Índice de Capítulo

    A espada de madeira empunhada por Theo cortou o ar. O agente Timon desviou para a direita, na direção oposta do corte. Prevendo um contra-ataque, Theo forçou uma explosão de vento entre ele e o seu adversário, empurrando os dois para lados contrários.

    Timon de Lithópia é um dos responsáveis por proteger a princesa Isabel de Durham, ao lado do Sir Sigmore. Theo surgiu naquela manhã desafiando Sigmore para um combate amistoso, contudo, o próprio Clifford rejeitou a luta. Theo era apenas um grau dois, sem previsão para quando seria promovido. Por isso Timon foi recomendado, já que está apenas um grau acima.

    Mesmo sendo de grau três, Timon visava seu futuro. O agente de apenas dezoito anos já estava tentando aprender a técnica da aura que somente os graus superiores alcançam.

    Inicialmente, Theo não tinha fé alguma no combate. Mas, quando Timon demonstrou estar treinando uma técnica igual a de Selina, um sorriso estampou seu rosto.

    Mesmo que seja uma técnica ainda em desenvolvimento, já era o suficiente para Theo. O suficiente para se adaptar e compreender melhor como a energia vital que forma a alma se comporta nessa situação.

    “Ele é um condutor. E se está no grau três, significa que já tem um controle excelente da própria energia. Pode não se comparar aos socos da Selina, mas um golpe dele deve doer bastante.” ponderou Theo, vendo a postura e aura vazando do corpo físico de Timon.

    Usando o vento como impulso, Theo saltou e deu uma investida contra Timon. O garoto da casa de Lawrence tentou acertar o chute de direita na cabeça do agente de grau três, porém, o último conseguiu desviar habilmente com um movimento suave. Tentando achar uma brecha para surpreender, Theo voltou seu calcanhar direito contra Timon, que por sua vez desviou novamente, dando um passo para a frente.

    Se virando para Theo, Timon agarrou a perna direita do garoto e se preparou para desferir um soco forte no estômago. Direcionando os vetores para baixo, Theo conseguiu mudar sua própria direção e desviar do golpe.

    Da arquibancada, Sigmore arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos.

    — O loirinho parece estar mais conectado com o vento — comentou.

    Direcionando os dedos para cima e criando uma corrente de ar, lançou Timon para o céu. Conduzindo o vento em seus pés, criando um pequeno vórtice, Theo pulou para cima. Os dois trocaram socos e chutes no ar.

    Segurando o braço esquerdo de Theo, Timon cravou sua perna no pescoço do primeiro e o jogou contra o chão, causando um grande impacto e afundando a cabeça do adversário na terra.

    “Foi mal, mas é melhor eu garantir a vitória…” declarou Timon mentalmente, enquanto segurava Theo no chão.

    — 1…! — exclamou Clifford, o narrador. — 2!

    Gesticulando sua mão, Theo criou outra corrente de ar, que infelizmente foi lenta o suficiente para Timon processar e desviar.

    “Não consigo disputar fisicamente.” concluiu Theo. “Mas… segundo o papai, quem tem mais energia na condução, ganha. Seguindo a lógica da técnica que o Sir Sigmore explicou, se eu usar uma energia igual a que está na aura de Timon, seremos repelidos…”

    — Argh… — gemeu enquanto se levantava.

    “Carga positiva com negativa se atrai… E se eu… Me envolver com a carga neutra? Quando eu atacar, haverá atração. Quando ele me atacar, haverá retração… Espero que eu esteja certo.” 

    Fechando os punhos com força enquanto curvava levemente o cotovelo, Theo olhou para as nuvens. Respirando profundamente, ele elevou seu atributo elemental e o expandiu para além do núcleo, criando uma imensa aura cor de esmeralda.

    Uma grandiosa ventania carregou o ambiente do clube inteiro.

    — Uau… — murmurou Heimdr.

    — Finalmente alguém da nova geração que entende o valor das técnicas… — disse Sigmore, se aconchegando na arquibancada.

    Toda a sobrecarga de energia liberada por Theo se esvaiu de uma só vez, acalmando o clima por um instante. Um ar abafado e gélido tocou em todos por perto.

    “Técnica de recuperação…” ponderou Timon. “Ele foi aprendiz de algum tenente?”

