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    “Como eu sou o quê?” Gritou Lith, tendo perdido a calma por um segundo.

    Agora era a vez do Conde ficar vermelho até as orelhas. Lith seguiu Keyla, resistindo à vontade de fazê-la se mover mais rápido. Toda essa situação era completamente inesperada e estava pesando muito em sua mente.

    Desde que Lith ouviu falar da pintura, Solus não parou de rir, projetando estátuas famosas como o David de Donatello ou o Perseu de Antonio Canova em sua cabeça. Ela substituiu as características faciais pelas de Lith e trocou a cabeça da Medusa pela do Byk, irritando seus nervos.

    “Juro que se aquele idiota do Conde mandou me pintar nu ou algo assim, eu vou o matar mais rápido e cruelmente do que sua esposa psicopata jamais conseguiria.”

    Felizmente para o Conde, esse não foi o caso.

    A pintura era bem grande, com um metro de largura e 1,5 metro de altura, e representava o Byk, de pé, com olhos vermelhos brilhantes em uma floresta escura, ocupando o centro e o canto esquerdo.

    Lith foi desenhado enquanto encarava a besta mágica, oferecendo apenas o perfil esquerdo ao observador. Seu pequeno corpo ocupava apenas o canto inferior direito, envolto em uma aura mágica. Seu braço e mão esquerdos estavam em chamas, supostamente por causa de um feitiço de fogo que ele estava lançando.

    A perspectiva e o fundo escuro faziam o Byk parecer grande e assustador como um dragão, enquanto Lith aparecia como o único elemento de luz, com o rosto cheio de coragem e determinação.

    O enorme corpo empalhado do Byk foi colocado alguns metros à direita, meio escondido em uma alcova, para mostrar ao visitante o final da história retratada no desenho.

    “Bem, não é tão ruim assim.” Lith pensou. “Não é o horror cafona que eu tinha imaginado, e eu nem estou idiotamente embelezado. Esse é meu rosto real. Solus, sou eu, ou eu pareço meio bonito?”

    “Bem, eu não sei.” Ela respondeu. “É definitivamente uma versão sua que não fica olhando e franzindo a testa o tempo todo. Mais importante, ele não parece estar ali porque perdeu uma aposta, como você fica quando se olha no espelho.”

    Lith suspirou aliviado. Pelo menos ele não foi retratado em seu traje de aniversário ou em algum tipo de pose arrogante ou autoritária. Isso teria sido realmente constrangedor para ele.

    “Qual é o problema com a pintura?” Lith perguntou, coçando a cabeça, confuso.

    “O problema é que meu pai mostrou a cada convidado, servo e passante que estava disposto a ouvi-lo. Ele contou como você derrotou sozinho a besta malévola em uma batalha épica de magia e inteligência.” Jadon respondeu.

    “Essa é uma lembrança bastante precisa dos eventos, embora inteiramente inventada.” Comentou Solus. “O Conde seria um excelente contador de histórias.”

    Lith dispensou as preocupações de Jadon com um aceno de mão.

    “Você está pensando demais. Ninguém realmente testemunhou a luta, a pele está quase completamente intacta, e todos sabem sobre a obsessão do Conde Lark com magia e patrocínio de jovens promissores.

    “Eles estariam mais propensos a acreditar que ou eu tive sorte ou que o Conde me deu alguma ajuda, e está tentando me distorcer para ser um herói. Sem ofensa, Vossa Senhoria.”

    “Não me ofende.” O Conde respondeu. “Então, você gostou?”

    Ele estava pulando de impaciência, esperando pela resposta de Lith.

    “O que há para não gostar?” Ele deu de ombros. “Não sou um especialista em arte, mas parece bem pintado. Tanto eu quanto o Byk somos retratados realisticamente. A única pergunta que tenho é como o artista poderia saber meu…”

    Então o olho de Lith notou a assinatura do pintor no canto inferior esquerdo. Era uma linha ondulada, mas com um salto de imaginação alguém poderia realmente ler o nome ‘Trequill Lark’.

