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    Não pude deixar de sentir-me impressionada com a presença que se ajoelhava diante de mim. Era a majestade governante dos demônios do Norte, saudando a Imperatriz do Império. Seus olhos azuis observavam-me com curiosidade, e seus longos cabelos vermelhos como sangue caíam sobre os ombros, enquanto suas vestes nobres lhe conferiam uma aura majestosa.

    Após minha apresentação, a figura à minha frente começou a se revelar. “Sou Belzebu, o caído que carrega o pecado da gula. Estou aqui em seu domínio em busca de abrigo”, proferiu ela com voz firme.

    Ela exalava uma força muito maior do que eu poderia imaginar; seu rosto sedutor parecia envolto por uma aura maliciosa. Observando-me com curiosidade, aguardou minhas palavras.

    “Belzebu… Ouvi dizer que os membros da Aliança não causaram danos ao seu povo nem destruíram suas terras. Então, por que buscar refúgio em meus domínios?”, questionei.

    Fui informada de que não houve fatalidades relacionadas aos demônios de Belzebu. Parecia que os membros da Aliança estavam atrás de um artefato no castelo e partiram após consegui-lo, sem causar danos.

    “Certamente não há razão para permanecer nos domínios da Imperatriz. Mas peço que aceite a mim e meus súditos. Sei que este assunto pode não ser familiar para Vossa Majestade, mas há uma marca sobre mim, e embora eu seja forte, não posso lidar com toda a Aliança sozinha”, acrescentou Belzebu, soltando um leve suspiro. “Tive sorte desta vez, mas não posso garantir que a Aliança permitirá que meu povo sobreviva na próxima ocasião.”

    Charlotte sussurrou em meu ouvido: “Vossa Majestade, a inclusão da Senhora dos Demônios Belzebu pode ser vantajosa em um possível confronto com a Aliança.”

    O tesouro dos demônios guardado no palácio continha itens de poder incomensurável, tornando apenas uma questão de tempo até que a Aliança enviasse alguém para tentar obtê-los. Charlotte parecia compartilhar dessa visão estratégica, decidindo que abrigar Belzebu seria prudente para um confronto iminente.

    “Sei que posso parecer inofensiva, Majestade”, disse Belzebu, enquanto observava minha expressão.

    Belzebu, como os outros marcados pelo pecado, fora um anjo de alto escalão na rebelião de Lúcifer. Seu poder era incontestável.

    “Permita-me questionar o motivo de se unir ao nosso império… Você possui títulos que muitos desejam, mas estaria disposta a renunciá-los?”, inquiri, percebendo algo peculiar em sua oferta. Mesmo sendo a rainha dos demônios, ela estava pronta para se submeter a outro soberano e levar seu povo consigo?

    “Certamente parece estranho. No entanto, o Imperador foi escolhido por Lúcifer, e você foi escolhida pelo Imperador, portanto, é alguém em quem confiar. Todos os que carregam o pecado e seus seguidores são leais a Lúcifer e sua vontade”, respondeu Belzebu, sem hesitação.

    Suas palavras pareciam contraditórias, mas ela prosseguiu. “Não me entenda mal; estou disposta a segui-la, pois você foi escolhida por Azrael, que por sua vez foi designado por Lúcifer. Logo, és digna de confiança.”

    Dei um leve sorriso, testando sua lealdade. Se Belzebu estava disposta a me seguir, precisava ao menos fornecer uma resposta convincente.

    “Entendo. No entanto, o Imperador escolhido por Lúcifer, Azrael, foi o responsável por seu povo deixar seu mundo. Logo, Lúcifer pode ter cometido um erro em sua escolha, assim como pode ter me escolhido por acaso, pois provavelmente não sobreviveríamos ao seu ataque.”

    Para minha surpresa, Belzebu sorriu diante de minhas palavras.

    “De fato, algo está errado. No entanto, mesmo que Lúcifer escolhesse um ser sedento por poder e destruição, eu ainda o seguiria, pois a decisão de Lúcifer é absoluta.”

    “Discutiremos onde seu povo residirá daqui em diante, bem como as condições de sua permanência em nosso império”, concluí.

    Após encerrar a reunião com Belzebu, designei Charlotte para levá-la ao tratamento, pois a batalha em seu domínio a deixara em estado precário.

