Capítulo 13 – Novas soluções, novos problemas
por SnowBearLith continuou correndo até sair da floresta, olhando para trás de vez em quando e usando a Visão da vida para checar se ele estava sendo seguido.
“Não tem traços do Ry, mas é melhor prevenir do que remediar. Temo que eu tenha irritado muito aquela coisa. É melhor dar algum tempo pra respirar, e ir atrás de presas mais fáceis.”
Ele estava perto da casa de Selia, quando ele finalmente se lembrou da pedra mágica. Lith ativou a Visão da vida, dando uma boa olhada na pedra.
A primeira coisa que ele notou, é que as arestas da pedra estavam mais suavizadas, e não arranhavam mais sua pele. A superfície ainda era dura1,mas agora parecia uma pedra de mármore.
O som de zumbido tinha parado a algum tempo, e a força vital da pedra, apesar de ainda estar no mesmo nível, tinha mudado significativamente.
Antes, quando ele tinha visto pela primeira vez, a força vital da pedra era como uma vela de cera prestes a terminar de queimar, agora tinha um ritmo regular e estável.
Avisar a Selia sobre a besta mágica era a prioridade, então ele escondeu a pedra dentro de uma bolsa de couro que ele sempre carregava consigo, antes de bater na porta.
Lith explicou tudo pra ela, descrevendo em detalhes o poder e o tamanho do Ry, deixando ela boquiaberta, claro, ele nunca mencionou a luta deles.
Lith disse pra ele que ele fugiu assim que seus olhos se encontraram, e que ele só conseguiu fugir graças a sua magia, mostrando suas mangas rasgadas como prova.
“Pelos deuses, criança.” Ela ainda se recusava a chamar ele pelo seu nome. “Você realmente teve sorte que ele pegou leve com você. Se o Ry tivesse decidido te caçar, nós não estaríamos tendo essa conversa. De qualquer forma, obrigado por me avisar primeiro, em vez de ir até seus pais.” Sélia fez cafuné no cabelo dele.
“Como você sabe que eu vim aqui primeiro?”
“Porque se você não tivesse vindo, seus pais provavelmente teriam te trancado em casa, e um deles viria aqui me avisar no lugar.”
Lith congelou, ele tinha acabado de escapar de um golpe muito mais assustador que qualquer Ry.
“Você está certa, é melhor eu não contar para eles, caso contrário meus dias de caça estariam acabados para sempre.”
“Sim, eu sugiro você tirar o resto da manhã de folga. Arrume uma desculpa para as mangas e vá para casa.” Selia andou até o galpão perto de sua casa, onde ela mantinha sua caça guardada.
“Pegue isso como um agradecimento pelo aviso.” Ela entregou para ele um coelho e um pisca-pisca, prontos para serem cozidos.
“Eu estava prestes a ir para a floresta. Acho que vou seguir seu conselho. Irei caçar à tarde, quando deveria ser mais seguro.”
Lith agradeceu a ela se curvando, ele sabia o quão preciosa a carne era pra Lutia2, mesmo para uma caçadora tão boa quanto Selia. Sem mencionar que ela tinha acabado de salvá-lo de ficar em prisão domiciliar para sempre.
Ele passou o resto da manhã tentando entender como usar a pedra mágica. Ela parecia estar se alimentando da mana de lith. Não sugando como um parasita, mas sim mordiscando a mana que ele liberava sendo talentoso em mágica.
A pedra simplesmente inpirava o que o corpo de lith expirava, nada mais.
Lith tentou injetar mana nela, mas foi em vão. Depois, ele lançou feitiços elementais enquanto segurava a pedra, para checar se sua força, velocidade de lançamento de feitiço e área eram afetados de alguma forma.
Nenhum de seus experimentos teve resultado, a pedra parecia como qualquer outra.
“Pedras não tem um fluxo de mana tão claro, e certamente elas não têm força vital. Talvez essa coisa precise de tempo para se recuperar, carregar ou algo do tipo. O Ry deve ter feito um grande estrago, vamos torcer pra que não esteja quebrada. A menos que ela comece a me machucar, eu vou continuar com ela. Talvez seja algum tipo de tesouro, ou talvez eu possa achar algo sobre isso nos livros de nana. Eu só tenho que ser paciente.”
Os últimos dias do outono passaram sem mais intercorrências, até o inverno chegar.
Tendo completado cinco anos de idade, lith revelou um pouco mais dos seus talentos mágicos. Provando seu valor para sua família.