    Lith se virou abruptamente bem a tempo de ver o Conde Lark pulando de alegria, antes de recuperar a compostura.

    Tendo esclarecido essa questão, eles retornaram silenciosamente aos aposentos privados do Conde, antes de retomar a conversa.

    Lith fingiu estar lançando um feitiço de magia falsa, enquanto na verdade lançava seu feitiço Silêncio. Ele criaria um vórtice de ar esférico que tornaria a escuta por meios convencionais impossível, distorcendo os sons que saíam da sala.

    “Isso impedirá que alguém ouça. Como eu estava dizendo, levando tudo em conta, ninguém realmente acreditaria em uma história dessas. Claro que o fato de que todos conhecem meu rosto complica as coisas, mas uma operação secreta ainda é viável.

    Do jeito que eu vejo, temos duas opções. Opção um: eu finjo que sou um mágico malfeito que não consegue viver de acordo com o que o Conde disse até agora. Isso dará aos inimigos dentro e fora da casa a confiança para continuar com seus planos, como se eu nem estivesse aqui.

    Isso deve facilitar a captura de quem tentou envenená-lo, mas também significa que o assassino será encorajado e atacará com mais frequência. Considerando que tal pessoa pode ser um peixe pequeno, mesmo eliminá-lo não nos faria bem. Eles seriam facilmente substituíveis.

    Opção dois: Eu me faço de forte e poderoso, confirmando todos os rumores sobre mim. Isso deve deixar sua esposa em alerta, forçando-a a reconsiderar seus planos e se tornar mais cautelosa.

    Isso significaria uma paz temporária, mas as próximas tentativas de assassinato seriam conduzidas por um assassino habilidoso que atacaria somente após uma preparação cuidadosa, o que lhes daria uma grande chance de sucesso.

    Ao mesmo tempo, não seria fácil encontrar outro mercenário confiável em tão pouco tempo, se conseguirmos eliminar o primeiro. Ambos os caminhos são cheios de espinhos e perigos, então cabe a você decidir.”

    A sala ficou em silêncio, os três nobres estavam pensando em como apostariam suas vidas.

    “Não existe uma terceira opção?”, perguntou Keyla.

    “Se você puder encontrar uma, claro. Estou aberto a sugestões.” Lith deu de ombros.

    “Eu digo que nossa melhor opção é a discrição.” O Conde já havia se decidido.

    “Não estamos tentando vencer Koya em seu próprio jogo, só precisamos ganhar tempo. Se conseguimos sobreviver sozinhos até agora, com a ajuda de Lith as coisas devem ser muito mais fáceis.

    Vamos manter nossa verdadeira força escondida o máximo que pudermos, para que, quando ela descobrir a verdade, não tenha tempo suficiente para tomar as melhores medidas possíveis.

    Eu a conheço bem, ela é fria e calculista, mas sob pressão ela é muito melhor em receber ordens do que em dá-las. Isso já aconteceu várias vezes no passado e agora não é diferente.

    Ela poderia ter fingido aceitar minha decisão, ficar ao meu lado apesar de nossas diferenças.

    Dessa forma, até a primeira tentativa de envenenamento teria dado certo, já que minhas suspeitas surgiram principalmente porque eu sabia que ela não ficaria de braços cruzados enquanto perdia o status e o dinheiro que o título de Condessa lhe dava.

    Como sempre, o mau humor de Koya levou a melhor e ela cometeu um erro atrás do outro. Então, qual é o nosso próximo passo?”

    “Até que tudo esteja resolvido, não contrate novos servos, é muito arriscado”, disse Lith.

    “Fora isso, não há muito que possamos fazer, ainda estamos na defensiva. A única coisa que me vem à mente é me apresentar à sua equipe, um pequeno grupo de cada vez.