    Deixando os demais assuntos para os anciãos, dirigi-me ao centro de tratamento, onde Samael e o filho de Azrael estavam. Ao adentrar o quarto, fiquei chocada ao ver o estado de Samael.

    Entre todos os presentes, Samael estava em estado crítico, com ferimentos graves pelo corpo e sua aura enfraquecida. Ela estava inconsciente, e não pude obter detalhes sobre o que havia ocorrido, mas instruí os médicos a priorizarem seu cuidado.

    “Parece que ele usou suas técnicas proibidas”, disse Belial, que acabara de retornar.

    Ao lado dele, Alice, com o rosto pálido e sem expressão, observava Samael em seu estado grave.

    “Técnicas proibidas?”, perguntei, esperando por uma explicação.

    Belial então colocou o braço sobre Alice, tentando confortá-la diante de sua condição decadente.

    “Existem dez técnicas de espada e sete magias criadas por Azrael. São poderosas e destrutivas ao ponto de Samael ter implorado para ele nunca usá-las contra outra pessoa. Ele só deveria recorrer a essas técnicas em caso de extrema necessidade”, explicou Belial com melancolia.

    “O que Azrael está pensando? Por que continua com isso e agora até feriu Samael com uma técnica proibida?”, expressou Alice, ainda incrédula em relação ao irmão. Enquanto Belial e Samael pareciam aceitar a traição de Azrael, Alice permanecia confiante nele.

    Samael não dava sinais de que iria acordar; seus ferimentos eram os mais severos. De acordo com as informações de Belzebu, a luta entre mestre e discípulo foi devastadora. Se nem Samael conseguiu deter Azrael, o que poderíamos fazer?

    “Alice…”, chamei, percebendo seu olhar na minha direção. “Estou pensando em fazer uma visita à minha versão anterior. Gostaria de me acompanhar?”, perguntei, esperando uma resposta positiva.

    “Por mais que eu adorasse visitar Eisheth, sinto que não deveria acompanhar… Não estou no clima para uma visita ao passado.”

    Na verdade, havia uma informação que eu precisava confirmar com Eisheth, por isso decidi visitá-la. Imaginei que ela seria útil para despertar Noir ou tirá-la de sua forma de espera. Se Eisheth pudesse me ajudar, sentia que teríamos uma chance.

    “E você, Belial?”

    “Ah… Desculpe, Eriel, mas decidi ficar um pouco com minha filha”, disse ele com um peso na voz. “Sinto que é hora de agir como pai. Não sei por quê, mas estou com um pressentimento ruim”, completou Belial enquanto envolvia os braços em torno de sua filha.

    “Não sou mais uma criança que precisa ser carregada”, retrucou Alice, desaprovando a atitude do pai.

    “Você sempre será minha criança. Vai precisar de pelo menos alguns milhões de anos para ser tratada como adolescente”, disse Belial, levando Alice dali.

    Não pude deixar de notar o jovem de cabelos brancos deitado a poucos metros de onde Samael estava. Ele não demonstrava qualquer sinal de melhora, e agora Samael estava nesse estado.

    Só conseguia sentir medo. Não conseguia vislumbrar uma maneira de prevalecer enquanto tudo ao meu redor se transformava. Sentia-me uma estranha em meio a todos, e por mais que eu tentasse, não era suficiente. Era assim que me sentia.

    Por algum tempo, pensei seriamente em largar tudo e voltar para a facção humana. Viver como uma pesquisadora sempre foi meu sonho; lutar nem mesmo parecia realidade para mim. Enfrentar inimigos poderosos, aprender com meus erros, continuar me superando em cada treinamento e provação… Isso não era o que eu queria.

    “Ah… Por favor, Eisheth, me dê uma saída.”

    Eu nem mesmo entendia o que estava fazendo no mundo demoníaco. Uma simples humana governando várias raças, diante de diversas potências no universo. Isso não era o que deveria acontecer. O ser mais frágil tinha o maior título.

    Muitas vezes, desejei esconder-me em um canto isolado e chorar. Azrael me abandonou, tentou me matar, e aqui estou, tentando dar o meu melhor. Sinto que me distanciei de Alice; Naara nunca foi minha amiga, e até mesmo Noir, que parecia a mais amigável, não conversava comigo.

    Decidi que era hora de ir até o escritório. Ao pegar a espada negra, Tsukoyomi, respirei fundo, concentrando-me em minha própria magia.

