Capítulo 261: Professora da Universidade Mágica

A sala do bibliotecário era um pequeno escritório localizado no fim do corredor da seção de livros de gastronomia.
O local, iluminado por tochas, possuía uma mesa com uma cadeira em cada extremidade, além de diversos quadros ao longo da parede escura e um estandarte com o brasão de Andeavor por trás da mesa.
A figura nos quadros fez o garoto loiro engolir em seco.
Longos cabelos brancos como a neve, olhos ametistas e vívidos e uma fisionomia frágil… era Annie, a sua companheira, ela estava presente em todos os quadros desse cômodo.
Sem ainda pronunciar uma única palavra, o homem de monóculo acomodou-se na cadeira entre o estandarte e a mesa, encarando o menino à frente.
— Nós somos protegidos pela bênção da nossa grande deusa Annie, a Deusa Lunar, — começou o bibliotecário após limpar a garganta de forma audível — e como alguém que possui a bênção dessa divindade, não posso permitir que inimigos causem problemas à Santa, a representação da deusa nesse plano.
As memórias dele estavam distorcidas, a Annie conhecida como a “Deusa Lunar” era a aberração que atendia pelo nome de Lucy.
Por que Lucy precisava se passar por Annie? Não era mais fácil apenas modificar todas as memórias das pessoas, como Azazel van Elsie fazia?
{É apenas uma especulação, mas A Celestial pensa que a deusa Lucy ou a demônia Azazel van Elsie não possuem domínio completo sobre a técnica de manipulação de memórias, há certas impressões que são difíceis de serem apagadas da mente.}
Sem falar que havia pessoas imunes à habilidade. Kurone e Rory (Luminus) eram exemplos de pessoas que não sofriam influência do poder da Presidenta do Inferno, aprendeu isso após a luta contra Edward Soul Za.
Seguindo essa linha de raciocínio, Annie devia ter deixado uma grande impressão nesse mundo não poder ser esquecida facilmente, dando a Lucy a única opção de assumir a sua identidade após prendê-la no Hangar dos Mortos.
Isso era algo a ser explorado com mais calma, mais tarde.
Mas, enfim, voltando ao bibliotecário, se ele dizia ser “abençoado pela deusa”, então isso só podia significar uma coisa: o bibliotecário era um reencarnado. Era óbvio, afinal ele tinha uma Arma Lendária — a AK-47.
Se Ryuu Toshiro era o primeiro a carregar o falso título de “Lolicon Slayer” e não havia sinais da existência dele nessa época, então Cecily ainda não havia iniciado sua abdução de pessoas da Terra.
Kurone decidiu seguir o fluxo para tentar obter algumas informações.
Partículas azuis surgiram ao seu redor e ele materializou a sua escopeta de canos serrados. O homem à frente não pareceu surpreso, apenas mirou os olhos do menino e questionou:
— O que foi aquilo mais cedo, com a Santa?
— Não sei, só tive uma sensação estranha quando encarei ela.
Podia mentir sem problemas, os reencarnados e a deusa Lucy estavam intrinsecamente interligados, não era estranho um deles ter uma reação diferente em frente à Santa.
O bibliotecário ainda possuía um pouco de desconfiança direcionada a Kurone, porém a sua presença esmagadora diminuiu.
— Já encontrei outros reencarnados antes na Universidade Mágica e sempre dei o meu apoio a eles, sinta-se livre para me consultar quando precisar de ajuda… Espero que realmente não seja um inimigo da nossa deusa, menino.
Sentiu um tom de ameaça nas últimas palavras, mas o homem chegou em um ponto importante.
— Sendo assim, quero que você me ensine a ler e escrever.
O bibliotecário levantou uma sobrancelha. Um aluno da Universidade Mágica sem alfabetização era realmente uma situação complicada, isso podia fazer com que boatos ruins sobre a instituição e a qualidade dos seus alunos. Como um “Gênio” não conhecia a leitura ou escrita?
— Qual era o seu idioma na vida passada?
— Japonês.
— Hmmm, é um pouco problemático para você, então. Mas sem problemas, consigo alfabetizar você até o próximo ano, menino.
Realmente, foi complexo para o menino entender o idioma de Neflheim na primeira vez, porém conhecia a escrita do futuro desse mundo, teria menos problemas em aprender com o seu conhecimento atual.
— Ah, nem preciso dizer para manter a sua Arma Lendária escondida — disse o bibliotecário antes de Kurone deixar a sala, ele sabia sobre o fato de que um reencarnado podia roubar a Arma do outro.
— Tá certo.
Ficou combinado que ambos se encontrariam cedo para uma sessão de estudos, esse horário era o melhor por conta da pouca movimentação na biblioteca, o homem que esqueceu de perguntar o nome ainda tinha o seu trabalho como bibliotecário a fazer.
“Ele é um homem muito confiante, mas, ao mesmo tempo, ignora algumas coisas, ele nem perguntou meu nome.”
{A Celestial pensa que aquele homem ainda não confia em você e que pode prestar muita atenção em suas ações.}
“Bem, é claro, mas eu também não tô confiando nele, no primeiro vacilo, eu aumento o meu arsenal de Armas Lendárias.”
