Capítulo 116 — Mudança de planos

Sien

Sien acompanhou Dian até uma área isolada. Não pôde deixar de notar que ele realmente a levou até um lugar distante. O reencontro não foi como ela esperava. Por um lado, estava feliz por ele não estar morto, mas, ao mesmo tempo, confusa e magoada. Dian estava do lado das pessoas ruins, e isso não fazia sentido para ela. A mamãe explicou que eles eram os caras maus, então por que seu irmão estava com eles?

“Dian, para onde estamos indo?” perguntou confusa, com a voz infantil que carregava a inocência de uma criança. Ela lembrou que tinha chamado Dian para brincar. “Pensei que íamos brincar de pega-pega. Já começou?”

Dian parou e ela imitou, parando a poucos metros de distância. Ele olhou para ela com uma expressão estranha, algo que ela não conseguia identificar. Seus olhos vermelhos, tão parecidos com os dela, a analisavam, talvez procurando algum ferimento.

“Desculpa, Sien. Vamos terminar isso o mais rápido possível devido à sua habilidade,” disse Dian, a voz carregada de um peso que ela não entendia.

Sien franziu a testa, confusa. “Terminar? Eu só quero brincar, Dian. A mamãe disse que você está com as pessoas ruins, mas eu não acredito nisso. Você é meu irmão, nós devíamos estar juntos!”

Dian suspirou, fechando os olhos por um momento. “Eu sei que é difícil para você entender, Sien. Mas precisamos lutar. Preciso proteger as pessoas que estão do meu lado agora.”

Os olhos de Sien se encheram de lágrimas. “Lutar? Mas… eu não quero machucar você. Eu só quero o você de volta. Por que estamos brigando?”

Dian apertou os punhos, lutando contra a própria emoção. “Eu sei, Sien. Mas isso é algo que precisamos fazer. Por favor, não me odeie por isso.”

Sien enxugou as lágrimas com as costas das mãos, tentando parecer forte. “Tá bom, Dian. Se é assim que tem que ser, então vou lutar. Mas vou lutar porque acredito que posso trazer você de volta.”

Ela assumiu uma postura de combate, as sombras ao seu redor começando a se agitar em resposta à sua determinação. Dian preparou-se, a luz começando a emanar dele, contrastando com a escuridão ao redor de Sien.

A luta começou com Sien avançando rapidamente, suas garras obscuras se manifestando em suas mãos. Dian desviou, criando uma Lança de Luz que ele lançou contra ela. Sien se esquivou por pouco, a lança passando rente ao seu ombro.

“Você está mais forte, Sien,” comentou Dian, sua voz carregada de admiração e tristeza.

Sien sorriu, uma expressão infantil e cheia de confiança. “Eu sou forte, Dian! E vou ficar mais forte para trazer você de volta!”

As sombras ao redor de Sien começaram a se condensar, formando uma Névoa Sombria que dificultava a visão de Dian. Ele invocou um Escudo Radiante, refletindo parte da névoa para longe.

“Não subestime a mana de luz, Sien,” disse Dian, lançando uma Explosão Solar que dispersou a névoa, mas Sien já não estava lá.

Ela apareceu por trás dele, usando o Portal das Trevas para se mover rapidamente. Suas Garras Obscuras atacaram, mas Dian bloqueou com a Espada de Luz, faíscas de energia luminosa e sombria se espalhando pelo ar.

Os dois lutaram intensamente, luz e escuridão se chocando, mas cada golpe de Sien era mais carregado de emoção do que de técnica. Apesar de sua ingenuidade, ela era uma adversária formidável devido à sua habilidade de adaptação durante a batalha. Dian, por outro lado, lutava com uma precisão calculada, tentando minimizar os danos a sua irmã enquanto ainda a enfrentava com seriedade.

“Sien, por favor, entenda,” disse Dian, sua voz quase suplicante. “Isso não é sobre quem está certo ou errado. É sobre proteger aqueles que amamos, mesmo que isso signifique lutar contra eles.”

“Eu não entendo, Dian!” gritou Sien, suas lágrimas voltando a cair. “Mas eu vou continuar lutando porque amo você e o papai.”

A batalha continuou, uma dança trágica entre irmãos divididos por lados opostos.

Dian recuou ligeiramente, a luz envolvendo-o como um casulo. “Sien, você precisa ouvir. Nosso pai… ele não é o herói que você pensa que é. Ele está manipulando você, usando seus sentimentos.”