    Por um instante, Theo deixou o vento lhe guiar. Relaxando todos os músculos, ele entrou num estado de êxtase onde apenas a energia o guiou pelo mundo. O corpo dele balançou para os lados, desequilibrado e mole.  Semelhante a um vulto, Theo desapareceu do gramado e surgiu três segundos depois chutando Timon. Ele apenas reagiu graças a sua aura, pois se não fosse por isso, sequer tinha percebido de onde foi atacado. 

    “Nossos corpos estão se repelindo… Droga! Ele tem mais aura do que eu!” percebeu Theo, após ver que sua perna sequer encostou no braço do adversário.

    Em um ágil  movimento, Timon jogou Theo para longe, acertando um pontapé no antebraço do garoto, que sentiu a dor do golpe tomado.

    O colar da triluna de Theo voou, tomando o campo de visão do olho esquerdo dele. A ametista refletiu ondas de éter sendo substituídas pelo atributo elemental, o que entregou uma tonalidade verde momentaneamente ao cristal roxo.

    “Se não ganharei no mano-a-mano…” Um espiral de vento se formou na mão de Theo, como uma singularidade que sugava tudo para si.

    Quando conseguiu se apoiar no chão, Theo girou pelo próprio eixo e lançou o espiral igual a uma pedra contra Timon.

    — Espiral: vórtex decrescente!

    O espiral voou contra o alvo em curvas pelo ar, parecendo um papel jogado numa tempestade.

    Mesmo com a conjuração de Theo, o agente Timon não se sentiu ameaçado em nenhum momento. Afinal, quanto mais o espiral avançava contra ele, mais velocidade e força o feitiço perdia. Despreocupado, ele foi surpreendido quando sua técnica de aura falhou.

    Normalmente, a aura de Timon iria sentir o ataque e enviaria uma mensagem ao subconsciente do agente para desviar. Contudo, não foi isso que aconteceu. O feitiço de Theo rasgou sua aura e causou um leve arranhão na bochecha.

    “Como?!” pensou Timon. “Ele conseguiu achar uma brecha?”

    Os olhos do agente se arregalaram no instante em que seu sexto sentido apitou.

    A causa do espiral perder velocidade e força, foi pelo simples motivo de que Theo acumulou energia durante o percurso somente no núcleo do ataque. Resultando num ganho de massa e energia. Tudo isso para testar um movimento arriscado no qual ele não tem controle: uma explosão fora de alcance.

    Ao tocar no rosto de Timon, o espiral recuou para o lado antes de se autodestruir numa imensa e estrondosa explosão de energia.

    — Uhuu… — sussurrou Sigmore. — Essa doeu em mim.

    “Uma explosão de energia neutra sobressaindo uma camada de energia positiva… Deve ser o suficiente para desativar a aura dele por um tempinho…” pensou Theo, pensamento bem precipitado.

    — O Sir Sigmore estava certo. Você pensa demais enquanto batalha — comentou Timon, sua voz surgindo atrás de Theo.

    No momento em que o feitiço de espiral explodiu, Timon aproveitou que foi jogado para longe e avançou por detrás de Theo, ocultando sua presença e aura, passando despercebido diante os sentidos do garoto.

    Os milésimos de segundo travaram. O tempo se tornou lento enquanto Theo analisava o punho de Timon vir em sua direção, carregado por uma imensa aura de mana. Durante aquele instante, previu cerca de quinhentas possibilidades de desvio, mas nenhuma resultou em sua vitória.

    Não só o punho, mas como a própria presença de Timon. Havia uma onda afundando Theo num oceano de energia, sufocando e o forçando a reagir. Mas não conseguia. A essência de Theo parecia apenas uma gota de água poluída no meio de uma lagoa.

    — Eu desisto! — declarou Theo, abrindo os braços e fechando os olhos.

    Mesmo após desistir, ele pensou que receberia o soco de qualquer forma. Mas Timon conseguiu desativar tudo no último instante, aceitando a vitória e respeitando a decisão adversária.

    — Ele foi esperto — comentou Dimon. — Aquele soco com certeza o jogaria para muito longe…

    — Isso eu não sei, mas com certeza iria o desacordar por algumas semanas — argumentou Heimdr.

