Capítulo 73 - Titã da Ira (3)
Avançando contra o dragão em outra investida, Moris deixou apenas um rastro vermelho para trás, traçando todo o caminho que o Titã voou com suas asas etéreas.
Enquanto o dragão ainda rugia, o Titã da ira desferiu um chute com suas duas pernas, caindo como um pilar nas costas do dragão. Porém, por pura resistência, o dragão conseguiu permanecer no mesmo lugar. Em contrapartida, a estrutura da fortaleza começou a colapsar gradualmente.
O dragão balançou sua cauda por próprias costas, usando ela como um chicote para acertar diretamente Moris. A cauda ricocheteou no Titã, caindo diretamente contra ele, que segurou a cauda da besta com as próprias mãos.
Usando as garras na manopla, Moris as enfiou na carne da criatura. A dor era insuportável, aparentava como dez espadas perfurando as escamas e os músculos do dragão. Agonizando de dor, o dragão balançou novamente a cauda e se debateu por dentro da fortaleza até lançar Moris para fora.
Batendo asas para se sustentar no ar, Moris esticou o braço em direção à criatura e elevou apenas o indicador direito. Recuperando uma posição que encontrasse o Titã, o dragão começou a carregar uma imensa quantidade de energia dentro de sua boca.
Moris apontou o dedo para o dragão, gesticulando uma arma de fogo. Uma esfera milimétrica de energia tomou forma, absorvendo a mana do ambiente e a mana de Moris.
Enquanto o Titã da Ira preparava um ataque destrutivo, o dragão realizava uma fissão nuclear em sua boca. Sem muito suspense, os dois dispararam seus feixes de energia.
— Estocada do anjo caído! — exclamou Moris.
Sua voz foi quase que instantaneamente ofuscada pelo estrondo sonoro que ocorreu no encontro dos dois feitiços. Um clarão cobriu os céus.
O mago de manto vermelho, descuidadamente, tirou os olhos do grupo de Moris para perseguir o titã. Ao notar o descuido, Zypher avançou contra o mago e golpeou seu estômago — imagine a sensação de ter sido atacado por uma estaca de ferro maciça, foi o que o mago sentiu.
Aproveitando a brecha criada por seu companheiro, Canvill, o outro assistente de Moris, avançou contra o mago e desferiu uma barragem de socos no seu rosto. Os dois agentes — Canvill e Zypher — começaram a revezar chutes e socos no mago.
Zypher saltou para trás, dando brecha para o feiticeiro de seu grupo agir. Canvill deu mais um soco no nariz do mago, além de jogá-lo para cima, buscando o desequilibrar.
— Rice, agora! — exclamou Zypher.
Rice, o conjurador do grupo, projetou um círculo energético e conjurou:
— Hectágono, flamecentri!
Um feixe de fogo foi disparado de cada ponta do hectágono. Ao todo, totalizando cem, que eventualmente se tornaram um só, tendo um efeito infinitamente superior a um feitiço único.
O feixe atingiu diretamente o mago inimigo.
Porém, não fez o estrago que eles imaginaram. O mago conjurou um escudo de barreiras no último instante para se proteger.
Quando o feixe se desfez, o grupo inteiro notou o escudo criado por reflexo. No mesmo segundo que o feixe desapareceu, o mago seguiu o mesmo rumo. Criando uma brecha pela iluminação e calor das chamas, o mago aproveitou a oportunidade para correr atrás de Moris e do dragão.
O dragão sobrevoava por um pequeno distrito além da praça que estavam. Um distrito constituído praticamente por vielas e dutos, onde facilmente perderia de vista qualquer um que vagasse por aquelas terras.
Moris corria por essas vielas. O Titã buscava sempre se manter longe do campo de visão do dragão enquanto pensava no que usaria para finalizar o combate.
Mesmo que ele desejasse lutar mais com o dragão, ainda tinha o grupo de Theo para ele achar e defender. Que por sinal, é a sua maior preocupação no momento. Não só achar Theo, mas sim todos do grupo. Foi então que ele chegou a conclusão de que não deveria medir esforços para matar.
“A ira é algo a ser cultivada. Transforme a ira em força, e a força na justiça. E então, somente então, mate a injustiça com a sua justiça.”, palavras, outrora ditas por Ethan, tomou seus ouvidos e mente.
Moris permitiu que suas asas de anjo caído batessem, tirando os pés do Titã minimamente do chão. Voando por um corredor militar, rodeado por barras de ferro, o Titã se virou de costas para o chão e estendeu o braço direito para cima. Segurando o bíceps direito com a mão esquerda, Moris concentrou boa parte da própria mana na ponta dos dedos.