Sien balançou a cabeça vigorosamente, os olhos vermelhos brilhando com lágrimas. “Não! Papai me ama! Ele disse que está protegendo todos nós! E você está do lado errado, Dian. Você é meu irmão, e eu vou te trazer de volta, mesmo que você não queira!”

Dian sentiu uma dor profunda no peito. Ele sabia que as palavras não alcançariam Sien. Somente a batalha poderia decidir isso agora. Com um gesto rápido, ele lançou uma Chuva de Estrelas, os meteoros luminosos caindo do céu em direção a Sien.

Sien ergueu as mãos, convocando o Manto de Sombra para protegê-la. A escuridão envolveu seu corpo, absorvendo parte do impacto dos meteoros. Mesmo assim, alguns golpes passaram, forçando-a a dar um passo para trás.

“Você está bem, Sien?” perguntou Dian, genuinamente preocupado.

Ela sorriu, um sorriso inocente e, ao mesmo tempo, determinado. “Eu estou ótima, Dian. Porque eu tenho você aqui. E sei que, no fundo, você não quer me machucar.”

Dian hesitou, seu coração dividido entre a missão e o amor por sua irmã. Ele sabia que a batalha não poderia durar muito mais tempo. Cada segundo a mais que passavam lutando, mais perigoso se tornava para ambos.

“Eu realmente não quero te machucar, Sien,” disse ele, com a voz embargada. “Mas preciso te parar, pelo bem de todos.”

Sien avançou novamente, dessa vez usando a Assombração. Uma entidade sombria surgiu, avançando em direção a Dian. Ele contra-atacou com a Lança de Luz, perfurando a entidade, mas isso deu a Sien uma abertura para atacá-lo diretamente.

Com suas Garras Obscuras, ela quase conseguiu acertá-lo, mas Dian se moveu rapidamente, bloqueando com a Espada de Luz. O impacto entre as energias criou uma explosão que os lançou para trás, ambos caindo no chão.

Levantando-se lentamente, Sien olhou para Dian com olhos cheios de lágrimas e determinação. “Eu não vou desistir de você, Dian. Porque você é meu irmão. E eu sei que, no fundo, você ainda me ama.”

Dian sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto. “Eu te amo, Sien. Mas às vezes, amar significa fazer coisas difíceis. E hoje, isso significa te parar.”

Ele ergueu a mão, preparando uma última Explosão Solar, enquanto Sien reuniu toda a energia de suas sombras para uma Explosão Sombria. Ambos estavam prontos para dar tudo de si, irmãos divididos por ideais, mas unidos pelo amor fraternal.

A batalha final estava prestes a começar, e ambos sabiam que somente um poderia sair vitorioso.

Enquanto lutavam, Sien começou a se adaptar rapidamente às técnicas de Dian. A cada troca de golpes, ela ficava mais ágil, mais forte, sua habilidade de adaptação manifestando-se plenamente. As sombras ao seu redor dançavam, formando ataques cada vez mais precisos e poderosos. Dian, vendo isso, sabia que o tempo estava se esgotando.

“Sien, você está evoluindo muito rápido,” disse ele, ofegante, enquanto bloqueava mais um ataque feroz das Garras Obscuras.

Ela sorriu com a inocência de uma criança, mas havia uma determinação feroz em seus olhos. “Eu disse que vou te trazer de volta, Dian. Não importa o que aconteça.”

Dian sabia que precisava mudar de tática. Não queria ferir sua irmã mais do que já tinha feito. “Sien, por favor, pare um momento. Deixe-me te contar algo importante.”

Sien hesitou, as sombras ao seu redor diminuindo ligeiramente. “O que foi, Dian? Por que devemos parar agora?”

Dian respirou fundo, a luz ao seu redor se acalmando. “Quero te contar o que realmente aconteceu no dia da minha suposta morte.”

Ela olhou para ele com curiosidade e confusão, mas manteve sua postura de combate. “Tudo bem, mas seja rápido.”

“Naquele dia, nosso pai usou uma magia para destruir tudo à sua volta,” começou Dian, sua voz séria e cheia de tristeza. “Naamah, nossa mãe, disse que iria me proteger. Eu confiei nela. Mas, no momento crucial, ela retirou o escudo de proteção.”

Os olhos de Sien se arregalaram. “O quê? Mas por quê?”

