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Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 65 - Rody
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Às vezes, ela simplesmente optava por não pensar.
Não era exatamente uma filosofia de vida — nada tão articulado —, mas, ao longo dos anos, aprendera que pensar demais tendia a trazer conclusões inconvenientes. Então, em algum ponto entre a segunda e terceira década solitária, decidiu que era um ato superestimado. Não pensar, por outro lado, tinha lá seus benefícios. Foi assim que sobreviveu. No improviso, no impulso, na recusa obstinada de racionalizar o horror. Se tivesse parado para refletir, com calma, nos primeiros anos… teria pulado de um prédio alto com uma serenidade budista.
Agora, naquele momento específico, em que escadas inteiras haviam batido em suas costas com a fúria de uma divindade com ciúmes, começou a considerar que talvez, só talvez, fosse hora de repensar essa política. Escadas batendo nas costas doem. Suicídio ao correr de frente contra esse pessoal com mana, dói mais ainda.
O impacto final veio com o tipo de brutalidade que não deixa espaço para metáfora. Quando enfim pararam de rolar, Ana se jogou por instinto atrás de uma mureta baixa — e, dessa vez, o impulso foi útil. O capitão, se erguendo em uma cambalhota, recalculou tarde demais: sacou um revólver de aparência antiga — cano longo demais para ser prático, estilizado demais para ser confiável — e disparou em um piscar de olhos.
Grunhiu quando viu que errou, mas um sorriso arrogante não demorou para aparecer em seu rosto, escondido apenas pelo filete de fumaça que subia de suas mãos.
— Oho, parece que temos uma criança corajosa por aqui hoje — disse ele, suas palavras carregadas de zombaria enquanto deslizava a bota pelo chão de paralelepípedos.
Ana ergueu a cabeça o suficiente para responder, mas não tanto a ponto de morrer por burrice.
— Não! Corajosa nada! — gritou, tentando vencer a música na base do grito. — Juro que foi sem querer, me deixa em paz que eu vou embora daqui!
O homem arqueou uma sobrancelha — ou, no caso, o olho robótico deu um brilho confuso, o que era o equivalente cibernético. Quando notou um leve movimento no canto da mureta, disparou de novo. Ana havia feito de propósito. Queria medir o tempo. Queria confirmar o tipo de inimigo.
— Não vejo pessoas se jogando nas outras com facas em punho “sem querer”.
Ana suspirou alto.
— Vamos ser sinceros? O que mais eu podia fazer? Era só não tentarem matar a gente que eu não teria que devolver a gentileza.
— Eu, tentando matar? Não vejo assim.
— Não? E vê como? — jogou uma pedra para o alto, e no mesmo instante em que o projétil subiu, o som seco do disparo ecoou. Ela baixou a cabeça de novo, satisfeita com a confirmação.
“Um segundo de reação. Dá pra trabalhar com isso…”
— Vejo como um líder ruim que se recusa a ver a realidade. Se aquele maldito taverneiro tivesse entregado Leviathan pra Dama de Ferro, nada disso estaria acontecendo.
Ana deixou a crítica escorregar pelos ouvidos como uma chuva chata num telhado que já conhecia goteiras. Aquilo não era com ela. Quem quer que fosse essa Dama de Ferro, e sendo ou não Pedro o taverneiro em questão, que se resolvessem.
Ficou quieta. Ouvir era melhor que responder.
Um passo. Outro. A mão foi ao chão em busca de outra pedra qualquer — não precisava ser especial, só precisa parecer útil. Lançou-a, e quase junto, a faca.
O movimento de ambas as partes foi imediato.
Primeiro o tiro na pedra, depois o corpo se deslocando em uma tentativa de esquiva, e então um som fino de aço acertando aço. A faca, a qual parecia estar mirando em seu peito, havia traçado a trajetória da arma logo após a baixa do disparo, e a lançou para o lado com o impacto.
Ana não perdeu o momento. Se jogou em direção a ele antes que o braço pudesse puxar o sabre. Os dois foram ao chão novamente e a mercenária fechou os punhos, socando as costelas dele com raiva concentrada e desorganizada. Queria mirar na cara, mas seu bom senso — ainda presente, embora cansado — a lembrava que talvez quebrar os dedos ao atingir um corpo robótico não era uma boa ideia. Não que o local realmente importasse, pois mesmo ao atingir o corpo, sentia como se estivesse batendo em um muro de pedra.