    Ao desativarem suas habilidades, Theo e Timon se encararam momentaneamente, um pouco tensos e ofegantes. Porém, a tensão foi quebrada com um suspiro de ambos, que em seguida se jogaram no chão. 

    Timon se sentou de pernas cruzadas, tentando retornar a sua respiração normal enquanto Theo ficou apenas deitado, observando as nuvens passarem pelo céu azul.

    — Valeu — agradeceu Timon, ainda ofegante. — Você me ajudou a notar uma falha na minha aura.

    — Qual? — indagou Theo.

    — Ela detecta apenas ataques físicos, mas quando é um ataque de pura energia… É como se uma tesoura rasgasse um papel.

    — Hum… Será que ela tem essa fraqueza também?

    — Ela?

    Theo sacudiu a cabeça rapidamente.

    — Perdão, pensei alto.

    — Vocês estão bem? — indagou Clifford, correndo em direção aos garotos.

    — Sim — responderam.

    — Ótimo. Quando se sentirem bem, retirem-se do campo, por favor — implorou Clifford, se virando em seguida. — Após cinco minutos de um combate árduo entre agentes de quase o mesmo grau, Timon de Lithópia venceu o combate!

    Os aplausos de Sigmore se aproximavam cada vez mais dos garotos, já que o agente de quinto grau estava indo rumo a eles.

    — Boa, foi uma boa luta. Você só tem que corrigir a postura, Timon. E Theo tem que saber equilibrar. Você ainda não consegue atacar fisicamente enquanto realiza um feitiço sem que isso te deixe vulnerável por um instante — disse Sigmore, estendendo a mão para Theo.

    — Obrigado pelas dicas — respondeu Theo, aceitando a ajuda.

    — Como está a cicatriz?

    — Um pouco melhor. Consigo me movimentar com mais liberdade, porém ainda arde…

    — Seu amigo é perigoso — comentou o agente. — Agora, exceto se querem ser pegos na linha de fogo, saiam do campo.

    Com o corpo dolorido, Theo caminhou junto de Timon e Sigmore para as arquibancadas novamente, dando espaço para os próximos lutadores entrarem em cena. Retirando o manto e colete dados por Clifford, Theo se despediu de Sigmore e companhia. Já eram nove horas da manhã, então ele deveria buscar regressar para a biblioteca principal de Fulmenbour.

    Enquanto caminhava pelas calçadas, Theo começou a refletir sobre formas de refinar e condensar mais ainda a própria energia. Formas de transformar o pequeno lago de energia que ele possui, num oceano enorme. Porém, ao mesmo tempo, pensava numa outra alternativa: voltar ao que estava praticando quando entrou em Wispells. Tentar reduzir o gasto de energia durante cada movimento.

    Contudo, o ato de refinar a energia a torna pura e mais poderosa. Misturando com o ato de condensar, que torna a energia imensamente maleável, são opções mais consideráveis se comparada com apenas redução de gastos. Misturar as três técnicas tornaria tudo complicado, já que Theo demorou dez anos para começar a entender como funcionam esses três métodos e colocá-los em prática.

    Pegando o colar na palma de sua mão, Theo murmurou:

    — Não posso deixar isso só com você. Não posso me deixar confortável.

    Um galopar de cavalos assaltou os ouvidos de Theo, ao mesmo tempo que apenas ignorou o som. Afinal, como estava na região superior de Fulmenbour, era comum ter carruagens em todas as ruas. Mas aquela carruagem em específico fez um barulho maior.

    A carruagem parou poucos metros à frente de Theo, suas portas abriram vagarosamente. Um homem deu um longo passo para a calçada e parou ali, alinhadamente com Theo. Distraído com o brilho do cristal de ametista, ao menos notou o homem parado e sem querer esbarrou nele.

    — Desculpe-me… Hã? — Theo olhou confuso para os olhos do homem, tentando se desculpar apropriadamente. Um choque de olhares aconteceu e surpreendeu o garoto. — Amiah?

    — Lembre-se de dar um relatório para onde irá na próxima vez. Vamos, temos que conversar — disse Amiah. O general caminhou até a carruagem e abriu a porta para Theo, acenando para que entrasse.

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