Índice de Capítulo

    Akari sentiu um desconforto de arrepiar os cabelos. Havia muito que ela queria perguntar, mas imaginava que obteria suas respostas depois de investigar aquele caso. 

    Se ele me pediu ajuda com isso, então deve ter algo a ver. Mas por onde eu começo?

    Ela enfiou o rosto no travesseiro, deitada de bruços na cama de seu quarto. 

    As informações eram poucas, então ela, primeiro, deveria ampliar a quantidade. Como fazer isso era a questão. Por outro lado, ela sentia-se feliz. 

    Mesmo que Mayck tivesse dito que não tinha nada em que ele poderia ajudar, ele disse algo tão suspeito que sugeria que ele iria ajudar mesmo que fosse em silêncio. 

    Um crime pesado havia acontecido há alguns dias, envolvendo um corpo esquartejado em um parque. Mayck lhe disse para investigar isso. 

    Quando pesquisou, Akari encontrou algumas poucas informações, mas nada muito relevante. 

    Eu acho que devo pedir ajuda de algum hacker. Acho que esse tipo de informação só vai ser encontrada nos canais da polícia. Mas isso é perigoso…

    No entanto, ela não tinha outra escolha. 

    Se essa fosse uma pista para encontrar o assassino de Clair, então era um risco que ela estava disposta a correr. 

    “Certo.” Decidida, ela saiu do seu quarto e foi visitar a base da Black Room. 

    Seu objetivo era Lucy. Ela iria pedir que Lucy ajudasse com o hackeamento e conseguisse as informações — sem que outros soubessem obviamente. 

    Lucy era muito boa no que fazia. Apesar da modéstia que ela mostrava, suas habilidades eram inegáveis. 

    Agora, Akari pensou, como vou convencê-la?

    Além de tudo, Lucy era uma garota boa. Ela não faria algo que soubesse que era errado, então Akari precisava de uma boa carta na manga para conseguir a cooperação. 

    Quando a encontrou, ela estava na sala de treinamento, junto a Isha. Mais precisamente, na seção de tiros, onde diversas pessoas — portadores e soldados — se reuniam para melhorar ou até mesmo demonstrar suas habilidades com armas. 

    Akari, que mudou para Stella ao pôr sua máscara, se aproximou casualmente do estande de tiro onde elas estavam focadas em alguns alvos brancos luminosos. 

    “Oii, meninas. O que estão fazendo? Treinando a essa hora?”

    “Não está tão cedo assim. E os treinos deveriam começar mais cedo, sabia?” Isha alfinetou a garota com as mãos na cintura e um olhar que dizia que era o óbvio. 

    Akari sorriu despreocupadamente. 

    “Eu sei, eu sei. Vou me juntar a vocês. Além do mais, como você está, Lucy? Se sente melhor?”

    “A-ah, sim. Estou melhor, sim. Obrigada.”

    “Então está ótimo.” Stella levantou o polegar com um sorriso radiante em resposta à tímida Lucy. 

    Em seguida, elas voltaram para o treinamento de tiro ao alvo e colocaram seus óculos de proteção e abafadores de ruído. 

    Os treinos eram feitos com armas de ar comprimido e Stella se gabava de suas habilidades sempre que tinha a chance, se exibindo para a novata da equipe. 

    Isha se irritava, mas não tinha outra opção senão elogiar as habilidades de Stella, que realmente eram de alto nível. Em uma demonstração, ela conseguiu atingir dez alvos no centro que se moviam rapidamente com duas pistolas, atraindo a atenção dos demais presentes, que não puderam evitar os elogios. 

    Mas Isha não ficou para trás. Seus tiros, apesar de serem com apenas uma arma, eram rápidos e extremamente precisos.

    No fim, uma competição se iniciou entre as duas e terminou com a frustração de Isha, que, batendo o pé no chão, exclamou:

    “Eu vou fazer uma pausa!” E saiu, deixando Lucy e Stella a sós. 

    Isso!

    Stella comemorou quando viu a oportunidade para fazer seu pedido problemático. Ela sabia que se irritasse Isha, conseguiria fazê-la sair de perto e teria esse momento. 

    “Stella-san?”

    “Não é nada. Hehe. Que tal fazermos uma pausa, Lucy-chan?”, ela sugeriu com um sorriso e guardou as armas numa cabine próxima. 

