, hesitei antes de começar a relatar os eventos e a verdade que eu havia testemunhado no universo reverso. Cada palavra ecoava como um prelúdio para o desdobramento de acontecimentos que moldariam nosso futuro.

    Ao concluir, Metatron permaneceu em silêncio por um instante, absorvendo a magnitude do que fora compartilhado. Sua expressão refletia uma mistura de compaixão e ponderação.

    “Azrael, Samael, agradeço por trazerem isso à luz. O Deus Supremo está esperando por vocês.”, disse Matatron enquanto abria a grande porta.  “Daqui apouco os anjos chegaram, então pesso que converse com ele por enquanto. “

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