Capítulo 10 (Parte 3) - "Você veio"
E a porta forçadamente se abriu. Quando viu o homem de chapéu preto, estava pronta para atirar. Um fracasso. Antes mesmo que pudesse apertar o gatilho, o homem puxou sua slinger e acertou precisamente a pistola que ela segurava, desarmando-a.
O homem estava com cara de poucos amigos, havia um sinal claro de exaustão em todo aquele assunto. Deu um suspiro e lentamente se aproximou de Arya, recarregando sua slinger.
— Não estou com muita paciência, então responda minha pergunta e eu lhe pouparei. — Apontou a arma para a cabeça de Arya. — Onde está Destroyer?
Não respondeu. A resposta devia ser óbvia, a garota estava logo ao cômodo seguinte, apagada numa cama. A esse ponto responder não seria fora de questão; mas ela não faria. Por algum motivo, não poderia responder.
Elliot cansou-se. Disse em um tom exausto:
— Uma mulher tão bonita jogando sua vida fora por um motivo tão besta. — Quando estava prestes a apertar o gatilho… Ouviu um estouro, e então estava deitado em um sofá, apontando a mão esquerda para a dupla em sua frente. A confusão foi respondida quando viu o homem em frente a Arya.
— Bah! Voltas-te, capeludo? — A voz de Quincas ecoou pela sala, ele, que agora estava na mesma pose que Elliot fazia até um momento atrás. Deu um bocejo e em seguida, tirou a mão direita que não segurava nada do rosto de Arya; e mudou sua slinger da mão esquerda para direita. — Queres tomar um sopapo outra vez?
“Então quando ele muda de posição com alguém, os afetados ficam com a pose um do outro… Atirou com a mão esquerda só para garantir que eu não ficaria com ele na mira?” O homem do chapéu pensou numa fração de segundo.
Elliot deu uma cambalhota, tomou um impulso e foi para trás do sofá, tomando cobertura. Pegou mais alguns de seus frascos e os abriu, atirando-lhe no sangue, ativando seu feitiço. Quincas não ficou parado, mandou Arya se abaixar e contornou os sofás.
Um pequeno embate começou entre eles, tiros e disparos de sangue, até que inevitavelmente Elliot estava em frente ao quarto que Destroyer estava. Não estava de fato ciente que ela estava lá; mas quando ouviu um ronco alto de uma voz familiar, sabia muito bem que estava ali.
— Tu tá cercado, homem! Desiste logo, ninguém precisa tomar chumbo.
Elliot não respondeu; com um movimento rápido de mãos; criou não uma, mas duas paredes bastante finas de sangue; impedindo que Quincas usasse aquela técnica de mudar de posição com o constructo de sangue de forma tão fácil.
Viu Destroyer ali na cama. Não perdeu tempo: colocou ela sobre o seu ombro esquerdo, jogou todos os frascos de sangue que lhe sobrava e foi manipulando todo líquido vermelho que tinha, formando uma espécie de corredor até o elevador, impossibilitando que Quincas ou Arya sequer pudessem o ver. Correu com toda velocidade que tinha em suas pernas e usou o sangue para abrir a força a porta do elevador.
— Ô caralho! — Quincas exclamou, tentando achar alguma forma de evitar que Elliot fugisse.
Já era tarde a esse ponto; o elevador podia não estar mais naquele andar, e sim no de baixo, mas isso não impedia Elliot com seu feitiço. Concentrou o sangue em sua mão direita e o moldou como uma espécie de garra que possuía algumas engrenagens. Conectou o cabo de ferro com a garra de sangue, e subiu até o terraço.
Quincas pensou rápido; pegou um abajur pequeno que tinha numa mesa ali próxima e pulou no poço do elevador. Antes que caísse, jogou com toda a força o abajur para cima, indo até o topo do prédio e usando a slinger, mudou de posição do abajur.
Conseguiu por pouco se agarrar na borda do andar, Elliot já estava no terraço do prédio, indo em direção à borda. Quincas jogou o ar para fora do pulmão e escalou o que faltava, começou a correr até a dupla. Tentaria atirar contra Elliot para mudar de posição com ele, mas tinha gastado seu último tiro com a manobra que fez, e não tinha tempo para recarregar.
Quando Elliot alcançou a borda, parou subitamente. Estava a diversos metros do chão, era uma queda e tanto.
— Para com isso, homem! De novo, tu tá cercado! — Quincas recarregou a arma, e apontou para ele. — Eu não sei que porra ta acontecendo, mas larga a garota!
— He, está muito enganado se acha que estou cercado.
— Hein?!
Elliot deu um sorriso. Colocou um pé para trás e, sem Quincas acreditar no que estava vendo, caiu de costas. O bebum correu até a borda, desacreditando que tinha acabado de presenciar um suicídio, mas estava enganado, a visão foi, de fato, única: usando seu último minuto de manipulação, Elliot criou uma teia entre o hotel e outro prédio próximo, de forma que tinha parado sua queda. Deu um sorriso e quebrou a janela do prédio vizinho, desaparecendo completamente.
Quincas ficou parado por alguns segundos, vendo os coitados da rua estranham a chuva de sangue que tinha surgido do nada.
— Que loucura…
Subitamente, seu celular começou a tocar. Meteu a mão no bolso, e com uma voz bem humorada, disse:
— Alô, xuxu!
— Quincas? Porra achei que não ia atender… Deixa adivinhar, o chapelão fugiu? — Ao outro lado da ligação, estava Baret.
— Oi Baret! Pois é… Fugiu. Tentei tudo que podia, mas deu não. O jaguara tava inspirado hoje! Fez cada constructo de sangue! — Quando terminou de falar, ouviu um suspiro no outro lado da ligação. Baret continuou.
