Capítulo 39: Fenrir, a Besta divina.
Sakamoto Yui, este era o nome da minha irmã caçula.
Desde que comecei a morar em casa dos meus pais, eu não me dava bem com a minha irmã. Como ela havia crescido sendo a menina de ouro da família, seus hábitos e comportamentos para comigo foram inadequados.
Quando ela quebrava alguma coisa botava a culpa em mim, e quanto eu não fazia o que ela pedia, fazia birra e corria até meus pais, apenas para mim ser repreendido por eles. Ela sempre implicava comigo quando tinha a chance.
Mas quando ela começou a frequentar o ensino fundamental, de repente tornou-se mais calma e madura. Deixou de implicar comigo, de me acusar de coisas que nunca fiz ou de me perturbar.
Mas a nossa relação não havia melhorado nem um pouco, apenas suavizado. Se antes éramos como cão e gato, passamos a ser como água e óleo. No mesmo copo mas não nos misturando, cada um no seu canto.
Se eu fosse descrever a vez que nós mais interagimos um com o outro foi quando ela pediu permissão para trocar um canal de tv.
Eu estava sentado no sofá distraído no meu celular quando ela de repente se aproximou de mim.
– Você está assistindo isso?
Disse ela apontando para a tv, onde estava passando o noticiário da tarde.
Embora ela nunca fosse mais alta que eu, sempre foi mais alta que as meninas da sua idade, e recentemente ela tinha tingido o cabelo de loiro.
Sua voz era calma e não possuía nenhuma arrogância, por isso respondi da mesma forma.
– Não.
– … Te importas se eu trocar?
Ela estava agindo estranha. Antigamente ela apenas fazia o que queria sem se importar com a minha opinião. Mas mesmo que ela não agisse mais desrespeitosa como antigamente, foi estranho ver ela agindo respeitosamente comigo.
Achei que ela queria algo com aquilo, mas respondi de maneira seca sem me importar muito
– Não me importo.
Depois disso ela se sentou do meu lado. Depois de alguns minutos de passando, comecei a me sentir desconfortável porque nunca havíamos passado tanto tempo juntos lado a lado, por isso decidi sair e subir para o meu quarto.
Depois desse estranho acontecimento, no dia seguinte, havia ouvido por coincidência que ela estaria indo a karaokê com suas amigas, não liguei muito para o que ela fazia ou ia, porque não éramos próximos em primeiro lugar.
Mas aquele comportamento estranho dela do dia anterior não saía da minha cabeça, mas resolvi tentar ignorar.
Mas ao anoitecer, mas tardar às 08 da tarde, meu celular começou a vibrar ao receber uma notificação. Quando verifiquei, não consegui evitar de me espantar. Porque a mensagem recebida foi enviada pela minha irmã. Mas o conteúdo da mensagem me deixou ainda mais surpreso.
[Socor.]
Socor…Se fosse interpretar de maneira correta, seria ‘socorro’.
Foi isso, uma simples palavra de ‘socor.’ Quando tentei ligar para ela, a mensagem havia sido enviada para a caixa de correio.
Estava claro que não era coisa boa. De primeira achei que poderia ser uma brincadeira dela, mas depois descartei essa ideia.
Nós nunca nos havíamos comunicado via celular, nem para brincadeiras e nem para coisas sérias, por isso comecei a ficar preocupado.
Achei que tinha que fazer alguma coisa, mas eu apenas sabia que ela havia ido a um karaokê com as amigas. A pergunta era em qual.
Então me lembrei quando ela contou aos pais que ela iria ao karaokê, naquele momento ela também havia contado a localização.
Me lembrando do nome, rapidamente digitei no celular e procurei sua localização. Tendo finalmente encontrado, rapidamente saí da casa e corri até lá.
Não sabia o porquê estava agindo daquela forma, a adrenalina simplesmente havia se agitado dentro de mim. Talvez a razão seja por causa do nosso estranho acontecimento do dia anterior.
Eu não sabia, mas simplesmente decidi seguir os meus instintos.
Quando finalmente cheguei no estabelecimento, entrei e comecei a abrir em todas as portas que encontrava no caminho, até chegar em uma porta que estava trancada.
*Boom, boom.*
Presumindo o pior, usei toda a minha força e comecei a empurrar a porta. Como praticante em artes marciais tinha bastante confiança na minha força.
*Bruash.*
Só depois de alguns empurrões havia finalmente conseguido arrombar a porta, mas o que eu vi logo em seguida fez meus olhos se arregalarem, e veias saltando de minhas têmporas.
