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    O jovem agente de cabelos castanhos foi o terceiro do grupo de Selina a subir para a plataforma. Assim que chegou no topo, ele se distanciou de todos. Não conseguia sequer olhar para os outros agentes, sua expressão estava sempre fechada e irritada. Não sabia ao certo o motivo, mas, desde que se separaram de Moris, se tornou inseguro. Não estava com tanta esperança nos novos líderes. Estava cheio de si ao mesmo tempo inseguro. 

    Ele andou pela plataforma, tomando um rumo distante. Porém, em sua frente viu Theo e Aidna caminharem na mesma direção. O jovem estalou a língua em desprezo. Theo o irritava também. Desde que chegou nas ruínas, toda a atenção dos superiores foi voltada para o rapaz, apenas por ser um nobre. |Mas isso não era motivo para essa inquietação, não para ele. 

    Se virando para trás, ele se deparou com Selina subindo a escada, mas ignorou e caminhou para o lado oposto. 

    ‘Venha até mim…’ Uma voz tomou seus tímpanos.

    Uma silhueta se formou na frente dele.

    ‘Venha.’

    A silhueta formava perfeitamente o corpo de uma mulher, imitando uma voz familiar.

    ‘Jin, venha…’

    Ele começou a andar em direção à silhueta, se perdendo completamente no som emitido. Os olhos marrons arregalaram.

    “Essa voz…” concluiu. “Marta?”

    ‘Venha, querido.’

    — Marta… — sussurrou apressando o passo. Passo após passo, aumentou a velocidade. Jin estava quase correndo, no entanto, algo o puxou enquanto ele dizia: — O que você…

    Um vulto preto saltou do mar, agarrando seu braço direito e caindo do outro lado da plataforma. De primeira, Jin não sentiu. Ele buscou pela silhueta daquela que chamou de Marta, mas não a encontrou.

    Virando lentamente o rosto para seu braço, uma mancha de sangue descia por seus pés até o mar. Jin gemeu de dor, em um tom baixo. Ofegante, sua visão ficou turva até que a ficha caiu; seu braço, do cotovelo para baixo, tinha sido brutalmente arrancado.

    Jin caiu no chão, em prantos, gritando e chorando de dor. Seu berro chamou atenção de todos os agentes, que rapidamente buscaram pelo alarde. Isak passeou para a direção do agente, entretanto, o mar foi preenchido de tubarões.

    O mar, antes coberto por água e sal, agora tinha um novo componente na sua superfície: mana. Não uma mana qualquer, mas uma mana densa. Quase palpável.

    Rapidamente, dezenas de tubarões foram até a mancha de sangue despejada por Jin. O agente estava ainda ajoelhado, caído no chão e sem saber o que fazer além de chorar pela dor.

    Se alimentando dessa dor, um tubarão saltou contra Jin. Sua boca estava aberta, banhada com uma mistura de sal e sangue. Os dentes do animal eram completamente diferentes dos tubarões normais. Eles tinham uma cor anil como predominantes, sujos pelo sangue espesso de Jin.

    O tubarão saltou contra a cabeça do agente, arrancando de uma vez no primeiro contato. O cadáver de Jin caiu na plataforma, que, por ser cilíndrica, fez o corpo do agente deslizar para o mar de tubarões.

    — Ai meu Deus… — Uma agente lamentou, tampando a boca com as mãos em desespero.

    Theo estava ocupado demais para assistir à morte do agente. O rapaz continuava frágil, atormentado e quase sem cor. Ele apenas olhava para os tubarões, vendo a quantidade absurda de mana exalada do mar.

    — Vocês! — Bastien olhou para Selina. — Voltem para cá!

    Aidna pegou Theo por debaixo das axilas e tentou o puxar, mas, o corpo dele pesava. Era como uma pedra impossível de ser puxada. Não importava quanta força a druida aplicasse, não conseguiria o puxar.

    — Droga! — reclamou Bastien, brandindo a espada. — Serach, retorne!

    Selina travou momentaneamente. Ela deveria abandonar realmente a quem ficou responsável? Mas, além disso, tinha um grupo que deveria guiar. Bastien estava, ao lado de Jack, indo ajudar Theo e Aidna. Deixar os outros agentes nas mãos de Isak seria um erro, ele era, obviamente, o líder com a menor experiência ali.

