Índice de Capítulo

    — Consegue me levar pra lá de volta? — perguntou Renato. Teve que gritar devido ao barulho do vento e ao grupo de pássaros que passou voando e grasnando por eles.

    A garota abriu um sorriso.

    — Mas é claro! Eu posso fazer de tudo, Renato! Sou quase uma super-heroína!

    Aumentou a potência dos propulsores em suas botas e ganharam altura rapidamente.

    — Me joga sobre ele!

    — Certo!

    Tâmara, que segurava Renato pelos ombros, tomou impulso e jogou o garoto contra o anjo.

    Uriel ainda urrava de dor e ódio, com sangue escorrendo de seu nariz quebrado, quando o garoto agarrou-lhe pelas costas.

    A espada negra surgiu na mão de Renato e ele golpeou com ela, mas a lâmina não conseguiu ferir a pele impenetrável do anjo.

    — Irás morrer! Cortá-lo-ei em pedaços, macaco de barro!

    E a Espada do Perdão, com a lâmina envolta em chamas feito uma coroa dourada, surgiu nas mãos do anjo, e ele a balançou, cortando o vento.

    Quando foi atingir a lâmina contra o garoto, Tâmara atirou com seu fuzil gigante. Uriel, com um movimento rápido, moveu a cabeça, desviando da bala que foi em sua direção.

    Nessa hora, uma lâmina avermelhada saiu de dentro de uma névoa da mesma cor, que flutuou até eles através do vento. A lâmina bateu no peito do anjo, com a ponta, mirando o coração pulsante, mas não conseguiu atravessar a pele dura feito carapaça.

    O anjo meteu a mão dentro da névoa e puxou Clara, segurando-a pelo pescoço. A névoa desapareceu.

    Renato golpeou com sua lâmina. A espada vibrava em sua mão com os impactos, mas não conseguia ferir a criatura angelical.

    O anjo girou sua espada, fazendo uma pegada invertida, e golpeou Renato. O garoto bloqueou, batendo lâmina contra lâmina. Sua espada negra tiniu, como num grito agudo, e os espinhos do cabo machucaram sua mão.

    O punho de Clara brilhou na cor de seus olhos e ela atacou com um soco ao mesmo tempo em que Tâmara disparava mais um tiro.

    O anjo desviou da bala e bloqueou, com um braço, o ataque de Clara ao mesmo tempo. O brilho avermelhado se dissipou.

    Bateu as asas, rodopiando no ar, e jogou Clara  para o alto. Estendeu um dos braços para disparar uma rajada de fogo. Renato segurou o braço dele e tentou torcê-lo.

    A rajada de fogo cruzou os ares. As chamas não queimavam Renato, então ele não soltou o braço. Com a mão esquerda, pressionou a parte interna do cotovelo e, com a direita, forçou o punho do anjo para cima. Isso fez o braço do anjo se dobrar e a rajada flamejante foi direcionada para o alto, abrindo um buraco nas nuvens.

    Clara se tornou névoa novamente, e tentou voltar para a luta, mas era difícil ficar na forma intangível por tempos prolongados, principalmente com o vento forte. Ele a empurrava para o sentido contrário. Mais uma vez, sentiu falta de suas asas. Assim que bateu contra o chão, amaldiçoou aquele que tirou suas asas e jurou que o mataria com muita dor.

     Renato girou sua espada e golpeou o pescoço do anjo, mas a espada sequer o arranhou. Uriel segurou Renato e, olhando no fundo dos olhos do garoto, tocou a ponta de sua espada flamejante no plexo solar do garoto.

    Tâmara, desesperada, disparou sua arma, mas Uriel simplesmente desviava das balas com leves batidas das asas.

    — Recebas o perdão — disse o anjo, e afundou a espada na carne de Renato. O garoto grunhiu de dor sentindo o fio afiado deslizando para dentro de si, rasgando-o. Então, o anjo girou a espada para causar ainda mais dano.

    — Guh! — Sangue saiu da boca de Renato

    Por fim, a espada se iluminou feito uma estrela e explodiu em chamas.

    O garoto despencou das alturas.

    Tâmara, tomada por loucura, disparou sua arma e, vendo que não adiantava, meteu a mão nos bolsos e tirou de dentro dois objetos com formato de paralelepipedo, do tamanho de tijolinhos, apertou os botões nas laterais do objeto, e um bip contínuo, como em contagem regressiva, pôde ser ouvido. Ela acionou os propulsores, ganhando impulso para avançar contra Uriel.

    — Vamos explodir juntos! Este C4 vai nos transformar em pedaços!

    Porém, ao invés de evitá-la, o anjo foi de encontro. Segurou a garota, com os explosivos sendo pressionados contra seu peito.

    — Sou abençoado com o poder do fogo. Vais morrer sozinha! Tu pensas, deveras, que teus explosivos me machucariam? 

