Índice de Capítulo

    Os olhos de Theo se arregalaram em admiração. Um brilho tomou a cor âmbar predominante, como o sol despejando seus raios de luz diretamente no oceano.

    O campo de combate e treinamento de Alunne era, obviamente, inferior ao grandioso coliseu de Athenian. Porém, de certa forma, era como estar no coliseu. O chão de areia se estendia por mais de cem metros de comprimento — apenas 30% do tamanho da arena do coliseu na capital de Romerian.

    As luzes acenderam, tomando o formato de luas nas arquibancadas. Bandeiras caíram nas paredes, revezando entre uma bandeira da lua, uma do sol e uma do céu — representado por uma estrela.

    — Não se admire muito. Pode se distrair durante o treino — comentou Luanne.

    — Do que está falando? — perguntou Theo, totalmente distraído.

    Chegando no centro da arena, Selina retirou o manto preto que cobria seu corpo e o jogou no chão. Seu traje de combate era bem peculiar.

    Sua vestimenta era marcada por botas pretas com listras douradas que lembravam raios de luz, terminando em um padrão de ‘V’ na altura da canela. Uma meia-calça preta ficava abaixo de uma joelheira prateada tingida de índigo. 

    Uma saia metálica, da mesma tonalidade de índigo, protegia sua cintura, conectando-se a um peitoral entalhado em azul-metálico e dourado. Uma pedra reluzente de cobalto repousava no centro de seu busto.

    Seus ombros ficavam descobertos, deixando os bíceps livres de armadura, mas cobertos por uma vestimenta preta que se estendia até o pescoço. Os antebraços eram envolvidos por braceletes metálicos que fazia o papel de luvas.

    Selina carregava o arco em sua mão enquanto sua aljava estava amarrada na cintura por um cinto dourado.

    — Ela gosta de se exibir, né? — comentou Theo.

    — É um insulto para as seguidoras de Alunne lutarmos durante a noite sem estar no nosso ápice de força. Mesmo que seja um treinamento, devemos estar com nossos amplificadores, armas e armaduras… — retrucou Luanne.

    — Enquanto eu… estou usando o uniforme de Wispells.

    — Sua roupa já está chegando. Armadura somente quando você chegar à maioridade. 

    — Não iria mudar muita coisa. — Esticando o braço, Theo marchou para o centro da arena.

    Talvez por achar que já tinha uma vantagem surpreendente contra Theo, Selina jogou seu arco no chão e desamarrou a aljava. Se alongando um pouco, os dois se encararam.

    — Está sentindo um aumento de atributos? — perguntou Selina.

    — Não… — arqueou as sobrancelhas.

    “Estranho. Se bem que… A aura dele aparenta estar mais densa que antes. Ele parece mais maduro…” ponderou Selina, olhando para uma densa camada de energia que o envolvia.

    — Certo. Como estou responsável por ti, irei ao menos explicar um fundamento.

    Repousando a mão no próprio rosto, Selina ativou novamente sua máscara branca. Deixando o brilho azul que a máscara emanava um pouco mais fraca.

    — Uma máscara de mana? — comentou Theo.

    — Não. É uma máscara de puro poder — explicou, sua voz abafada devido à máscara. — As seguidoras superiores de Alunne podem invocar essa máscara, tal que amplifica nossos atributos num nível absurdo. 

    Repousando novamente a mão, retirou a máscara, que desaparecera como um líquido viscoso.

    — Mas está avançado para você. Por isso… — Selina se posicionou perfeitamente numa postura de combate. — Vamos começar evoluindo tua fama dentro da nossa ordem…

    Olhando para as arquibancadas, Theo notou a presença de inúmeras mulheres observando o combate.

    — Comece — ordenou Selina.

    Seu momento de “mundo da lua” foi quebrado por Selina. Theo estava se distraindo fácil graças ao ambiente.

    Se fundindo ao vento, Theo avançou contra Selina num piscar de olhos. Aumentando a própria velocidade com o elemento, tentou desferir um soco fortificado em Selina, contudo, esta apenas impediu segurando o soco com um dedo.

