Índice de Capítulo

    Trinta minutos haviam se passado. Como tinha sido liberado por Luanne e também não estava executando práticas escolares, Theo apenas seguiu Agnes pelo restante do dia. 

    — Para onde iremos? — indagou Theo, na tentativa de irritar Agnes.

    — Estou indo para o centro de pesquisas. Você é da categoria especial de Wispells, infelizmente poderá entrar.

    — O que tem nesse centro de pesquisas?

    — O mesmo que há em Wispells.

    — Hm… — murmurou desconfiado, desviando os olhos como se escondesse algo.

    Agnes durou alguns instantes, mas congelou quando percebeu.

    — Você… assistiu aulas em Wispells, não é?

    — Sim — respondeu num tom não tão convincente. — Se serve como argumento, a única aula que assisti, eu e minha turma levamos uma surra do nosso professor.

    — Para que você foi até Vagus, então?

    — Ganhar licença. Em Vagus as coisas funcionam diferente. Vocês estudam, aprendem e praticam o que suas ordens tem a oferecer. Se tornam especialistas nisso. Em Vagus, nós aprendemos a ser soldados desde sempre. E a nossa primeira missão é a responsabilidade. Não somos obrigados a assistir aulas, mas temos que arcar com as consequências futuras.

    — Então você decidiu ser um vagabundo? — retrucou Agnes.

    — Vagus significa “andarilho”. Vagabundo também tem um significado semelhante, então…

    — Você me entendeu, idiota. Não entendo a necessidade de entrar na melhor academia de todas as ordens, ser da classe especial e não estudar…

    — Se fosse para estudar, eu ficaria em Loreto, lendo os livros na biblioteca do palácio. Aprendendo matemática com a tia Sthefanny. Física sozinho, latim e o idioma imperial com a mamãe. Entende? Vim para Vagus para ser isso. Um agente de Vagus. E estou visando vagar pelo mundo atrás dos meus objetivos.

    — Não muda que está matando aula. Preguiçoso.

    — Ainda não me respondeu. O que há atrás dessa… porta.

    O tom de Theo diminuiu lentamente conforme a porta do centro de pesquisas se abria. Seus olhos se arregalaram e as sobrancelhas arquearam quando a principal fonte de luz do saguão iluminou seu rosto.

    Era um saguão sem igual: o local era de formato circular com o teto fechado. Tinha um buraco cilíndrico no centro onde uma esfera de luz amarela era sustentada por uma estrutura esférica de aço.

    Uma parede de quase dez metros era feita de estante para inúmeros livros, onde no meio havia um túnel com mais centenas de livros. Circulando a parede, estavam duas escadas nas laterais que levavam até um portão superior.

    Theo se sentiu perdido por um momento. O local estava resfriado, mesmo com a bola de energia logo à sua frente. Era um local enorme, onde centenas de estudantes e outras dezenas de professores caminhavam para todos os lados.

    — Aqui é apenas o hall de entrada. No fim daquelas escadas, está tudo o que um centro de pesquisas pode proporcionar — falou Agnes.

    O garoto deu alguns passos em direção à esfera de luz antes de paralisar por completo. Por algum motivo, Theo estava sentindo uma fonte de mana ali no centro. Aparentava ser uma bomba nuclear, mas, mesmo assim, todos presentes estavam calmos e sequer se importavam com os riscos.

    — Lindo, não é? — disse uma voz masculina, ainda jovem.

    Olhando para o lado, Theo se deparou com um garoto de sua estatura. Cabelos brancos e espetados cobriam um rosto fino. O garoto escondia as mãos num jaleco branco enquanto um par de óculos eram pendurados no pescoço.

    — Sou Christopher Zivot, mentor chefe da ordem de Myrddin. — Apresentou-se e logo esticou a mão para Theo.

    — Sou Theo De Lawrence, aspirante a agente de Vagus, grau dois.

    — Dr. Christopher… — chamou Agnes. — Este é o meu irmão, Theo.

    Christopher arregalou os olhos.

    — Agnes! Ele é o seu irmão mais novo? Tipo, o gênio?

    — Sim.

    Theo olhou desconfiado para Agnes. Christopher era mentor de sua irmã adotiva, então poderia ter saído da boca dela que Theo era um gênio em praticamente todas as áreas da ciência.

    “O brasão de Wispells…” pensou Christopher, analisando as roupas de Theo.

    — Nesse caso… É um prazer maior ainda.

    — O que ela é? — perguntou Theo, desviando o olhar para a esfera de energia.

    O cientista cruzou os braços e abriu um sorriso antes de explicar.

    — É uma representação perfeita de um núcleo. No centro da esfera há um cristal arcano do elemento luz, ele é o que mantém toda essa energia que está vendo. É lindo…

    — Um pequeno sol… — comentou Theo.

    — Exatamente. Enfim, Agnes. Pode sair até quatro horas mais cedo hoje. O Dr. Alexander me convidou ao laboratório dele, deve ser algo importante. Por isso estou suspendendo nossas ações nesta noite. Até depois de amanhã — disse num tom de despedida, tocando no ombro de Agnes e assentindo para Theo. 

