Capítulo 277: O castigo do pecado
Pela escuridão, atravessaram o campus a passos rápidos, mas discretos.
Embora tivessem formado uma aliança há pouco tempo, um não ousava tirar os olhos do outro totalmente. Kurone ainda tentava entender qual teria sido o artifício da Santa para ocultar a sua presença até mesmo do Olho Sagrado.
Falando em Olho Sagrado, o garoto ativou a habilidade e, vendo o mundo pela sua lente amarelada, localizou a origem do estrondo que os tirou do piso secreto da biblioteca.
Cercadas por outras auras de menor importâncias, três presenças se destacavam no local da fonte do barulho. A dupla percorrendo o campus logo diminui a sua velocidade e ambos ficavam cautelosos conforme iam chegando mais perto.
À frente, estava o prédio principal da Universidade Mágica, local onde ocorria a festa dos veteranos e professores mais influentes. A confusão acontecia no lado de fora dessa construção.
As figuras centrais da cena eram conhecidas por Kurone. De um lado, estava a dupla de delinquentes responsável por proporcionar ao garoto uma chance de fazer sua estreia na Universidade Mágica como um idiota. Se bem lembrava, eles tinham saído para entrarem de penetra na festividade dos veteranos mais cedo.
No outro canto, estava a garota enigmático da cerimônia dos novatos, a que alguns conheciam pela alcunha de “Inquisidora”.
Flanqueando a Inquisidora, duas crateras com diversas lanças de gelo cravadas na terra entregavam que o que acontecia ali era um embate entre essas potências.
Sim, “potência” era a palavra perfeita para os definir, o Olho Sagrado mostrava o fluxo de mana anormal emanando dos seus corpos. O trio era forte, nenhum dos espectadores se igualava a eles.
— Maldita, você vai pagar pelo vexame que me fez passar!
— Morre logo!!
Os delinquentes bradaram, um pouco ofegantes. A Inquisidora, por sua vez, apenas chutou o chão e esquivou de uma enorme bola de fogo acompanhada com espigões de gelo. O ataque misturando dois elementos de correlação negativa tocaram o chão e explodiram, causando grande comoção no local.
Adolescentes com esse tipo de poder destrutivo era a receita para o desastre, contudo os dois arruaceiros já estavam em seu limite, suas pernas bambas mal os sustentavam.
Como que debochando da limitação dos seus atacantes, a Inquisidora bateu a roupa casualmente, limpando a poeira, e os encarou, seu rosto ainda era inexpressivo. De repente, sua voz sem emoções soou:
— Fuga dos dormitórios. Entrada não autorizada. Tentativa de assassinato. Destruição de patrimônio da Universidade Mágica. Vocês devem pagar pelos seus pecados.
Após declarar a sua sentença, a jovem de cabelos esverdeados avançou em uma velocidade insana, reduzindo sua distância e a dos seus alvos em um piscar de olhos.
— O castigo do pecado é a morte.
Escutando as palavras gélidas da garota, Kurone não pensou duas vezes e usou a arma ainda materializada em sua mão esquerda.
Pow!
Ele atirou. Não entendeu bem o motivo, mas disparou porque a sentença da Inquisidora não parecia brincadeira.
A jovem de cabelos verdes girou sobre o calcanhar e, por pouco, escapou o chumbo mágico passando sobre o seu peito magro. Os olhos de aparência morta fitaram o garoto loiro responsável pelo disparo, porém, antes que ela pudesse pronunciar algo, a Santa interveio:
— Senhorita Hime, o que significa isso? Atacar os estudantes é algo grave!
Embora ela tentasse manter o seu tom firme, Minerva estava lutando para não tremer, as mãos dela estavam cerradas — ela temia a Inquisidora?
— Estes estudantes violaram muitas das regras dessa instituição. Violar regras é um pecado. O salário do pecado é a morte.
— Que tipo de lógica sem pé nem cabeça é essa aí? — Kurone comentou, ainda em posição de batalha, com a Boito .20 levantada.
— Eu não fui atingida, logo o estudante Iolite não cometeu nenhuma infração, contudo sugiro que baixe esta arma antes que eu considere isso uma ameaça.
Ele decidiu baixar a escopeta. Embora sua confiança tivesse sido abalada pelo evento com Minerva no escritório da biblioteca, ainda conseguia dizer com propriedade quando alguém estava pronto para atacá-lo ou não. Sua percepção não era perfeita, mas suficiente.
Se fosse o Kurone Nakano de antes, estaria com medo e duvidando das suas habilidades, mas aprendeu que a vida era assim, não podia baixar a cabeça por conta de uma falha.
— Essa vadia arrastou a gente pela orelha até aqui fora e queria nos espancar! — bravejou o delinquente ruivo.
[A Celestial compreendeu que o plano dela inicialmente não era matar, contudo a resistência dos jovens levou a esta situação. Ela compreende.]
“Tô achando que essa Inquisidora é bem parecida contigo.”