Ao sair do corredor, o tempo parecia estar desacelerado. O dragão cobria o céu inteiro, era majestoso, ao mesmo tempo, assustador. Moris aproveitou aquela imagem por um único segundo, esquecendo completamente da destruição que poderia causar.
Sem hesitar, o Titã contraiu os dedos e puxou um amontoado de energia para si.
— Caia dos céus… Lâmina do caído!
Assim como quando Azazel caiu do céu para o mundo mortal, quando o atual rei demônio da ira se tornou um anjo caído, rasgando a atmosfera e transformando o céu azul em um cenário tingido por um laranja-avermelhado, uma espada de energia despencou das nuvens.
Uma lâmina vermelha caiu por terra, rasgando a asa do dragão junto da metade do chão.
O dragão caiu por cima de algumas pequenas construções, destruindo-as enquanto gritava de dor. A besta não conseguia sequer mover a asa atingida, pois estava completamente rasgada e sobrecarregada pela mana de Moris.
O Titã sobrevoou o céu, enxergando de cima apenas a destruição causada. O imenso e monstruoso dragão vermelho caído nos destroços, sem conseguir se mover um milímetro.
— Bom… Parece que acabou por aqui — disse, a voz de Moris parecia desapontada, ele esperava que o dragão durasse mais um pouco. Quando, na verdade, ele apenas concluiu a batalha ao invés de prolongá-la.
Um bastão de energia vermelha se materializou nas mãos de Moris, crescendo a cada instante. O Titã ainda carregava decepção consigo.
— Lança…
Algo o interrompeu.
Um poderoso feixe de plasma apunhalou Moris pelas costas e o forçou a se mover, o obrigando a descartar o ataque final e desviar do feixe.
O mago vermelho, que estava no topo de uma torre, saltou em direção ao dragão. O grupo de Moris veio logo depois, onde nem cogitaram se desculpar no momento. Eles sabiam que seriam destruídos pelo Titã caso hesitassem em atacar para gritar por ele.
O Titã notou a prioridade. Ele caiu do céu como um cometa, batendo suas asas uma única vez, movimento esse que foi suficiente para jogá-lo ao chão, deixando um rastro no céu.
O mago caiu no chão, poucos metros abaixo do dragão. Notando a movimentação dos cinco inimigos, ele saltou para o tronco de suas besta. Porém, Moris interveio.
Ele, o Titã, atacou o mago rapidamente antes que pudesse realizar qualquer feitiço. O mago foi obrigado a saltar para trás, caindo na asa ferida do dragão.
Moris saltou logo em seguida, atacando novamente o mago sem o deixar se recompor. Seu grupo chegou no mesmo instante, atacando um único homem enquanto esqueciam do dragão ferido.
O mago habilmente desviou, conjurando barreiras em determinados ataques desferidos por Moris, mas sempre na defensiva. Até que, ao desviar para longe, pousando no topo de algumas casas do distrito, os olhos do mago brilharam através do manto vermelho, deixando um fio amarelo transparente transparecer.
Uma sombra cobriu o céu por instante, deixando ficar livre apenas os quatro agentes que serviam a Moris. A cauda do dragão, rapidamente, se chocou com o Titã, que voava até o mago.
Moris foi jogado para trás e consecutivamente caiu no chão, falhando ao tentar se manter no ar com as asas. O Titã deslizou pelo chão, enfiando suas garras nos tijolos para diminuir a velocidade.
No entanto, sem deixar o Titã ficar de pé, o dragão usou sua cauda para esmagá-lo contra o chão. Um terremoto se alastrou até a região que o Titã Javier estava, parecia estar na esquina de casa.
Os membros da equipe de Javier quase caíram no chão, por exceção de Kyle e seu líder.
— Senhor Javier, não deveríamos apoiar o Lorde Moris na luta? Ele parece estar tendo que usar tudo… — Kyle tentou opinar, mas Javier o silenciou.
— Não. Ele vai dar conta, só se precipitou um pouco.
Materializando uma lança de energia, imbuída com o atributo água em sua mão esquerda, Javier cravou a arma no chão como uma bandeira.
— Assim que a poeira abaixar ele vai sentir a minha energia na sala. Deixarei um rastro para trás, uma trilha por onde quer que iremos passar dentro dessa masmorra. Perito, na frente — ordenou. — Quero dois percussores o auxiliando.
— Sim senhor! — exclamaram os dois atacantes.
Kyle engoliu em seco, ainda sentindo os tremores do confronto.
Moris, por sua vez, segurava a cauda do dragão apenas com o antebraço. O Titã estava fazendo de tudo para ficar em pé, ainda que estivesse quase de joelhos. Do lado de cima, o mago vermelho distribuiu fogo pelo ambiente, obrigando os agentes de Moris a desviar enquanto tentava afetar Moris com a temperatura.