— Tudo bem, pelo menos a gente recuperou a Émile.
— Hein? Que que deu?
— Longa história, eu te conto daqui a pouco… Quando eu chegar aí.
Baret iria desligar, mas teve o celular tomado por alguém. Quincas estranhou a gritaria até que outra voz conhecida pôde ser ouvida.
— Quincas! Tu tá aí no hotel ainda? — A voz era de Axel.
— Oi Axel! Então… É, eu to. Por quê?
— O homem do chapéu tava com uma espada? Com a minha slinger para ser mais exato?!
— Hã… Não, não. Não vi ele com espada nenhuma não.
— Vai AGORA para o quarto da Émile, mais especificamente pro banheiro dela, e vê se a minha espada tá aí! E se tiver, não encosta nela! Só vigia!
— Ah, ok então… Só vou… Admirar a vista um pouco mais.
— Hã? Porra nenhuma! Vai agora ver a minha arma, caralho!
Axel apenas ouviu o bip da ligação desligando.
— Que caralho hein, toma aqui teu celular — Axel disse ao mesmo momento que jogou por cima do ombro o celular de Baret, que pegou num reflexo afiado.
— Ô, filho da puta! Não se joga o celular dos outros.
— Tá, tá, tanto faz… — Axel relaxou um pouco no banco de passageiro, olhou para o lado, para o banco do motorista e viu Simone dirigindo. — Podia ter colocado um tênis em vez de salto alto, ai não precisava tirar no meio da batalha.
— E estragar o look? Nem fodendo! Agora fica quieto aí, vai. A gente logo chega pro hotel.
Baret, que estava sentado no banco de trás, junto a Émile, deitada em seu colo, deu um suspiro de alívio. Olhou um pouco pra janela, e viu o próprio reflexo, estava ensanguentada, horrível. Mas, ao mesmo tempo, estava um tanto quanto feliz. Sentiu um movimento em seu colo, Émile estava se mexendo aos poucos, os olhos pareciam que iriam se abrir.
A visão de Émile foi a mesma de Baret: Uma mulher toda suja de vermelho sangue olhando para ela com uma expressão neutra, curiosa. Era horrível, mas… Também havia uma beleza por trás. Sua consciência ainda se recuperava aos poucos, mesmo com poucas forças, disse numa voz agradável:
— Você veio.
Baret ficou surpresa. Deu um sorriso gentil, e respondeu.
— É, eu vim.
O carro continuou indo em direção ao hotel. Tinha sido uma noite longa, mas terminaria com um gosto doce na boca de todos ali. No final, eles conseguiram.
. . .
— E então…? Onde está? — Elliot perguntou. Ouviu um suspiro digital do seu ouvido, pelo outro lado do telefone, uma voz irritada respondeu.
— Na porra de alguma vila perto de Benzaiten ou coisa assim, ta mais para um lixão que tem gente morando, na verdade. Foi a porra dum milagre achar um telefone aqui. Tsc, esquece todo meu planejamento pra esse ano, quero a cabeça desse tal de Axel numa bandeja de ouro!
— É o risco de lutar contra alguém que faz portais. Felizmente está bem, vou dar um jeito de achar alguém para lhe pegar.
— Eu não preciso da sua ajuda, eu me viro. O mais importante, conseguiu pegar a garota Dayone?
— Não. Irei tentar num dia posterior. Hoje? Não.
— Raimunda vai ficar muito puta de ouvir isso. Tu sabe disso né?
— Ela irá entender, ou melhor, dou um jeito dela entender. Contanto que a história seja interessante, ela geralmente não se importa, não é?
— Tsc, isso é verdade… Tá, eu vou sair daqui.
E sem mais nem menos, desligou. Elliot guardou o celular e deu um suspiro de cansaço. Deu uma olhada para o apartamento, estava uma bagunça! Mas ao menos, quando olhou ao seu colo, tinha algum gosto de felicidade. Destroyer estava ali, dormindo como uma pedra, e ao lado dela, a slinger dela.
— Foi uma sorte tremenda terem deixado o restaurante da agiota vazio, se não fosse por isso, seria mais problema para conseguir a arma de volta…
Subitamente, a garota começou a se movimentar, e seus olhos abriram. Eles deram uma averiguada por todos os seus cantos, e quando finalmente percebeu onde estava, deu um sorriso forte.
— Você veio!
Elliot fez uma expressão surpresa, e em seguida um sorriso.
— É, eu vim.
. . .
Atlantis dava passos longos entre aquele corredor subterrâneo; atrás de si, estava Agni, e a cada um metro andado, um par de guardas, tanto de Orfenos quanto de Romaniva. Não levou muito tempo para chegar ao final do corredor, uma grande porta de madeira.
Em frente a ela, havia Lazlo, com um cigarro em mãos e um rosto casual.
— Ele está te esperando — disse, se afastando da porta e aproximando-se de Atlantis. Colocou a mão sobre o ombro dele e fez uma expressão um tanto provocativa. — Boa sorte, se for precisar.
Atlantis o encarou por um segundo. Não respondeu, foi até a porta e deu um suspiro.
Lazlo não se importou. Começou a andar em direção contrária a Atlantis. Após se afastar o suficiente, pegou o seu celular e digitou um número, quando o som de atendido soou pelos seus ouvidos…
— Eles estão aqui.
Disse isso, e foi lentamente se afastando.
Deu mais uma tragada no seu cigarro. Tentava fazer uma expressão séria, mas não conseguia. Que noite aquilo seria, e se tudo desse certo…
— O mercado vai mudar. Quem sabe ao meu favor.
A noite ainda seria longa.
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