    “Só tenho que acertar um soco…” pensou Theo.

    Ao se sustentar no chão com o pé de apoio, Theo executou uma barragem de socos contra Selina, que apenas defendia os golpes com a palma da mão. Com tantos socos ao mesmo tempo, e com Theo utilizando o vento para deixá-lo mais forte, uma corrente de ar foi formada ao redor deles.

    Segundos depois, Theo desferiu um único soco contra Selina, revestido com um vórtice de vento lançado no momento que a golpeou. O vórtice voou contra a parede do coliseu, levantando areia do chão e rachando os tijolos. O feitiço causou um estrondo semelhante a um trovão.

    Se esforçando para acertar Selina com uma cotovelada, Theo girou com o calcanhar esquerdo para o sentido anti-horário. Completando o giro, tentou acertá-la com um chute e consecutivamente com outra cotovelada.

    Atacando novamente, falhou miseravelmente em acertá-la.

    “Não conseguirei… Será impossível acertá-la.” notou enquanto golpeava Selina.

    Selina desviou do soco de Theo, indo para a esquerda e levantando o braço dele para cima, deixando seu abdômen completamente vulnerável. Mais tarde, o garoto se arrependeria de ter baixado sua guarda.

    Conduzindo 95% da mana de seu corpo para o braço direito, Selina concentrou sua energia até a ponta de seu punho e, posteriormente, distribuiu pelo braço inteiro. Jogando Theo para trás, Selina agarrou o braço do garoto e levou o punho direito até o estômago.

    “Tem que ser exatamente nesse ponto…”

    Apenas há uma polegada de atingir Theo, Serach concentrou toda sua mana na ponta de seu punho, transferindo sua força, pressão e poder completamente para o local de impacto.

    Assim que o soco atingiu Theo, o garoto sentiu que todos os seus sentidos se esvaírem. Ficando cego e surdo momentaneamente, além de sentir cada órgão e músculo de seu corpo de mover respectivamente. Por sorte, a energia liberada por Selina não atingiu nenhum osso dele, senão… Viraria uma sopa.

    Num piscar de olhos, Theo voou para o outro lado da arena. O impacto foi tão forte que ele afundou na parede. 

    Um zunido tomou conta da audição de Theo, enquanto o show de luzes psicodélicas tomou sua visão. Manchas de luzes estavam por todo o alcance de sua vista, junto com ilusões óticas que o trouxe uma agonia inexplicável.

    Theo não sentia o ambiente, apenas as sensações ruins que estavam o circundando naquele momento. A dor, a agonia, o desespero. O soco de Selina foi capaz até mesmo de afetar seu núcleo.

    É isso que o soco de uma polegada faz. Transferir toda sua energia para a ponta do punho no instante do impacto, resulta no soco mais poderoso já alcançado. Se for acertado em locais específicos, o impacto pode até mesmo destruir todos os ossos do corpo.

    Por isso Theo estava daquela forma. O impacto acertou diretamente seus músculos, o que resultou em deixá-los doloridos e relaxados ao mesmo tempo.

    Ele não conseguia sentir nada, mas, mesmo assim agiu.

    Buscando alcançar a parede externa, Theo ofegou e respirou num ritmo mais que desagradável. O ar quase não chegava em seus pulmões, mesmo com as poções imensas de ar ingeridas. Junto com essas sensações, veio também uma ansiedade por não conseguir respirar corretamente.

    Estava fraco e imponente. Duas coisas que ele odeia com todas as forças.

    — Theo… — murmurou Selina, preocupada, esticou a mão levemente em sua direção. 

    Não faça nada — ordenou Luanne, amplificando a própria voz com o atributo som. — Deixe ele se recuperar sozinho.

    — E se ele não conseguir?

    Então será fraco.

    “Pensa. Pensa. Pensa.” repetiu mentalmente. “Pensa. Se acalma. Seu coração tem que normalizar. Você tem que respirar.” tentou se convencer, mas no estado atual que Theo se encontrava, era impossível. “Distribuindo a energia por todo meu corpo…” A dor aguda do abdômen diminuiu, não o suficiente. “… conseguirei voltar ao normal?”