As meninas, três delas incluindo a minha irmã pareciam inconscientes no sofá, sendo despidas por homens, revelando suas roupas interiores.
Enquanto os meninos, quatro deles, pareciam atordoados depois de me verem, um deles até já estava tirando a calça. Julgando pelos seus uniformes, presumi que eles eram estudantes do ensino médio, assim como eu.
Mas meus olhos não saíam da minha irmã.
Mesmo que minha irmã e eu nunca nos demos bem, mesmo que nunca fomos próximos um do outro, ela ainda era minha irmã menor e possuíamos o mesmo sangue.
– Q-quem é você!?
– Porque você arrombou a porta?
– O que pensas que estás a fazer aqui?! Saia imediatamente!
Os meninos gritavam desesperadamente.
Naquele momento um fio pareceu se quebrar dentro da minha cabeça. Mas antes que minhas emoções agissem antes da minha cabeça, peguei meu celular e fotografei a cena.
*Flash.*
– O desgraçado tirou uma foto!
Disse um deles.
Mas o maior de todos e com o corpo mais robusto, se aproximou de mim e me ameaçou.
– Ei, eu te aconselho a me entregar este celular, senão…
Sua mão se moveu no meu celular e tentou puxá-lo. Mas pela sua surpresa, minha mão não se movia ou sequer tremia. O celular estava completamente preso nas minhas mãos.
– Ei, eu disse par-
*Pow.*
– Puwha!?
Antes que ele terminasse suas palavras, meu soco rapidamente o atingiu no queixo perto dos dentes. Ele caiu abruptamente com o rabo no chão. Sua boca começou a sangrar, e algo pequeno e branco ensanguentado rolava no chão.
– M-meu dente, esse desgraçado arrancou meu dente!!…
Vendo-o chorando e gritando em desespero, meus lábios inconscientemente se esticaram em um sorriso.
Eu estava sentindo raiva, e o ódio crescia dentro de mim como fogo. Eu sempre tive problemas em controlar minha raiva, e vendo minha irmã ter sido drogada e molestada pareceu ter acendido um demônio que estava escondido dentro de mim.
Como se fosse uma ação natural, fechei a porta que antes havia arrombado.
– P-porque ele fechou a porta!?
– Socorro! Algué-Puhack!?
– D-desculpa! Me perdõe-Kuack!?
O que se seguiram depois disto foram fortes sons de golpes e choros de vários meninos gritando de dor e súplicas. Naquele dia eu os havia deixado tão machucados que teriam que comer líquidos no hospital durante um longo tempo.
Depois da polícia chegar, eu e os meninos fomos levados para detenção, mas com as evidências que tínhamos, com as investigações e testemunhos das vítimas, me soltaram no dia seguinte.
Fui agradavelmente agradecido pelas amigas da minha irmã e suas famílias. Mas como sempre meus pais não ligavam se eu estava preso ou não.
Mas quando cheguei em casa, minha irmã estranhamente me aguardava na entrada da porta, com lágrimas nos olhos, ela inclinou o corpo para frente e falou.
– Obrigada! E…desculpa.
Estas palavras, embora fossem apenas duas, significavam muita coisa. Um agradecimento por tê-la salvo, e…uma desculpa por tudo que aconteceu conosco nos últimos anos.
A partir daí nossa relação parecia ter tomado uma rotação de 360 graus, se antes éramos invisíveis um ao outro, agora ela não me largava.
Quando ela tinha dúvidas sobre uma questão da matéria, vinha até meu quarto e me perguntava, me pedia para jogarmos juntos, andarmos juntos e por aí vai.
Foi quando descobri que ela tem tentado se aproximar de mim depois de ter amadurecido mentalmente. Ela havia percebido o quão irracionais nossos pais eram em relação a mim, e que ela vem tentando se dar bem comigo, mas que infelizmente era difícil se aproximar de mim.
Mas pela ironia do destino, este infeliz acidente no karaokê havia criado uma chance para nos reconciliar.
Enquanto fomos nos conhecendo, descobri mais sobre a sua verdadeira personalidade. Ela era alegre e energética, mesmo tendo tingido o cabelo de loiro por causa da rebeldia, ela detestava injustiça, por isso começou a achar o comportamento de nossos pais repulsivo.
Eu achava ela engraçada e uma pessoa a quem pudesse me abrir tranquilamente. Ela até me acompanhava nos meus trabalhos de meio período, como quando eu era garçonete em um restaurante ou empregado de um hotel.Como eu não recebia mesada, tinha que me virar por mim mesmo.
Então um dia decidi contar para ela que não gostava de ser chamado de Seiji.
– Então como devo chamá-lo?