Ele acordava primeiro que todos e esquentava a casa inteira com magia, até mesmo o chão. Naquela altura, a lareira estava acesa apenas porque era acolhedor se reunir em volta do fogo, especialmente durante as noites tempestuosas de Inverno, era uma tradição familiar.
Mesmo a comida era confiada a lith. Elina preparava a refeição, e lith cozinhava mais rápido e melhor que um forno de 5 estrelas, mantendo a refeição quentinha para todos durante todo o jantar.
Ele não podia mais caçar por causa do clima ruim, seus pais foram firmes sobre isso. Mas ele ainda podia ir na casa de Selia para fazer as tarefas doméstica.
Durante o ano passado, ela se tornou tão preguiçosa3 que se tornou dependente de lith para manter a casa limpa, e as ferramentas esterilizadas.
Era como matar dois coelhos com uma cajadada só. Agora ele tinha uma desculpa para buscar comida no seu estoque privado toda vez que ficasse com fome, e Selia tinha que pagar a ele pelas tarefas.
Lith faria isso de graça, apenas para sair de casa, mas seus pais não concordaram. Então, Selia pagou-lhe algumas moedas de cobre para limpar a casa e mais um pouco para Elina lavar a roupa.
Os dois, Elina e Raaz dariam as boas vindas para qualquer dinheiro extra, e lavar as roupas de oito ao invés de sete não era muito esforço. Especialmente já que lith providenciava pra ela uma fonte inesgotável de água quente.
“Prazer em te conhecer, meu nome é lith. Eu sou o fervedor supremo.” Ele resmungava interiormente todas as vezes.
Nas primeiras semanas do inverno, lith fez uma descoberta muito importante. Ele finalmente entendeu como usar a Revigoração imaginando o corpo dos outros.
Ele agora era capaz de permitir que sua mana penetrasse o corpo de outra pessoa, e lentamente tivesse controle sobre seus fluxos de mana, permitindo lith saber sobre a condição física exata da pessoa.
A única maneira de atingir tal resultado era mantendo contato físico, procurando por caminhos de mana sem ferir ele/ela.
Lith imediatamente usou isso em Tista, e suas descobertas foram terríveis.
O corpo dela estava cheio de uma substância parecida com petróleo, por falta de termo melhor, ele tinha apelido de impurezas. E a causa, eram os pulmões dela4.
Os pulmões de Tista tinham alguns pequenos pedaços saudáveis. O resto parecia uma massa negra e marrom que ativamente produzia impurezas, que com o passar do tempo cobriam as partes saudáveis dos seus pulmões, a fazendo primeiro tossir, e depois ficar doente.
Depois de pensar um pouco, Lith tinha certeza de ter encontrado uma solução melhor do que tudo o que havia sido feito antes, mas muito mais embaraçosa.
Embora agora sua verdadeira idade fosse de trinta anos, ele ainda tinha um corpo de cinco anos5, e a ideia de falar de certos assuntos era extremamente incômoda, principalmente com as mulheres da família.
Depois de respirar fundo para se preparar, ele chamou Raaz e Elina para pedir ajuda e permissão.
Ele teve que simplificar bastante o procedimento para que eles entendessem.
“Basicamente, não posso curar Tista, ainda não. Mas descobri uma maneira que deve fazê-la se sentir muito melhor. Na melhor das hipóteses, ela poderia até se livrar da maioria dos sintomas.”
“E na pior das hipóteses?” Raaz disse cheio de preocupações.
“Na pior das hipóteses, ela continuará na mesma. Tenho certeza disso. Mas preciso que vocês confiem em mim.”
Contrariamente às suas expectativas, eles não fizeram quaisquer objeções ou questionamentos. A confiança deles no domínio da magia de Lith era ilimitada e, aos olhos deles, ele tinha apenas cinco anos de idade, enquanto Tista mal tinha sete.
Ela ainda não tinha amadurecido em todos os sentidos, para eles era como se fosse ontem que tomaram banho juntos na banheira.
A primeira fase era a mais fácil. Lith assumiu o controle do fluxo de mana de Tista, sobrecarregando seu corpo com sua mana e forçando as impurezas a se afastarem dos órgãos internos em direção à pele.
Ela sentia calor o tempo todo, como se estivesse com uma febre leve.
Quando a maioria das impurezas estava prestes a sair, Lith exigiu ser vendado e que Elina ou Eliza testemunhassem o processo.