    Era uma teoria, mas ele tentou. Uma técnica de reposição não mais usada, se tornando apenas uma teoria nas últimas gerações.

    Tomando controle do próprio corpo novamente, Theo respirou profundamente. Sugando a maior quantidade de ar possível e acalmando sua mente; distribuindo oxigênio para seus músculos e os fazendo retornar. Sua visão veio retornando com os segundos, enquanto fingiu não sentir a dor.

    A refinada quantidade de energia do núcleo de Theo começou a se espalhar pelo corpo inteiro, seguindo as veias de chakra e distribuindo corretamente as porcentagens para cada chakra que possui.

    “Não acha que esse ponto já é o suficiente, minha deusa?” pensou Luanne.

    “Quanto tempo ela irá demorar?!” pensou Selina, receosa. “Acertei um golpe fatal para ela chegar até ele. Mas… por que a demora?”

    Agarrando a parede, Theo se puxou para a frente e caiu de joelhos no chão. Ofegante, fraco. Mesmo usando técnicas de respiração e controle de energia, ele não conseguia contornar a própria fraqueza.

    “Reposição…” pensou Theo. “Reposição… Qual a chave para essa equação?”

    Theo se viu caindo num abismo. Ele estava encurralado, não por Selina, mas sim por si próprio. 

    “O que eles fariam? O que Liam e Ethan faria agora?” imaginou. Já que não havia presenciado homens mais poderosos que os mencionados, Theo se espelhou no seu alter-ego e no próprio pai.

    Como o mais forte deveria pensar? Agir? Como eles se provaram para chegar onde chegaram? 

    Enquanto raciocinava, Theo ajustou a postura. Suspirando profundamente, ele utilizou uma técnica similar a do confronto contra Timon: elevação de energia. Contudo, ao invés de utilizar a energia do próprio núcleo, ele elevou a aura. Restaurando evidentemente o vigor, saúde e força.

    “Posso não ter uma chama tão ardente quanto a Fênix igual ao senhor…” Theo imaginou o rosto de seu pai, na posição de perfil. Um homem de cabelos brancos um pouco curtos, compartilhando a mesma feição de Theo. “Mas tenho um vento tão frio quanto o gelo em teu coração…” se referiu a Liam.

    — Ainda há espaço para um contra-ataque, não é? — indagou à Selina, limpando o lábio.

    — Claro — respondeu Selina, com um sorriso satisfeito e admirado.

    “Até eu encontrar o X na minha equação…” Arrumando novamente a postura, ele se preparou para avançar. “Irei apostar tudo que descobri para vencer!”

    Um estrondo ecoou pelo coliseu. 

    Num piscar de olhos, Theo surgiu ao lado de Selina, preparando um soco ainda no ar. Atacando-a rapidamente, Theo ejetou um impulso de vento no punho direito que o impulsionou para cima. 

    Criando cortes através da ventania, que serviram de flechas invisíveis, Theo pretendia acertá-la, porém, sem êxito. Selina facilmente desviou dos cortes, mostrando para Theo que, ao invés de Timon — que não tinha uma aura impenetrável contra ataques de energia —, a aura dela era sim capaz de detectar e desviar dos feitiços que criasse.

    Confuso, pois agora sua maior tentativa havia falhado, ele recorreu ao que estava treinando mais cedo.

    — Torre dos ventos, soprem ao mesmo tempo! — conjurou Theo, apontando para cima com os dedos.

    Uma corrente de vento se formou ao redor de Selina, puxando até mesmo as bandeiras nas paredes do coliseu. Enquanto segurava a respiração para manter o feitiço, Theo deu três passos para trás, visando observar melhor a situação.

    A ventania era tão forte que estava, lentamente, puxando as seguidoras de Alunne presentes no coliseu.

    “Ela consegue desviar até daquilo que não vê… A aura dela sente sensações? É esse o diferencial?”