“Ela descobriu que você não estava mais sob a influência da magia de controle dela. Então, ela tentou me eliminar para evitar que eu pudesse te ajudar a ver a verdade. Ela fez nosso pai, Azrael, acreditar que estava do seu lado, prometendo-lhe algo. Eu não sei o que foi, mas ela o manipulou.”

Sien balançou a cabeça, lágrimas começando a se formar novamente. “Isso não pode ser verdade, Dian. A mamãe me ama. Ela ama você também!”

Dian deu um passo à frente, estendendo a mão. “Eu sei que é difícil acreditar, Sien. Mas ela está manipulando todos nós. Nosso pai não é o verdadeiro vilão aqui. Ele está sendo usado.”

A mente de Sien estava em tumulto. As sombras ao seu redor começaram a se agitar descontroladamente. “Então… toda essa luta… foi por uma mentira?”

“Sim, Sien. E é por isso que precisamos parar. Precisamos enfrentar a verdadeira ameaça juntos,” disse Dian, a voz carregada de sinceridade e urgência.

Sien olhou para o irmão, a confusão e o conflito visíveis em seus olhos. Ela queria acreditar nele, mas anos de manipulação e lavagem cerebral eram difíceis de superar. As sombras começaram a se dissipar lentamente, sinalizando sua aceitação das palavras de Dian.

“Então, o que fazemos agora, Dian?” perguntou ela, a voz trêmula, mas cheia de esperança.

Dian sorriu, um sorriso triste mas cheio de determinação. “Primeiro, precisamos tirar nosso pai do controle de Naamah. E então, juntos, poderemos pôr fim a essa loucura.”

Sien assentiu, finalmente baixando as mãos. As sombras ao seu redor se dissiparam completamente. “Estou com você, Dian. Vamos fazer isso juntos.”

Os dois irmãos, agora unidos por um propósito comum, se prepararam para enfrentar o verdadeiro inimigo. Sabiam que seria uma batalha difícil, mas juntos, acreditavam que poderiam vencer qualquer desafio

***

Naamah

Após invadir o palácio, consegui todos os materiais que estava buscando. Era hora de ativar o contrato. Desenhei círculos mágicos no chão, cada linha meticulosamente traçada com precisão demoníaca. Quando terminei, o brilho dourado das runas ativou, iluminando a sala com uma luz sobrenatural.

As informações que consegui eram cruciais, mas nem mesmo Azrael deveria descobrir meus verdadeiros objetivos. Como um verdadeiro demônio, nasci para trazer o caos, e como poderia fazer isso estando presa desse lado do universo?

Com o círculo ativo, olhei uma última vez para o objeto em minha mão — um fragmento de um cristal sombrio que continha poder incalculável. Este artefato era a chave para o meu plano. Sentindo a energia pulsar através de mim, murmurei as palavras finais do encantamento.

A magia se ativou com um clarão intenso. Fui envolvida por uma luz cegante e, em um instante, fui teleportada para o outro lado. Quando a luz se dissipou, encontrei-me em uma terra desolada, o coração do caos que ansiava libertar.

“Finalmente,” murmurei para mim mesma, olhando ao redor com um sorriso predatório. “É aqui que tudo começa.”

Foi então que notei a presença que se aproximava rapidamente. Com as informações fornecidas por essa pessoa, pude encontrar a rota certa.

“Então você conseguiu…”, disse ele, sua voz suave, mas com uma pressão devastadora.

Azrael do anti-universo era um ser de aparência imponente e misteriosa. Seus longos cabelos negros caem em cascata pelos ombros, contrastando fortemente com seus olhos de um azul-claro e intenso que parecem perfurar a alma de quem ousava encará-los. Ele vestia um manto negro adornado com detalhes dourados, que realçam ainda mais sua presença dominante. Seus ombros eram cobertos por uma armadura com intricados desenhos, sugerindo tanto sua nobreza quanto sua força.

Azrael emanava uma aura poderosa e avassaladora, uma energia que parece vibrar ao seu redor, tornando impossível ignorar sua presença. Diferente de seu homônimo do universo que vivia, Azrael do anti-universo possui uma intensidade que beirava a divindade, refletindo a escuridão e o caos de sua origem. Ele se senta em um trono majestoso, com uma postura que exala confiança e controle absoluto, seus olhos brilhando com uma luz sobrenatural enquanto observa tudo ao seu redor com um olhar calculista e predatório.