    {Paradoxo}

    Chamei minha espada branca e comecei a canalizar mana em sua lâmina. À medida que a mana se concentrava na espada, fiz um movimento vertical, abrindo uma espécie de fenda no espaço-tempo. Concentrei-me na pessoa que desejava visitar e senti nossa mana se interligar, como se Eisheth soubesse que eu estava indo visitá-la.

    Ao atravessar a rachadura, esta se fechou instantaneamente, e foi então que notei uma pessoa sentada em uma cadeira de madeira à minha frente.

    “Olá, Eriel. Esta é a primeira vez que conversamos?”, perguntou ela, mas logo em seguida respondeu. “Não, não é… Bem, podemos dizer que sim, já que estamos no mesmo ‘tempo’, mas imagino que já conversamos antes, certo?”

    A pessoa à minha frente parecia jovem, pouco mais de 13 anos na idade humana. Seus olhos eram puros, como os de uma criança, mas sua aura era madura e controlada, como se sua existência fosse uma contradição entre a pureza de uma criança e a malícia de um adulto.

    Fui informada de que Eisheth era a usuária mais habilidosa do ‘tempo’, utilizando com maestria a ‘visão do futuro’, mesmo antes de eu saber sobre sua habilidade.

    “Para uma existência que viveu em uma era distante, você parece saber bastante sobre mim”, eu disse em um suspiro desanimado.

    “Oh? A minha versão mais velha que você conheceu é a mesma que está aqui na sua frente e será a mesma que você verá em um futuro distante. Por saber o que vai acontecer, minha personalidade e pensamentos não mudaram desde a infância até a vida adulta”, explicou ela, como se já soubesse tudo o que precisava.

    “Posso lhe perguntar algo?”

    “Sim… Eu sei que morrerei em algumas décadas e sim, estou trabalhando para que isso aconteça.”

    Sempre tive essa curiosidade, então decidi fazer minha pergunta.

    “Você não poderia simplesmente evitar a morte?”, questionei, mas Eisheth sorriu, como se fosse algo estranho de se dizer.

    “Como uma usuária do ‘tempo’, você sabe que existem momentos que não podem ser mudados, certo?”, eu concordei com a cabeça.

    “Bem, quem deveria morrer era Azrael. Contudo, eu intervi, fazendo-o sobreviver no final, mas você acha que isso foi algo sem consequências?”

    Sua pergunta me pegou de surpresa, mas ela continuou.

    “Não! Para que Azrael sobrevivesse, existia um preço a pagar. O mesmo está acontecendo novamente em sua era, não é?”

    Não pude responder, pois não sabia do que ela estava falando.

    “Azrael está com o destino entrelaçado com a morte desde o dia em que o salvei alguns anos no meu futuro. Meu sacrifício permitiu que ele vivesse, mas não lhe deu muito tempo.”

    Suas palavras pareciam pesadas, algo estranho de se ouvir de uma criança.

    “Sabe, você não parece uma criança”, eu disse com um sorriso.

    “Certamente não pareço”, ela respondeu com um suspiro. “Você escolheu a parte do ‘Poder’ do ‘Tempo’. Eu, por outro lado, escolhi o ‘conhecimento’. Enquanto você pode se defender, eu consigo ‘ver’ de onde o ataque virá.”

    “Você sabe tudo sobre o futuro, mas isso não deveria se restringir ao que você vai viver? Como conhece sobre o meu também?”, perguntei perplexa.

    Foi então que Eisheth começou a me explicar que o tempo era a onisciência das habilidades primordiais, o conhecimento que nenhum ser deveria ter, abrangendo o passado, presente e futuro. Não importava se era o meu futuro ou o de qualquer outra pessoa; no momento em que desejasse, Eisheth podia descobrir o que quisesse.

    “Isso é assustador”, murmurei desanimada.

    “Não se preocupe, em um futuro próximo você vai entender”, respondeu Eisheth com convicção. “No futuro, você trocará por escolha própria seu poder de ataque pelo conhecimento. Contudo, lembre-se”, ela enfatizou enquanto seu semblante se tornava sombrio, “você saberá o que irá acontecer, mas não poderá interferir ou mudar o destino. Quando adquirir esse poder, você vai entender.”

    “Bem, não tenho realmente interesse em poder, mas não vim até aqui para conversar sobre o futuro; queria pedir uma ajuda.”