Mesmo focado na conversa com Ellohim, os seus olhos vagavam com desconfiança pelo ambiente, não queria ser surpreendido pela presença da Santa novamente. Certamente, a mulher, Minerva Clergyman, não ignoraria o acontecimento de mais cedo.
O que falaria se ela fizesse uma abordagem direta? Era fácil enganar o bibliotecário, mas Minerva nem devia saber sobre a existência dos reencarnados, sem falar que ela possuía uma Lucy sussurrando em seu ouvido.
Com o status de Santa, a mulher podia condenar Kurone sem dificuldades, ou mesmo fazê-lo desaparecer sem deixar rastros enquanto dormia… Nesse caso, precisava ser o primeiro a fazer o movimento e criar uma relação amistosa entre eles.
Se demonstrasse que não conhecia o motivo pelo qual reagiu de maneira estranha à presença da Santa, podia ganhar alguns pontos com ela. Era isso, fazer inimigos era a última coisa que podia fazer.
{Ela acha que a Santa vai tentar te procurar após descer.}
“Pensei a mesma coisa, o melhor é esperar ela descer, mas aqui não pode ser, senão o bibliotecário vai notar e ficar desconfiado.”
Primeiramente, o que a Santa fazia na Universidade Mágica? Tinha assuntos importantes a tratar com o reitor?
Não havia qualquer construção religiosa nos pavilhões espalhados pelo campus. Em teoria, diferente de Eragon, Andeavor não possuía uma religião oficial.
Havia muitas coisas que precisavam de respostas, mas no momento decidiu focar em encontrar Minerva Clergyman em um local discreto. Assim, deixou o terceiro pavilhão e seguiu para o campo de aulas práticas, dali podia ver toda a movimentação do prédio anterior.
Algumas horas passaram-se, o fluxo de alunos aumentou devido ao fim das aulas da manhã e algumas pessoas das alas administrativas deixaram a construção para vagar um pouco pelo campus no horário de almoço.
A Santa ainda não deu as caras. Era errado pensar que ela estava tendo um caso secreto com o reitor do campus? Se sim, podia até usar esse fato para chantageá-la…

Minerva saiu do terceiro pavilhão pela tarde, acompanhada por uma pilha de livros, ela pareceu ir na direção do campo de aulas práticas, contudo seu percurso mudou de repente e sua figura seguiu em uma direção incomum.
Kurone baixou a sua presença o máximo possível e a seguiu mantendo uma distância razoável. Como uma Santa, a mulher devia portar o Olho Sagrado — se o usasse, encontraria o menino sem dificuldade.
Após caminhar por breves minutos, a Santa parou em frente a uma árvore semelhante a um salgueiro e apoiou seus livros sobre a grama. Ela recostou-se no tronco e deu um longo suspiro antes de apanhar um dos volumes e folheá-lo.
Em instantes, ela ficou absorta na leitura.
Não havia espaços para leitura na igreja? Era difícil ver através dos atos dela, se pelo menos conseguisse ler o título do livro em suas mãos…
No momento em que forçou a visão e tentou focar na capa do livro, Minerva fez um movimento. As mãos deixaram o tomo cair e foram direcionadas na direção de Kurone.
— Feixe d’Água!
Gotículas de água surgiram e dispararam na direção do garoto em uma velocidade absurda, prontas para transformá-lo em uma peneira. Ele agiu sem pensar duas vezes, usando a Barreira de Fogo.
Água tocou as chamas e um som característico, junto à fumaça, subiu pelo ar.
Sua tentativa de interagir com a Santa tomou uma rota ruim, não podia lutar com ela, ainda estava perto da biblioteca, estaria com problemas se o bibliotecário o pegasse nessa situação.
— Eu não quero brigar!
A Santa o encarou com desconfiança, ainda com a mão levantada e a língua tocando a ponta dos dentes, pronta para enunciar o seu próximo feitiço.
— Eu também fiquei confuso sobre o que aconteceu mais cedo!
Kurone com os braços levantados e Minerva direcionando a ele a mão aberta era como um bandido rendendo sua vítima. Enfim, a Santa baixou o membro e deu alguns passos adiante, ainda vigilante.
Quando ficaram próximos, as auras começaram a se mostrar novamente, uma competindo com a outra para demonstrar quem oprimia quem. O que ninguém disse, mas era óbvio, era que nenhum dos dois podiam se tocar… quem sabe que tipo de fenômeno seria desencadeado.
— Qual o seu nome?
— Iolite, sou um aluno daqui.
Nem precisava mostrar o seu cartão, Minerva o viu — e o tocou — antes.
Após um longo suspiro, a Santa relaxou e a tensão ao redor deles desapareceu um pouco, embora ainda houvesse uma energia ruim espalhada.
— Sou Minerva Clergyman, a Santa da igreja da deusa Annie… e também serei professora na Universidade Mágica no próximo semestre.
Esperava que não fosse a sua professora… mas algo lhe dizia que estava errado.
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