    Christopher sumiu do campo de visão deles após alguns segundos.

    — O seu mentor é uma das mentes por trás das máquinas do Cataclisma Negro? — perguntou Theo.

    — Ele não teve culpa. Apenas criou os projetos das máquinas e conseguiu os colocar em prática.

    — Eu sei. Para onde vamos agora?

    ☽✪☾

    Ao atravessarem o segundo portão, Theo se deparou com uma das mais belas arquiteturas que já presenciou. O centro de pesquisas, o verdadeiro, estava em um vale no meio das montanhas de Fulmenbour. As calçadas eram feitas de passarelas brancas, num tom tanto quanto amareladas. A vegetação natural tomava os arredores, chegando até, em alguns lugares, aos primeiros andares dos prédios.

    Ah, claro. Os prédios. Eram levantados por tijolos, assim como os castelos e edifícios da Europa. Contudo, ao mesmo tempo mantendo um gostinho contemporâneo. Os prédios estavam ligados formando uma só instalação que percorre mais de um quilômetro e se fecha no fim do vale. O teto, por sua vez, é livre de qualquer coisa. Deixando que a luz do sol ilumine o centro de pesquisas.

    Por todos os lados há saídas de transições. Sejam túneis ou pequenas pontes no meio dos prédios, levando a lugares diferentes: para as academias, o campus e até mesmo o bosque.

    Theo se viu maravilhado com tudo. Mas, apenas alguns instantes depois, foi preso no laboratório em que Agnes é estagiária, ao qual servia ao Dr. Christopher.

    O laboratório de Christopher era grande, mas sequer chegava aos pés do de Dr. Alexander. Parecia mais um pequeno apartamento, que, no entanto, guardava tudo o que era necessário para suas pesquisas.

    O rapaz se sentou num sofá confortável, abaixo da janela ligada com as ruas do centro de pesquisas. Já Agnes, se sentou num balcão assim que chegou; começou a ler seus artigos e anotar as partes importantes.

    — Se quiser café, pode preparar — disse Agnes, notando uma certa inquietude em Theo.

    Se levantando do sofá, Theo caminhou até sua irmã, parando em frente a ela. Esticando o braço direito em sua direção, perguntou:

    — O que sabe sobre isso?

    — Sobre o quê?…

    Agnes virou o rosto e logo se espantou. Theo havia ativado a ressonância elementar dele e mostrado para sua irmã. Se lembrando o que Thays, a irmã mais velha de Theo, lhe disse há alguns dias sobre Agnes estar estudando sobre essas marcas, ele decidiu que aquele era o momento certo para perguntar sobre.

    — Uma ressonância…

    A garota abandonou todos os trabalhos e foi até Theo, somente para pegar a mão de seu irmão e olhar mais de perto aquela marca.

    — Despertei isso na minha primeira missão em Vagus. Além do nome e do que consegue fazer, não entendo muito bem o que significa. Questionei o Dr. Alexander sobre isso, mas ele me deu algo bem superficial.

    — É tão belo… — murmurou Agnes.

    Theo virou a mão para cima e criou um pequeno vórtice de vento. O que diferia aquele feitiço de outros, é a presença, o vento estava frio, úmido e trazia a sensação de liberdade. Ele logo desfez o feitiço, fechando a mão e desativando a ressonância.

    Agnes pigarreou.

    — Conte-me, o que já sabe sobre o assunto? — perguntou Agnes, sentando num sofá pequeno. Seu humor mudou completamente.

    — Sei que existem três tipos de marcas. Como podemos chegar nela e… o que podem fazer. Porém não consigo entender a influência, a magnitude disso tudo.

    — Seu erro desde sempre é fingir que não existem coisas sobrenaturais… — resmungou a garota. — Bom, a sua com certeza é a ressonância primordial. Mas, antes de tudo eu quero que entenda algo: para todos os seres vivos existe um ou mais espíritos guardiões. Quando acessamos a consciência desses seres nós chamamos eles de…

    — Wicca — respondeu Theo. — Laços familiares ou… guardiões.

    — Exatamente. O Sir Ethan tem a Fênix, mas, como ele mesmo já falou, nem sempre houve um laço entre os dois. O que aconteceu é que o Sir Ethan treinou tanto a combustão que a manipulava como uma extensão do próprio ser. Então, a ave Fênix caiu sobre os ombros dele.

    — Então… Acha que isso é o meu Wicca?! — indagou com felicidade.

    — Sim. Você sempre desejou um Wicca, né? Agora tem um. Vocês só tem que se conectar reciprocamente. Talvez uma sessão espiritual dê conta. Mas vai, me conta. O quão forte isso te deixa? Já consegue estimar?

    — Hum… Talvez uns cinco por cento? Com a ressonância ativada eu consegui conjurar feitiços de nível tempestade. Porém isso eu já faço normalmente…

    “O Theo consegue conjurar feitiços de níveis de tempestade casualmente?” Agnes se espantou por um momento.

    — Mas ele me deixa muito forte, não posso mentir.

    — Você será a minha fonte de estudos — disse Agnes, animada. — Consegue conversar com seus mentores para convocar uma reunião com o seu guardião amanhã?