“Malditos fortalecedores.”
Ainda assim, continuou. Alguma hora — esperava ela que sim — o corpo daquele cara tinha que ceder. E estaria tudo bem, talvez realmente desse certo. O problema é que ele também tinha mãos. E as usava. Mal, mas com força.
Os golpes vinham erráticos, sem muita técnica. Era um ótimo atirador, talvez um ótimo espadachim também — Ana esperava não descobrir —, porém com certeza não era adepto a brigas de bar. Mas não era por isso que tais socos podiam ser desprezados.
Um punho mal acertado tinha a mesma força que uma joelhada. Quando bem acertado, vinha como uma marreta de pedreiro. Ana não sentia a dor ainda, mas tinha certeza que sua pele bronzeada já estava completamente cheia de hematomas. Quando sentiu o gosto de sangue na boca, segurou os xingos, apertou a mordida — queria evitar que um soco levasse seus dentes embora — e, com toda a força das suas pernas, se lançou para trás.
O capitão pareceu também apreciar o espaço. Esticou as costas com um estalo indecoroso e se levantou com certa dificuldade, apoiando-se nos joelhos. Ana manteve-se baixa, os olhos fixos nele, mas a respiração já dava sinais de traição. Observava. O olhar fixo nos tornozelos dele, nos ombros, na respiração — qualquer coisa que denunciasse intenção.
“Ela está me lendo”
A percepção do homem barbudo veio em tom de elogio involuntário, acompanhando um sorriso insano.
Ela se levantou devagar, sem pressa nem pose. Caminhou até sua faca caída e a pegou com naturalidade. O simples toque na arma pareceu reorganizar sua espinha, como se um interruptor tivesse sido acionado. A Ana desarmada era só uma jovem cansada. A Ana com a faca… era outra coisa. Rody notou, e gostou do que viu.
— O que acha de se juntar aos meus tripulantes? — perguntou de repente, irradiando uma confiança indiscreta. A frase, claro, ganhou destaque nas telas. O público adorava uma boa reviravolta.
— Parece interessante, mas por hoje, vou recusar.
— Tem certeza que não quer reconsiderar? É uma pena perder alguém tão… distinto.
— Sim, sim, não quero me comprometer, quem sabe se tivesse perguntado daqui a alguns anos. Se sair vivo, me procure! — A jovem milenar arqueou a sobrancelha com preguiça. — Me chamo Ana, líder da Ironia Divina.
— Seu olhar me diz que não foi uma resposta irônica, você parece realmente interessada! — exclamou, encantado pela fala inesperada — Eu sou Rody, capitão dos Bárbaros do Norte. É um prazer te conhecer, senhorita. E também, uma pena.
O momento diplomático morreu ali. Rody puxou o sabre com um floreio que teria sido mais impressionante se o braço dele não tivesse tremido um pouco. Avançou após um pequeno tropeço.
Ana já esperava. Um movimento de alavanca com o cabo da faca desviou a estocada, e antes que a física tivesse tempo de pensar, ela girou, canalizando o impulso num golpe rápido de perna direto no estômago dele — um ushiro-geri bem colocado, e nada educado.
Rody sentiu o baque. Não o suficiente para cair, mas o bastante para reavaliar suas escolhas de vida.
“Realmente uma mulher interessante…”, pensou, se curvando com a dor ainda quente no abdômen. O sabre subiu num corte diagonal, mais bruto do que técnico. Estava aumentando a agressividade. Conhecia gente como Ana, afinal, parafusos a menos não eram casos raros em Mare Euphoria. Sabia que se continuasse a subestimar a garota, seria o seu sangue a pintar as costas da baleia.
O golpe foi aparado com um giro fluido. A faca veio logo depois, em linha reta, mirando o rosto. Cortou-lhe a bochecha, por pouco não levando o olho bom. O olho ruim, artificial e brilhante, girava freneticamente, tentando captar padrões. Não estava se saindo muito bem.
Então veio outro ataque — um chute vertical que passou perto demais da orelha.
