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    Decidiram continuar sem música. Após uma longa discussão de que tipos de música seriam ou não permitidos na carreta, o consenso foi: “apenas ligue as notícias”. As mesmas “novidades” foram relatadas: assalto em tal rua, morte em tal prédio, algum maluco entrou pelado em algum restaurante. 

    Nada de novo, até que algo chocante foi dito. 

    — Gente, notícias quentes aqui! Parece que houve uma explosão no Orfeno Voador, o cruzeiro que iria levar a comissão diplomática de volta a Orfenos…. — Quando o grupo escutou isso, todos sentiram o corpo tremer. Émile, principalmente, sentiu cada pelo do seu corpo arrepiar. A notícia continuou: — Estão confirmados, eu repito, estão confirmados relatos de diversos tiroteios na área. Ao que parece é um ataque contendo mais de seis gunslingers… Raimunda está entre eles! É um ataque da Wild Hunt! Peço a todos que evitem as estradas perto do porto e fiquem em casa!

    — A gente precisa ir para o porto! — gritou Émile — agora!

    — Estamos presos no trânsito, vai ser impossível… — Antes que Arya pudesse finalizar sua fala, o para-brisa da carreta trincou bem a frente de Baret. Não havia erro: aquilo era a marca de um disparo. 

    — Puta que pariu! — Baret gritou. 

    Tanto ela quanto Quincas saíram dos bancos da frente e pularam para trás, afastando-se o máximo possível do para-brisa. Axel acordou aos sons dos disparos e das buzinas, caiu da cama e levantou-se no mesmo segundo. Não teve tempo para pensar, pegou a slinger e correu direto para a sala principal. 

    Todos estavam retraídos, olhando o para-brisa ser alvejado pelos disparos. 

    — QUE PORRA É ESSA?

    — FRANCO ATIRADOR! — Baret gritou — E eu não sei até quando esse vidro vai aguentar. E tamo preso nessa porra de engarrafamento. 

    — Hora de pular fora do barco! — Nil disso indo até a porta, mas Quincas segurou seu ombro, pegou a sua slinger e disse:

    — Eu tenho um plano. Baret, se prepara, quando eu falar já, pega a direção e acelera com tudo. 

    — Hã? Tá maluco?

    Quincas negou com a cabeça. Foi para trás do banco de passageiro e girou um pouco a manivela da janela lateral. Soltou um suspiro e mirou a arma para um dos carros próximos. Nenhum membro da Carreta teve tempo para perguntar seu plano, ele apertou o gatilho e então, nada aconteceu. 

    — Hã? O que diabos tu…

    — Espera… espera aí…

    Dez segundos após disparar contra o carro na borda do viaduto, uma sensação tomou conta de todos ali. A iluminação mudou, e os carros ao redor, também. Não levou mais do que um segundo para perceberem: Quincas tinha usado sua slinger para fazer a carreta trocar de lugar com outro carro. 

     — Quase lá! — Mais um disparo acertou o para-brisa, era uma questão de mais um ou dois tiros para o vidro quebrar. Quincas mirou em um carro passando pela rua de baixo, apertou o gatilho e gritou: — Se prepara, Baret!

    Silêncio. O silêncio dominado pelas buzinas e gritos desesperados dos pedestres era tudo que eles poderiam ouvir. Quando o para-brisa estourou e os cacos de vidro voaram, a carreta mudou de lugar mais uma vez, estava agora na rua de baixo, sem mais um trânsito para os segurar. 

    Baret correu até para o banco de motorista, sentou em cima dos cacos de vidro, e sem colocar o cinto de segurança, mudou a marcha e pisou no acelerador com todas as forças. Centenas de metros dali, no prédio onde a franco-atiradora estava, Pearl soltou um “tsc”. Pegou o celular e gravou um áudio, enquanto apoiava a cabeça sobre sua pistola-slinger

    — Eles saíram do engarrafamento, foram pela décima terceira. É com você. 

    Elliot escutou isso e deu um suspiro. Guardou o celular no bolso e acelerou a moto. O ronco do motor foi o suficiente para fazer seu corpo tremer de excitação, e sem mais delongas, deixou as rodas começarem a girar. As ruas estavam ficando pouco a pouco vazias dada ao noticiário. Não levou muito tempo para achar a localização daquela carreta tão singular. 

    Quando estava a mais ou menos cinquenta metros de distância da carreta, puxou um dos seus frascos de sangue e jogou ao ar, puxou sua slinger e disparou ao frasco, dominando o sangue com o seu feitiço. Quando Quincas ouviu aquele disparo, soube na hora de quem se tratava. 

    — Beleza gurizada, a gente tá sendo perseguido. 

    — Como que é? — Axel aproximou-se de Baret e tentou olhar pelo retrovisor, mas era impossível ver muito atrás da carreta. — Porra! Devia ter instalado uma câmera! O que a gente faz? Tamo sendo perseguido por quem?!

    — Pelo chapeludo. 

    No exato momento que disse isso, a Carreta balançou, como se tivesse sido acertada por algo. Baret olhou pelo retrovisor, e conseguiu finalmente ver Elliot na moto, cercado de sangue e se aproximando rapidamente. A falta de para-brisa era uma oportunidade perfeita para matar cada um deles ali, ele só precisava os ultrapassar. 

    — Merda! Se segurem! — Baret desacelerou o máximo que pode, fazendo Elliot os ultrapassar sem perceber. Girou o volante e acelerou para rua do lado. — Preciso de um plano para matar esse filho da puta, agora!

    — Não tem muito espaço para atirar! — disse Nil — Não dá para fazer nada contra ele!

    — Baret, você colocou em qual modo? — perguntou Axel. 