    “Acho que está tudo bem…?”

    Sem intenção de recuar, Lucy a acompanhou até fora da sala. No saguão lotado, elas foram até uma máquina de bebidas instalada próxima a saída. Stella pagou uma bebida para Lucy, que aceitou hesitante. 

    “Uwah… Nada como uma bebida gelada nesse calor.” 

    Stella apreciou sua bebida energética com um gole. 

    “O que você acha? Lucy-chan.”

    “Eu? Eu… acho que é confortável…”

    Já fazia alguns meses que ela estavam juntas, mas Lucy ainda não tinha se aberto para todos na equipe. Parte era por causa de sua timidez, e se tinha um motivo oculto ninguém sabia. 

    Mas Stella não iria desistir tão fácil da ideia de se tornar amiga dela. 

    “A propósito, Lucy-chan, você era boa nos treinamentos com arma na academia? Você pelo menos parecia ter bastante experiência.”

    “… Não muito… na verdade. Eu sempre estive na média ou abaixo dela. Eu não tenho um papel exato na equipe, mas Ruby-san me disse para tentar várias coisas, aí eu posso encontrar meu lugar.”

    “É mesmo? Isso é ótimo, então. Mas não precisa ter pressa. Eu estarei aqui para te ajudar sempre que for preciso, está bem?”

    “Ce-certo.”

    “Além do mais, não é como se você não tivesse um papel. Você é boa com computadores, isso é incrível.”

    “Obrigada…” Lucy sorriu timidamente. 

    “Por causa disso, eu gostaria de te pedir uma ajuda em algo. Você me ajudaria?”

    “Ajuda? Minha?” Ela se surpreendeu e tentou esconder, mas a ideia de ser útil lhe pareceu agradável. “… Se eu puder ajudar…”

    “Ótimo!” Stella exclamou. “Eu sabia que poderia contar com você.”

    E foi assim que Stella conseguiu a ajuda de Lucy e rapidamente a colocou em movimento, obviamente, não antes de explicar que era um trabalho secreto. 

    Lucy ficou um pouco chocada e nervosa quando soube o que precisava fazer, mas ela o fez sem demora quando Stella disse que assumiria toda a responsabilidade caso algo desse errado. 

    Então, com vários cliques no teclado do computador pessoal de Stella, Lucy invadiu o sistema da polícia e copiou vários arquivos confidenciais, os quais Akari selecionou apenas o que lhe importava. 

    Estando sozinha, apenas ela e as informações, Stella verificou uma a uma. 

    Os documentos variavam, mas eram sobre o mesmo crime. Um resultado de autópsia afirmava que o corpo sofreu ferimentos internos gravíssimos, frutos de uma luta corporal. Devido ao estado, não tinha como dizer que a vítima tentara se defender e também os inúmeros furos implicavam que ela foi submetida a uma espécie de tortura. 

    Em contrapartida, as investigações não tinham nenhuma certeza de quem poderia ser o autor do crime. O que eles tinham, no máximo, era a certeza de que havia sido um homicídio. 

    Akari torceu o nariz. As imagens anexadas aos arquivos lhe davam ânsia. 

    “Ugh… algo desse nível só pode ser coisa de um portador. Além do mais, esses ferimentos… parecem algo que ele faria…”

    A sensação de nojo se misturava com a raiva que lentamente iam brigando dentro dela. 

    Imaginar que aquele homem estivesse tão perto era mais do que o suficiente para seu corpo querer se mover. Mas ela precisava ser paciente. 

    “Certo… isso ainda não é o suficiente. Será que eu ligo para ele pra ter uma ideia do que fazer a seguir?”

    Mesmo obtendo a ajuda de Lucy, Akari ainda tinha dúvidas sobre como prosseguir. 

    O local onde o corpo foi encontrado não era muito longe, então a garota resolveu visitar. Não encontrando nada útil, ela decidiu que precisava fazer de outra forma e conseguir informações de um lugar inacessível para as pessoas normais. 

    Se for lá… eu provavelmente vou encontrar alguma coisa. 

    Ela se sentia desconfortável, mas precisava honrar com seu compromisso de encontrar o assassino de sua veterana. Akari tinha isso fixo em seu coração, mesmo que não fosse dela. 

    Depois de voltar para casa, por volta das três da tarde, ela ligou seu computador novamente. 