    “Psicótica…” pensou Theo.

    — Sim. Sir Amiah e Sir Paul estarão ocupados. Então posso pedir ajuda a Selina… Com certeza. Você vai demorar a sair daqui?

    — Talvez mais uma horinha.

    — Certo. Vou buscar marcar com a Selina para amanhã. Onde você e a Thays moram?

    — No bairro nobre de Fulmenbour. Por quê? Vai dormir conosco hoje?

    — Vou.

    — Tá bom.

    Agnes se levantou e caminhou até o balcão, onde anotou uma informação num pedaço de papel.

    — Esse é o endereço da nossa casa — disse Agnes, entregando a Theo o pedaço de papel.

    — Valeu. Nos vemos de noite. — Theo se despediu brevemente e saiu do lugar rapidamente.

    Agnes segurou o punho com força, esboçando também um belo sorriso em seu rosto. Os olhos cansados e rodeados por olheiras de cansaço foram substituídos por um olhar de esperança. Afinal, através de Theo, ela poderia ser aprovada e ganhar uma promoção de classe.

    Laboratório de pesquisas avançadas do Dr. Alexander, complexo da Ordem de Fulmenbour.

    08:00 PM

    Nas últimas oito horas, Alexander tentou ao máximo organizar seu laboratório. Tirando as peças mecânicas do chão e as guardando, organizando os papéis jogados e varrendo o pó dos giz que caíram no chão. Ele tentou deixar o próprio laboratório o mais limpo e apresentável possível para as pessoas que receberia mais tarde.

    Naquele mesmo dia, Alexander, teoricamente, descobriu como criar vida. Um corpo, assim como os humanos e com consciência, tipo um robô. Contudo, como naquele mundo não havia nenhum resquício de computadores, desvendar como criar uma inteligência artificial era magnífico. Afinal, ele estaria criando vida orgânica assim como qualquer outro ser físico.

    Passos leves e sincronizados caminharam pelo corredor. Christopher perambulava lentamente pelo corredor que o levaria até o laboratório de Alexander. Mesmo andando com calma, o cientista estava nitidamente com pressa.

    Porém, ele foi parado assim que chegou em frente ao laboratório de Alexander. Não para esperar a porta abrir, mas sim pelas pessoas que estavam ali. William e Candice Windsor haviam também sido convidados para a reunião por Alexander. Fazia sentido, afinal, se tem alguma revelação científica gigantesca, os primeiros que deveriam saber são os titãs.

    Candice acenou alegremente para Christopher.

    — Olá, Chris. Como estão indo suas pesquisas? — perguntou Candice.

    — Estão fluindo num ritmo agradável — respondeu o cientista. — Sir William, Jovem Dama Candice — cumprimentou. 

    — Consegue nos informar para o que fomos convidados? — indagou William.

    — Não — disse Christopher. — Mas vindo do Alex…

    — Será uma bomba atômica — comentou Candice, abrindo a porta do laboratório.

    Ao contrário do que Candice imaginou, poucas pessoas estavam presentes. Na verdade, apenas Alexander, Luanne e o diretor-geral junto do mestre de Fulmenbour estavam no local. Todos olharam para a porta quando foi aberta, mas ao verem que eram os dois titãs e Christopher, apenas Luanne assentiu.

    Alexander, antes de cumprimentar a todos, caminhou em direção ao seu enorme quadro completo por anotações que, para leigos, seriam baboseiras ou coisas de louco. Foi então quando o diretor-geral, Nikolai Flamel o questionou:

    — O que exatamente te levou a nos convocar, Alex?

    — Também desejo saber — disse o grande-mestre de Fulmenbour, Enrico Pasqcuar.

    — Vocês deveriam ser menos rabugentos — brincou Luanne, se apoiando na jovem Candice.

    Procurando um lugar vazio no quadro, Alexander pegou um giz e escreveu a palavra: vita, em seguida traçou uma linha abaixo do nome.

    — Vida? — murmurou William.

    — Sim, senhores e senhoras. O motivo pelo qual eu convidei todos vocês para essa reunião, foi por quê…

    Alexander abriu os braços e olhou para cima, conduzindo o olhar de todos para as anotações que ele deixou no quadro negro.

    — Eu desvendei o dom que somente Deus possui! — exclamou, com um sorriso sádico, porém num sentido de alegria como um cientista que acabou de desvendar um código do universo. — Eu entendi como criar uma vida! 

    Candice soltou um resmungo de surpresa, ao mesmo tempo que Nikolai recuou um passo e Enrico descruzou os braços. William franziu o cenho, já Christopher, estava tão surpreso quanto a todos, porém, com um sorriso estampado em seu rosto.

    Enquanto Luanne… foi a mais afetada. A sacerdotisa de Alunne paralisou como o gelo e sua pele ficou pálida como a neve. Se fosse para representar, uma sombra havia tomado seu rosto, deixando apenas os olhos negros liberando um olhar de rejeição para Alexander. Chegando até mesmo em um nível onde ela liberou a própria aura, conseguindo sufocar todos — menos a William.

    Um silêncio ensurdecedor pairou pelo ar.

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