    — Não.

    Num movimento rápido, a garota soltou os explosivos, puxou uma faca da coxa e meteu a lâmina no olho do anjo.

    Uriel gritou de dor, com o sangue quente escorrendo pelo seu rosto.

    Os explosivos explodiram no ar, alguns metros abaixo dos dois, como fogos de artifício de guerra, e Tâmara pegou seu fuzil e direcionou o cano para o olho de Uriel. A uma distância tão curta, é impossível ele desviar.

    A rajada atingiu o rosto do anjo. Tão forte, que ele sentiu o crânio quase se partindo. Bateu as asas em reflexo, se afastando.

    Tâmara sorriu.

    — Valeu pelos brinquedinhos mágicos, Kath.

    E ela acionou os propulsores, perseguindo o anjo.

    Mas, se recuperando rapidamente, ele meteu a mão no cabo da faca e o puxou, arrancando-a de dentro de seu olho.

    Seu olho esquerdo ainda estava bom e foi com ele que ele viu aquela garota humana, amaldiçoada por um demônio, se aproximando.

    E com um movimento de seus braços, todo o céu se iluminou com fogo. O horizonte inteiro ficou laranja, como no crepúsculo

    E Tâmara não pôde evitar de ser atingida. Aquele incêndio que tomou a atmosfera a acertou em cheio. Queimou. Ardeu. Ela achou que tinha sido atingida por uma bomba atômica. Os pulmões pareciam que iam explodir.

    E então o anjo surgiu no meio das chamas vorazes e a pegou no ar. E, com um soco no rosto, toda a sua cabeça girou violentamente para o lado. Ela ouviu os ossos do pescoço estalarem. Mais um desses e sua cabeça sairia voando.

    Ela tentou usar os propulsores, mas o anjo puxou as botas à jato de seus pés, arrancando-as.

    E enquanto o fogo ainda ardia, e Tâmara não podia respirar, e seus cabelos se incendiavam.

    Mas o anjo não deu outro soco. Ele fez os dedos da mão ficaram em forma de garra e os enfiou na barriga dela. Estavam penetrando em sua carne.

    — Arrancarei vossas tripas podres de vosso ventre!

    — Não… vai… nem fodendo!

    A garota acionou um botão próximo de sua coxa, e todo seu corpo deslizou para fora da roupa tecnológica que usava, e ela apenas desceu em queda livre em direção ao chão.

    Clara, que estava junto de Renato, ao ver a garota cair, correu em direção a ela, saltou e a aparou no ar.

    Tâmara, machucada, com sangue na barriga e queimaduras por todo o corpo, e com fumaça saindo dos cabelos, suspirou.

    — Acabei de sair do Inferno.

    — Não, queridinha. O Inferno é mais quente que aquilo.

    Nas alturas, Uriel preparou uma bola de fogo gigantesca, tão grande que precisou segurar com as duas mãos acima de sua cabeça.

    — Vós, pecadores! Arrependei-vos! Pois é chegada a hora do julgamento! Sintam o fogo que consome e purifica tudo!

    Tâmara, que já estava de pé, conseguiu dar um sorriso singelo.

    — Dá pra acreditar que eu feri aquela coisa?

    — Acho que você só o deixou mais irritado.

    Renato se aproximou das duas, junto de Mical e Jéssica.

    Tâmara o olhou, admirada.

    — Você se cura rápido.

    — Ainda não tá totalmente curado.

    — Apenas uma trégua para derrotar o anjo, garota assassina. Depois nós nos acertamos — disse Jéssica, segurando firme o fuzil em sua mão.

    — Mal posso esperar pela hora do acerto — respondeu Tâmara, com um sorriso provocador.

    Clara balançou a cabeça, em negação.

    — A gente tomou uma surra.

    — Como podemos vencer aquela coisa? — disse Mical, ainda pressionando com a mão o curativo improvisado em seu braço.

    Tâmara olhou para o alto e pensou um pouco. Uriel ainda proferia suas palavras, enquanto tornava a bola de fogo cada vez maior.

    — Precisamos conter o fogo dele.

    — Pode deixar isso comigo — respondeu Renato. — Eu dou conta.

    — Precisamos atingi-lo num ponto vital, como o coração.

    — Se o fogo estiver contido, pode deixar isso aí comigo — disse Clara. — Vai ser um prazer perfurar o coração desse anjo.

    — E, mais importante: precisamos mantê-lo no chão. No céu, ele tem vantagem.

    — Isso nós conseguimos fazer! — respondeu Mical.

    — Conseguimos? — questionou Jéssica, com cenho franzido.

    — Sim! Conseguimos! Eu tenho uma ideia. Afinal, eu li mais do que livros de teologia.

    — Então tá…

    — Certo. — disse Tâmara. — E eu tenho um plano.

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