    Digitar toda aquela sequência aleatória de números e letras sugou parte de sua energia, mas logo ela teve acesso ao site que só era utilizado por caçadores. Era mais como uma grande comunidade. Havia salas de bate papo, feed de notícias e diversos outros recursos que ela poderia acessar livremente, uma vez que já estivesse no site. 

    Perfis, todos os anônimos, estavam compartilhando diversas coisas sem parar. Ali era como o próprio submundo da internet — pelo menos, parte dela — os usuários falavam o que bem entendiam sem medo nenhum de serem mal vistos ou acusados de algum crime. 

    “E pensar que a Black Room já tentou apagar isso”, Akari falou em voz alta. 

    Uma vez, quando o site dos caçadores estava começando a ganhar força, a Black Room tentou pará-los ao fechar diversos servidores, mas haviam muitas pessoas determinadas a fazerem o negócio funcionar. No fim, todas as tentativas de bloquear a comunicação foram falhas. 

    Havia diversos problemas em ter um site como aquele ativo. Se as forças do governo, por exemplo, conseguissem acesso ao site, muita coisa iria por água abaixo, como a identidade dos portadores. 

    Sem pensar muito a fundo nisso, Akari rapidamente escreveu sua publicação. 

    Alguém tem informações sobre o caso do parque?

    Não demorou muito para a aba de comentários ser bombardeada de respostas. 

    A garota analisou algumas informações. 

    Algumas das respostas não passavam de tolices proferidas pelos outros usuários, o que não agregava em nada para a curiosidade da pessoa que fez a pergunta, então foram apenas ignoradas. 

    Apenas uma chamou a atenção, um indivíduo mencionou que havia presenciado o ataque. 

    Após conversar com o usuário, ela confirmou algumas coisas. 

    “Então, havia duas pessoas…”

    Segundo aquele usuário, enquanto um realizava o ato, o outro apenas observava de braços cruzados. Os sons dos ataques eram ensurdecedores. Os gritos da vítima deixaram um gosto amargo na boca da testemunha, que não podia fazer nada.

    “Bom, eu não posso julgar. Se fizesse alguma coisa, com certeza iria ser só mais uma vítima. Embora me surpreenda que não tenha sido pego.”

    Era, de fato, impressionante, Akari pensou. Se estivesse falando mesmo de Ryuu, então ele havia sido bem descuidado ao se deixar ser visto por um pequeno caçador. 

    A cereja do bolo, o que deu certeza para a garota, foi o fato mencionado, que a testemunha viu objetos como agulhas serem despejadas com grande velocidade sobre a vítima, junto ao som do que parecia um instrumento musical que ele não pode identificar, devido ao medo e pavor que havia sentido na hora do crime. 

    Olhando a tela do computador, Akari sorriu satisfeita. 

    “Eu acho que me dei muito bem. Recebi até uma descrição dele. Só pode ser ele… mas quem será que estava com ele? Se for um parceiro, então talvez eu precise de ajuda.”

    Era hora de pôr em prática seu plano de vingança. 

    Akari não era do tipo que pensava muito, então, sim, seu plano era simplesmente armar para Ryuu e atacá-lo de frente. Mas ela não era estúpida. Conhecia seus limites e sabia que seu oponente não seria alguém fácil. Por isso ela iria em busca de aliados. 

    “Alguém da Black Room… não sei se isso vai dar certo, mas não custa tentar. Caso contrário, eu peço ajuda a Mayck mais uma vez.”

    Ela fora rejeitada uma vez, mas mesmo sabendo que ele não ajudaria diretamente, talvez ele a ajudasse a conseguir aliados para a luta decisiva de sua vida. 

    Akari se levantou da cadeira e alongou os braços. Seu rosto se tornou sombrio.

    E, claro, não posso deixar nenhum deles saber. Não agora. 

    <—Da·Si—>

    A decisão de se aliar à Black Room se tornou um grande evento para todos os integrantes da organização. Tinha quem ficasse insatisfeito, como era o caso de Amélie, mas não havia muito que ela pudesse fazer. Os recursos a que eles podiam recorrer eram limitados se fossem fazer tudo com ordem e discrição. 

    Apesar de tudo, o contrato com a Black Room estava feito. Ainda havia dúvidas sobre trabalhar com a GSN, mas a opção também estava guardada, caso fosse necessário, eles não hesitariam em ir até eles. 