Zypher e Canvill atacaram o mago, sem permitir que ele continuasse com o que fazia por mais tempo. O mago agora estava mais ciente, conseguindo se esquivar habilmente de cada soco e chute dos dois agentes.
Um grito distante e abafado do Titã ecoou aos céus. Moris empurrava a cauda da besta para cima com um braço, ao passo que usava o outro para se manter na posição momentânea. O Titã, após tanta força e persistência, conseguiu se firmar de pé, podendo usar os dois braços para empurrar o dragão.
Logo Moris se lembrou do que fez para se livrar do dragão da última vez: usar as garras para espetar a cauda da besta. Portanto, assim foi. O Titã usou suas garras como lâminas novamente, prontamente a machucar o dragão.
O dragão sacudiu a cauda para cima, levando Moris para um lado e outro. Este usou do momento para avistar o mago vermelho, algo que não demorou muito. Ele usou o balançar da cauda do dragão como impulso, para voar com velocidade até o mago.
Desviando dos golpes de Zypher e Canvill, o mago saltou para cima, além das construções do distrito. Enquanto estava no ar, ele preparou um círculo energético na mão direita pronto para disparar. Porém, Moris passou igualmente a um vulto para lançar o mago ao chão novamente.
Agarrando o mago enquanto batia suas asas, eles voaram mais de cem metros até que o Titã decidisse jogar o inimigo no chão com uma força relativamente acima da média.
O mago foi apenas cravado em uma cratera onde ficou estático. Ele caiu por cima do próprio braço, que se fraturou imediatamente. Mesmo com a dor, ele se levantou preparando um círculo energético para disparar.
— Hectágono… — conjurou, com sua voz rouca e fraca.
Moris fechou o punho. A própria pressão, sem depender de energia, do punho do Titã já desequilibrava a atmosfera.
— Plasma fulgurante estelar!
Um fluxo de plasma fora atirado contra o Titã. O feitiço fulgurante estelar tinha uma intensidade tão enorme, com um plasma tão intenso que imitava a nucleossíntese estelar, que se comparava ao calor de uma estrela.
Para Moris, isso pouco importou. Apenas com a pressão de seu soco, o Titã socou todo o plasma conjurado pelo mago. A pressão foi tanta que destruiu tudo em uma linha reta de duzentos metros. Transformando aquela parte do distrito em destroços.
Uma nuvem de poeira e gás consumiu a visão, mas Moris não quis saber. Ele continuou caminhando pelo campo de destruição do próprio soco.
O mago não teve a sorte de conjurar um feitiço por instinto. Já que ainda estava liberando energia para o plasma, ele não pôde reagir.
Apoiando-se no tronco do dragão, o mago apenas sentiu a presença de Moris se aproximando dele. O homem que antes estava se divertindo com aquela luta, agora estava totalmente irritado.
— Plikat… — chamou pelo dragão, enquanto cuspia sangue graças à pressão do soco. O mago repousou a mão no corpo de sua besta. — Ativar união de almas…
Um brilho vermelho intenso cobriu os dois. Uma quantidade absurda de energia impactou no ambiente, deixando a atmosfera tensa.
Com um balançar de braço, Moris dissipou a nuvem de poeira entre ele e o mago/dragão.
— Desgraçado — reclamou o Titã.
O dragão estava caminhando pela destruição, totalmente recuperado. Sua pele estava viva, abandonando o aspecto morto de antes. Os olhos amarelos do dragão encaravam Moris, ignorando os agentes que chegavam atrás do Titã.
As asas da besta brilhavam, feitas puramente de energia. Dessa vez, dois chifres pontiagudos cortavam as escamas por detrás dos olhos. Entre os chifres, estava o mago, entrando diretamente na carne do dragão.
Apenas seu tronco e braços estavam para fora, assim como sua cabeça. Os braços estavam enfiados na carne do dragão, que carecia de escamas na região. O mago estava sem camisa, demonstrando um corpo totalmente desnutrido e de cabelos grisalhos, espetados e ondulados. Seus olhos opacos também olharam para Moris, acompanhados de um sorriso diabólico com seus dentes podres.
O dragão rugiu novamente, abalando a estrutura das construções.
— Uma fase dois? — resmungou Moris, recordando-se dos antigos mitos usados apenas em jogos de tabuleiros. — Vou ter que parar de ser mesquinho, senhor Javier…
Estendendo o braço para o dragão, Moris ergueu os dedos indicador e meio. Um vórtex de energia se formou gradativamente.
O grupo de Moris se juntou ao Titã, preparando seus melhores feitiços enquanto arrumavam a postura.
— Hora de matar — afirmou Moris.
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