Por um momento, Rody achou que ela tivesse errado. Chute alto demais, ângulo estranho. Mas a verdade veio logo em seguida: o golpe desceu com tudo, como uma guilhotina improvisada, acertando em cheio o topo da cabeça.
O mundo virou uma massa sonora turva. E, por um segundo, tudo o que Rody conseguia processar era o sabor arenoso do chão entrando pela boca.
Ele tossiu um pouco de dignidade e sangue. Não nessa ordem.
De relance, avistou o brilho do revólver jogado alguns metros atrás. Estava tentado. Um bom tiro encerrava discussões sem precisar alongar o argumento. E Rody nunca foi contra atalhos… até começar a se importar com reputação. Afinal, havia uma etiqueta não escrita entre duelistas: nada de apelar para a pólvora depois que o sabre já foi desembainhado. Não era o tipo de regra que salvava vidas — mas era o tipo que salvava histórias. E ele queria, acima de tudo, ser contado.
Por outro lado, também queria continuar vivo.
Suspirou internamente. Que se dane a lenda.
Virou o corpo num só impulso, arrastando o sabre em arco horizontal na altura das pernas — ou onde as pernas dela deveriam estar. Nada. O vazio respondeu ao golpe com sua habitual indiferença. Ele arregalou os olhos, girando a cabeça em busca da oponente.
Mas Ana, como se tendo a mesma ideia que ele, já havia pegado a arma de fogo.
— As modificações são bem mal feitas — comentou, girando a arma entre os dedos. — Me surpreende que isso dispare.
— A gente faz o que pode — respondeu ele, tentando recuperar a compostura enquanto se erguia, sua espada pronta.
Avançou. Ana, sem pestanejar, mirou. O primeiro tiro veio seco. Um baque surdo no peito. As roupas leves dele não foram o suficiente — a bala afundou e deixou um roxo que prometia evoluir para tragédia. A segunda, Rody quase conseguiu evitar com um movimento de cabeça. Quase. Pegou de raspão na bochecha, abrindo um corte feio. E a terceira… bem, a terceira foi direto na testa.
Ele não caiu.
Cambaleou, sim. A pele afundou, o osso sentiu, o olho biônico piscou em protesto. Mas os pés seguiram em frente. Era difícil decidir se era pura força de vontade, estupidez ou mana demais nos músculos certos.
Ana encarou o cano da arma — agora torto, fumegante e inútil. Suspirou e o jogou para o lado, como quem se livra de um utensílio doméstico que quebrou no meio da receita.
Rody vinha, espada já numa trajetória lateral, mas o passo era vacilante, o equilíbrio traidor. Ana abaixou o centro de gravidade, firmou os pés, e, com a faca ainda em punho, se preparou.
O sabre veio.
Ela não recuou. Avançou um palmo e escorregou sob o braço dele, como se a gravidade estivesse em seu favor. E então, pela primeira vez naquela luta, a lâmina encontrou carne.
Um ruído seco, abafado, quase íntimo.
Rody parou, surpreso. A dor chegou um segundo depois.
— E agora? — perguntou, num misto de incredulidade e respeito.
Ana respondeu com a voz firme, embora cada músculo estivesse à beira do colapso.
— Agora você morre.
Moveu a faca como um relâmpago, a enfiando em seu pescoço.
O sangue saiu quente e apressado. Ele caiu de joelhos, olhos arregalados, sem cerimônia. Ainda tentou dizer algo, mas tudo que conseguiu foi um borbulhar rouco, seguido de silêncio.
Ana sentiu um arrepio, seguido por um pouco de dor, a qual sabia que se tornaria muita assim que a adrenalina baixasse. Logo olhou para o holograma onde ela mesma aparecia, congelada numa imagem dramática. Sangue, arma, pose. A audiência delirava. Buscou a câmera com os olhos, mas não achou. Então, meio sem jeito, levantou a faca ensanguentada num gesto meio triunfo, meio “é o que temos para hoje”.
As telas mudaram. Mostraram, agora, os outros membros do Ironia Divina, mergulhados até o pescoço no caos urbano.
— Bom… eles se viram — murmurou, sentando-se ao lado do cadáver ainda quente, tentando convencer o corpo de que já podia descansar.
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REESCRITA – TEMPORARIAMENTE SEM IMAGEM
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