    Cartas na mesa. A base principal da organização ficou agitada e podia-se ver soldados indo de uma lado para ou outro, fazendo seus preparativos para um confronto iminente contra as forças da Ascension. 

    Após uma convocação imediata, as centenas de membros da Strike Down se encaminharam para o salão, onde ocorreria uma reunião significativa, envolvendo o futuro dos portadores do Japão, e possivelmente do mundo. 

    O salão onde estavam era amplo e luxuoso, contando com galerias à direita e à esquerda, feitos para suportar a incrível quantidade de soldados presentes ali. As paredes acima das galerias eram revestidas com painéis de vidro, que permitiam a entrada da luz natural.

    O lustre fixo no teto era como uma grande placa redonda e luminosa, que refletia nas paredes revestidas com gesso e mármore, o qual era decorado com dezenas de fileiras de bancos estofados. Alguns corredores foram criados pela divisão dos bancos, para que fosse possível transitar por ali sem muito esforço. 

    A frente de todos, acima de um pequeno palco, havia um pódio feito de metal inoxidável e pigmentado com a cor branca. Imediatamente atrás dele, quatro cadeiras estavam posicionadas de frente para o público — duas de cada lado —, e cortinas acinzentadas decoravam os cantos. 

    Acima do pódio, o brasão da organização era exibido majestosamente em uma placa de metal dourada e envolta a um moldura da mesma espécie. 

    O salão estava cheio como um formigueiro. As vozes sobrepostas tornavam impossível reconhecer uma frase qualquer em meio a tanto barulho. Todos estavam tensos. Seus pensamentos estavam todos voltados ao tópico que seria apresentado em poucos minutos. 

    Porém, ao invés de estar preocupada como os demais, Hana estava com a cabeça nas nuvens. A ideia de Chika fazer parte de outra organização ainda não tinha caído totalmente para ela e isso martelava em sua mente como uma piada. Além disso…

    Agora que paro pra pensar, eles estão trabalhando juntos, não é?

    Mayck e Chika faziam parte do mesmo grupo. Hana não sabia dizer se o que sentia era inveja ou ciúme, mas ela se recusava a admitir isso enquanto seu peito queimava. 

    “Então quer dizer que o líder da Black Room vai vir até aqui?” Asahi questionou com uma sobrancelha levantada. 

    “Uhum”, Ryuunosuke respondeu com um aceno de cabeça. “Como é uma aliança pública para nós, eles precisam dessas formalidades. Não é política da Strike Down esconder tudo de seus membros.”

    “Mas, ainda assim, nunca imaginei que algo desse tipo aconteceria de novo. Talvez essa aliança seja mesmo a coisa certa.”

    “O que isso quer dizer?”

    Asahi tinha um olhar confuso para o comentário de Airi, mas ela explicou rapidamente. 

    “Ah, é mesmo. Você não estava aqui na época. Estou falando do último confronto que tivemos com a Ascension. Por causa da inimizade entre as três organizações, nós tivemos muitas perdas.”

    “Isso aconteceu. Todos os mais velhos daqui perderam alguém daquela vez.”

    “Um confronto, é? Como eu nunca ouvi falar disso?”

    Ryuunosuke suspirou e abriu a boca. 

    “É porque não foi um confronto em grande escala. Começou com pequenos incidentes, mas logo se tornaram ataques em diferentes pontos do país. Então como todas as organizações se envolveram, ou melhor, foram envolvidas, acabou saindo de controle. Foi um capítulo negro na história da Strike Down.”

    “E como não havia cooperação nenhuma, todos os lados tiveram perdas irreparáveis. Essa também é uma das causas que mantém cada um no seu canto. Por isso que ver uma cooperação dessas chega a ser algo grande”, Airi completou. 

    Ela, assim como Ryuunosuke, era veterana na organização e presenciou diversas situações delicadas e problemáticas ao longo de sua vivência ali. Chegava a ser para ela, de certa forma, nostálgico pensar no passado e também um pouco assustador. 

    “Hmm… mas por que não só pedir desculpas uns para os outros? As coisas seriam bem mais fáceis, não é?” Yui, sentada ao lado de Ryuunosuke e que estava apenas observando em silêncio até aquele momento, perguntou de forma inocente. 

    Airi sorriu com isso. 

    “Com certeza seriam. Mas não é tão simples assim.”

