Prólogo [1/5]
por SnowBearNão importa se você é otimista ou pessimista, a vida de Derek Esposito não era nem boa, nem ruim. Era apenas uma existência insignificante e medíocre.
Seu pai era um homem bipolar e abusivo, capaz de desaparecer e ficar em seu quarto durante dias depois de um episódio depressivo. Ele só sairia para comer, usar o banheiro, e os ocasionais acessos de raiva do tipo “vamos deixar sua vida miserável”.
Durante sua fase eufórica, ele trabalharia como um louco, mas sem ter talento para ser um homem de negócios e sem talento social, ele era incapaz de obter sucesso e estabelecer as conexões certas.
Em seu estado natural, todas as vezes que ele decidia realmente tomar seu remédio, ele era apenas um treinador que se levantava e ia trabalhar, apenas para evitar a culpa e vergonha dos vizinhos e colegas.
Seja qual fosse sua condição mental, ele sempre era um exemplo perfeito de pai abusivo.
Seus filhos sempre eram uma desgraça aos seus olhos.
Eles nunca estudavam o suficiente, nunca eram disciplinados o suficiente, ou nunca mostravam respeito o suficiente. E ele sempre estava lá para lembrá-los do quão errado eles estavam.
Ele gritaria com eles pelo menor erro, constantemente os lembrando que eles eram apenas parasitas que se aproveitavam de seu trabalho duro.
E quando palavras não eram o suficiente, ou quando eles falhavam em alcançar suas expectativas com notas escolares ou tarefas domésticas, não existia professor melhor que seu cinto de couro.
Consequentemente, Derek e Carl tiveram que aprender rapidamente a como cuidar de si mesmos, já que sua mãe indiferente basicamente esqueceu deles logo após dar-lhes à luz, dedicando sua vida a buscar paz e sossego, ficando o mais longe possível das birras de seu marido.
Derek era dois anos mais velho, e tentou desesperadamente cuidar de seu irmãozinho, mas sem sucesso.
Eles cresceram assistindo e lendo histórias sobre heróis protegendo os fracos e defendendo a justiça. Mas nenhum herói jamais apareceu para salvá-los.
Todas as semanas eles eram forçados a irem para a igreja para louvar um deus indescritível e benevolente e seu filho, o salvador da humanidade. Mas não importa o quanto eles rezassem ou o quão bom eles fossem, nenhum milagre aconteceu.
Então, eles simplesmente pararam de acreditar em heróis, e pararam de perder tempo com orações.
A escola era seu único refúgio, mas isso só durou até a nona série.
Assim que chegaram no ensino médio, não demorou nem mesmo um mês para o bullying começar.
Suas roupas baratas e seu temperamento sombrio os faziam vítimas mais fáceis. Eles estavam tão acostumados a serem insultados e espancados que nem se deram ao trabalho de tentar se defender.
Por um longo tempo, Derek considerou esse o pior momento de sua inútil vida. Depois de um mês, ele sabia que não poderia mais suportar isso, então ele tentou deixar as coisas melhores.
Ele reportou o seu pai abusivo para o serviço social com um e-mail anônimo. Mas estando sobrecarregados de trabalho e com pouca gente, eles fizeram uma visita e nunca mais voltaram.
Então ele tentou acabar com o bullying reportando os agressores para o professor, que para não se incomodar com isso, contou para o diretor. O diretor não queria se envolver em algo que ele considerava ser uma brincadeira infantil, então ele ligou para os pais de Derek e os informou sobre o problema, esperando que eles deixassem isso de lado. E pelo menos o desejo dele se tornou realidade.
Derek, enquanto isso, levou uma surra extra por não ser homem suficiente para encarar seus próprios problemas.
“Você realmente é tão estupido que não aprendeu nada comigo? Nunca delate, se quer que algo seja bem feito, faça você mesmo”
Derek nunca se sentiu tão desesperado e desamparado, então naquela noite, ele chorou até dormir, essa foi a gota d’água.
No dia seguinte ele parecia diferente, sua mente limpa como nunca antes, não tinha mais tempo para desespero, ele precisava de um plano.
Ele levaria anos para perceber que algo dentro dele havia morrido. Ele não era mais capaz de confiar em alguém, ter esperança, ou desenvolver qualquer sentimento de parentesco. Ele estava rodeado de inimigos, e pra sobreviver, Derek precisava ser capaz de lutar de volta.
Então, Derek pediu a seu pai para deixar ele se juntar a um dojo e aprender artes marciais, e pra sua surpresa, ele não teve que implorar, nem pedir duas vezes. Seu velho ficou feliz que a desculpa patética de filho que ele tinha finalmente estava interessado em se tornar um homem. Sua única condição era que Derek não tivesse permissão de desistir por pelo menos um ano, caso contrário ele teria que pagar por isso.
Derek não apenas começou a praticar aikido quase diariamente, ele também acordava duas horas mais cedo todos os dias para ganhar músculos fazendo flexões, abdominais, agachamentos e correr até ficar sem fôlego.
Em poucos meses ele conseguia fazer 100 flexões, agachamentos e abdominais todos os dias, e correr pelo menos 10 quilômetros antes de ir pra escola.
O aikido logo se revelou uma escolha perfeita pra sua situação. No nível iniciante era focado em autodefesa, mas também tinha espaço para atacar e pra lutar sujo.
Praticando artes marciais, ele finalmente descobriu algo em que era bom. Ele não era particularmente ágil, nem aprendia rápido. Sua cooperação mão-olho também era, na melhor das hipóteses, mediana. Seu talento residia na capacidade de identificar o melhor momento para acertar um ponto sensível durante um bloqueio ou uma manobra defensiva.