    Serach cerrou os dentes. Se fosse tão apegada a Theo, se tivesse passado mais alguns dias com ele, teria derramado uma lágrima por abandoná-lo naquela situação. Ela tomou a melhor decisão no momento: correu para o grupo de agentes.

    Devido ao medo de Theo, mais tubarões avançaram. Os animais saltaram contra o rapaz e a druida, que pensou em atacar.

    No entanto, sem que ela pudesse se mover, Bastien caiu no mar ao limite da plataforma. O agente causara uma turbulência nas águas, afastando alguns tubarões, restando apenas um a voar contra eles.

    A lâmina negra da espada de Bastien iluminou as águas com um brilho carmesim opaco, algo menos reluzente do que uma tela de brilho baixo. Segurando o cabo, ao mesmo tempo que segurava a outra ponta da lâmina, o agente cravou, horizontalmente, a espada na mandíbula do tubarão. Ele levou o animal ao chão tentando cortar a presa no meio, contudo, nada aconteceu.

    A espada nem ao menos rasgava a pele do animal.

    — Glaciel! — Bastien estava desesperado, notando que nem mesmo a mais afiada espada daquele bando estava dando conta.

    Jack entendeu o recado e, se aproximando do tubarão, conjurou uma nuvem de gelo que, ao entrar em contato com o animal, congelou a carcaça abruptamente. Com o corpo congelado, ficou mais fácil para Bastien dilacerar o animal no meio.

    “Que pele dura…”

    Jack correu até Theo, ordenando que Aidna saísse de perto. Agarrando o rosto do rapaz, tentou acordá-lo do transe. O agente de gelo conseguia entender o motivo do medo. Afinal, criaturas imensuravelmente superiores estavam em sua frente.

    — Bastien! — exclamou Selina, quase rasgando a garganta para contornar o som das ondas agitadas. — Corram até a plataforma principal!

    Ela apontava para o círculo, onde a única forma de chegar seria pelas pontes.

    — Saí — ordenou Bastien, empurrando seu colega para o lado. — Jovem mestre, acorde!

    “Essa energia…” concluiu Theo. “É apenas mana. Porém, tão densa que está apertando meus pulmões. Todo o meu sistema nervoso está fraco graças a essa pressão…”

    O corpo dele não obedecia.

    — Jovem mestre!

    Supere.

    Essa foi a única palavra na mente do rapaz. Superar, adaptar, evoluir, tudo isso deveria estar na mente dele.

    Contudo, não eram os tubarões a verdadeira fonte daquela energia. Eles eram apenas meros lacaios, um parafuso para a engrenagem rodar.

    Esses meros lacaios estavam evitando que a engrenagem na mente de Theo girasse. Cada sistema funciona de uma forma diferente, saber como o seu próprio funciona é a chave para o topo…

    Theo escolheu seguir isso. Mas… Ele estava desesperado. Se aqueles meros lacaios conseguem fazer aquilo, quem dirá o que o mundo prepara para o futuro?

    Em Mikoto e Xin, demônios eram comuns. Liam os olhava de cima, sem medo de os subestimar. Theo não se recorda da sensação de opressão, mas o corpo de Liam ainda era afetado. Se ele não consegue se opor a meros lacaios, quem ousaria dizer que ele ficará de pé contra seres como Titãs?

    Era idiotice, egoísmo, orgulho, qualquer coisa do tipo. Mas ele não aceitava esse fato. Não acreditava que criaturas tão inferiores assim estavam o oprimindo tanto apenas com a energia. Ainda mais algo que nem era éter…

    Theo percebeu que ele apenas se escondeu, mas sempre foi um nobre assim como qualquer outro. Não como deveria ser, mas sempre se pondo acima. Hipócrita, é o que ele se define no momento.

    — Acorda, nobre idiota! — Aidna socou o rosto de Theo.

    Iluminando a mente escura, finalmente despertou. Theo acordou desnorteado, vendo outro tubarão avançar contra si. Assustado, contando apenas com seus reflexos e instinto, ele criou uma explosão de vento que jogou os animais e a superfície do mar para trás.

    — Perfeito. Agora, corram! — Bastien guardou a espada e correu para a plataforma, colocando Aidna e Theo como prioridade.

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