Com a sua pergunta, eu respondi honestamente.
– Ken, este é o nome que a avó deu para mim.
– Hm…
Ela parecia em contemplação depois das minhas palavras. Mas depois de um tempo, ela falou.
– Neste caso, então me chame mais de Yui.
– …O que você está dizendo de repente?
– Eu estou falando sério…
Diante da minha resposta ela fez beicinho parecendo aborrecida.
– Tá bom, então como devo chamá-lá?
Com a minha pergunta, ela sorriu maliciosamente e falou.
– A partir de agora, chama-me de…
§§§§
Seus olhos desfocados estavam lentamente se abrindo, um teto escuro como breu que não parecia ter fim o saudou.
“Aion…hngh?…”
Um gemido de dor escapou de um lugar escuro, onde nem um raio de luz chegava.
A pessoa era Ken.
‘Onde estou?…’
“…Ngh!?…”
Mais um gemido de dor ecoou.
‘Não consigo sentir o meu corpo…mas ao mesmo tempo ela dói como o inferno.’
Ele sabia que estava deitado sobre alguma coisa dura, mas sua superfície não era lisa. Era como se estivesse deitado sobre um amontoado de pedras, causando-lhe um desconforto sem igual.
Ken virou a cabeça ao lado.
Tudo era escuro, sentindo-se como se tivesse sido engolido pela própria escuridão, mas também sentia que algo havia atravessado seu braço.
“…”
Não era apenas seu braço direito. Seu braço esquerdo, peito e até a lateral do seu abdome, sentia como se alguma coisa o tivesse atravessado, como uma estaca ou algo parecido.
Ken voltou seu olhar para o teto de sombras.
“Ahaha…parece que…meu sofrimento não tem fim…cof. Haa…”
Suspirando com dificuldade, sorriu amargamente.
‘Parece que realmente voltei ao mundo, mas infelizmente não sinto meu corpo, não consigo sentir um músculo sequer.’
Fechando seus olhos, sua mente vagou.
‘Aion…’
Ken se lembrou do nome que aquele homem havia dito, e de suas últimas palavras.
‘Porque ele conhece este nome? Ele queria dizer alguma coisa ou era apenas coincidência?…Não sei. Se ele não se comportasse estranho até o final, não pensaria em coisas estranhas.’
Aion, o nome que sua irmã havia dito para passar a ser chamada. Por isso Ken havia perdido a cabeça desde o momento em que o homem havia pronunciado este nome. Seria demasiada coincidência.
Ainda mais depois de ver a expressão do homem depois de falar aquele nome. Uma expressão que expressava melancolia.
‘Se aquele homem era realmente um antigo portador porque não estava no caminho das almas assim como os outros portadores? Será porque ele ainda está vivo? Não, neste caso eu não estaria com emblema. E porque…ele era parecido com meu pai?’
A existência do homem permaneceu um mistério para Ken. Ele era estranhamente parecido com seu pai, mas não completamente.
Havia também outra hipótese. Embora Ken nunca quisesse admitir, ele era muito parecido com seu pai, a ponto de alguns conhecidos dizerem que Ken havia puxado muito a sua cara.
Lembrando-se deste facto, Ken pensou.
‘…E se ele na verdade… for eu? De um passado ou futuro?…’
Uma teoria que não poderia ser descartada, não importa o quão ridícula fosse.
‘Não…impossível, eu fui invocado junto com os discípulos-divinos…?’
Ken então se lembrou de que sua invocação foi diferente dos outros discípulos. Em primeiro lugar não era para ele ser invocado junto com os outros, em segundo lugar, ele havia sido invocado depois dos outros terem sido invocados. Como se tivesse chegado atrasado em uma reunião.
E em terceiro, contaram-lhe que havia caído abruptamente do céu, ao contrário dos discípulos que caíram sobre potentes pilares de luz elementais.
‘…’
O que ele havia ignorado a muito sobre a sua invocação, agora havia se transformado em mistério.
“Haa…devo deixar isso para depois.”
Suspirando, Ken resolveu esquecer o assunto por enquanto. O mais importante agora era saber como sair da situação que se encontrava no momento.
Embora ele tenha se jogado na enorme fenda sabendo que morreria, o destino pareceu dar-lhe uma outra oportunidade. Mesmo que agora seu corpo não consiga se mover, sempre existe uma outra alternativa, ele apenas tinha que pensar em uma.
– Você realmente conseguiu sobreviver, hein?
“!?”
Foi então que uma intensa e imponente voz surgiu do vazio das sombras e invadiu seus ouvidos, pegando-o de surpresa.
