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    “A senhora teve a chance… Então por quê? Por que não se aproximou dele?” indagou Luanne, mergulhando num mar iluminado pela lua.

    ‘Ele não me quis. Não adianta quebrarem a guarda, deixá-lo fraco ou desnortear sua alma. Se um humano não aceita a presença divina em teu ser, não há nada que possamos fazer.’ Uma voz doce ecoou da lua, acalmando o próprio espirito de Luanne.

    ‘Theo já contém uma força própria.’ continuou a deusa da lua, Alunne. ‘Ele acredita no próprio poder, contudo, não há experiência o suficiente e nem liberdade para conseguir ter acesso ao universo dentro de si. Acho que não concluiu seu dever, minha querida filha.’

    Uma mulher caiu da lua num piscar de olhos e mergulhou no mar, segurando o rosto de Luanne. Com os olhos fechados, os cílios enormes foram quem destacaram a beleza. Seus fios de cabelos acinzentados eram imensos, separados em duas partes por uma tiara de prata. O vestido carecia de um laço na cintura, por isso parecia um véu preto sendo puxado para cima.

    ‘O problema dele ainda continua sendo mental. Ele continua preso no conceito de equação, quando já deveria estar na própria ignição. Se ele não quebrar a barreira de número infinitos, então não poderá se aceitar.’

    “O que ele precisa é de um guia, não depender de si. Ele é uma criança, vossa suprema divindade…”

    ‘Você quem pensa assim. Ele? Uma criança? Não enxerga o verdadeiro valor do próprio afilhado, querida? Sabes quem ele é… Não trate-o como uma criança qualquer.’

    Alunne puxou o rosto de Luanne para si, aproximando as duas. A deusa se dirigiu ao ouvido de sua aprendiz, onde sussurrou algo que deixou Luanne espantada e de olhos arregalados.

    “Liam Mason é… o quê?” pensou Luanne, de queixo caído. Porém, agora na arquibancada, deixando o próprio mundo espiritual para vislumbrar Theo e Selina num show de energia, seu choque de realidade foi maior.

    Mesmo com sua ressonância ativada e conseguindo manter o controle de seu corpo, Theo não se equiparava a Selina. Talvez fosse sua mentalidade em combate, pois não parava de imaginar um abismo entre os dois, mas não conseguia sequer acompanhar os movimentos de Serach.

    Desde que ativou a ressonância, há 1 minuto, Theo saiu da defensiva para o ataque. Decidiu por si só que seria muito mais útil para o entendimento dele como funciona as técnicas de ataque de Selina, para que pudesse replicá-las futuramente.

    Enquanto estava com sua ressonância ativada, Theo moldou o vento de uma forma que jamais conseguiu em todos os últimos anos treinando com este elemento.

    Alterar imediatamente a direção, aceleração e velocidade. O tempo de reação era quase nulo, sendo executado no mesmo instante que Theo pensava em executar o movimento. Sem atraso nos comandos. É isso que qualquer controlador deseja alcançar antes dos dez anos de treinamento.

    Uma harmonia perfeita entre você e seu poder. Ambos seguindo a mesma reta espiritual, como dois fios que finalmente se alinharam num só.

    Trocando golpes corporais com Selina, Theo começou a utilizar o vento como seu auxiliar. Funcionando como uma espécie de múltiplos socos sendo disparados ao mesmo instante e contra um mesmo alvo. Contudo, Selina conseguia desviar fácil e habilmente de todos ataques, fossem físicos ou vetoriais.

    Notando a perda de tempo, Theo recuou um passo para trás enquanto criava uma barreira que o protegia de Selina. Abrindo a palma da mão direita, ele criou uma esfera de vento que explodiu numa rajada forte o bastante para lançar o alvo para trás.

    “Isso é incrível…” comentou Theo, olhando sua mão esquerda. “Porém… meu atributo elemental já está esgotando. Não tenho a mínima noção de como controlar a energia gasta nisso.”

    A marca que antes brilhava intensamente, teve seu brilho reduzido conforme o confronto era prolongado. 

    — Isso não deveria ser apenas um treinamento? — comentou uma seguidora nas arquibancadas, suando frio com o desempenho dos dois.

    Mesmo que Selina tivesse diminuído sua força após o soco que apagou Theo, o nível de dificuldade do confronto apenas aumentou. Desde antes da ressonância, ambos já estavam afetando a estrutura do coliseu.

    — Nunca assistiu a um dos treinamentos da Lady Luanne? — indagou uma colega.

    — Não…

    — Pois bem. As sessões são piores que essas em alguns casos. Por isso ela treina tão distante das muralhas de Fulmenbour.

    Uma gota de suor ainda mais tensa escorria pela testa de uma sacerdotisa, que estava vislumbrando a sessão de treino do topo das arquibancadas.

    — Se fosse qualquer outra lá embaixo, com certeza já teria perdido um braço — disse a anciã Juno, a segunda sacerdotisa.

    — Selina só se demonstra um monstro pior a cada dia — comentou Tyla, a quarta sacerdotisa.  — E o afilhado da Lady Luanne… O que acham?

    — Se ele aceitar a virtude de vossa suprema divindade, com certeza será um cão formidável.

    — O garoto se tornou um seguidor de Alunne oficialmente hoje, mas já pensa em como ele servirá de soldado? — retrucou Susan, a terceira sacerdotisa. — Vocês são donas de padrões ridículos. 

    — Cale-te, pecadora — ordenou Juno, ofendida. — Assistam o combate.

    Theo desferiu mais seis socos, que foram ligeiramente defendidos por Selina. O braço esquerdo de Theo foi vítima de uma fraqueza irracional, onde caiu para baixo rapidamente. Usando um chute como distração, ele criou um impulso de vento que o catapultou para longe.

