Índice de Capítulo

    1

                Alguns dias haviam se passado desde a chegada dos viajantes em Uevyat. Ayasaka e Tuphi seguiam na busca de informações sobre o paradeiro do colar furtado de Agnus.

                — Mas por que esse colar é tão importante?… Digo, não é como se ele não conseguisse recuperar sozinho né. — Ayasaka comentou ao bater seus pés na ponta da cama pensativa.

                — Vai saber. É difícil distinguir o que uma divindade está pensando, não acha?

                A cama que Ayasaka dividia com Tuphi estava bagunçada, dando a entender que elas acabaram de despertar. A luz fraca matutina disputava lugar com as pequenas partículas de poeira que pairavam pelo ar do quarto.

                — Sei lá. Para mim até ontem tudo isso era lenda, entende?

                — Claro.

                Enquanto agarrada em meio aos braços de Tuphi na cama, Ayasaka se manteve pensativa nos conselhos de Agnus.

    “Você tem uma escolha, Ayasaka. Você pode deixar que essa canção a afogue na escuridão, ou pode encontrar luz nas conexões que formou. Cada profeta molda sua jornada”

                — Tuphi… você confia em mim?

                Tuphi olhou para Ayasaka que estava deitada sobre sua barriga enquanto acariciava seus cabelos.

                — Mas é claro que confio. Por que a pergunta?

                Ayasaka desviou o olhar, pensativa.

                — Nada… nada em específico.

                — Incertezas em relação ao futuro? — Tuphi acrescentou com um olhar gentil que chamou atenção de Ayasaka.

                — De certa forma… também.

                — Ser a Garota da Profecia deve ser um fardo e tanto né…?

                Ayasaka acenou com a cabeça.

                — Meu fardo também é pesado. Imagina ter seu povo morto diante de seus olhos sem você poder fazer nada? Consegue entender a sensação de incapacidade que carrego comigo Aya? Tem dias que eu acordo me sentindo inútil… mesmo na verdade, sendo uma princesa

                O silêncio tomou conta do quarto com Ayasaka sem saber o que responder para o desabafo repentino de Tuphi. O olhar no rosto da garota era

                — Uma grande princesa inútil… — Tuphi disse com lágrimas em seus olhos.

                — Ei, não diga isso! — Ayasaka abraçou Tuphi de imediato enquanto ela levava as mãos ao rosto.

                —Você não é inútil. Não é. Nunca mais diga isso Tuphi…!

                —…e como você pode saber do que eu passei Ayasaka?! Você não sabe de nada, mestre… desculp­-

                Ayasaka apertou Tuphi em seus braços de maneira calorosa com os olhos fechados, interrompendo-a.

                — Eu digo isso porque eu sei exatamente o que você já passou Tuphi. Eu sei… eu vi o seu passado!

                Com as mãos nos cabelos de Tuphi, Ayasaka continuou.

                — Eu não sei explicar…! Eu vi seu passado… não sei, eu vi a sua alma quando toquei em você pela primeira vez. Foi isso… eu tenho mais perguntas do que respostas poxa!

                — Você… viu…?

                Ayasaka balançou a cabeça positivamente a pergunta de Tuphi, o ambiente enfim foi preenchido pelo silêncio após a confirmação.

                A discussão tinha se encerrado, e um choro ameno invadiu o ambiente.

                — Por favor Mestre… Salve Ataraxia! Por favor… por favor…por favor…você é realmente a única esperança…!

                A voz afiada e estilhaçada de Tuphi atingia Ayasaka como inúmeras facas pontiagudas. Aquela frase percorreu por todo o corpo de Ayasaka, fazendo com que seu coração batesse de maneira descompassada por alguns instantes e seus olhos arregalassem em sua expressão por cima do ombro da garota chorosa.

                 Ayasaka apenas engoliu em seco, e criou coragem para continuar.

                — Eu… vou salvar Ataraxia…, mas Tuphi…

                — Sim?

                — A lua não emite sua própria luz, logo, ela não pode brilhar sozinha. Eu preciso de vocês, para serem minha fonte de luz e me proteger da escuridão.… Trato?

                Ayasaka, de pé na frente de Tuphi estendia a mão com um sorriso convidativo no rosto.

                — Sim! — Tuphi respondeu limpando as lágrimas do rosto e apertando a mão de Ayasaka.

    2

                Conforme caminhavam por uma das vielas principais de Uevyat, Ayasaka ficou incomodada com uma certa presença que acompanhava o pequeno grupo.

                — Por que você teve que vir junto hein?!

                — E essa grosseria do nada?!

                — Tu me irritou hoje!

                — Ayasaka pelos céus e Pryia para de xingar uma divindade…

                — E eu com isso que é uma divindade em Beatrice? Maluco chato!

                — Mas eu não fiz nada demais…

                — No momento ter nascido já é um ponto a menos.

                — Vai ter um festival aqui no fim da semana, não vai?  — Tuphi comentou

                — Sim! Vai ser realizada a 132ª edição do Festival das Luzes. — Agnus respondeu

                Ayasaka observou o ambiente ao seu redor com atenção por alguns instantes. As cores vibrantes das decorações, os sorrisos nos rostos das pessoas e a atmosfera de alegria que parecia contagiar a todos ao seu redor despertaram uma sensação de encantamento dentro dela. Era como se cada luzinha, cada enfeite e cada gesto de preparação para o festival emanasse uma energia positiva, preenchendo o ar com uma aura de esperança e felicidade.

                Ela notou crianças correndo animadas pelas ruas, algumas carregando pequenas lanternas decoradas, outras ajudando os adultos na montagem das estruturas festivas. Os adultos, por sua vez, conversavam entre si com entusiasmo, trocando ideias e compartilhando risadas enquanto trabalhavam juntos para deixar a cidade ainda mais bonita para o evento.

                Ayasaka sorriu involuntariamente diante da cena, sentindo-se contagiada pelo espírito festivo que envolvia Uevyat. Era reconfortante testemunhar a comunidade unida em torno de uma celebração tão especial, e ela não pôde deixar de se sentir grata por fazer parte daquilo tudo. Era como se, por um momento, as preocupações e os desafios de sua jornada se dissipassem, dando lugar a um sentimento de paz e pertencimento.

                — O Festival das Luzes? Parece interessante. É sobre o que? — Ayasaka completou.

                — Bom… é um festival feito para agradecer as bençãos e ensinamentos de Agnus sabe? As pessoas querem agradecer o manto de luz da esperança, é uma tradição antiga, uma festa para a família toda passada de geração em geração, mesmo diante dos tempos da Era sem Divindades. — Agnus respondeu com um contente sorriso.

                Ayasaka roubou um pequeno doce que estava na mão de Agnus, que ele havia pegado de uma banquinha que já estava pronta servindo doces para as pessoas que estavam colaborando com as preparações para o festival.

                — Você não veio aqui só para comer e aproveitar né sua Divindade aposentada meia boca cara-de-pau?! — Ayasaka colocou o pequeno bolinho na boca

                Tuphi riu da situação e olhou para Beatrice que balançava a cabeça negativamente.

                — Olhem pelo lado bom… pelo menos sabemos que a Mio vai ter facilidade para interagir com as divindades na jornada dela, não é mesmo?

                — Cale a boca Sannire. — Tuphi e Beatrice responderam ao mesmo tempo o garoto que tentou descontrair o clima de maneira falha.

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