    “Eu não entendo. Tudo seria tão simples se todo mundo fosse amigo… Ah! Mas aí não teria como lutar?!”

    A garota se corrigiu após perceber que não poderia lutar caso todos fossem amigos. 

    “Isso sim seria perfeito”, Ryuunosuke acenou positivamente para o pensamento dela, o qual ela logo corrigiu. 

    “Não. Não seria, não.” 

    “Seria, sim.”

    “É claro que não. Certo, Hana-onee-chan?” Em defesa de seu ponto de vista, ela se inclinou no banco e procurou o suporte da pessoa ao seu lado.

    “Mm… O quê…?”

    A discussão logo foi arrastada para a silenciosa Hana, que reagiu lentamente. 

    “Aaah… Hana-onee-chan está com a cabeça na lua de novo.” Yui bufou. “Você não acha que um mundo sem lutas seria chato?”

    “A-ah, me desculpe. Do que vocês estão falando?”

    “Não é nada de importante. Apenas Yui sendo teimosa”, Asahi confortou a garota explicando resumidamente. Yui, no entanto, fez bico e continuou reforçando seu argumento teimosamente. 

    Hana riu sem graça, enquanto Airi, sentada ao seu lado, a olhava com curiosidade. 

    “Hana, você…”

    Quando Airi se dirigiu a ela, tudo ficou em silêncio repentinamente. Os olhos de todos se voltaram para o pódio, onde os cinco líderes, juntamente a duas pessoas portando máscaras brancas, entraram. 

    A quietude estava absoluta nesse momento. Cada um podia ouvir a respiração da pessoa ao seu lado e os passos dos líderes seguindo para suas cadeiras ressoavam por todo o salão, comandando a atenção de todos os presentes. 

    Enquanto os outros líderes se sentavam, Amélie se pôs de pé atrás do pódio e encarou a multidão. Ninguém ousava abrir a boca. Ninguém além dela. 

    Com poucas palavras, ela saudou seus subordinados e contextualizou o motivo do chamado em questão. A aliança, então, foi admitida e reforçada aos olhos de todos os principais funcionários da organização, os quais se sentavam nas primeiras fileiras — esses eram os chamados conselheiros, os quais tinham enorme poder de influência, estando apenas abaixo dos líderes.

    Amélie deu espaço para Zero, e ele se apresentou, assim como apresentou Nikkie, como sendo os representantes da aliança entre as duas organizações. Foi a primeira vez que burburinhos entre os ouvintes se formaram naquele salão, enquanto diziam “ele realmente está de máscara numa reunião dessas?”

    Mas isso foi rapidamente explicado, quando Zero percebeu que aquilo parecia desrespeitoso aos olhos deles. 

    “Nós, da Black Room, priorizamos o anonimato e deixamos para o julgamento de vocês revelarem quem são em suas vidas sociais. Essa aliança firmada não é apenas interesse no poder, mas um meio para alcançarmos o nosso objetivo que é a paz entre portadores e civis, mesmo que tenhamos que viver escondidos do público.” 

    Sua voz ecoou confiante no salão. Então, ele continuou ao ver que os murmúrios cessaram. 

    “Por isso, meus caros colegas portadores, estendam a sua mão para a Black Room e vamos evitar que o mundo atual seja corrompido pelo poder daqueles que só pensam em si e garantirmos a paz daqueles que vocês amam e querem proteger. Não será fácil, mas tenho certeza que um caminho se abrirá se lutarmos juntos.”

    Nikkie mantinha seu olhar levantado ao lado de Zero, também transmitindo confiança. 

    Ao finalizar suas palavras, todo o público se levantou e uma salva de palmas se iniciou. Facilmente, Zero conquistara a confiança dos membros da Strike Down, provando o quanto sua influência era grande e que ele poderia facilmente liderar sua divisão. 

    Hana olhou fixamente para o homem em cima do pódio. 

    Então esse é o chefe de Mayck e Chika.

    A pessoa que estava acima deles e os dava ordens.

    Hana mordeu o lábio inferior; algo começou a queimar dentro dela. 

    Por causa dele, Mayck e Chika… Não. Espera, talvez eu esteja pensando demais. 

    Ela respirou fundo e voltou a olhar para o pódio. Hana tinha pensado muitas vezes em falar com aquela pessoa. Mas como se aproximaria? Como ela poderia falar que queria que Mayck ficasse com ela?