    “Meu atributo está acabando. Após o próximo movimento, ela sairá como vencedora.” temeu, notando que o motivo de seu braço falhar tinha sido falta de energia. “O feitiço usado naquele instante… Como eu o executei sem sequer saber o selo de mão?”

    Se forçou a lembrar. Ele tentou ter acesso às memórias em que utilizou o feitiço com a maior quantidade de energia que já presenciou. A flecha atirada contra a harpia. Theo não se recordava das palavras conjuradas para o feitiço, mas se lembrava do movimento: puxar uma fina camada de energia da marca em sua mão até o ombro.

    E foi isso que ele executou. Puxando o atributo elementar na ressonância, Theo arrancou uma camada de energia com o dedo anelar e dedo do meio direito, deslizando até o ombro. Posteriormente, puxou uma linha, onde o arco e flecha tinha se formado. 

    O arco era grande, maior que o braço de Theo. Com uma tonalidade verde e pura, mas perdendo energia a cada segundo passado. O feitiço oscilava com o vento, sendo fácil e constantemente destruído e reconstruído pelo próprio vento ambiental.

    Sem pensar muito, Theo disparou a flecha contra Selina. Inicialmente, sem se preocupar, Selina ficou apenas encarando o feitiço vindo até si, mas logo se assustou ao notar a peculiaridade daquela flecha. 

    Ao contrário de ser lançada apenas com a energia que teve quando foi criada, a flecha trazia constantemente o atributo elementar na atmosfera como combustível para seu poder destrutivo.

    Apenas há vinte metros de Selina, a flecha se dividiu em duas partes, adotando uma forma de chifres como os de um cervo e rotacionaram contra ela, formando um anel. A pressão atmosférica dentro daquela região foi alterada, dificultando a respiração para Selina. 

    Por fim, finalizando a temporada de tempestades, o feitiço se juntou contra Selina e causou uma explosão, criando um furacão que afastou as nuvens do céu. Uma paisagem estrelada, contudo, ofuscada pelas luzes da cidade se abriu acima do coliseu.

    A areia no chão do coliseu subiu como poeira, cobrindo a arena com uma névoa. No meio da poeira abafada, Theo estava ajoelhado e segurando a mão esquerda, que ardia como fogo. Selina se encontrava logo ao lado dele. Ela evitou que Theo fosse pego pelo impacto do próprio feitiço.

    A ressonância de Theo desaparecera, deixando apenas a sensação de uma queimadura infeliz. O garoto gemeu de dor e tossiu um pouco de sangue, Selina notou uma marca de queimadura na mão.

    — Concentre apenas energia negativa na sua mão. Consegue fazer isso, né? Acho que desviantes com núcleo neutro conseguem controlar as três energias — comentou Selina, vendo Theo agonizar com a mão.

    Positiva, negativa e neutra. Esses são os três tipos de partículas que formam todos os núcleos, sejam de éter, mana, ki… Qualquer núcleo segue os três tipos presentes no átomo. 

    E também, seguem a temperatura. Como por exemplo, partículas negativas têm, obviamente, uma temperatura inferior a zero — valor neutro. Já que a sensação que Theo sentia era a de queimadura, causada pelo fogo — gerada pelas partículas positivas —, ao usar a partícula negativa naquela região seria possível amenizar a dor. Não regenerar, apenas reduzir o dano. É uma fácil equação para condutores.

    Seria como jogar uma bola de fogo em uma bacia de água com gelo.

    Para separar as partículas não era difícil, bastava apenas fazer algo como “dois mais dois” que já era o suficiente. Após alguns segundos, a mão dele já não sentia a mesma sensação. Pelo menos não na força inicial. 

    — O seu controle de energia é incrível — disse Selina. — Se você se preocupasse em aprender a condução ao invés da conjuração… Você seria melhor ainda. Mas, tudo bem. — Alisou o cabelo de Theo, fazendo um cafuné no garoto sentado no chão. — Está bom desse jeito.

    — Ainda dá para melhorar — disse Luanne, pousando em meio a névoa de poeira. — Nunca aceite sua versão atual se ainda pode melhorar.

    Esticando a mão como apoio para Theo se levantar, Luanne logo envolveu seu sobrinho num abraço reconfortante e forte. Os olhos de Theo brilhavam como uma super lua. 

    Relaxando os ombros, Luanne soltou um suspiro de felicidade e orgulho, devido à evolução de Theo em somente três dias.

    Um garoto que há menos de setenta e duas horas ficava ofegante pelo fato de segurar um feitiço por uma hora, agora estava gastando uma abundância de energia naquele nível num simples treino. Com certeza a capacidade mental e especial “genium” o ajudou bastante na evolução rápida. Luanne mal podia esperar para ver como essa capacidade funcionava de perto.

    — Selina. Pode falar com as sacerdotisas por mim? Irei levar o Theo para dormir — disse Luanne.

    — Claro. Nos vemos amanhã? — indagou Selina.

    — Com toda certeza. Até, minha aprendiz.

    Luanne sumiu com Theo, junto de um vulto que espalhou a nuvem de poeira pelas proximidades. 

    Com um movimento brusco de seu braço esquerdo, Selina espalhou mais ainda a névoa, abrindo brecha para as sacerdotisas poderem a ver.

    Olhando para o topo da torre de onde suas superiores estavam, Selina sentiu olhares atravessarem seu coração enquanto era encarada descaradamente pelas outras seguidoras. 

    “E agora terei de escutar um breve desabafo…” pensou, desanimada e com sono.

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