    Aqueles que ainda são leais a você vão olhar para mim com curiosidade e benevolência, enquanto aqueles que estão na folha de pagamento da sua esposa podem se sentir pressionados e perder a calma. É uma chance remota, mas é melhor do que nada.”

    O plano de Lith era na verdade mais complexo do que isso, mas não era algo que ele pudesse compartilhar.

    Com sua Visão da Vida e o senso de mana de Solus, ele notaria todos cuja força física excedesse os requisitos de sua ocupação ou tivesse pelo menos um núcleo de mana amarelo.

    “Nossa melhor aposta seria um homem, de meia idade, com um corpo e núcleo de mana fortes. Seria o suspeito perfeito.” Lith pensou.

    “Por que um homem?” Solus perguntou.

    “Porque os homens são fisicamente superiores, mesmo neste mundo. Uma mulher seria mais adequada para uma armadilha de mel, mas já sabemos que o Conde não brinca com as empregadas.

    De Meia-idade porque deveria ser alguém que a Condessa plantou há muito tempo, para deixá-lo ganhar a confiança e a autoridade necessárias para se mover livremente na mansão. Além disso, um núcleo de mana forte seria um ótimo indicador para um assassino de aluguel.

    Duvido que alguém com talento suficiente para magia se contentaria com um trabalho braçal sem um motivo realmente bom. Se algo relacionado à magia acontecesse, seria a distração perfeita, já que as mulheres sempre seriam as principais suspeitas por serem naturalmente mais talentosas.”

    Quando o Conde disse a Lith que havia demitido metade da equipe, Lith se iludiu acreditando que isso tornaria as coisas mais fáceis para ele controlar. Mas a realidade o mostrou o quão errado ele estava.

    O restante do pessoal ainda somava mais de cinquenta pessoas, e isso sem contar os jardineiros e os trabalhadores do estábulo, já que eles não tinham acesso à construção principal.

    “Malditas cinquenta e quatro pessoas! É mais do que toda a população da vila. Levei horas só para conhecer todos eles!”

    Nenhum deles demonstrou sinais de estresse ao conhecê-lo, tornando seu plano oficial um fracasso completo. O lado bom era que ele realmente havia encontrado possíveis suspeitos. O problema, porém, era que havia muitos.

    Lith havia encontrado entre a equipe dezesseis pessoas que se destacavam por suas habilidades físicas ou magia. No entanto, ele não tinha como fazer uma verificação de antecedentes fora perguntando diretamente a eles ou a seus colegas, mas isso tornaria suas intenções muito óbvias.

    Ele não podia confiar no Conde ou em seus filhos para isso. Eles mal sabiam seus nomes e papeis na casa.

    Lith decidiu que, por enquanto, o melhor que podia fazer era manter sua própria família no escuro. Enquanto ele desempenhasse seu papel de mago fraco, o lugar mais seguro para eles era o mais distante do olho da tempestade.

    Ele continuou pensando e pensando, mas não conseguia encontrar uma saída.

    “Droga! Estou realmente começando a acreditar que dessa vez esta muito fora do meu alcance. Não sou detetive, apenas um químico sem prática que agora pratica artes mágicas! Este não é um problema que eu possa resolver matando ou queimando coisas.

    A situação se assemelha cada vez mais a um maldito jogo de xadrez, e eu odeio xadrez! Sou péssimo em xadrez quando a luta é justa, imagine quando tudo o que tenho é minha rainha (eu), o rei (Conde) e dois peões (herdeiros)!”

    A risadinha de Solus foi a primeira coisa boa que ele ouviu o dia todo.

    “Bem, se o jogo é tão desfavorável, você já pensou em trapacear?”

    De repente, o anel de pedra de Lith se transformou em líquido, espirrando no chão antes de retornar à forma de uma bola de gude. Oito perninhas saíram da bola de gude, fazendo-a parecer uma aranha que começou a se mover em círculos ao redor de Lith.

    “Belo truque, não acha?”

    Nota