“…Quem…está aí?”
Ken perguntou com dificuldades.
– Kukuku, interessante, já vi inúmeros corpos caírem na minha frente, mas todos naturalmente acabavam morrendo. Como você sobreviveu?
“Eu perguntei…quem está aí?”
– Kukuku, este é o problema dos humanos, sempre se achando superiores aos outros. Mas como você despertou meu interesse, irei abrir uma exceção.
*Vum, vum, vum.*
“!?”
Chamas azuis sobre tochas começaram a acender de repente, preenchendo o lugar com uma intensa luz. O lugar antes escuro agora estava completamente iluminado.
O lugar era fechado por paredes com várias estruturas geométricas desenhadas nelas, o chão era pavimentado e havia um teto sem fim, também haviam vários pilares que se estendiam até o alto.
Uma câmara subterrânea por debaixo da toca do inferno. Ela era tão enorme que parecia um campo de futebol.
Com todo o local iluminado, Ken finalmente havia notado o desconforto que estava incomodando suas costas. Porque ao invés de um piso liso, todo seu corpo estava deitado por cima de uma pilha de ossos.
“…!?”
Eram incontáveis ossos humanos, que provavelmente pertenciam aos jovens que haviam caído da enorme fenda. Algumas das costelas é que haviam atravessado seus braços, perna e abdome.
Mas para além desta descoberta, havia algo mais estranho.
‘Esta quantidade…’
A quantidade de esqueletos presentes nesta câmera era descomunal, era como se estivesse por cima de uma montanha, e elas ainda se estendiam até ao longe.
Esta quantidade não podia ser comparada com os jovens que haviam caindo na enorme fenda. Mesmo se todos da toca do inferno fossem adicionados, não seria suficiente para preencher a cota.
Havia apenas uma explicação para isso.
‘Isso significa que não somos os primeiros a serem treinados na toca do inferno. Isto já deve existir há bastante tempo. Que tipo de organização diabólica é esta?…!?’
Enquanto contemplava, seus pensamentos foram interrompidos quando longos fios prateados surgiram na sua visão. Seguindo aqueles fios brilhantes com seu olhar, seus olhos se arregalaram de surpresa, hipnotizados pela visão que acabara de presenciar.
Uma exuberante e espessa pelagem prateado pareciam brilhar mesmo nesta câmara subterrânea. Sua pelagem era longa e densa, formando uma capa macia que envolvia seu corpo.
Sua cabeça era nobre e elegante, suas orelhas eram pontudas, e seu focinho é afiado e negro, destacando-se da sua pelagem branca. Ao longo de seu pescoço uma juba de pêlos mais longos formavam uma crista.
Ele tinha enormes olhos dourados que pareciam conseguir enxergar o mundo todo. Sua aparência era feroz e selvagem, uma aparência que descreveria um lobo de cor branco, mas acontece que este estava fora de ser normal.
Seu tamanho era descomunal, parecendo um prédio de cinco ou quatro andares. Considerá-lo um lobo seria um insulto, a criatura estava mais para um ser místico.
Deitado confortavelmente sobre o que parecia ser um trono feito de pedras, o lobo falou, mas seu focinho permanecia imovel.
– Eu sou aquele que está acima de todos, um ser mais antigo do que sua imaginação fertil possa imaginar, aquele que já lutou na vanguarda contra os parasitas demoníacos. Eu sou uma mas seis bestas divinas, portador de uma das siglas do zodíaco. Fenrir.
Os olhos de Ken não podiam acreditar no que estava vendo. A íris de seu olho esquerdo estava esbranquiçada depois de ter sido cortado com uma espada, tornando-o cego, e seu olho direito estava vermelho por causa do sangue coagulado.
Mas mesmo assim Ken conseguia enxergar, no meio de sua testa do lobo, estava presente a sigla do sagitário, uma das siglas do emblema espiritual..
Vendo aquela criatura, a mente de Ken não parava de vagar.
‘Besta divina…Fenrir…sagitário. Emblema…emblema amaldiçoado!…?’
E então as últimas palavras do homem do mundo das almas também ressoavam em sua mente.
– Você deve encontrar os atuais portadores dos emblemas do Zodíaco.
Mas ao invés de um portador, a própria besta-divina, aquela que deveria escolher uma pessoa para se tornar em um guardião espiritual, estava bem na sua frente. Em carne e osso.
Juntando isso com as memórias que acabará de receber dos antigos portadores, os labios de Ken inconscientemente se esticaram em um leve, mas frio sorriso.
Neste curto período de tempo, um minucioso e malicioso plano pareceu surgir na mente de Ken.
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