[Ela não irá discordar.]
— Ei, faz alguma coisa aí, não sei nem quem tem razão nessa bagunça.
— Não é bem assim, — respondeu Minerva ao garoto — a Inquisidora também está no cargo de inspetora da Universidade Mágica, eu não tenho qualquer tipo de autoridade sobre ela, aqui sou apenas uma professora.
Sinceramente, Kurone não precisava se envolver nisso. A vida desses dois delinquentes não lhe importava, e também não seria diferente se eles, juntos, dessem um fim à Inquisidora, mas não queria ver mortes desnecessárias acontecendo no momento, principalmente quando alguém forte como Azazel van Elsie podia atacar a qualquer momento.
A força da Inquisidora e dos arruaceiros seria útil no combate contra a demônia.
— A única solução é matar eles? — o garoto perguntou, encarando a jovem de cabelos verdes.
— É preciso eliminar o mal pela raiz, eles que ele dissemine suas sementes malignas. Se as ervas daninhas não são cortadas, logo o jardim estará corrompido, foi assim com os anjos bons que se aliaram a Azrael.
As palavras dela eram as de um fanático religioso. Hime era obcecada pelos termos “pecado” e “punição”.
— Mas… — a Heroína Ádvena continuou — é possível purificar as suas almas. O purgatório irá purificar suas almas, pois seus pecados não foram os mortais.
Confusão tomou posse do rosto de Kurone. O que a jovem queria dizer com isso? Ele realmente não entendeu, mas desde que os dois delinquentes não fossem morrer, estava tudo bem — eles não eram seus amigos, não tinha mais o que podia fazer.
A Inquisidora moveu a sua mão direita e luzes se uniram, uma cena familiar ao garoto loiro. As luzes azuladas deram forma a uma espada curvada: uma katana.
Os delinquentes ficaram intimidados com o surgimento da lâmina, mas não houve tempo para reação, com um movimento rápido, um ataque em forma de aguilhão voou da espada e atingiu os dois alvos.
Houve gritos, dentes rangendo e o som do corpo de ambos os jovens tombando no chão. Pelo Olho Sagrado, Kurone podia ver as almas das vítimas sendo profanadas, parecia que algo estava sendo arrancado deles à força, e a sensação disso, de ter algo retirado da essência da vida, era semelhante à de estarem retirando a pele deles.
— Eles estão apenas sendo purificados. É uma representação infiel do purgatório, onde suas almas são limpas à força — explicou a Inquisidora, com um brilho incomum surgindo nos seus olhos.
Ainda pela sua lente mágica, Kurone via uma onda de energia negra sendo arrancada dos delinquentes e alojando-se na espada segurada pela jovem de cabelos verdes. Como isso era possível? Seria uma habilidade dessa Hime, a Inquisidora?
A Hime que conheceu no futuro, a responsável por ajudá-lo na luta nas ilhas Lou Xhien, nem mesmo podia usar o fio da sua espada, até por isso sua alcunha era a de “Dama da Lâmina Cega”, sem falar que a sua arma era uma nodachi, não uma katana comum e tão fina.
Havia uma grande divergência entre as duas Heroínas Ádvenas de mesmo nome e diferentes épocas.
Minerva possuia uma expressão feia na cara, ela era uma Santa completa, nem precisava ativar um Olho Sagrado para entender que os alunos estavam sofrendo por conta de um ataque direto na alma.
Essa habilidade lembrou a Kurone do Reitor do Instituto para Reencarnados, o homem também fazia os seus inimigos sofreram com danos internos de semelhante maneira.
Interferir na alma era um poder assustador.
— Ahhhhhhhhhh!
O último grito de sofrimento veio do jovem ruivo. Toda a energia negra dos delinquentes foi direcionada para a arma nas mãos da Inquisidora, e foi absorvida. No momento seguinte, o som de dois corpos tombando e de uma risada satisfeita ecoaram.
— Está consumado. Suas almas foram purificadas.
Minerva e ele ficaram sem palavras, não sabiam exatamente como agir perante essa situação, sem falar que era estranho ambos terem chegado juntos ao local.
Mas a Inquisidora não se importou e simplesmente virou as costas, seguindo em direção ao prédio principal. Antes de entrar, disse:
— Irei punir todos os pecadores, independentes de quem seja. Como representante da justiça, é assim que deve ser. Por isso, não se tornem pecadores se não quiserem serem punidos. A punição de um pecado mortal é a própria morte.
Ela entrou na construção, deixando o garoto loiro e a Santa sem palavras. Era uma ameaça? Ou um conselho? Ela podia ser considerada aliada ou inimiga?
A Inquisidora deixou muitas dúvidas no ar, mas de uma coisa Kurone tinha certeza: ele era um dos pecadores que a jovem tanto citava. Seus crimes eram muitos, e sua sina, uma só: a morte. Ele não podia vacilar e ser pego por aquela pessoa.
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