    Foi quando Noir apareceu na mão de Eisheth, como se sempre estivesse com ela. Por reflexo, procurei Noir, mas ela não estava mais comigo.

    “Deve ter sido difícil para você, Noir”, disse Eisheth com voz suave. “Descobrir que seu mestre vai morrer e não haver outra forma de sobrevivência.”

    Suas palavras surpreenderam a todos, especialmente Noir, cuja lâmina negra brilhou fracamente e tremeu um pouco.

    “Eu sei, Noir. Você queria ajudar, contar para todos o que está acontecendo, mas não conseguia se opor ao desejo de seu mestre.”

    O fraco brilho tornou-se crescente enquanto a lâmina começava a emanar uma aura divina.

    “Eu entendo. Você tem medo da morte de seu mestre, mas não há forma de ajudar dessa vez.”

    “O que você está falando, Eisheth?”, perguntei, tentando entender o que estava acontecendo.

    “Em um mês na sua linha do tempo, no mundo dos vampiros na região nórdica, Azrael vai morrer”, disse Eisheth com uma expressão melancólica. “Azrael sabia que a única maneira de sobreviver era com um sacrifício idêntico ao meu… Então decidiu lutar sozinho, para que não houvesse mortes não programadas.”

    Eisheth me explicou que a morte de Azrael fazia parte do ‘destino’ do universo. Sua morte seria a única forma de o destino continuar em linha, mas havia uma maneira de Azrael sobreviver. Um indivíduo que estava ligado com a linha do tempo original e que tinha um destino inevitável poderia trocar de lugar com Azrael, sacrificando-se em seu lugar.

    “Mas você já não fez isso?”, perguntei, sentindo meu corpo tremer. “Você não se sacrificou para que Azrael sobrevivesse?”

    Com um suspiro, a resposta de Eisheth me deixou chocada. “Sim, mas minha vida só iria até o mesmo confronto, onde eu perderia a vida de forma patética.”

    “Então não existe outra maneira?”

    “Não. Azrael vai morrer. Ele está determinado a não permitir que outro se sacrifique em seu lugar.”

    “Por favor, Eisheth, você deve conhecer uma forma, certo? Por favor, me ajude a salvar Azrael.”

    “Se você tivesse o conhecimento, entenderia que a dor que Azrael sentiria seria irreversível. Nem mesmo eu gostaria de presenciar esse futuro.”

    Foi quando o brilho na espada mudou, revelando círculos mágicos avançados. Noir finalmente se revelou.

    Ela parecia diferente. Seus longos cabelos negros agora alcançavam seus ombros e seus olhos púrpura pareciam sem vida. Ela não tinha mais do que quatro anos. Em suas mãos, luvas de pano combinavam com seu vestido negro com detalhes vermelhos desenhados à mão. Seus sapatos pareciam pesados e seu sorriso desaparecera completamente do rosto.

    “Eisheth…”, disse Noir, olhando para a minha versão mais antiga. “Por favor… Me ajude a salvar meu mestre.”

    Ouvindo as palavras de Noir, Eisheth mostrou um olhar triste. “Eriel, poderia me emprestar o Paradoxo?”

    Fiz como instruído e entreguei-lhe a espada branca, e a aura de Eisheth se misturou à da lâmina enquanto ela parecia se concentrar em algo.

    {Corte que ultrapassa o tempo}

    Eisheth fez um movimento suave no ar e devolveu a espada às minhas mãos.

    “Só posso fazer isso. Em uma semana, Azrael estará no domínio de Mashilek. Avise a todos para que possam ir juntos impedi-lo. No momento em que estiverem prestes a perder, uma oportunidade surgirá. Prestem atenção nessa oportunidade; não haverá outra e será muito rápida. Se fizerem como instruído, conseguirão salvar Azrael, mas saibam que… O preço que ele irá pagar será culpa de vocês.”

    Sua voz soava séria.

    “Estou disposta a carregar esse fardo pelo meu mestre”, disse Noir. “Sim, eu também vou carregar o fardo”, respondi em seguida.

    “Não, vocês não vão. Saibam que as lágrimas, a dor e a falta de esperança serão culpa de vocês, pois o destino é cruel e a única pessoa com um destino compatível com o de Azrael… Vocês entenderão quando chegar o momento.”

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