    — Modo? Errr… tá na nona marcha!

    — No modo turbo? Puta que pariu! Tá com quanto de bateria?!

    — Hã?  — Baret não entendeu a pergunta, mas olhou para o painel. Foi quando teve uma surpresa: a bateria estava em trinta por cento — QUE PORRA É ESSA?

    — PORRA! O MODO TURBO COME A BATERIA!

    — COMO EU IA SABER CARALHO? PRECISO DE TODA VELOCIDADE AGORA!

    A carreta balançou mais uma vez com um forte impacto, fazendo Baret quase perder controle da direção, o balanço do carro fez todos ficarem de joelhos, tentando não cair completamente. Trocou para uma marcha mais conservativa e virou o voltante. 

    — TÁ! Somos seis contra um! Eu vou parar a carreta e todos nós vamos juntar nesse babaca!

    — Ficou maluca?! — Axel se opôs. — Nada garante que é só ele! No momento que a gente parar essa carreta, vamos ficar vulneráveis para não sei quantos gunslingers! Temo é que fugir!

    — SUGERE O QUÊ ENTÃO CARALHO?!

    Axel pensou por um segundo. Olhou o para-brisa quebrado e sentiu o vento bater contra seus cabelos. Teve uma ideia arriscada. Foi até o banco dos passageiros e ficou de pé, preparando-se para ficar em cima do capô da carreta. 

    — Que porra você vai fazer?!

    — Baret, ativa essa merda de modo turbo e fica em linha reta!

    — Mas…

    — Vai logo, caralho!

    Baret trocou a marcha e foi para o modo turbo. A carreta ficou rápida, muito rápida. Era quase difícil para Axel ficar de pé com tanto vento batendo em seu corpo, mas resistiu. Calculou a distância, a velocidade e o tempo. Só teria uma oportunidade para fazer direito, e, se não fizesse, um combate seria inevitável.

    Apontou a slinger-espada para vários metros de distância e atirou, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Seu revólver ficou quase vazio. Deu um passo a frente e subiu no capô da carreta, em posição para cortar o tempo-espaço. 

    Fechou os olhos num breve instante. Precisava de um lugar, uma localização. E por mais que odiasse aquilo, por mais que odiasse com todas as forças, só havia um tipo de paisagem que conseguia imaginar. 

    “É sempre a porra dum lixão”, pensou. 

    No momento certo, no momento perfeito, faltando apenas alguns centímetros para a carreta ultrapassar o espaço distorcido, Axel cortou e criou o portal. A carreta atravessou perfeitamente, e quando todo o carro passou, guardou a slinger na bainha, momentos antes de Elliot os alcançar. 

    — Aê! — comemorou ele, olhando para trás. Entretanto, quando ouviu um grito da Baret e do resto do pessoal, olhou para frente. Uma surpresa: uma enorme pilha de velharias, quase uma montanha de ferros. — Ai, merda…

    Já era tarde demais. O portal foi feito muito próximo da montanha de lixos, não havia tempo para desacelerar. O resultado não podia ter sido outro: a carreta bateu com toda força no ferro-velho.

    . . . 

    Baret abriu lentamente seus olhos, tudo estava girando. Sua visão estava turva, o corpo, trêmulo. Levou alguns segundos para conseguir compreender ao seu redor. Ainda estava sentada no banco de motorista, em sua frente, uma pilha enorme de ferro-velho, tão enorme que o sol era bloqueado por essa pilha. Olhou ao lado e seus olhos estavam arregalados: Axel. 

    Estava deitado no capô, com a cabeça soterrada nos escombros. Havia sangue abaixo dele, sem sombra de dúvida, sangue dele. 

    — Puta merda! — Agarrou ele pela camisa e tentou o levantar, mas não conseguiu, era pesado demais para si. — Alguém me ajuda aqui, faz favor!

    Ninguém veio. E melhor ainda, ninguém ao menos responder. Baret virou o rosto para trás e teve uma surpresa: ninguém estava ali na carreta, a porta estava aberta. 

    — Me abandonaram?!

    Sua resposta foi sanada quando ouviu disparos vindo de fora. Um tiroteio estava acontecendo. Baret forçou os músculos mais um pouco e conseguiu tirar os escombros de lixo que estavam acima de Axel. Ele estava desmaiado, com o cabelo encharcado de sangue. Conseguia ver entre os cabelos dele uma ferida aberta grande, que não parava de jorrar sangue. 

    — Merda….

    Circulou o braço dele no seu pescoço e, com toda a força que tinha, tirou ele da cadeira. Embora os primeiros socorros fossem importantes, sua curiosidade mórbida e instinto de sobrevivência a mandava ir conferir o que estava acontecendo lá fora. 

    Em passos curtos, saiu pela porta da carreta. Sua visão levou um tempo para se acostumar com a claridade, mas quando se acostumou, o campo de batalha em que se viu era um que nunca imaginou. 

    Era uma vila comum. De madeira, aquelas simples de velho oeste, embora estivesse em um lixão. Seu grupo estava tomando barricada num carro abandonado, e nas casas de madeira, havia diversos homens e mulheres com armadura de sucata, usando armas de fogo improvisada. 

    Em cima do teto de uma das casas, havia um homem grande, a armadura de sucata, tinha alguns aparelhos eletrônicos, e em suas mãos, carregava o quê parecia uma guitarra. Tocou uma nota no instrumento de lixo e uma saraivada de fogo foi disparada. Apontou para a carreta e gritou, com uma voz selvagem:

    — NÃO DEIXEM ESSA BELEZA SAIR DAS NOSSAS MÃOS! TUDO PELA MÃE!

    Os homens e mulheres gritaram em seguida:

    — TUDO PELA MÃE!

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