Tista era apenas uma criança, e Lith temia que pudessem surgir suspeitas. Durante a Idade Média da Terra, os relacionamentos incestuosos eram repugnantemente comuns, e ele rejeitou até mesmo a ideia de ser considerado um pervertido.
A segunda e última fase exigia que Tista ficasse de molho na banheira de lavagem6, previamente enchida por Lith com água quente e sabão.
Ele se lembrava claramente do fedor que as impurezas exalavam, e durante o inverno era difícil ventilar a casa, especialmente nas condições de Tista.
O frio era seu pior inimigo.
Então, ele finalmente conseguiu extrair as impurezas usando magia, criando e manipulando fluxos que massageavam Tista por todo o corpo. Lith destruiu as impurezas o mais rápido possível com magia negra, impedindo-as de liberar seu cheiro.
Foi um processo difícil que precisou do uso de água e magia das trevas, ao mesmo tempo em que mantinha o Revigoramento ativo. Após o tratamento, ele também usou a magia da água para remover toda a água que ainda estava em seu corpo, e então misturou a magia do fogo e do vento para obter um secador de cabelo improvisado.
Quando finalmente acabou, Tista parecia ter acabado de voltar de um spa, enquanto Lith parecia ter acabado de voltar da mineração, coberto de suor e sem fôlego.
“Como você está se sentindo?”
Tista respirou fundo algumas vezes.
“Nunca me senti tão bem! Tipo, nunca! Além disso, sempre sonhei em tomar um banho no inverno, em vez de ter que recorrer a toalhas encharcadas de água quente. Obrigado, mano, você acabou de realizar dois dos meus desejos!” Ela tentou abraçá-lo, mas ele pegou os braços em defesa.
“Por favor, não. Estou nojento agora, não estrague meu trabalho duro. Agora preciso de um banho, um pouco de comida e duas horas de descanso, no mínimo.”
Tanto sua mãe quanto sua irmã mais velha assentiram.
“Lith, querido, o que foi aquilo com a água que você fez?” Ela perguntou.
“Você quer dizer o…”
“Droga, não posso dizer a ela que estava imitando uma hidromassagem, eles não têm latim aqui. Nem posso chamar de jacuzzi ou algo assim. Tanto faz, estou cansado demais para essa merda.”
“… massagem com água?”
“Sim, isso! Parecia tão relaxante. Tista adormeceu muitas vezes durante o tratamento. Claro que deve ser agradável.” As palavras de Eliza estavam cheias de expectativa.
“E aquela coisa para secar o cabelo, você poderia fazer isso de novo também?” Elina aumentou a aposta, a mira delas ficando cada vez mais óbvia a cada segundo.
Lith estava à beira do colapso, não tinha tempo a perder com sutilezas.
“Você está insinuando que gostaria de uma massagem com água quente também?”
Seguiram-se mais acenos de cabeça, suas mãos unidas em um apelo silencioso.
“Mas… mas…” Lith gaguejou. “Vocês duas são…”
Ele estava tentando encontrar uma maneira educada de dizer “gostosa”. Lith ainda se lembrava do corpo nu de Elina quando ele ainda era criança, e ela envelheceu muito bem.
Eliza tinha agora onze anos. Talvez fosse o estilo de vida camponês, talvez estivesse relacionado ao novo mundo, mas ela já havia começado seu surto de crescimento, desenvolvendo algumas curvas, sendo simpática e macia em todos os lugares certos.
Lith já tinha tanto receio por sua irmã mais nova, e Tista era plana como uma tábua, apenas seus longos cabelos a impediam de ser confundida com um menino.
“Somos uma família. E todos nós sonhamos em poder tomar banho no inverno sem pegar resfriado ou coisa pior. Você não têm ideia de como ficamos fedorentos trabalhando no celeiro, cercados pelo cheiro do gado e de seu esterco. Às vezes o cheiro é tão ruim que nem conseguimos dormir à noite. Você não poderia nos ajudar também?”
Lith desistiu.
“Tudo bem, deixe-me descansar um pouco e então eu ajudarei vocês. Mas você ainda precisa me vendar, e eu exijo uma testemunha!”
As duas começaram a rir alto.
“Por que tanto receio? Você é apenas um bebê, não um bandido.”
“Gostaria de dizer que sou um cavalheiro, mas não sei a palavra para isso. Poderia dizer que sou um homem, mas isso as faria rir ainda mais. Corpo estúpido de cinco anos.” Ele pensou.
“Decoração.” Era a única palavra em seu vocabulário à qual ele poderia recorrer.
“Droga, este vai ser um inverno muito longo.”