    Não era tão simples apenas se aproximar e dizer o que queria. Principalmente se tratando de alguém do alto. 

    Depois que a reunião foi encerrada, todos começaram a se dispersar. Os estacionamentos foram se esvaziando em um grande tumulto de veículos pretos variados. 

    Hana esperou até que todos fossem, dizendo aos seus companheiros que esperaria um pouco mais. Quando viu que já estava praticamente sozinha no salão, ela correu para o pódio e entrou na sala atrás das cortinas. 

    Seu coração palpitava de ansiedade. Se fosse pega por alguém, não sairia com apenas uma advertência, então ela tinha que ser cautelosa. 

    Seguindo por um corredor bem iluminado pela luz solar, Hana se deparou com uma dupla de não combatentes — que eram responsáveis por outras áreas da organização — e ela foi obrigada a entrar em uma sala qualquer que encontrou aberta. Por sorte, estava vazia. 

    Ela esperou a dupla passar. Quando passaram, ela ouviu parte da conversa dos dois. Não era nada importante, então ela decidiu apenas ignorar.

    Depois de checar se estava tudo limpo, ela continuou até que eventualmente foi surpreendida por uma voz masculina, que a fez travar. 

    “Se esgueirando pelos corredores? Essa não é uma atitude adequada para alguém como você.”

    “Presidente Yamamoto… eu estava apenas dando uma volta. Estou indo agora.”

    Hana tentou desconversar e sair. Desde que os segredos de Mayck foram revelados por Akira, a imagem que Hana tinha dele havia se deteriorado. Ele não parecia mais só uma pessoa completamente fria, como também tinha seu lado cruel. 

    A garota só o queria longe dela. No entanto, antes que ela saísse, Akira abriu a boca. 

    “Você parece ter superado os problemas com seu amiguinho. Que coisa linda, não?”

    “Eu não sei do que o senhor está falando.”

    “Ahaha! Amnésia? Bom, deixe que eu refresque sua mente então.” Akira sorriu maliciosamente. “A justiça está protegendo o assassino?”

    “Isso não está acontecendo…”

    Hana apertou o punho. Havia dado o azar de encontrar aquela pessoa tão antiquada no meio de sua missão secreta. 

    Eu preciso sair daqui, ela pensou. 

    “Escuta, presidente Yamamoto, eu não estou protegendo ninguém. Eu até queria, mas não é o que acontece. E se você insiste em dizer que Mayck é o mal, devia repensar suas próprias decisões.”

    Havia muitos rumores perturbadores sobre Akira. Mas eram só rumores. 

    Ouvindo isso, Akira riu alto. 

    “Hahahahah! Muito engraçado. A pessoa que eu recrutei está me ameaçando? Eu me pergunto de onde vem tanta confiança. Mas, bem, você vai precisar de muito mais dela no futuro. Tenho certeza disso. Tanto você quanto ele irão passar por uma era turbulenta”, ele disse e se virou. “Faça o que tiver que fazer. Se vai dar certo ou não, é outra questão. Passar bem.”

    Ele acenou com a mão e se retirou, deixando, para trás, uma Hana furiosa. 

    O que quer dizer com era turbulenta? Que seja. 

    Ela deixou Akira de lado e seguiu seu caminho. 

    Algum tempo depois, ela chegou ao estacionamento, já vazio, e avistou um pequeno grupo de máscaras brancas. 

    “Esperem!” Hana chamou a atenção deles enquanto se aproximava. 

    “Você é…” 

    “Me desculpe por chamá-los assim. Eu precisava muito falar com você.”

    “Hana-san, da Strike Down, certo? Do que precisa?” Zero acenou para que seu motorista esperasse. 

    “Você sabe quem eu sou?” Hana deu um passo para trás. 

    “É claro que sei. Você deve querer falar sobre ‘ele’, estou certo?”

    Zero tinha aquela aura de quem sabia tudo, mas sem parecer assustador. Pelo contrário, era até tranquilizante saber que poderia consultá-lo sem ter que explicar muita coisa. 

    Hana sentiu isso. 

    “É. Isso mesmo. Eu queria te pedir pra…”

    Zero inclinou sua cabeça levemente, esperando que ela continuasse. 

    A garota, porém, começou a pensar que aquela era uma péssima ideia. 

    Eu acho que devia deixar isso de lado…

    Mas parte dela não queria recuar. 