Mesmo quando o sensei ensinava espadas ou artes marciais, Derek sempre era capaz de compreender os golpes mortais na primeira tentativa, às vezes antes mesmo de o sensei completar a demonstração prática.
Foi uma descoberta feliz e, ao mesmo tempo, desapontadora, já que seu único talento não tinha uso prático. Mesmo que o aikido fosse um esporte com torneios em vez de disciplinas, golpes na virilha, nos olhos e na traqueia eram totalmente proibido.
Por meses, Derek continuou treinando duro enquanto se mantinha discreto na escola, planejando seu próximo movimento.
No final do primeiro semestre, Derek parou de se esconder das pessoas que faziam bullying com ele, e começou a responder a todos os insultos e xingamentos do qual o chamavam, usando as melhores e mais perspicazes frases que ele havia achado na internet. Derek prestou atenção para nunca ir ao banheiro ou ficar sozinho por muito tempo, sempre mantendo um adulto à vista.
Não demorou nem mesmo um dia para seus inimigos ficassem furiosos e indignados. E quando as veias estavam quase saltando de seus pescoços, ele jogou a isca.
“Eu já cansei de vocês, seus desgraçados, me encontrem em uma hora atrás do supermercado entre Lincoln e o 3°. Ou vocês estão com muito medo?”
“Já que você busca a morte, ficarei feliz em te ajudar a encontrá-la, seu corno, vai ser só você e nós três, combinado?”
Derek assentiu sem acreditar nem um pouco nele. E ele estava certo em não acreditar.
Quando entraram no beco, trouxeram mais duas pessoas com eles.
Derek estava esperando por eles, no final do beco sem saída.
“Aí está você, comecei a pensar que você me daria um bolo”
Eles começaram a rir. “Desculpe pelo atraso. Espero que você não se importe de levarmos alguns amigos para a festa”
Derek encolheu os ombros, enquanto sorria de orelha a orelha.
“Sem problemas, não importa quantas pessoas sejam, lixo inútil sempre será lixo inútil. Eu escolhi esse beco porque tem latas de lixo suficiente para caber você e seus amigos”
A última fala atingiu um nervo e eles foram atrás dele cegamente.
“Atrás dele pessoal! Não deixem ele escapar! Vamos mostrar pra ele quem é o lixo”
E então, eles caíram na armadilha dele. Derek veio aqui preparar o terreno, e escolher o melhor local para lutar. Um beco sem saída para que eles não sejam capazes de escapar, no fim do beco tem um arame, que eles não perceberam por conta da falta de luz.
Os primeiros dois caíram com a cara no concreto, e os de trás estavam tão preocupados em não tropeçar nos amigos que não notaram o cano de ferro vindo na direção deles.
Eles vieram em números, e Derek veio preparado com antecedência e armado. Usando um cano de metal como espada, ele os atingiu na cabeça, na canela, e na virilha. Só então ele começou a bater nos outros dois que tentavam se levantar.
Enquanto eles choramingavam e choravam no chão, ele usou uma pequena faca para cortar o arame, e depois começou a bater neles repetidamente com o cano de metal, dando atenção especial para as partes inferiores.
No fundo, ele sabia que o que estava fazendo era errado, mas ele não poderia se importar menos. Se o mundo foi feito pra ser injusto, o único curso de ação a ser feito, era usar a injustiça para sua própria vantagem.
Então, ele pegou um taser que havia pegado emprestado de seu pai e os deu choque até que eles perdessem a consciência. Depois ele os despiu completamente e tirou várias fotos de cada um deles, ele até mesmo os filmou depois de arrumá-los de forma que parecessem estar se abraçando. Depois ele os acordou com um balde de água fria.
“Desculpe estragar o seu momento de Brokeback Mountain1, meninas, mas preciso da sua atenção por um minuto.”
Quando os encrenqueiros acordaram, eles estavam sentindo tanta dor que mal perceberam que estavam nus e se abraçando, responder a Derek enquanto ele ainda segurava o cano de metal estava fora de questão, então eles ficaram calados e prestaram atenção.
“Fiz um belo álbum de fotos de vocês, até mesmo um mini filme, passei pro meu computador e até mesmo salvei na nuvem. E seria terrível se alguém, não sei, eu, por exemplo, enviasse pra todas as mídias sociais. Vocês sabem Oque eles dizem, a internet nunca esquece.”
Os encrenqueiros começaram a chorar e implorar para Derek não fazer isso.
“Imagine o quão terrível seria! Toda vez que alguém pesquisasse seus nomes, sejam eles sua avó, sua namorada ou até mesmo os seus colegas da escola, a primeira coisa que apareceria seriam essas fotos!”
“Cara, não!”
“Por favor, eu nem te conheço, eu só estava fazendo um favor pra um amigo!”
“Era só uma piada! Por favor, me perdoe!”
Os sons de choro e deles implorando deram calafrios em Derek, ele queria vomitar por causa da hipocrisia.
“Eu não me importo com suas desculpas patéticas! Desse dia em diante vocês vão me deixar em paz. E é melhor rezar pra não acontecer nada comigo, porque a nuvem está configurada pra postar as fotos em todo lugar se eu não puser a senha todo dia.”
Sem esperar pela resposta deles, Derek virou as costas e saiu andando.
“Quase esqueci, eu coincidentemente joguei suas roupas na lata de lixo, não consigo me lembrar qual é qual. Se não quiserem ir pra casa nus, é melhor começar a procurar, até mais! Otários.”2
Derek voltou pra casa eufórico, quase pulando de excitação. Ele nunca se sentiu tão orgulhoso de si mesmo, e teve a confiança mal fundada de que ele nunca pensaria naqueles bastardos novamente.