    “Usando feitiços intermediários?… Além disso, a manipulação de vetores dele está melhor. Mais refinada agora. Ele parece ser o próprio vento…” pensou Selina, analisando a torre de vento criada por Theo.

    Da arquibancada, Luanne viu seu afilhado apenas parado, analisando invés de agir. O momento perfeito para contra-atacar era aquele, mas ele desperdiçou. Theo poderia muito bem aproveitar o feitiço da torre e atacar Selina pelo exterior, já que o feitiço maior iria sobressair pela presença dos demais ataques lançados.

    — Theo! — exclamou Luanne, ampliando sua voz com as mãos. 

    Para poder prestar atenção, Theo voltou a respirar e o feitiço se desfez. Selina, mesmo que pudesse atacar, decidiu apenas ouvir.

    — Use o vento na sua mão! Sua proficiência permite isso! Basta fluir! 

    “O vento na minha mão?”

    Um choque de realidade o atravessou como uma flecha de luz.

    Virando a mão esquerda, os olhos de Theo brilharam ao se lembrar de um recurso que ele ainda não compreendeu totalmente. Algo que não tem conhecimento de comportamento ou funcionalidade, mas sabe que possui. Um fruto da própria força…

    “É claro! A ressonância… Mas como ativo isso?”

    — Ei — chamou Selina, aparecendo em frente a Theo num movimento ligeiro.

    Com os olhos arregalados, Theo olhou para Selina, que posteriormente o atacou com um soco rápido. No último segundo, ele criou uma barreira de vento que não foi forte o suficiente para interromper a ação de sua superior. Atravessando a barreira e jogando Theo contra o chão, Selina estalou os dedos enquanto avançava contra o garoto.

    — Não se esqueça que ainda estamos num confronto. Disse que iria descontar o soco em mim. Com que força? Ou você é o tipo de homem que faz promessas vazias?

    Sem deixar Theo se sentir confortável, Selina atacou novamente, com um chute de calcanhar. Desviando para o lado, o garoto tentou se repôr enquanto desviava e escapava dos ataques da agente de quinto grau.

    “Na última vez foi ativada pela ansiedade de estar encurralado… Mas e agora? Como eu faço?—”

    Selina desfere um soco surpresa em Theo, indo diretamente contra seu rosto. Porém, ele conseguiu desviar com dificuldade e apenas sentiu a energia concentrada em seus punhos. Ao esquivar, continuou correndo pelo coliseu.

    “Em livros de fantasia ativar um poder oculto parece tão mais fácil…”

    Novamente surgindo na frente de Theo, Selina o atacou com uma enorme poção de mana refinada. Para contrariar e obter mais tempo, Theo conjurou um vórtice de vento entre o punho de Selina e seu corpo, evitando o contato direto.

    Concentrando todo seu atributo elemental naquele ponto, Theo tentou segurar o máximo que pode. Até mesmo Selina, que naturalmente seria superior, estava com dificuldade para ultrapassar aquela barreira.

    Uma faísca iluminou a alma de Theo naquele segundo. Uma chama foi acesa como troncos sendo jogados numa fogueira. 

    “É claro!” concluiu Theo.

    Transformando o vórtice em um espiral esférico, Theo causou uma explosão de energia que afastou ambos.

    Enquanto deslizava no chão de areia, Theo segurou o colar triluna em mãos e absorveu toda a energia convertida para atributo elementar, concentrando as partículas elementares apenas na mão esquerda.

    Concentrar num ponto específico do corpo era a resposta correta.

    No final da concentração, a quantidade de energia era tão imensa que ativou manualmente a ressonância. Raios de luz cor de esmeralda tomaram os punhos de Theo, uma luz tão forte que obrigou o garoto a desviar seu olhar.

    Algum tempo depois, houve uma explosão que se expandiu para além do coliseu, causando um choque no mosteiro e trazendo uma ventania como tempestade para todos os seguidores de Alunne.

    A estrutura do coliseu tinha sido destruída parcialmente.

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