    Eu tenho que tentar. Eu prometi que iria proteger Mayck, não disse? Então, porque estou hesitando tanto?

    “Se você puder ser rápida… Nós temos muitos compromissos para hoje.” Nikkie interrompeu seus pensamentos. Zero sorriu sem graça, fazendo sinal para ela se acalmar. 

    Hana respirou fundo, com a mão no peito. Ela olhou fixamente para os olhos de Zero. 

    “Eu quero… que você deixe Mayck ser livre.”

    Zero e Nikkie ficaram surpresos. Não esperavam uma declaração como aquela. 

    “Isso foi inesperado. O que você quer dizer com ‘deixá-lo ser livre’? Não é como se eu estivesse obrigando ele a fazer algo.”

    “Mayck, ele… nunca vai dizer o que sente de verdade. Mesmo se você insistir, ele vai sorrir e dizer que está tudo bem. Eu tenho o observado desde sempre, então sei que ele está com problemas. Eu quero ajudá-lo, mas não sei como fazer isso.”

    “E porque acha que eu devo deixar ele ser livre?”

    “Eu não sei exatamente o que ele está enfrentando, mas tenho certeza que está sendo difícil. Se você está deixando ele carregar muita coisa, eu quero que pare.”

    “Hee…” Zero sorriu. No entanto, ele ficou com uma postura mais séria de repente, como se estivesse pressionando a garota apenas com o olhar. “Está me dizendo, então, que pode cuidar dele?”

    “Eu…”

    “Não pode? Então como pode fazer um pedido desse se não tem certeza de que pode ajudá-lo? Mayck Mizuki está fazendo o possível por você e você não consegue ao menos retribuir.”

    “…”

    “Os fracos tem desejos, mas só os fortes podem realizá-los. De qual grupo você faz parte?”

    Hana se viu incapaz de responder. 

    Eu sou fraca? Eu? Que me esforcei tanto apenas para protegê-lo? Acho que sim… fiz de tudo e o que aconteceu no fim? Mayck está me protegendo. Eu sei disso melhor do que ninguém. 

    A pessoa à sua frente, que parecia alguém simples e carismático, acabou lhe colocando contra a realidade. Então era assim que alguém forte agia?

    Zero deu as costas e entrou no carro. Nikkie foi após ele. 

    Hana não podia dizer nada. Tudo o que ouviu era verdade. Seria uma tola se tentasse questionar, mesmo que quisesse fazer isso. 

    O carro começou a se movimentar, mas antes de ir embora, parou e o vidro traseiro abaixou, deixando Zero à vista. 

    “No entanto, eu admiro sua coragem. Poucos teriam coragem de falar comigo do jeito que você fez. Meus parabéns, Hana-san. A parte boa dos fracos, é que eles possuem muito espaço para crescer.”

    “Zero-san…”

    O carro fechou a janela e partiu. Hana observou do estacionamento vazio. 

    “Eu tenho espaço para crescer…?”

    A garota cerrou o punho. 

    “Eu vou continuar me esforçando. Então Mayck não vai ter que cuidar de mim e Yamamoto não vai poder me chantagear. Eu consigo fazer isso.”

    Reforçando sua determinação, Hana voltou para seus companheiros. 

    ****

    “Ela é uma garota interessante, não acha?” Zero falou de repente. 

    “Ela me pareceu bastante esforçada, mas não posso dar uma opinião sem conhecê-la direito.”

    “Fria como sempre, hein… Hehe” 

    Nikkie ignorou a piada de seu superior e olhou pela janela do carro, observando as árvores que passavam rapidamente. 

    “Mas… eu acho que ela é interessante sim.”

    “Você está sendo bem sincera hoje. Se esforçar por alguém e ser recompensado no final… não tem sensação melhor, certo? Acredito que a próxima geração vai ser muito interessante de se ver.”

    “Se você diz…”

    Um toque de celular interrompeu a resposta da garota e Zero pegou o aparelho no bolso do seu paletó. 

    Sua expressão endureceu, deixando Nikkie curiosa. 

    “O que foi?”

    Zero sorriu sem graça. 

    “Parece que… as coisas ficaram complicadas, mas não sei dizer porquê.”

    Ele mostrou a tela para Nikkie, que exibia uma manchete urgente. 

    Ataque terrorista acontece em aeroporto de Tóquio. 

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